Autora: AnnaThrzCullen
Gênero: Romance, drama
Classificação: +16 anos
Categoria: Beward
Avisos: Adaptação, Linguagem Imprópria, Nudez e Sexo
Capítulo XII
Edward resmungou e bateu na mão que tocava seu ombro. Não queria acordar. Estava ainda um pouco embriagado depois da celebração do casamento de Emmett e Rosalie na noite anterior.
— Se eu fosse um inimigo, já teria cortado sua garganta.
Havia algo de familiar na voz profunda e rica, mas Edward tentou ignorá-la e continuar dormindo.
— Jesus! — gritou Mike.
Ótimo! O invasor havia acordado o irmão de Isabella. Os três Swan dormiam em esteiras em seus aposentos, e logo poriam para fora quem ousava incomodá-lo.
— Mas... ouvimos dizer que estava morto! — Jasper murmurou. — Como pode estar aqui?
— Porque não estou morto, talvez? — Soou a resposta debochada. — Acorde, pateta ruivo!
Edward tinha certeza de que ainda estava embriagado, ou não teria pensamentos tão absurdos.
Isabella não sabia se gritava ou desmaiava de susto. Queria arrancar o marido daquele torpor, mas hesitava em despertá-lo para o que só podia ser uma visão estranha e irreal. James Cullen estava morto! Não podia estar em pé ao lado de sua cama em Royal Deeside, sorrindo tranqüilamente.
— Pela quantidade de bêbados que encontrei dormindo pelos corredores, suponho que tenha acontecido uma festa grandiosa ontem à noite.
— Emmett se casou com minha prima Rosalie — ela respondeu, tentando entender como podia estar conversando com uma visão.
— Ah, então era sobre isso que Alec falava.
— Falou com Alec?
— Ele resmungou algumas palavras antes de cair desfalecido. O tio dele está morto? Isso é verdade?
— Sim. Edward o matou em Cullen Manor.
— Lástima... Esperava ter esse prazer. É claro que muitas coisas aconteceram durante os meses que passei fora. — James sacudiu Edward mais uma vez. — Acorde, seu grande idiota. Precisamos conversar. Onde está sua educação? Não vai acolher e receber alguém que volta da morte?
Decidindo que James devia estar vivo, já que sua imagem não desaparecia, Isabella também sacudiu o marido. Seus irmãos já estavam em pé, lavando-se e vestindo-se enquanto trocavam opiniões variadas a respeito de como contar aos pais tudo que havia acontecido ali.
— Edward, acho que devia acordar e falar com esse homem. — Vendo que ele abria os olhos, Isabella insistiu: — Tente superar o torpor, Edward. Olhe para a sua direita.
Relutante, ele se virou... e não conteve uma exclamação espantada. Edward esfregou os olhos, mas o que via não desapareceu. Olhando para Isabella e para os irmãos dela, soube que todos ali esperavam alguma reação. Quando James gargalhou, abraçou-o e bateu em suas costas, ele se recuperou pelo menos o suficiente para retribuir o abraço. Depois, quando James recuou, ele começou a pensar nas conseqüências do retorno do primo.
— É você mesmo, James... — Edward sentou-se na cama. — Por que fomos informados de que estava morto?
Sentado na beirada da cama, James agradeceu o vinho que Mike servia.
— Eu quase morri de verdade. A queda do cavalo causou-me graves ferimentos. Cortland, meu escudeiro, achou que seria melhor se todos me julgassem morto. Ele sabia que a queda não havia sido um acidente, e sabia também que eu não estava em condições de lutar contra outro possível atentado. Além do mais, não podíamos ter certeza da origem do atentado. Tenho alguns inimigos.
— Todos nós temos. Onde esteve?
— Não muito longe, para dizer a verdade. Estava em uma estalagem. A princípio não percebi o que Cortland havia feito. Quando me recuperei o bastante para pensar com clareza, tentamos descobrir quem havia me atacado. Quando soubemos que tinha sido Volturi, pensei em preveni-lo, mas Cortland garantiu que você já sabia.
— Eu sabia. Ele me havia declarado morto também. Não precisei de muito tempo para deduzir tudo. Sofri alguns acidentes incomuns, embora não tenha me ferido tanto quanto você. Parece bem agora, James.
— Sim, mas tenho cicatrizes novas, e minha perna direita enrijece consideravelmente em alguns momentos. É um milagre que não tenha ficado manco. Só lamento por uma coisa. — Ele sorriu.
— O quê?
— Receio que meu retorno represente para você a perda de tudo que você obteve. Só isso é suficiente para me fazer quase desejar estar morto. Por um breve momento, pelo menos.
Edward também sorriu. A perda de tudo que obteve. As palavras ecoavam em sua mente, causando insuportável agonia com seu verdadeiro significado. Nada do que tinha era realmente dele. E isso incluía sua esposa. O contrato decretava que Isabella deveria se casar com o herdeiro de Cullen Manor. Como James não morrera, ele não era o herdeiro e não tinha o direito legal de estar casado com Isabella. James tinha esse direito.
— Bem. — Ele olhou para James. — Nunca tive nada. Não vai ser tão difícil retornar ao que era antes. — E nunca contara uma mentira tão grande. Certamente perderia Isabella também.
— Nada? — Ela estranhou. — Sei que Royal Deeside não é tão grande ou tão próspero quando Cullen Masen, mas é mais do que nada.
— Sim, mas Royal Deeside é seu dote.
— Sim, e por isso agora você é o senhor dessas terras. Quando nos casamos, Royal Deeside passou para suas mãos.
— Isabella, nós nos casamos porque James foi considerado morto.
— E daí? — Tinha o pressentimento de que não ia gostar do fim dessa conversa.
— Pelos termos do contrato, você deveria se casar com o herdeiro de Cullen Masen. Não sou mais esse herdeiro. Agora tudo pertence a James.
— E daí?
— Você nunca teve um raciocínio lento. O contrato determina que você deveria se casar com o herdeiro. James é o herdeiro. E ele está vivo. Você vai ter de ser devolvida a ele.
James engasgou com o vinho. Edward teve de bater nas costas do primo para salvá-lo de sufocar.
Isabella se sentia tão perplexa quanto seus irmãos pareciam estar. De onde Edward tirava essa argumentação absurda? Estavam casados havia meses! O casamento havia sido consumado centenas de vezes e já produzia frutos. Ele não podia estar pensando em simplesmente anular a união e entregá-la a James, só porque, de repente, o homem aparecia vivo.
De repente ela se sentiu zangada. Não poupou esforços para mostrar a Edward que gostava de estar a seu lado e queria continuar com ele. Agora descobriu que fracassara. Ele ainda acreditava que poderia simplesmente trocar sua cama pela de James.
Era insultante! Na opinião de Edward, não era mais do que parte de uma herança, quase como uma pedra de Cullen Masen. James voltava para reclamar a propriedade; portanto, James levaria também a noiva.
Ela o atingiu com um soco. Quando Edward praguejou e a encarou surpreso, ela o acertou com outro soco. Depois se levantou da cama, sem dar importância à falta de jeito provocada pela barriga distendida.
James a estudava surpreso e boquiaberto. Não havia notado sua condição antes. Isabella não podia deixar de pensar na atitude desprezível de Edward. Ele havia esquecido a gravidez, ou pretendia entregar também o bebê a James?
— Quer me jogar fora como se eu fosse um trapo velho? É isso? — ela disparou. — Vai me oferecer numa bandeja para o herdeiro que retorna? Ah, olá, James! Já que é dono do castelo e do título, por que não leva também a mulher?
— Você entendeu mal — Edward protestou, lamentando não estar vestido. Era horrível se descobrir nu na cama enquanto tentava conduzir uma conversa tão séria com uma esposa furiosa. — O contrato de casamento...
— Para o inferno com o contrato! Não sou um objeto a ser negociado com a propriedade e os outros bens! E o bebê? Fica, ou também vai ser descartado com a mãe?
— Não estou descartando você! Por que distorce minhas palavras?
— Distorço? Elas já saem distorcidas de sua boca! O que pretende fazer? Anular o casamento? A gravidez pode dificultar seus planos, caso ainda não tenha pensado nisso. Qualquer um pode perceber que nosso casamento foi consumado. Acha que pode tomar uma decisão e tornar-me virgem outra vez?
— Agora está sendo tola — ele decidiu irritado, levantando-se para ir vestir a ceroula. — James entende as razões para tudo que aconteceu.
— James ainda não foi interpelado quanto ao que pensa — disse o próprio James, notando que sua presença era ignorada.
Uma dor aguda surgiu e desapareceu em seguida. Isabella franziu a testa. De repente entendia o que estava acontecendo. Sabia por que havia dormido tão mal à noite. Ela encarou o marido e decidiu ignorar os sinais do parto iminente. Atacá-lo era mais importante que tudo nesse momento.
— É ótimo saber que James é tão compreensivo, mas receio não ter a mesma qualidade. Como pode desistir de mim tão rapidamente, sem sequer pensar nos meus sentimentos? No que eu quero? Você está sempre dando ordens, decidindo por todos!
— Acalme-se e escute. Eu só mencionei o contrato. É legal, válido e sancionado pelo rei. Seus pais a casaram comigo porque eu era o herdeiro naquele momento. Eles foram enganados, embora ninguém tenha tido essa intenção. Isso vai ter de ser discutido. Você é uma dama de origem nobre que devia ter sido casada com um título e posses. E eu não tenho nada disso.
— Estranho. Pensei que fosse casada com um homem.
— Está dificultando as coisas de propósito.
— Eu estou dificultando as coisas? — Isabella olhou para os irmãos. — Não têm nada a dizer sobre isso?
— Lamento, mas não consigo raciocinar com clareza desde que James ressurgiu dos mortos. E, por mais maluco que pareça, pode haver alguma verdade nas palavras de Edward.
O insulto que ela pretendia dirigir ao irmão e à sua confusão mental soou apenas como um gemido de dor.
Agarrou-se à cabeceira da cama, segurou o ventre com a outra mão e dobrou-se ao meio, tomada de assalto por uma violenta contração. Todos os homens a olharam com compreensão horrorizada.
— E então? — ela disparou. — Vão ficar aí parados até o pobrezinho cair no chão?
Edward deu um passo na direção da esposa.
— Isabella... É o bebê?
— O que você acha? Vá buscar Janet e chame minha mãe! — ela ordenou. Foram os irmãos dela que se retiraram para obedecer à ordem. Outra contração a castigava quando, notando a mão de Edward estendida em sua direção, ela reagiu: — O que está fazendo?
— Vou colocá-la na cama — ele respondeu enquanto a tomava nos braços e a deitava novamente. — É lá que deve ficar.
— Eu nem teria me levantado, se você não fosse o idiota tolo que é!
Edward ignorou o insulto e olhou para James.
— Ajude-me a encontrar minhas roupas antes que as mulheres cheguem.
— Onde está Thomas? — James indagou curioso enquanto ajudava o primo a recompor-se. — Ele não é mais seu pajem?
— Ele é, mas está se recuperando de algumas dificuldades criadas pela própria mãe dele.
Edward resumiu tudo que havia acontecido recentemente, notando o horror nos olhos de James. Felizmente, Thomas fora aceito com grande alegria pela família materna, que o reconhecera como descendente mesmo enquanto ameaçava deserdar Elizabeth. Mas as explicações eram breves, entrecortadas, porque Edward permanecia atento em Isabella. Vestido, ele correu para perto da cama e segurou a mão da esposa, notando com alívio que ela não o repudiava. Porém, a fúria ainda não havia arrefecido.
— Ora, então não vai delegar essa tarefa a James, também?
Antes que Edward pudesse responder, James segurou a outra mão de Isabella, ignorando o olhar raivoso do primo.
— Isabella, não seja tão severa. Um contrato de casamento é um laço de honra, e se existe um homem no mundo que respeita a honra e a palavra, esse homem é meu primo Edward. Pode soar absurdo e até ofensivo, mas esse casamento é agora uma questão legal.
Isabella queria responder, mas foi dominada pela dor de outra contração.
James apertou a mão dela.
— Você é forte. Mais do que parece — disse.
— Sente muita dor? — Edward perguntou aflito.
— Vejo que hoje acordou disposto a formular questões estúpidas — ela respondeu irritada, tentando respirar antes da próxima onda de dor.
— Quanto ao dilema que estamos enfrentando aqui... — James adiantou-se, sentindo que o casal poderia começar uma discussão que, naquelas circunstâncias, não seria conveniente.
— O dilema só existe — Isabella cortou — para certas pessoas que querem se desfazer de suas esposas.
— Eu não disse que quero me desfazer de você.
— Chega! — James exclamou com firmeza. — Quero dizer o que penso, e vocês precisam me ouvir. Isabella, quando a deixei depois de nosso último encontro, parti mais do que satisfeito com o arranjo. Porém, as coisas mudaram, e não me refiro apenas ao bebê que vai nascer a qualquer momento. Não. Sei que é melhor você ficar com seu marido. Não pretendo reclamá-la para mim.
Isabella o encarou entre uma e outra contração. James resolvia o conflito antes mesmo de ele surgir. Ainda estava furiosa com Edward por sua aparente disponibilidade para entregá-la ao primo, mas não precisava mais temer que uma lei qualquer o arrancasse de seus braços. Porém, a facilidade com que James abria mão dela não era exatamente lisonjeira.
— É estranho — ela murmurou. — Considerando que não desejo trocar de marido, mas sinto-me ofendida.
Edward continha a vontade de rir. Em nenhum momento havia pensado em desistir dela. Era um alívio constatar que James não pretendia criar problemas. Porém, também se sentia insultado com a atitude desinteressada do primo. Sentira o coração dilacerado ao pensar que talvez tivesse de se separar de sua Isabella, porque a lei poderia obrigá-lo a isso, mas James nem se dava ao trabalho de reconhecer com gratidão sua intenção de sacrifício.
James riu e beijou o rosto de Isabella.
— Confesso que no início fiquei desapontado por ter perdido uma noiva tão adorável. E para meu primo! Mas, sendo livre, logo entreguei meu coração a outras mãos. Casei-me há três meses.
Isabella queria fazer dezenas de perguntas, mas, antes que pudesse começar, ela viu Janet e sua mãe se aproximando da cama. Edward e James foram expulsos do quarto.
Era frustrante não poder saciar a curiosidade, mas o nascimento de seu primeiro filho chamava a atenção de todos. Especialmente a dela.
Edward esperava no salão em companhia dos primos, James e Alec, e de seus mais novos amigos, John e Quil. A demora o preocupava. James falava sobre sua intenção de levar Alec de volta a Cullen Masen, mas Edward protestou.
— Ele não quer ir. Prefere ficar aqui, pois lá todos se lembram dele como o comandado de Volturi. Alec pretende gerenciar uma hospedaria, e já prometi ajudá-lo nessa empreitada. Sei que o trabalho não é apropriado para um homem de sua origem, mas ele está animado. O negócio é promissor. Alec cuida das contas, e os dois, John e Quil, fazem o trabalho propriamente dito. Creio até que Alec já se interessou por alguém, uma jovem delicada e interessante o bastante para fazê-lo esquecer sua devoção por minha esposa. Isso é muito bom, porque, quando tiver de me ausentar e deixá-la aqui sozinha, posso pedir a Alec para cuidar dela sem nenhum temor.
— Por que pensa em se ausentar? O rei o convocou novamente?
— Não, mas agora sou destituído de terras e título. Vou ter de vender minha força de trabalho.
— Royal Deeside é uma bela propriedade.
— Sim, mas é o dote de Isabella. O que ela trouxe ao nosso casamento. Eu não trouxe nada. Preciso trabalhar para contribuir com minha parte. Isabella deveria ter se casado com um homem de título e posses, e tenho o dever de compensá-la pela perda que sofreu com toda essa confusão.
— Primo, sempre admirei sua inteligência, mas você parece ser incapaz de usar o raciocínio quando o assunto é sua esposa.
Antes que Edward pudesse responder, lady Renée entrou no salão. A mulher parecia cansada, mas feliz. Mesmo assim, Edward se recusava a ter esperanças, a acreditar que Isabella escapara ilesa do difícil e arriscado momento do parto.
— Você é pai de um menino, Edward — ela anunciou, indo se sentar ao lado do marido.
Ele assentiu e aceitou distraídos os votos de felicidades e congratulações. Queria que tudo acabasse depressa, porque tinha uma pergunta a fazer a lady Renée. Ela ainda não havia revelado o que, para ele, era mais importante que tudo.
— E Isabella? — finalmente murmurou depois de um instante.
— Está bem. Cansada, mas bem. Ela terá muitos outros filhos, a julgar por como enfrentou o primeiro parto. Por que não vai vê-la? Sua mulher o espera.
Edward subiu a escada correndo, mas parou diante da porta do quarto. Não podia deixar de lembrar a última vez em que estivera ao lado da cama de uma mulher com quem tivera um filho. Dizendo a si mesmo que Isabella não era como a fria e imoral Elizabeth, ele entrou e se aproximou da cama da esposa. Janet saiu imediatamente. Isabella parecia cansada, mas radiante. Ela segurava o bebê com uma ternura emocionante.
— Como se sente? — Edward perguntou com a voz embargada.
— Bem. Venha conhecer seu filho.
— Thomas vai ficar feliz — ele murmurou, sorrindo atordoado.
Isabella o viu tocar a criança com sua mão grande e calejada. Enquanto ele se certificava de que o menino era forte e saudável, ela se emocionava com a cena. Não precisava perguntar se o marido estava feliz. Podia ver a resposta em seu rosto.
Mas ela ainda sentia os resquícios da velha mistura de raiva e dor. Havia conversado com a mãe sobre a discussão que precedera o parto. Lady Renée ficara um pouco chocada, mas tentara fazer a filha entender que havia bons motivos para a reação de Edward. O argumento não servira para acalmá-la. Queria alguma indicação do marido de que ele teria ao menos relutado em entregá-la a James. Mas ele se mostrara dolorosamente complacente.
— O bebê é forte, Isabella. E é bonito, também — Edward comentou antes de beijá-la, desejando encontrar um meio mais eloquente de manifestar seus sentimentos. — Vamos chamá-lo de Anthony, como combinamos? Ainda quer dar à criança o nome de meu pai?
— É claro que sim. Não mudei de ideia. É um bom nome. Porém, confesso que tive medo de que deixasse também essa escolha aos cuidados de James.
Edward sentou-se na banqueta ao lado da cama e respirou fundo. Chegara a esquecer do confronto, mas era evidente que ela ainda o tinha nítido na memória. Teria de dar boas explicações, embora não soubesse nem por onde começar.
— Isabella, precisa entender como funcionam esses contratos — ele começou.
— Isso já foi explicado. Ainda acho que é tudo uma grande loucura, mas entendo que esses documentos e essas leis nunca levam em consideração as pessoas que são afetadas por elas.
— Então, se entende, por que continua tão zangada? Quando James voltou, era minha obrigação oferecer de volta tudo que ele deveria ter herdado, tudo que obtive em consequência de sua suposta morte. Cullen Masen, o título, você...
Ela quase praguejou. Mais uma vez, era relacionada como um bem, um objeto qualquer. Isso a enfurecia. A raiva a impedia de ceder à exaustão que reclamava seu corpo.
— Entendo. Porém, como seria se, por ocasião do retorno de James, eu me virasse para você e dissesse: "Bem, Edward, meu verdadeiro marido voltou, e agora tenho de deixá-lo"? Teria sido aceitável para você?
Ele piscou. De repente percebia tudo. Ela afirmava compreender o contrato de casamento e a questão levantada pelo retorno de James, mas a verdade era que Isabella não estava pensando. Estava sentindo. Entendia que ele se dispunha a entregá-la a James, mas não sabia que dor e que tumulto emocional a decisão causava em sua alma. Vira frieza em vez de obediência, honra e lealdade. E, com seu controle férreo e sua aparente calma, ele causara sofrimento e até a ofendera.
— Isabella, querida, se a fiz acreditar que queria entregá-la a James, peço que me perdoe.
— Foi exatamente essa a impressão que tive.
— Sim, eu sei. Estou vendo agora, querida. Você está certa. Às vezes sou mesmo um idiota. Tudo que posso dizer é que o choque provocado pelo retorno de James tornou-me ainda mais tolo.
— Entendo. Vê-lo também me deixou atordoada.
— Quando me lembrei de que deveria devolver tudo que havia herdado, naturalmente a incluí na lista. Descobri-me dividido entre o que a honra exigia de mim e o que eu queria fazer. Cullen Masen e o título tinham pouca importância. Se incluindo você nesse pacote, a fiz se sentir pouco importante também, tudo o que posso dizer é que nunca tive essa intenção. Sempre soube que não poderia entregá-la a outro homem. E o bebê... Por acaso não consegui demonstrar a alegria que me deu com essa gravidez? Por isso acreditou que eu poderia desistir de tudo?
— Não. Eu sabia... Eu sei... Sim, tenho certeza de que está feliz com a criança.
— Não imagina o alívio que experimentei quando James revelou que havia se casado com outra. Naquele momento eu percebi que não teria de me colocar contra ele.
— E teria feito isso?
— Sim. Teria feito qualquer coisa para mantê-la a meu lado. O contrato deixava de ser importante. Você é minha esposa. O bebê é nosso filho. Podia devolver todo o restante a James, mas vocês dois... Nunca! E há mais uma coisa.
— O quê?
— Queria que você tivesse uma chance de escolher. Como tinha a alternativa de ir viver com James, não quis que se sentisse obrigada a ficar onde não desejava estar.
Era como Isabella havia suspeitado. Não estava surpresa, mas magoada, uma emoção que tentava esconder. E também se sentia muito desanimada. Nada do que tinha feito ou dito o tocara como pretendia. Como poderia dizer a esse homem que o amava? Ele nunca acreditaria. Não se podia pensar que seria capaz de deixá-lo por outro homem, por um título e terras. Edward não acreditava na força desse casamento. Parte dele ainda duvidava de que ela o desejaria como marido para sempre. E Isabella não sabia como resolver esse problema.
— Edward, em algum momento fui desonesta com você?
— Não. Nunca. Em alguns momentos chegou a ser dolorosamente honesta.
— Pois bem, se eu quisesse ir viver com James, não teria ido? Não teria simplesmente manifestado minha vontade? Eu mesma teria usado esse argumento do contrato de casamento.
— Como, se o considerava uma loucura, se nem entendia o que estávamos dizendo? Deixe-me pôr Anthony no berço — ele sugeriu, estendendo o braço para pegar o bebê.
Ver as mãos fortes cuidando tão bem de seu filho despertou em Isabella uma intensa fraqueza. Edward seria um bom pai. Já havia notado a bondade com que ele tratava Thomas. Esperava que essa certeza ajudasse a demonstrar que ela também era tudo que ele podia querer.
— Se acreditasse que um papel idiota e estúpido poderia me ser útil, eu mesma o teria mencionado.
Sentado na beirada da cama, ele segurou as mãos da esposa e sorriu. Isabella estava certa. Sempre que lidava com uma questão de importância ou necessidade, ou quando defendia um desejo pessoal, ela demonstrava ter mais inteligência e fibra do que todas as mulheres que ele conhecia. A verdade era que ela não pensara em trocá-lo por James. Em nenhum momento. Sustentava seus votos com firmeza, votos que fizera a ele, não a James. Ele beijou-lhe as mãos, tocado pelo brilho que viu em seus olhos.
— Estou perdoado, então, esposa?
— Por sua estupidez?
— Não devia chamar seu marido de estúpido. É muito desrespeitoso.
— Sim, eu sei.
— Estou perdoado, então?
— Sim, eu o perdoo por ser tão tolo.
Ele riu e a beijou nos lábios.
— Descanse. Vou mandar Janet levar nosso filho para o quarto vizinho. Assim, os que quiserem conhecê-lo não perturbarão seu repouso. Você precisa dormir.
— Não foi tão difícil quanto eu imaginava que seria.
— Não precisa me fazer acreditar que foi fácil.
— Não disse que foi fácil. Apenas que não foi tão difícil. Acho que estava tão zangada com você que esqueci o medo. Só pensava no que queria dizer quando o encontrasse novamente. Por favor, lembre-se de me deixar furiosa sempre que eu for ter um filho.
— Sempre? Não esperava que pensasse em ter outros filhos agora, logo depois do parto.
— Não quero outra gravidez tão cedo, é verdade. Mas não estou assustada a ponto de não pensar em ter mais filhos. Não pretendo ter tantos que me veja envelhecida antes da hora, mas espero ter pelo menos mais um. E isso, meu marido, quer dizer que pretendo ficar do seu lado. Portanto, pare de pensar que vou abandoná-lo a qualquer momento.
— Nada poderia me fazer feliz, exceto, talvez, devolver-lhe tudo que foi perdido, tudo que você tem por direito.
Algo nessas palavras a atingiram como um presságio. Isabella não teve chance de pressioná-lo, fazer perguntas, porque ele a beijou e saiu levando o bebê. Isabella prometeu a si mesma que arrancaria de Edward uma explicação assim que o visse novamente. O instinto a prevenia de que o marido tinha na cabeça uma daquelas estúpidas ideias de homem, algo de que ela certamente não gostaria.
Edward saiu do quarto pensando no filho que acabara de nascer. Isabella havia dado a ele o mais valioso de todos os presentes, e ele nada tinha para oferecer em retribuição. Horas antes do parto, fora devolvido à condição de homem destituído de terras e título. E esse estado não era mais tolerável. Isabella merecia mais, seus filhos mereciam mais... E como poderia planejar ter mais filhos, se ainda nem acumulara o suficiente para a família que já devia sustentar e manter? Recentemente, o rei havia comentado alguma coisa sobre uma boa recompensa por seus leais serviços. Ele decidiu que era hora de se curvar agradecido por essas sugestões e cobrar o que lhe fora prometido.

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