domingo, julho 13, 2014

Fanfic A Fera Vermelha – Capítulo I

Autora: AnnaThrzCullen

Gênero: Romance, drama

Classificação: +16 anos

Categoria: Beward

Avisos: Adaptação, Linguagem Imprópria, Nudez e Sexo

 

 

Capitulo I

 

Inglaterra, 1365

— MORTO?

— Totalmente morto.

— Mas como?

— Caiu do cavalo e quebrou o pescoço.

Isabella piscou, depois olhou atenta para o pai. Não havia em seu rosto nenhum sinal de mentira, embora ele parecesse estranhamente desconfortável. Ela esperou sentir tristeza pela perda do prometido, o belo e galante barão James Cullen. O pesar surgiu e se foi. Afinal, pouco vira esse homem. O que a intrigava agora era por que os preparativos para o casamento ainda prosseguiam. Se James estava morto, não poderia haver casamento! Um momento mais tarde, sua mãe revelou estar pensando a mesma coisa.

— Mas e o casamento? O banquete está quase pronto. Os convidados estão chegando. Devo mandá-los embora?

— Não é necessário, Renée, querida.

— Papai, não posso me casar com um homem morto!

— E claro que não, querida. — Charlie Swan cobriu rapidamente a mão delicada da filha com a dele, grossa e calejada.

— Não vamos interromper os preparativos? — Isabella franziu a testa confusa, notando que o pai não se movia.

— Minha filha, o acordo que fiz com meu bom amigo, o barão Cullen, que Deus guarde sua alma, previa que você se casaria com o herdeiro dos bens dos Cullen.

— E esse era James.

— Sim, mas há outros herdeiros. Edward vem logo depois de James na sucessão pela herança.

— Então, está dizendo que agora devo me casar com Edward? — Ela não sabia se entendia o acordo feito pelo pai.

— Não. Ele morreu na França.

Ou era uma noiva amaldiçoada, ou os Cullen não eram muito saudáveis, ela pensou.

— Vou me casar ou não, papai?

— Sim, você vai. O terceiro herdeiro é Alec. E é com ele que vai se casar amanhã. Creio que já o conhece.

Sua memória era uma característica pela quais muitos a admiravam. Era rápida e muito exata, guardando até os menores detalhes com clareza e precisão. Ela a usava agora, mas não se sentia feliz por isso. Se não possuísse memória tão precisa, Alec Cullen não teria ficado gravado em seus pensamentos. Ele havia sido como uma sombra para James e passava a maior parte do tempo tentando fugir dos gritos e das ordens do tio, um homem muito desagradável que o dominava completamente.

— Sim, eu o conheci. Não acha que é... bem, desrespeitoso me casar com outro homem tão pouco tempo depois da morte da James?

— Bem... James morreu há algum tempo. Ele estava muito longe daqui, por isso você não foi chamada para perto de seu leito.

Nem fora informada, ela pensou.

— E o segundo herdeiro? Esse Edward que nunca conheci?

— Já disse filha, ele morreu na França. Não quero parecer insensível, mas talvez tenha sido melhor assim. Ele não era homem para você, Isabella.

***

Edward Cullen removeu a mão feminina de seu peito e sentou-se.

— Já amanheceu, mulher. E hora de ir embora. Pegando a bolsa de sob o travesseiro, ele extraiu dela algumas moedas e as jogou na direção da mulher, que as pegou com facilidade. Um sorriso cínico distendeu seus lábios. Os olhos atentos a viram pesar as moedas na palma da mão. A mulher também sorriu.

Edward era um homem respeitado e honrado por outros homens, temido por eles, mas era sua aparência que fazia tão marcante, olhos verdes como esmeraldas seus cabelos bagunçados, com uma cor bronze, seus ombros largos, seu peito musculoso e sua postura imponente só poderiam ter sido formados por um exercício físico constante e suas pernas poderosas estavam definidas com músculos marcados.

Edward não tinha problemas com as mulheres, elas ofereciam independente da classe, ladys ou criadas, apenas se jogavam aos seus pés, podiam ser donzelas, podiam ser mulheres experientes, ou mesmo meretrizes, todas sem exceção eram fascinadas pelos seus olhos verdes, seus cabelos acobreados e bagunçados, seu peitoral largo, sua postura imponente. Apesar disso Edward tinha seus fantasmas como a cicatriz que levava em seu rosto, mas mesmo com ela não diminua sua beleza ao contrario essa cicatriz dava um ar misterioso.

Deitando-se novamente e cruzando os braços sob a nuca, ele a viu se vestir sem pressa. Estava farto de meretrizes sem nome.

— Pretende passar o dia na cama? — perguntou Emmett, seu braço direito. Antes de entrar e fechar a porta, ele deixou o entretenimento noturno de Edward sair.

— Não.

Edward levantou-se e foi se lavar.

— Um contratempo nos espera. — Emmett acomodou-se na cama desfeita. — Logo você vai deixar de ser um herdeiro.

— Sim. James logo terá um herdeiro. Não tenho dúvidas disso. Ele já provou sua habilidade nesse campo muitas vezes.

— Não parece estar muito preocupado com a ameaça de se tornar um cavaleiro sem terras ou o administrador de algum proprietário abastado.

— Isso pouco me incomoda. Só um tolo pensaria que um homem como James nunca se casaria nem teria um herdeiro. Melhor que a obrigação seja dele, não minha. Eu teria dificuldades para cumpri-la.

— Subestima seu valor. Nunca o vi sem uma mulher para aquecer sua cama.

Edward ignorou o ar de desaprovação de Emmett diante da amargura que ele não conseguia esconder. Emmett não o via como as mulheres o viam. O amigo via nele um valoroso companheiro de batalha, alguém que era como um irmão. Emmett não percebia nada de errado em seu rosto, tão forte quanto seu corpo. Ele tocou a cicatriz que marcava sua face. Emmett também não veria nada de errado nisso, pois recordaria a gloriosa batalha que causara a marca.

Ele tentou ajeitar os cabelos, que tinham a infeliz tendência a ficar bagunçados. Mesmo que Emmett estivesse certo, mesmo que pudesse capturar o coração de uma mulher, não tinha importância. Não possuía casa para abrigar essa mulher. Se encontrasse o amor, seria apenas para ver essa mulher ser dada a outro homem. Poucos queriam dar suas filhas a um cavaleiro sem terras.

— Venha Emmett, me ajude a aparar as pontas. Logo teremos de sair. Anseio por ver aquela que James diz ser um anjo.

***

Isabella entrou no quarto e bateu a porta. Jogando-se sobre a cama, ela começou a praguejar com intensidade e sucessivamente. A boca carnuda e vermelha, tão frequentemente elogiada por seus pretendentes, cuspia todos os horríveis palavrões que ela conhecia. E quando esses terminaram, ela inventou outros. Como sempre acontecia quando extravasava dessa maneira, finalmente ela disse um impropério que considerou engraçado. Rindo, viu a porta ser aberta e sua prima Rosalie olhar cautelosamente para o interior do quarto.

— Terminou? — Rosalie entrou devagar, fechando a porta atrás dela.

— Sim. Acabei de lançar uma maldição sobre cada homem do reino. E pensei no que poderia acontecer se a maldição surtisse efeito. — Ela riu novamente.

— Há momentos em que penso que você deveria estar pagando uma grande penitência. — Rosalie sorriu sem entusiasmo e deixou sobre a cama um vestido de bordado muito elaborado. — Seu vestido de noiva. Finalmente está pronto. Vamos ver como fica em você.

Sentando-se, Isabella tocou o vestido, reconhecendo e apreciando sua beleza, mas sem sentir alegria por isso.

— Você deve ser a melhor costureira do mundo. Podia costurar para a rainha. — Ela sorriu ao ver o rosto da prima corar.

De fato, pensou Rosalie não era só bela com seus olhos cor de âmbar e cabelos loiros, mas já estava bem perto de completar dezoito anos. Ela também devia se casar. Era verdade que Rosalie não poderia almejar nada muito elevado, mas nem por isso estava sem possibilidades. Seu tio havia assegurado um dote para ela, única filha bastarda, e uma soma admirável fazia parte dele. Talvez pudesse haver alguém adequado para a prima entre os homens que compunham a entourage de seu marido. Teria de se dedicar a essa questão.

— Isabella, pare de fazer planos para mim. Imediatamente.

Tentando parecer inocente, mesmo sabendo que fracassava, Isabella murmurou:

— Eu jamais seria tão impertinente.

— Humph. Praguejando, e agora mentindo. Seus pecados crescem. Vai experimentar o vestido?

— Suponho que seja necessário. Afinal, o casamento será celebrado amanhã. — Sem se mover, Isabella continuou olhando para o vestido.

Rosalie suspirou, pegou uma escova, sentou-se atrás da prima e começou a escovar seus longos cabelos avermelhados. Mesmo carrancuda Isabella era linda, e jamais exibia vaidade. Rosalie sentia que sua prima merecia uma vida melhor. Na verdade, ela acreditava realmente que uma jovem como Isabella devia poder escolher o próprio marido, casar-se por amor.

A beleza da prima também estava na alma. Os olhos verdes e brilhantes e o corpo sensual podiam causar admiração e desejo em muitos homens, mas seu espírito amoroso suavizava até mesmo os mais cínicos. Como os irmãos, Isabella via a própria beleza como um presente de Deus, algo a ser brevemente apreciado e depois posto de lado por não ter grande importância. Frequentemente, quando era forçada a se defender ou esquivar de um pretendente mais ardoroso, ela considerava sua aparência mais uma maldição do que uma bênção. Precisava de um homem que pudesse enxergar sua essência, além do rosto encantador, e reconhecê-la como um verdadeiro tesouro, e Rosalie tinha a certeza de que Alec Cullen não era esse homem.

Livrando-se da melancolia, Isabella murmurou:

— De alguma forma, parece errado me casar tão rapidamente com o herdeiro sucessor de James.

— Não sei se é tão rápido assim. Creio que James morreu há algum tempo. Além do mais, interromper os preparativos agora traria grande prejuízo financeiro a seu pai. — Rosalie ajudou-a a despir o vestido e perguntou: — Conhece Alec?

— Não. Por que acha que estava aqui praguejando contra tudo e todos? Não estou preparada para isso.

— Muitos diriam que não teria sido necessário se preparar para desposar lorde James.

— É verdade, ele era belo, forte e honrado. Mesmo assim, o casamento representa um grande passo. É sempre melhor ter algum tempo para refletir. Mas, em menos de um dia, estarei me casando com um homem que não conheço. Nada sei sobre o caráter de Alec.

— Teve sorte por conhecer James tão bem. Poucas mulheres têm essa vantagem.

— É verdade, mas essa parece ser uma maneira monstruosa de conduzir a questão. Uma mulher é protegida e preservada em sua pureza durante toda a infância e a juventude. Um dia, ela se vê diante de um homem, na frente de um sacerdote, e recebe ordens estritas para ir viver ao lado desse desconhecido e obedecer a suas ordens sempre sem nunca questioná-lo. Receio cometer alguma tolice por causa do nervosismo. Talvez até desmaie.

Rosalie riu.

— Você nunca desmaiou. E ouso dizer que jamais desmaiará.

— Uma pena. Assim seria poupada de grande desconforto.

— Tia Renée certamente conversou com você. Deve saber o que esperar.

— Sim, ela conversou comigo. Porém, foi muito difícil compreender o que ela dizia. Tantos rubores, tremores e hesitações!

Rosalie riu novamente.

— Posso até ver. Pobre tia Renée.

— Pobre de mim! Contudo, a questão que mais me preocupa é que terei de me despir. Não posso gostar disso.

Concentrando-se em fazer os laços do vestido de Isabella, Rosalie disfarçou uma careta. Ela também não gostava da ideia. Isabella tinha um corpo capaz de despertar a luxúria dos homens. Embora não tivesse consciência disso, aparentemente, essa era uma das razões pelas quais fosse tão ferrenhamente protegida. De alguma forma, ela conseguia ser esbelta e elegante e, ao mesmo tempo, exuberante e sensual. Mais vezes do que pudera contar, Rosalie vira o fogo se acender nos olhos de um homem diante de sua prima. Acidentes ocorreram, apesar da cuidadosa vigilância, ocasiões em que Isabella tivera de se retirar apressadamente para preservar sua virtude. Colocá-la nua diante de um homem era altamente perigoso, especialmente um homem que teria todos os direitos sobre ela. A pobre Isabella poderia viver em sua noite de núpcias uma experiência violenta e dolorosa.

— Ele também terá de se despir — Rosalie finalmente murmurou. — Pronto. — Ela se afastou de Isabella. — Ah, você vai ser uma noiva encantadora.

— O vestido é lindo. — Isabella virou-se devagar diante do espelho. — Não precisa de ajustes. — O caimento era perfeito. — Já esteve com Alec? — Ela sorriu da expressão assustada de Rosalie, consciente de ter mudado de assunto de repente, um hábito difícil de romper.

— Já o vi, e você também. Lembra-se do rapaz que acompanhava James em sua última visita?

— Sim. Só queria ouvir sua opinião.

— Bem, ele é esguio e claro. E quieto.

— Hum. Muito quieto. Tão discreto quanto é possível. Fico me perguntando quando ele foi sagrado cavaleiro e por quê. Não posso dizer que ele honre o título, porque passa todo o tempo tentando fugir da autoridade do tio, uma atitude que não condiz com um cavaleiro. — Ela suspirou. — Ah, bem. Pelo menos não preciso temer que fosse um bruto.

— Há muito a ser dito em favor disso. — Rosalie ajudou Isabella a tirar o vestido.

— Longe do tio e do primo, talvez ele mostre um lado mais favorável de seu caráter.

— É o que espero.

***

Pouco tempo depois da chegada de Alec, Isabella já começava a pensar que sua esperança era vã. Aro Volturi, tio de Alec, estava sempre por perto. Tudo que ela descobriu foi que não era capaz de gostar de Aro Volturi, por mais que se esforçasse. Assim que teve uma oportunidade, ela escapou do futuro marido, e de sua sombra, para ir procurar por Rosalie, a quem arrastou para fora do castelo para colher flores.

O dia era ensolarado e quente, e os campos em torno do castelo estavam cobertos de botões. Logo o humor de Isabella começou a melhorar. Adorava a primavera com sua promessa de vida e calor, e rir e caminhar na companhia de Rosalie ajudou-a a esquecer das preocupações. Em pouco tempo, ela lembrava mais uma menina rústica e desprovida de maneiras do que uma dama à véspera de seu casamento, mas não se importava com isso. Só por algum tempo, pretendia esquecer Alec, o tio dele e o casamento.

Edward viu as duas jovens correndo pelo campo e se deteve a alguns metros delas. Rápido, ele fez um sinal aos dois homens que o acompanhavam para que também parassem, sabendo que o mais impulsivo deles as abordaria sem nenhuma sutileza, se assim permitisse. Apesar do estado descomposto das duas, sabia que não se aproximava de camponesas. Os vestidos eram finos demais. Temendo assustá-las, ele cavalgou cauteloso na direção da dupla, seguido de perto por seus homens. Logo sua aproximação foi notada. Ao parar perto delas, Edward sentiu-se fortemente afetado pela beleza da pequenina ruiva.

— Olá, senhoras. — O sorriso com que ela o brindou tirou-lhe o fôlego. — Colhem flores para a noiva?

— Sim. Veio para o casamento, senhor? — Isabella descobriu que era fácil sorrir para o grande homem ruivo, embora ele fosse muito maior do que ela e ainda mais imponente sobre seu cavalo negro.

— Sim, por isso estamos aqui. Meu primo é o noivo.

Flertando abertamente com as duas jovens, Emmett indagou:

— Acham que a celebração vai justificar a jornada?

— Certamente, senhor. — Isabella conduzia a conversa, porque Rosalie estava aparentemente aturdida e sem ação. — Vinho e cerveja fluirão como um rio caudaloso. Haverá muita comida de sabor inigualável. Menestréis tocarão com habilidade insuperável. — Ela não conseguiu conter totalmente o riso provocado por seus comentários.

— É apropriado, considerando que meu primo afirma que vai se casar com o anjo.

Edward se espantou com a gargalhada franca e doce.

— Um anjo, é? — Isabella olhou para Rosalie, que saia do estupor e sorria. — Eu não poderia dizer. — Ela agarrou a mão da prima. — Voltaremos a nos ver no castelo — disse, já começando a correr e puxando Rosalie atrás dela.

— É uma pena não podermos segui-las. — Emmett olhou para Edward. — Esse banquete se torna mais promissor a cada momento.

Edward sentiu o peso da depressão sobre os ombros. Havia experimentado uma forte e inegável atração pela delicada donzela de cabelos avermelhados como o fogo. A reação da jovem a sua presença tinha sido uma surpresa. Porém, sabia que ela não iria, além disso. Não com ele. Começava a temer as festividades que se aproximavam. Com muito esforço, conteve o impulso de fugir. James era seu favorito entre os poucos parentes que tinha, e não permitiria que uma moça e delicada criada de olhos verdes o impedisse de testemunhar seu casamento.

— A ruiva pequenina era toda sorrisos para você — Emmett comentou quando eles retomaram a cavalgada num trote lento.

— Ela foi polida, nada mais. — Edward instigou o cavalo e seguiu na frente de Emmett, encerrando a conversa.

Emmett praguejou em pensamento. Edward tinha grande confiança em sua habilidade e força, uma segurança que beirava a arrogância. Entretanto, com relação às mulheres, ele era totalmente inseguro. E a culpada disso era lady Tanya Denali. Alguns poderiam dizer que Edward fora tolo amando uma mulher como ela. Contudo, o dano que a megera causara era indiscutível. Mesmo que pudesse convencer Edward de que a pequenina morena demonstrara interesse, isso só o faria manter-se afastado. Edward era o flagelo de qualquer campo de batalha, mas uma donzela bela e bem-nascida o enchia de pavor. Tanya era uma donzela bela e bem-nascida.

Decidindo que não perderia tempo discutindo, ele resmungou:

— Sim, talvez. Vamos ver o tal anjo de James. É evidente que essa é uma região de pálidas beldades.

***

Isabella parou de correr ao ver o castelo. Ela e Rosalie levaram um ou dois minutos para recuperar o fôlego. Num acordo silencioso, as duas se esforçaram para pôr alguma ordem na aparência descomposta. Isabella notou que a prima precisava de menos cuidados do que ela, e ainda se esforçava para se limpar e ajeitar as roupas, quando percebeu que os cavaleiros que haviam encontrado pouco antes, já se aproximavam.

— Ele não é nada parecido com James ou Alec. — Isabella suspirou ao ver o ruivo encorpado desmontar com elegância natural. — Que olhos encantadores.

— Eu sei. — Rosalie imitou o suspiro da prima ao ver o cavaleiro que acompanhava o grande homem ruivo. — É azul como céu, depois da tempestade.

Com a testa franzida, Isabella murmurou:

— Azul? Como pode achar que ele tem olhos azuis? — Ao compreender de quem Rosalie estava falando, ela riu. — Oh, não! Então é lá que está sua atenção.

— Quieta. Eles podem ouvir. Quem tem olhos encantadores, então?

— Ora, o grande homem ruivo, é claro.

— O grande homem ruivo? Está brincando!

Isabella sentiu uma forte necessidade de defender o desconhecido da perplexidade boquiaberta de Rosalie, mas não saberia dizer por quê.

— Não. Ele tem olhos encantadores. A cor é linda. Um verde esmeralda, doce.

— Doce? Não se pode dizer que uma cor é doce. — Rosalie sentia uma estranha mistura de confusão e humor. Alguns dos mais belos cavaleiros haviam assediado Isabella sem nenhum sucesso, e agora um breve encontro com um cavaleiro grande, ruivo com uma cicatriz, a deixava toda derretida.

— Não tenho tanta certeza, realmente — Isabella respondeu. — Porém, doce é a palavra que me vem à mente. — Com um suspiro, ela se dirigiu à parte posterior do castelo. — Ah, bem, de volta a Alec.

Seguindo a prima, Rosalie perguntou:

— O que achou do jovem cavaleiro de olhos azuis?

Isabella precisou de um momento para se lembrar do homem a quem Rosalie se referia.

— Ele é favorecido.

As palavras ecoaram na mente de Rosalie até ganharem a magnitude de uma revelação. Como ela e a prima tiveram de se esgueirar pela entrada dos fundos do castelo para chegarem aos seus aposentos sem serem notadas, o silêncio de espanto não foi percebido, para seu grande alívio. Quando Isabella dizia que um homem era favorecido, estava apenas sendo polida. Não significava nada. Escolher um traço e elogiá-lo era sua verdadeira forma de aprovação.

Elas entraram no quarto de Isabella, e Rosalie fechou a porta, olhando para a prima com verdadeira perplexidade.

— Ah — Isabella sentou-se na cama —, estamos seguras e, melhor ainda, não fomos vistas. Mamãe ficaria aborrecida se eu fosse pega nesse estado.

— Não estamos em estado tão condenável.

— Há barro na bainha do meu vestido.

— Oh. Sim, isso teria aborrecido minha tia. O que faremos com as flores? — Rosalie deixou-as ao lado de Isabella sobre a cama. — Uma guirlanda para nossos cabelos?

— Boa ideia. Usarei a minha esta noite, enquanto ainda estão frescas e lindas. Se ainda restarem algumas, mandaremos a criada colocá-las no aposento nupcial. Elas perfumarão o ar. — Começou a escolher as flores que queria.

Sentada na cama e dedicando-se à mesma tarefa, Rosalie perguntou:

— O que tanto a impressionou no grande cavaleiro ruivo?

— Que importância tem isso? Amanhã me casarei com Alec.

Isabella não conseguia esconder a repentina tristeza que transbordava em sua voz.

— Se quer mesmo saber, isso me intriga. Você já teve a seus pés o coração de muitos homens jovens.

— Duvido que eles se tenham realmente posto a meus pés, embora me importunassem com poesias ruins.

— Digamos que eles flertaram com você, então. Tudo que jamais disse sobre eles, se é que disse alguma coisa, foi que eram favorecidos. Então, surge um homem que nunca viu, e pode parece mais um gigante de tão grande. Na verdade, comparado a James, esse cavaleiro ruivo é quase um gigante.

— Dependendo de quando o pobre James morreu, o cavaleiro poderia ser mais belo comparado a ele agora.

— Isabella!

Rosalie não conseguia conter o riso ou disfarçar a irritação provocada pelas respostas evasivas da prima.

— Nunca olhou para alguém e sentiu vontade de sorrir por pouca ou nenhuma razão?

— Sim, para bebês, normalmente. Há algo em um bebê que provoca em mim uma felicidade terna.

— Foi o que senti quando olhei para aquele homem. Senti vontade de cuidar dele, de fazê-lo sorrir.

— Os homens cuidam das mulheres — Rosalie resmungou, sentindo-se um tanto surpresa. — As mulheres não podem cuidar dos homens.

— Oh, sim... Os homens lutam, protegem, lideram e fazem coisas dessa natureza. Eu sei. Certa vez perguntei a papai se as mulheres eram realmente postas no mundo somente para ter filhos. Ele respondeu que não. Disse que éramos criadas para não deixarmos os homens esquecerem as coisas suaves e belas da vida, para mantermos vivas as emoções mais delicadas. Ele me disse que éramos postas no mundo para suavizar os caminhos de um homem, confortá-lo e dar a ele refúgio quando o mundo lá fora se torna cruel demais.

— E é isso que sentiu vontade de fazer por aquele homem?

— Sim. Quis apagar as linhas de preocupação de seu rosto, fazer aquela voz rica vibrar numa gargalhada. — Ela suspirou. — Mas não cabe a eu fazer tais coisas. Em menos de um dia estarei casada com Alec.

— Não sente nada disso por ele?

— Receio que não. Talvez mais tarde. Agora, quero apenas comandá-lo, como tantos outros já fazem com sua permissão.

— Isso não é bom para o casamento.

— Bem, um casamento é sempre o que se faz dele. — Isabella foi examinar sua guirlanda de flores diante do espelho. — Pronto. O que acha dela?

Rosalie aceitou a mudança de assunto e, caminhando até a porta para deixar entrar a criada que acabara de bater, ela assentiu.

— Muito linda. Vai usá-la esta noite?

— Sim. Ah, Edna. — Ela sorriu para a jovem e graciosa criada. — Tem notícias de nossos hóspedes recém-chegados?

— Sim, senhora. O maior é chamado por todos de Fera Vermelha. A Fera Vermelha e seu bando de bastardos.

Isabella franziu a testa.

— É um apelido cruel.

— Mas verdadeiro. Quase sempre verdadeiro, pelo menos. O homem é realmente Vermelho, e dizem que ele é o próprio demônio no campo de batalha. Muitos de seus homens são bastardos, filhos naturais de homens de origem elevada. Todos eles têm habilidade e conhecimento, mas nenhum tem dinheiro ou terra. Então, eles seguem a Fera Vermelha e vendem suas espadas como ele faz com a dele. Dizem que a simples visão desse grupo é suficiente para pôr fim a uma batalha. O inimigo foge ou se rende imediatamente.

— É um pensamento agradável, mas duvido de que a Fera Vermelha tenha conquistado tantas cicatrizes com rendições em massa — comentou Isabella. — Quem é ele?

— Um Cullen, pelo que ouvi dizer. Solteiro, muito bem apessoado, já atraiu muitos olhares, mas é um guerreiro sem terras, mas rico em honra. E não muito pobre em moedas, a julgar pelos rumores.

Rosalie balançou a cabeça.

— Não devia incentivar toda essa fofoca.

— A fofoca vai existir com ou sem meu incentivo. Não preciso encorajá-la. Por que não devo lucrar com ela? E quanto ao homem que cavalga à direita da Fera Vermelha, Edna?

— Isabella! — Rosalie exclamou, corando. Ao ver o rubor, Isabella piscou para a prima.

—Vamos, admita que esteja curiosa. Edna? Sabe alguma coisa sobre ele?

Com ar sonhador, Edna suspirou.

— Ah, que homem. Um belo sorriso.

— Como se eu não soubesse — Rosalie resmungou para si mesma. — Chegou há poucos momentos e já atraiu os olhares junto com a Fera Vermelha.

Não foi fácil, mas Isabella conteve o riso.

— Isso é tudo que sabe dele, Edna? Que tem um belo sorriso?

— Não, senhora. Ele também é solteiro. Na verdade, acho que todos são. Seu nome é Emmett. Sir Emmett. Ele é um cavaleiro.

— Obrigada, Edna. Vamos precisar de água para banho, por favor. — Assim que a crida saiu, Isabella olhou para a prima e sorriu. — É isso, Rosalie. O homem é solteiro.

— Sim, é um mestre na arte do flerte. Deve ser um patife, também.

—Tsk, tsk. — Isabella assumiu uma expressão pesarosa. — Rotular o pobre homem dessa maneira só porque ele sorriu para uma criada graciosa... Receio que seu coração esteja endurecido, prima.

— Bobagem. E pare de me provocar. Dessa vez não vai dar certo. Sim, ele é atraente. Sim, meu coração se comporta de um jeito estranho quando olho para ele. Porém, é melhor parar de pensar nele. O homem é destituído de terra, possivelmente pobre. Se algum dia ele procurar uma esposa, não há de querer alguém na mesma posição.

Isabella foi tomada por um repentino desânimo. Não havia argumento que pudesse utilizar contra essa triste realidade. Mesmo que pudesse pensar em algum, era melhor guardá-lo para si mesma. Não faria bem nenhum a Rosalie alimentar esperanças que bem poderiam ser falsas. Mesmo sem nenhuma riqueza, o cavaleiro podia obter terras e dinheiro pelo casamento, conquistando assim tudo de que fora privado pela condição de bastardo. Isso seria mais importante que qualquer laço emocional. Moeda e propriedade estariam sempre acima do amor. Era um fato da vida que ela não negaria, por mais que o deplorasse.

O desânimo tornou-se ainda maior quando ela foi forçada a admitir que esse fosse o fator decisivo em seu próprio casamento. Tinha certeza do amor do pai, mas, com relação ao matrimônio, ele em nenhum momento havia considerado seus sentimentos. Estudara a linhagem do marido, suas propriedades e quanto dinheiro ele tinha. Seu interesse estava em garantir que ela fosse bem situada e provida, mesmo que não fosse amada. Se tentasse sugerir outro tipo de arranjo, ele certamente a julgaria como louca. E essa seria a opinião da maioria.

Embora se preocupasse com seu futuro emocional, essa não era a maior das preocupações de Isabella. Seus pais haviam encontrado o amor. Precisava acreditar que tinha chances de viver algo parecido. Se não conhecesse o amor, ao menos poderia encontrar contentamento. E ela disse a si mesma que isso seria o bastante.

Arrancada das sombrias reflexões pelo retorno de Edna, Isabella começou a se preparar para as festividades daquela noite. Muitos convidados já estavam ali para o casamento, e a ocasião prometia ser animada. Ela tentou recuperar o ânimo habitual. Os convidados esperavam uma noiva sorridente.

— Tem medo do que está por vir? — Rosalie propôs a pergunta tímida quando elas se vestiam.

— Um pouco. Meu maior receio é odiar partilhar da cama de meu marido.

— Ninguém espera que uma dama aprecie tal obrigação.

— É o que dizem. Porém, se isso é verdade, por que tanta gente continua fazendo a mesma coisa com tanta frequência? Por que as mulheres se tornam amantes? Penso que essas coisas nos são ditas para que nos mantenhamos castas. — Ela deu de ombros. — Pouco importa. Prazer não é necessariamente o que busco. Só não quero sentir repulsa. Se Deus me der vida longa, passarei muito tempo na cama de meu marido. Pense em como seria terrível não tolerar essa experiência.

— O que acha que pode considerar repugnante?

— Não sei ao certo. Já disse, mamãe não foi muito precisa.

— Mas deve ter obtido algum conhecimento com essa conversa.

— Bem, é algo relacionado ao que existe entre as pernas de um homem. Ele vai fazer algo comigo usando esse apêndice. Algo que tem a ver com o que existe entre as minhas pernas. É como essas duas coisas se relacionam que eu não pude discernir. — Isabella franziu a testa, surpresa com o ataque de riso da criada. — Talvez Edna possa esclarecer a dúvida.

Sufocando o riso, a criada se dirigiu à porta.

— Oh, não, senhora. Não cabe a mim esse papel. Movendo-se com rapidez, Isabella bloqueou a saída do quarto.

— Edna, vai me mandar para o leito nupcial em total ignorância? Não contarei a ninguém que falamos sobre isso. Todos pensarão que mamãe foi mais coerente do que realmente foi.

— Receio conhecer apenas palavras ríspidas e impróprias para os seus ouvidos, senhora.

— Meus ouvidos sobreviverão. Edna é melhor começar a falar, porque não vai sair daqui antes disso. Não entende que é melhor para mim se eu souber? Melhor para todos?

A criada refletiu por um momento e assentiu. Com grande agitação e seguidos rubores, ela explicou exatamente o que aconteceria na noite do casamento de Isabella. Quando terminou, um silêncio prolongado invadiu o quarto por vários segundos, até Isabella recuperar a voz. Finalmente, murmurando um agradecimento contido, ela permitiu que Edna saísse do quarto. Depois de fechar a porta, se apoiou nela como se temesse cair.

— Bem, não sou mais ignorante.

— E agora tem medo?

— Não sei ao certo, Rosalie. Talvez seja melhor assim. — Ela suspirou e balançou a cabeça. — Sinto-me melhor agora que sei o que me espera. Há uma coisa que receio, ao pensar nisso.

— O que é?

— Temo começar a pensar muito em como será com Alec.

***

— Pelo sangue de Cristo! Eu disse que a Fera Vermelha era um cavaleiro bom demais para ser derrubado por um francês!

Detida repentinamente, Isabella tropeçou e praguejou em voz baixa, dizendo a si mesma que a culpa era dela. Se não estivesse olhando com tanto interesse para a Fera Vermelha, que entrara no salão poucos passos na frente dela, certamente teria notado que seu acompanhante havia parado. Ela se encolheu ao sentir os dedos de Alec apertando seu braço. Séria, olhou para a mão que a segurava com brutalidade. Tentando livrar-se do doloroso contato físico, ela ergueu o olhar para o rosto de Alec e franziu a testa.

Ele estava pálido. Os olhos cor de âmbar pareciam querer saltar das órbitas. Pequenas gotas de suor surgiram em sua testa. Seguindo a direção de seu olhar horrorizado, ela percebeu que Alec olhava para a Fera Vermelha. Como não havia ameaça partindo daquela direção, ela ficou intrigada e curiosa com a estranha reação do noivo.

Edward olhou para o homem que acabara de falar. Encontrara-o algumas vezes e chegara a lutar a seu lado uma vez. Disposto a descobrir o que havia provocado tão estranho comentário, ele caminhou na direção desse homem.

— Ouviu dizer que fui vencido na França? — O homem assentiu. — Onde ouviu isso?

— Ouvi a notícia de nosso anfitrião, meu primo, sir Charlie Swan.

Olhando para o anfitrião, que o fitava sem tentar esconder o choque, Edward perguntou:

— Quem lhe falou sobre minha morte?

— Seu próprio parente.

— James?

— Não, sir Alec e o tio dele. — Charlie apontou para Isabella e Alec, ainda parados na porta.

Virando-se, Edward olhou para o primo assustado e trêmulo sem demonstrar nenhuma afeição.

— Sua conclusão foi prematura e infundada, primo. Por quê?

Com um grito sufocado, Alec soltou o braço de Isabella. Ele se virou para correr, mas não foi suficientemente rápido. Edward o agarrou pela elegante casaca. Os pés de Alec balançavam centímetros acima do chão, e ele começou a emitir sons estrangulados enquanto as mãos finas e alvas puxavam inutilmente a mão forte e enorme de Edward, que o segurava com firmeza apertando-lhe o pescoço.

Notando a dificuldade de Alec, Isabella murmurou:

— Creio que ele não poderá responder nessa posição. — Ela sorriu quando a Fera Vermelha olhou em sua direção.

Soltando o primo prestes a ter um colapso, Edward disparou:

— Responda. Por quê?

— Meu tio me disse — Alec falou com dificuldade. — Ele contou que você havia sido derrotado na França.

Edward empurrou Alec, que caiu no chão sem nenhuma elegância. Pensativo, a Fera Vermelha coçou o queixo.

— Que utilidade pode ter tal mentira? Você e Aro nada têm a lucrar com minha morte.

Com a ajuda de Isabella e Rosalie, Alec levantou-se, tentando recompor-se.

— É evidente que lucro. Você não é o herdeiro de James? E eu não sou seu herdeiro? — Ele gritou ao ser novamente agarrado pela gola da casaca.

Com o rosto quase tocando o de Alec, então ainda mais pálido, Edward gritou:

— Onde está James?

— Morto — guinchou Alec. Jogado para o lado, ele bateu a cabeça no chão com força suficiente para perder a consciência.

Virando-se para o pai de Isabella, Edward perguntou em voz baixa e ameaçadora:

— Tão morto quanto eu?

— Não, James está realmente morto.

— Quem garante? O mentiroso que Alec chama de parente?

— O próprio escudeiro de James nos trouxe a notícia.

— Como foi que ele encontrou a morte?

— Caiu do cavalo ou foi derrubado, não sabemos ao certo. Seu pescoço se partiu. Sinto muito. — Apesar das inúmeras indicações oferecidas pelo breve e ruidoso confronto, Charlie ainda não sabia quem era o alvo da fúria do homem. — Você é sir Edward Cullen?

— Sim. — Com os pensamentos centrados na perda de James, Edward suportou as apresentações com grande dificuldade. — James está morto, mas o casamento vai acontecer?

Isabella ajudava Rosalie na tentativa de reanimar Alec, mas ergueu os olhos para responder:

— Eu ia me casar com seu primo aqui.

Vendo a ruga na testa de Edward, Charlie se apressou em explicar.

— Faz parte do acordo.

— Que acordo?

— O acordo que assinei com o pai de James. Acertamos o casamento quando Isabella ainda era um bebê. A Peste havia deixado sua primeira cicatriz sobre a Terra, por isso o acordo foi redigido de maneira um pouco... estranha. — Ele fez uma pausa e ordenou que a esposa fosse buscar a cópia do documento. — O nome de Isabella consta do acordo, mas não o de James. O pai dele queria a união entre as famílias. E eu também. Três de vocês poderiam chegar à maturidade e realizar esse propósito. James, você e Alec. Todos estavam sob os cuidados do pai de James naquela época. O acordo decreta que Isabella se casaria com o herdeiro de Cullen, aquele que sobrevivesse, fosse ele James, você ou Alec.

Isabella sentiu o olhar de Edward como um tapa forte e doloroso. A cor havia desaparecido de seu rosto. Ele parecia horrorizado. Essa era uma reação que ela jamais havia causado em um homem. Sabia que não a teria incomodado se fosse outro homem, porque nunca se importara com o que pensavam dela. Era injusto que se importasse agora, exatamente com um homem que parecia considerá-la uma praga.

Lady Swan colocou um documento na mão de Edward, arrancando-o do estupor em choque. Por um momento ele olhou aturdido para a folha de papel, a mente tomada por pensamentos fragmentados. Agora ele era um homem de posses, um homem de propriedade e título. Não seria difícil aceitar a mudança. Mas o preço a pagar por isso o enchia de pavor. Teria de se casar. E que esposa teria! Um homem como ele se casar com tamanha beldade era simplesmente uma maldição.

Finalmente, se obrigou a ler o documento que tinha na mão, mas não encontrou nenhum alívio ali. Na caligrafia firme de seu pai adotivo e tio, o documento afirmava que o proprietário do castelo de Masen Cullen se casaria com Isabella Marie Swan quando ela completasse dezessete anos. Não era mais o casamento de James que ele testemunhava, mas o próprio casamento. Seus olhos recaíram sobre Isabella quando ela e outra jovem ajudavam Alec a se sentar. Ele ainda estava atordoado, mas não tinha tempo para ocupar-se do primo agora. Ele encarou Charlie Swan.

— Isto é legal?

— Legal e válido. Como pode ver, o rei colocou seu selo aprovando a união entre nossas famílias.

Edward viu o selo real. O documento o obrigava a se casar com Isabella. A aprovação do rei conferia ainda mais peso a essa obrigação. Na verdade, tal aprovação era quase uma ordem real. O título de lorde, barão de Masen Cullen, agora era dele, bem como o castelo de Masen Cullen. Também era dele a riqueza da família. E também era dele Isabella Swan, mesmo que não a quisesse. Ele estava ali. A noiva estava ali. O casamento havia sido preparado. Não havia como escapar.

Ainda aturdido pela sequencia de eventos, Edward se deixou levar para a mesa e ocupou o assento entre Charlie e Isabella. Ele notou vagamente o olhar preocupado de Emmett, que se sentara entre Isabella e Rosalie, que também exibia uma expressão apreensiva. Nesse momento precisava de mais do que uma simples apreensão. Alec estava sentado ao lado de lady Swan e parecia prestes a explodir em lágrimas. Edward também sentia uma forte vontade de chorar e gritar. Ele mal reconheceu a qualidade indiscutível da comida e do vinho que eram servidos enquanto tentava encontrar uma forma de escapar. No entanto, não havia nenhuma.

Isabella olhou para o noivo, esvaziou sua taça de vinho e esticou o braço para que fosse servida mais uma dose. Cuidava para que sua taça fosse mantida cheia durante toda a refeição, esperando afogar a própria dor em vinho. Sabia que não era a vaidade ferida que lhe causava o desconforto. Não só a vaidade. Era verdade que os homens sempre haviam reagido de maneira favorável a sua presença. Também era verdade que nunca se importara muito com essa reação do sexo oposto. Mas agora era diferente. Pela primeira vez na vida sentia certo interesse por um homem. Um sentimento autêntico, genuíno. E dessa vez o homem não se interessava por seus sorrisos. Esse homem reagia à notícia do iminente casamento com ela como se acabasse de ser informado de que contraíra a Peste. Sim, encharcar-se de vinho era exatamente o que ela precisava fazer nesse momento. Segurando a taça para ser cheia mais uma vez, ela ignorou as tentativas de Rosalie de chamar sua atenção.

Rosalie estava tão preocupada com Isabella que esquecia suas maneiras. Debruçando-se sobre a mesa, ela passou um braço pela frente de um espantado Emmett para cutucar a prima, conseguindo finalmente chamar sua atenção. A luminosidade nos olhos de Isabella quando ela se virou para fitá-la só alimentou sua preocupação.

— Quer parar de beber como...

— Como se comemorasse? — Isabella sorriu e bebeu mais alguns goles. — É uma comemoração, não é? Minha festa de casamento, na verdade. Então, estou festejando.

— Está se embriagando, isso sim.

Isabella olhou para Emmett e notou que ele ria.

— Diga-me, senhor, o que as pessoas fazem em uma festa?

— Comem, bebem e celebram — ele respondeu com um sorriso.

— Ahá! Eu já comi. Agora estou bebendo. E estou celebrando. Vê, Rosalie? Não há nada com que se preocupar.

Quando Isabella se virou, Rosalie tentou cutucá-la novamente, mas Emmett a deteve.

— Deixe a moça em paz, senhorita. Ela não faz mais do que todos os outros.

— O que é muito mais do que ela jamais fez. Isabella nunca bebe mais do que uma taça de vinho com a refeição. Ela nunca se embriaga. Não imagino onde essa indulgência a levará.

— Direto para a cama, sem dúvida.

Rosalie se preparava para responder quando uma voz masculina e familiar gritou:

— Com licença! Não me deixaram nada para comer, então?

— Jasper! — Isabella exclamou, levantando-se de um salto para ir cumprimentar o irmão. Rosalie fez o mesmo.

Ela correu para o rapaz esguio parado na porta. Sem nenhuma dificuldade, o recém-chegado tomou nos braços as duas jovens. Todos riram enquanto Isabella e Rosalie cobriam o rosto do recém-chegado de beijos e o crivavam de perguntas. Por cima do ombro do irmão, ela viu lorde Eleazar, seu tio, aproximando-se da porta. Logo os pais de Isabella também foram cumprimentar o filho e, depois de uma acolhida mais contida, eles o convidaram a se sentar. Olhando em volta para o alegre grupo reunido momentaneamente na porta, Isabella percebeu que havia algo na festa de casamento que merecia sua gratidão. Sua família estava novamente reunida.

Observando a feliz reunião, Emmett murmurou:

— O rapaz tem excelente aparência. Charlie Swan produz herdeiros de beleza admirável.

Edward concordou com um grunhido. Não podia deixar de pensar em como duas pessoas tão comuns quanto Charlie e Renée podiam ter produzido filhos tão belos. Quando ele se surpreendeu imaginando qual seria a aparência de seus filhos com uma mulher tão linda, quanto Isabella praguejou para si mesmo. Pensar em futuros filhos era um final de aceitação de seu destino, quase um sopro de esperança para o futuro. Nunca tivera intenções reais de se casar. Agora que tinha posses, esse era um passo natural.

Porém, não queria uma esposa tão bela. Nesse caso, o futuro traria apenas problemas, decepção e dor.

— Feriu profundamente os sentimentos da moça — Emmett continuou.

— Como assim? — Edward tinha dificuldades para acreditar nisso.

— Como assim? — Emmett balançou a cabeça com espanto. — E ainda pergunta, depois de ter se sentado aí como quem se prepara para prender uma ratoeira no próprio traseiro?

— Um homem como eu é solicitado a se casar com uma mulher linda... É como uma ratoeira. — Podia imaginar o futuro. Dias e dias chutando homens para fora de sua cama.

— Meu amigo, pela primeira vez na vida está fazendo um julgamento sem ter conhecimento do caso. Está tirando conclusões sem fatos que possam justificá-las. Sim, a moça é linda e pode incendiar o sangue de um homem. Porém, cá estou eu, pronto para trocar sorrisos e flertar, e ela não correspondeu aos meus esforços. Não acredito que seja leviana.

— Ela não precisa ser. Ainda assim, estarei tropeçando em homens apaixonados até o fim de meus dias. E quando envelhecer, ela vai acabar sucumbindo a um ou outro assédio mais ardiloso.

— Então, endureça seu coração e deixe o corpo se banquetear com essa bela esposa.

Havia na voz de Emmett uma rispidez que assustou Edward. Entretanto, ele não teve tempo para refletir sobre a razão disso. Estava sendo apresentado a Jasper Swan e lorde Eleazar Swan, irmão e tio de sua futura esposa. Alguns comentários sutis entre os membros da família revelaram quem era Rosalie e agora também sabia que ela era a razão pela qual esposa e filhos de Eleazar não compareciam ao casamento. Os poucos comentários lamentavam apenas a ausência dos filhos de Eleazar.

— Benjamin e Mike ainda não chegaram? — Jasper perguntou.

— Não respondeu o pai dele. — Mandaram mensagens explicando a demora. Esperamos que eles cheguem a tempo de testemunhar a cerimônia.

— Tenho certeza de que chegarão. — Jasper sorriu para Isabella. — Vejo que houve outra troca de noivos.

— Parece que sim. Alec precipitou-se ao se colocar na posição de herdeiro. O relato sobre a morte de sir Edward era inverídico — ela respondeu.

Enquanto Jasper ria, Edward olhava para a noiva. Estava certo de ter detectado sarcasmo por trás de suas palavras, mas ela parecia doce demais para esse tipo de atitude. A exagerada inocência no olhar, porém, alimentou suas suspeitas. Ele decidiu considerar essa questão mais tarde, em outra ocasião.

Todos conversavam, mas ele não ouvia o que diziam, pois ponderava a situação em que se encontrava e tentava aceitar o destino que se apresentava sem aviso prévio. Rosalie falava sobre a cerimônia de casamento na manhã seguinte, e ele queria acompanhar com atenção a reação de Isabella.

— Veremos — ela resmungou. — Podemos acordar e descobrir que o noivo fugiu.

Edward encarou-a com ar severo.

— Eu estarei aqui. Não costumo romper acordos.

— Perdão! — Ela pôs a mão sobre o peito num gesto dramático. — O romance está no ar esta noite.

Emmett engasgou com a bebida. Rosalie riu e bateu nas costas dele. Os dois pareciam se divertir muito, ao contrário do noivo. Edward olhou para a taça de vinho que Isabella tinha na mão, e seus olhos excessivamente brilhantes e a cor nas faces, sugeriram que ela já havia bebido demais. Ele estendeu a mão para pegar a taça e descobriu que, além de ter uma forte tendência para o sarcasmo, sua noiva também podia ser obstinada.

Isabella agarrou a taça e se recusou a entregá-la. Ela o encarou séria, reconhecendo que já havia bebido em excesso, mas sentia a necessidade de beber ainda mais. Não desistiria de sua taça. O vinho aliviava o desconforto causado pela atitude ofensiva do noivo.

Notando como a noiva olhava para a mão de Edward, Rosalie colocou um pedaço de carne na mão de Emmett.

— Quando ela abrir a boca encha-a de carne.

— Mas por quê? — Emmett não sabia se devia seguir a estranha sugestão.

— Não há tempo para explicar. Lá vai ela. Faça o que eu disse... depressa!

Quando Isabella se preparava para cravar os dentes na mão de Edward, ela se descobriu com a boca cheia de carne. Metade do pedaço ainda estava do lado de fora. Quando ouviu as gargalhadas de Rosalie e Emmett, ela compreendeu que a prima estava por trás de sua incapacidade de causar dano ao futuro marido. Sem deixar de encará-lo, ela mastigou lentamente e engoliu o alimento.

Era difícil, mas Edward conseguiu conter o riso. Sabia que era melhor não ceder ao sorriso que ameaçava distender seus lábios. Uma coisa que devia esperar da esposa era obediência, e sentia que era necessário informá-la de sua intenção desde o início. O pai dela, porém, roubou-lhe a oportunidade.

— Isabella, minha filha, por que não vai mostrar o jardim sir Edward? — Ele olhou para o cavaleiro, tentando transmitir sua esperança. Algum tempo sozinhos, e tudo começaria a melhorar. — Senhor, garanto que vai apreciar meu jardim.

Sentindo as intenções do homem, Edward murmurou:

— Talvez seja melhor deixarmos esse passeio para a luz do dia.

— Não é preciso esperar. O jardim está iluminado pela lua e por muitas tochas.

Mesmo embriagada como estava, Isabella não tinha dificuldades para adivinhar a intenção do pai. Ela se preparava para dizer que não sentia nenhuma necessidade imediata de conhecer melhor o noivo, quando viu Edward olhar para Emmett com ar de súplica. Emmett suspirou, mas levantou-se assim que Edward se pôs em pé. Ela também se levantou e chamou Rosalie com um gesto. Se Edward insistia em ter companhia, ela não seria diferente. Com relutância semelhante a de Emmett, Rosalie levantou-se.

— Pensei que iriam apenas os dois — Benjamin murmurou, olhando intrigado para a filha.

— Se meu noivo decidiu levar um acompanhante, creio que devo fazer o mesmo.

Sentindo-se corar, Edward segurou o braço da noiva e a levou para longe dali. Irritado, ele notou que Isabella levava a taça e um bom suprimento de vinho para mantê-la cheia. Emmett e Rosalie os seguiam, a presença dos dois o ajudou a recuperar parte da calma.

Uma vez do lado de fora, ele logo entendeu o comentário do pai de Isabella. Arbustos, árvores e flores ofereciam total privacidade a quem quisesse caminhar e apreciar a beleza natural do lugar. De início, um homem podia decidir que o uso do espaço era frívolo, tal a preciosidade com que eram tratados os canteiros de formatos geométricos e cores vibrantes. Edward vira jardins parecidos em mansões da Europa, mas sabia que o estilo ainda era novidade na Escócia. Ali os jardins eram apenas um emaranhado de plantas ao natural ou canteiros de vegetais úteis, temperos e ervas para a culinária. Benjamin também acertara ao insinuar que aquele era um excelente lugar para o romance.

Edward fez uma careta ao pensar na última palavra. Romance. Sua noiva merecia um pouco de sedução. Não podia negar essa verdade. Ela não era culpada pela situação nem pela própria beleza. Infelizmente, a arte da sedução se perdera para ele. Vendo Isabella caminhar alguns passos na sua frente, e registrando o silêncio constrangido de Emmett, ele tentou pensar em alguma coisa para dizer. Qualquer coisa.

Ignorando a desaprovação de Rosalie, Isabella enchia novamente sua taça e a dela. Ela ofereceu vinho a Emmett, fazendo um grande esforço para se livrar da raiva que a envenenava rapidamente. No dia seguinte se casaria com o homem que marchava atrás dela. Em um lugar que sugeria romance, ele se mantinha afastado e carrancudo. De repente foi tomada por um impulso de falar diretamente, com total honestidade. Precisava descobrir exatamente por que ele se opunha com tanto fervor à ideia de desposá-la. Parando repentinamente, ela se virou para encará-lo.

Ainda pensativo, buscando as palavras com desespero crescente, Edward não a viu parar e tropeçou nela, derrubando-a na grama a seus pés. Emmett e ele se moveram ao mesmo tempo, ambos com a intenção de ajudá-la a se levantar, e quase tropeçaram um no outro. Rosalie também correu e estendeu a mão.

— Devia ter avisado que pretendia parar — Edward disparou enquanto Isabella, já em pé, removia as folhas de grama do vestido.

— Parei porque pretendia lhe falar, senhor.

— Sim? O que tem a dizer?

Isabella o encarou e decidiu que sua posição ali era muito desconfortável e delicada. Com tudo que ocupava sua mente e todas as palavras que tinha para dizer, sentia que poderia sofrer um severo torcicolo antes de dar a missão por cumprida. Olhando em volta, ela localizou um banco de pedra. Segurando-o pela mão, puxou o assustado noivo até lá e, depois de colocá-lo sentado, mantendo-se ela mesma em pé, finalmente conseguiu encará-lo com um pouco mais de conforto.

— O que o repudia tanto nessa ideia de nos casarmos? — ela perguntou.

— Isabella... — Rosalie começou num protesto hesitante.

— É uma pergunta razoável, prima. E então, senhor? Prefere as damas loiras?

— Não. — Não podia falar a ela sobre seus medos, sobre como temia um futuro cheio de sofrimento, vergonha e traição.

— Sou pequena demais para o seu gosto, então?

— Bem, é verdade que seria difícil encontrá-la, se fosse um pouco mais baixa.

— Ah, entendo. Lamenta que eu não seja mais alta? — Ela franziu a testa ao vê-lo balançar a cabeça numa resposta negativa. — Mais magra? Mais gorda?

Apesar do esforço para resistir, os olhos de Edward analisaram a figura esguia. Não havia nada nela que pudesse criticar. Seios altos e cheios, cintura estreita e quadril arredondado, enfim, proporções que despertavam nele um inegável interesse. Seu corpo manifestava sem equívoco a ânsia de começar logo a vida conjugal com Isabella.

— Nada disso. Fiquei chocado, apenas. Vim para cá esperando testemunhar o casamento de James, e de repente, descubro que James está morto e eu serei o noivo. Vim com a intenção de conhecer a esposa de meu primo. Em vez disso, sou apresentado à minha futura esposa. Essa é uma situação que deixaria qualquer homem perturbado.

Ela entendia o sentimento. Mesmo assim, tinha certeza de que o noivo não estava dizendo toda a verdade. Apesar do vinho que lhe perturbava o raciocínio, ela também sabia que era inútil continuar pressionando. Felizmente já tomara a decisão de encerrar o assunto, porque vozes do outro lado de um canteiro atraíram sua atenção.

— Não devemos — protestava arfante uma voz feminina. — Meu marido...

— Está encharcado de vinho e bem próximo da inconsciência.

— Sua esposa?

— Deitada. E ela não dá muita importância a como me entretenho. Ah, você é tão encantadora... Seus seios são fartos e doces como melões maduros.

Isabella olhou para Rosalie, que cobria o rosto Vermelha com as mãos. Embora sempre houvesse escutado comentários sobre amantes e encontros fortuitos, infidelidade e adultério nunca acreditaram muito neles. Seus pais eram profundamente apaixonados, e ela considerava o casamento fiel e sólido de que era fruto, como via de regra. Agora ficava claro que os rumores tinham, sim, um fundo de verdade.

No auge da indignação, ela decidiu que tais coisas não seriam permitidas em sua casa. Depois de censurar com o olhar os dois homens que pareciam se divertir, Isabella caminhou na direção da cerca natural. Ouvindo os passos dos três companheiros atrás dela, tratou de se apressar para não se deixar deter. A visão do casal abraçado e deitado no chão a enfureceu. O homem a viu e se apressou em ficar em pé, mas ela o atingiu com um inesperado e violento chute nas nádegas. O casal tentava ajeitar as roupas sob o olhar severo de Isabella. Ela começou um duro sermão, enfatizando certas declarações com um chute ou empurrão direcionado a um ou outro. Sentia-se capaz de entender as fragilidades humanas e podia tolerar seus erros, mas isso já era demais. Encontrar alguém em flagrante adultério no jardim recém-construído por seu pai, entre as flores que eram o orgulho e a alegria de sua mãe, era mais do que podia tolerar. Inteiramente vestida e recomposta, a mulher por fim se revoltou.

— O que sabe sobre o amor?

— Está dizendo que ama esse patife infiel? Se houvesse amor envolvido, poderia temperar sua condenação, embora julgasse tolice amar um homem capaz de trair a própria esposa.

A mulher hesitou e, quando respondeu, não havia convicção em sua voz.

— Bem... é claro que sim.

— Mentira! Agora aumenta seus pecados mentindo. Volte para seu marido. Seu lugar é ao lado dele.

— Já viu meu marido?

— Sim, e reconheço que ele não tem a beleza desse porco traidor. Porém, ele é limpo, saudável e ainda tem todos os dentes e cabelo. E também parece ser um homem alegre. Podia ter encontrado alguém pior. Agora sumam os dois, porque já estão me aborrecendo.

Ela se surpreendeu quando o casal se apressou em obedecer ao comando imperioso.

— Oh, Isabella — Rosalie murmurou quando o casal adúltero desapareceu —, não devia ter interferido.

— Rosalie, meus pais passeiam por esse jardim.

Edward ria sem parar. Emmett também gargalhava. Isabella olhava para o chão como se o casal houvesse deixado na relva marcas indeléveis, e ainda parecia indignada. Furiosa ela era ainda mais linda.

Devagar, Isabella olhou para Edward, atraída pelo som de sua risada. Era profunda, rica, mas com uma qualidade quase juvenil. Era contagiosa. Emmett também ria. Rosalie estava intrigada. Isabella sentiu vontade de perguntar à prima se a risada de Emmett aquecia seu interior como a de Edward a aquecia por dentro.

— Suponho que tenha sido tolice minha interferir — ela murmurou, aproximando-se de onde ele se sentara no chão com as costas apoiadas contra uma árvore.

Emmett levantou-se, segurou a mão de Rosalie e a levou para longe dali. Pelo que podia ver seu pai não era o único a acreditar que devia passar algum tempo com Edward. Só ela e ele. Embora não tentasse detê-los, Isabella se sentia dividida. O ataque de riso suavizara a expressão de Edward, tornando-o menos distante. No entanto, não sabia o que dizer ou o que fazer. Estava nervosa, quase tímida.

Sabia que a frieza e o distanciamento de Edward podiam retornar, porque havia muitas razões para isso. O choque de descobrir-se noivo, porém, não era uma delas. E ela não sabia como chegar à verdade por trás daquele estranho comportamento.

Tentar pensar em um jeito de começar a conversa fazia sua cabeça doer. Nunca tivera um problema antes. A única dificuldade que enfrentara havia sido manter a conversa amena, evitando palavras de amor ou desejo que sempre acabavam escapando dos lábios de outros homens. Todos os outros, menos seu noivo. Ela suspirou tomada por uma súbita tristeza, reconhecendo que não teria esse problema agora. Era difícil não pensar na crueldade do destino. Essa era a primeira vez que desejava ouvir palavras doces, mas estava certa de que o homem a seu lado não as pronunciaria.

Edward estudou a noiva tão próxima dele. Não havia malícia em seu rosto alvo e perfeito. Nenhum traço de vaidade ofuscava o brilho natural de sua beleza. Havia em torno dela uma aura que sugeria que havia sido uma criança protegida. Mesmo assim, ele se agarrava ao desconforto, temendo relaxar, sabendo que, se não se defendesse, nenhum ferimento sofrido em batalha poderia se igualar em dor ao sofrimento que seria resultante de tal entrega.

— Eles só irão a outro lugar. — Edward mantinha o tom gentil, evitando dar a entender que a ridicularizava de alguma maneira. — Pode ter dificultado a relação, mas não a impediu.

— Eu já pensei nisso. Eles vão arder no inferno.

— Isabella, essa é uma ocorrência muito comum. Mulheres tomam amantes, homens se deitam com meretrizes...

— Meus pais não cometem tais pecados. São fiéis aos votos que fizeram perante Deus. E eu sei que a fidelidade é resultante do amor que fortalece o casamento.

— Sim. Qualquer um que os conheça pode ver que se amam, e nisso eles são afortunados. Mas nem todos têm essa sorte, e muitos tomam amantes.

— Amantes... bah! Parceiros na luxúria. Não havia amor algum entre aquele casal. E é aí que o pecado realmente reside. — De repente ela pensou em algo que a atingiu com um raio. — Você terá amante?

Por um momento ele se sentiu tentado a falar duramente sobre impertinência. Esse era um assunto que qualquer esposa sensata e obediente devia ignorar. Isabella era mesmo impertinente e ousada, mas também era ingênua a ponto de ainda acreditar na santidade do casamento. Ele decidiu que esse não era o momento para um sermão. Além do mais, sabia que, enquanto a esposa se mantivesse fiel, ele não teria dificuldade para fazer o mesmo. Possuía um saudável apetite sexual, mas não precisava de variedade. Se Isabella levasse algum calor a sua cama, não sentiria nenhuma necessidade de buscar outros leitos.

— Não, a menos que você leve outro homem para sua cama.

A beleza do sorriso de Isabella o fez perder o fôlego.

— Nesse caso, é melhor começar a escrever cartas de despedida a todas as mulheres com quem se relaciona.

— Não tenho nenhuma amante.

A incredulidade no rosto de sua noiva era lisonjeira.

— As mulheres que conheço se interessam antes pelo valor da minha moeda. — Ele riu diante da persistente expressão de dúvida, mas logo ficou sério. — Conheceu James?

— Não muito bem. Passamos apenas algumas poucas horas juntos. Quer saber se choro a morte de meu noivo?

Ele assentiu lentamente.

— Não o conheci o bastante para isso. O que senti foi apenas um pesar passageiro pela perda de um homem jovem e saudável.

— Sim, e em circunstâncias muito terríveis.

Ele falou distraído, pensando que estavam ali próximos sozinhos. A beleza de Isabella era do tipo que inspirava os menestréis. Saber que ela logo seria sua pelas leis do rei e de Deus era inebriante. Ele tocou os cabelos brilhantes e estudou o rosto delicado e os lábios carnudos.

Isabella reconhecia aquele olhar, mas não sentia o habitual impulso de se afastar.

— Pretende me beijar?

— Você é sempre tão ousada em suas perguntas?

— Dizem que sim. Mas creio que o vinho me torna ainda mais arrojada que de costume. Vai ou não? — ela tornou a indagar.

— Confesso que a ideia me agrada. — Ele afagou a face corada com a ponta dos dedos. — James a beijou?

— Sim, e tive de contê-lo com alguns tapas, uma ou duas vezes. Ele tinha ideias atrevidas sobre a arte de conquistar uma mulher.

Edward bem podia imaginar como o primo se comportara com uma mulher de tão estonteante beleza. Ele sorriu.

— E Alec?

— Eu mal havia me tornado noiva dele quando você chegou. Se quiser uma lista, confesso que não tenho muitos nomes a recitar, mas já tive de aturar um dilúvio de poesias enjoativas e horríveis.

O comentário espontâneo o fez rir.

— O vinho também a torna impertinente.

— Receio que essa característica não seja culpa do vinho. — Ela o observou com uma expressão ansiosa, cheia de expectativa e curiosa, tentando adivinhar como seria ser beijada por esse homem.

Notando seu olhar, Edward balançou a cabeça admirado e a tomou nos braços. Era um orgulho ser objeto de atenção da beldade. Firme, ele disse a si mesmo que vivia apenas um prazer passageiro, mas a ideia pouco fazia para amenizar a sensação prazerosa.

Sem mais pensar, ele a beijou. Quando Isabella o abraçou e correspondeu, o beijo ganhou ardor. Só quando Edward tentou tornar o beijo ainda mais íntimo, ela recuou hesitante, encarando-o com uma mistura de curiosidade e irritação. Mas havia também uma ponta de desejo em sua expressão.

— Foi nesse momento que esbofeteei James.

As mãos deslizando por suas costas despertavam nela um delicioso calor.

—Você o preveniu da maneira como está me prevenindo? — Edward beijou-a várias vezes no rosto.

— Não. — Estava ofegante. A voz soava rouca, o que a surpreendia.

— Isso é só uma parte do beijo. Venha, deixe-me beijá-la. — Ela ofereceu os lábios. — Ah, que visão deliciosa.

Edward beijou-a novamente, dessa vez com maior intimidade, e Isabella suspirou de satisfação. Cada instante alimentava o calor que a incendiava por dentro. Ela o abraçou com mais força, deixando-se puxar para o colo do noivo. Quando o beijo chegou ao fim, ela estava trêmula em seus braços. A paixão tornava nebulosos seus pensamentos, dominado então por estranhas sensações.

Edward também estava um pouco tonto. Nunca um único beijo o excitara tanto. Talvez fosse a errante esperança alimentada pelo brilho que via nos olhos dela. Nada do que dissesse a si mesmo poderia mudar o que via nos olhos de Isabella. Excitara muitas mulheres antes, mas nenhuma como ela. Mulheres como ela nunca se aproximavam o bastante para testar sua habilidade ou a falta dela.

— Eu me saí bem? — ela murmurou. Ele sorriu.

— Sim. Muito bem. Tanto, que acho melhor voltarmos para a festa. — Ajudou-a a se levantar. — Não quero ser esbofeteado.

Trocando informações variadas sobre eles, Isabella e Edward retornaram ao salão e se juntaram a Emmett e Rosalie. Embora participasse da conversa, Edward estava mergulhado nos próprios pensamentos, tomado por dúvidas e medos. Isabella havia sido noiva de James, um homem de beleza excepcional, e depois quase se casara com Alec, que também era muito atraente. Agora se casaria com ele. Sentira sua reação quando a beijara, mas sabia que logo ela se ressentiria por ter se casado com o primo mais desprovido de atrativos físicos. Por mais que tentasse se livrar dos pensamentos, sempre que olhava para a noiva, ele previa problemas.

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