sábado, dezembro 12, 2015

FANFIC O RECOMEÇO - CAPÍTULO 09


Capítulo 09 – Despedidas

Entendeu isso muito rápido, meu amor – replicou. – Não tem do que preocupar–se nesse sentido. Você é só uma mulher entre centenas. Para um homem é muito fácil encontrar uma mulher que satisfaça suas necessidades mais básicas.
– Senhor, nada me poderia agradar mais, asseguro–lhe – concluiu.

– Sim, vejo que está muito agradecida, por agora – disse o homem. – Mas seu inferno somente acaba de começar, milady. Não me descreveria como um tipo agradável de conviver. Agora, deite–se – ordenou. – Eu demorarei um pouco antes de poder fazer o mesmo.

A moça obedeceu no ato. Não desejava zanga–lo tão cedo. Deslizou na cama e se cobriu com a colcha, observando com cautela como Edward cruzava o quarto até o balcão, ao contempla–lo, recordou uma vez mais, a de um marinheiro escrutinando o horizonte. A lua iluminava seu rosto atraente e compleição corpulenta. Sua pele suave e bronzeada resplandecia sob a luz e Bella se dispôs a dormir com o olhar cravado nele.

Bella despertou repentinamente ao notar que Edward se recostava no travesseiro junto a ela.

– Durma. Não a incomodarei – disse Edward.

Bella se cobriu até o pescoço e se fez como enrolou em seu lado da cama, olhando–o enquanto tremia violentamente. A luz da lua iluminava o quarto e ela pôde ver Edward, deitado de barriga para cima com os braços atrás da cabeça com os olhos abertos olhando o teto. Apesar da escuridão que reinava na habitação, acreditou distinguir o tique nervoso na face de seu marido.

– Onde vive? – perguntou depois de um momento.

– Em Charleston, nas Carolinas – respondeu com um profundo suspiro.

– É bonito? – aventurou–se a perguntar de novo.

          – Para mim, sim. Você certamente não gostará de lá – respondeu com frieza.
Edward estava confuso, assim que descobriu que aquela pequena havia conseguido fugir ficou furioso, quase matara George. O pobre realmente ficou muito sem graça quando descobriu que a arma estava descarregada e, ele tinha que admitir, admirou a bravura da jovem, que mesmo com todas as ameaças feitas, empreendeu uma fuga com sucesso.

Não sabia descrever a fúria que o apossou quando, após revirar Londres, nem um sinal de Isabella, ela fora sem dúvida, a mulher mais bela com a qual já se deitara, e apesar das circunstâncias que os uniram, ele já pode contemplar o doce sorriso da moça, mal conseguia se controlar perto dela, parecia um animal enjaulado, acabando por dizer coisas que não deveria. Sempre que tentava trata–la bem ela se afastava como se fosse um velho sujo e isso o enraivecia. Precisava pôr um fim à essa tortura. Não a amava, mas se via dependente desta pequena... Bella seria sua, no sentido literal da palavra e ela iria ansiar por isso.

Ao acordar Bella não reconheceu o lugar no qual se encontrava. Mas rapidamente identificou ao homem que estava deitado junto dela e a quem se abraçou, certamente em busca de calor. Tinha a mão esquerda sobre o pelo negro e encaracolado do peito de Edward e a face apoiada contra seu robusto ombro. Ele dormia profundamente, com o rosto relaxado, ligeiramente entreaberto para ela. Sem mover–se com medo de desperta–lo, a jovem se dedicou a estuda–lo a vontade. Os olhos seguiram os lábios firmes e retos, agora suavizados pelo sono, as pestanas longas e escuras e as faces bem bronzeadas.

É um homem realmente atraente, pensou. Talvez não seja tão mal ter um filho dele.
Bella cobriu–lhe o peito com os lençóis, com cuidado para não desperta–lo. Em seguida se deu conta do engano que tinha cometido ao pensar que tinha frio, pois ao cabo de um momento, Edward afastou os lençóis.

Seu corpo jazia completamente nu diante dela. Bella não afastou o olhar, fez justamente o contrário. Permaneceu com seus olhos postos nele, estudando seu corpo pausadamente e com interesse, saciando sua curiosidade.

Não via necessidade de ter que escutar de outros o que podia comprovar por ela mesma; era perfeito, igual a uma besta enorme e selvagem da selva. Músculos longos e flexíveis esplendidamente trabalhados, ventre forte e liso e quadris estreitos.

Perturbada pela estranha excitação que se despertou em seu interior, a jovem se separou dele e se ajeitou em seu lado da cama. Depois se voltou, tentando não pensar na forma com os olhos se regozijaram com o corpo dele.

Já fazia um tempo que o relógio do suporte tinha dado as nove quando as duas risonhas criadas voltaram para vesti–la. Chamaram com suavidade à porta e Bella pôde ouvir suas risadas. Levantou e, corada, voltou–se para contemplar seu marido. Comprovou que continuava dormido e descoberto. Aproximou–se da cama com cautela para ocultar sua nudez com o lençol. Edward despertou imediatamente. A jovem retrocedeu sobressaltada. Ao sentir o olhar raivoso de Ed e dar–se conta das reveladoras aberturas da fina gaze, ruborizou–se ainda mais. Um sorriso lento e divertido cruzou o semblante do homem. Bella, incomodada, dirigiu–se à porta sabendo–se observada.

As duas criadas entraram de uma vez, uma delas com uma bandeja repleta de comida. Voltaram a rir ao ver Edward recostado sobre as almofadas e coberto unicamente até a cintura, ele também riu divertido ante o nervosismo das jovens. Entretanto, Bella desejava beliscar as duas, sobretudo quando ficaram contemplando o corpo de seu marido com um olhar faminto, fazendo–a duvidar de que fossem realmente duas donzelas castas diante de tamanha agitação. Ambas se dirigiram a Edward para mostrar a variedade de mantimentos que havia na bandeja. Bella esperou com impaciência que acabassem de arrulhar, de estender um guardanapo sobre seu colo com exasperante lentidão e de servir o chá.

Enquanto isso, o capitão observou o rosto furioso de Bella e lhe fez uma careta de brincadeira. Ela se virou zangada. Afinal as donzelas pareceram lembrar quais eram suas obrigações e voltaram a atender Bella. Prepararam–lhe um banho com essência de rosas e tiraram de novo seu vestido de noiva, pois era o único que possuía. Despojaram–na da fina gaze azul ante o olhar interessado e atento de seu marido e a ajudaram a introduzir–se na banheira.

Seus risinhos continuaram enquanto lhe esfregavam os braços e as costas, mas ao lhe lavar os ombros e o peito, Bella não aguentou mais. Arrebatou–lhes a esponja e o sabão das mãos com impaciência e gritou–lhes para que a deixassem em paz. Ao ouvir Edward zombar dela, lamentou–se por não ter sido mais tolerante.

Levantou–se da banheira, com um resplendor úmido e tênue, e permitiu que as moças voltassem a servi–la. Permaneceu imóvel enquanto a secavam ante o exame de Edward. A intensidade e calma de seu olhar fizeram que se ruborizasse. Desejou vestir a camisola, embora sua transparência e decote apenas a reconfortassem. Uma vez feito seu penteado, sentiu–se igualmente agitada como suas assistentes e se amaldiçoou em silencio por deixar que a provação de Edward a pusesse tão nervosa.

Edward se levantou arrastando um dos lençóis que se enrolou habilmente sem revelar mais partes de sua anatomia às criadas; segurou–a ao redor de seus quadris estreitos e beijou a esposa em um dos seios voluptuosos que se sobressaíam por cima do decote excitante do traje.

– Uma experiência gratificante, meu amor – sussurrou. – Devo admitir que nunca antes tinha tido o prazer de presenciar o asseio de uma dama.

Durante instantes, seus olhos se encontraram no espelho, os dele, quentes e devoradores; os dela, nervosos e indecisos. Mas ante o olhar de admiração do marido, Bella baixou a vista e corou sentindo, uma vez mais, o toque de seus lábios sobre seu seio e uma agitação estranha.

Quando finalmente as criadas saíram do quarto, Bella se levantou graciosa do banco e se dirigiu à cama feita uma fúria em busca do vestido.

– Que necessidade tinha de fazer isso? – disse. – Deveria tê–las repreendido severamente pela forma como se comportaram e, em vez disso, animou–as para que o fizessem até pior.

Edward esboçou um sorriso lentamente, olhando agradecido a delicada costa de Bella.

– Sinto muito, meu amor – se desculpou. – Não me dei conta de que estivesse tão ciumenta. Ajuda–me a banhar–me, meu amor? – inquiriu com sarcasmo. – Tenho verdadeiros problemas para esfregar as costas.

Bella gaguejou e corou. Suas odiosas maneiras faziam ferver seu sangue. Tal como estava, ali, de pé, totalmente e nu em frente dela e falando com tranquilidade espantosa que tanto o divertia, Bella não pôde senão virar–se e abaixar a vista. Recolheu a esponja e o sabão, fazendo chiar os dentes, e se dirigiu à banheira, depois o esperou muito rígida junto a esta. Finalmente, Edward se meteu na tina cheia de água quente, Bella hesitou durante instantes encostada a suas costas, depois, com fria determinação, inclinou–se e começou a ensaboar–lo, esfregou–o com força, descarregando toda sua raiva nele. Quando concluiu Edward esboçou um sorriso e observou:

– Ainda não terminou, querida. Eu gostaria que me lavasse o corpo inteiro.

– O corpo inteiro! – exclamou, incrédula ante o que acabava de ouvir.

– É obvio, querida. Sou um homem realmente preguiçoso – afirmou. Bella o amaldiçoou em voz baixa. Sabia que a tinha obrigado a banhá–lo porque precisava saciar sua sede de vingança. Com grande desprezo, agarrou bruscamente a esponja e se inclinou para continuar enquanto ele se recostava na banheira. Esfregou a pedra de sabão pelo pelo do peito e os ombros largos. Ardia–lhe o rosto diante de tranquila análise ao que estava sendo submetida. O olhar impávido de Edward acariciou os braços brancos, o pescoço longo e magro e finalmente o busto, cuja beleza se revelava com cada movimento, ao mostrar parte de um de seus seios arredondados.

– Você gostava de alguém no povoado de seu tio? – perguntou Edward de repente com a fronte enrugada.

– Não – respondeu secamente. Um segundo depois, arrependeu–se de não ter sido um pouco mais ardilosa.

A ruga da fronte de Edward se desvaneceu. Com um de seus dedos molhados lhe acariciou os seios e sorriu.

– Estou certo de que havia muitos homens que loucos por você – afirmou.

Muito zangada, a moça subiu a gaze para ocultar seus seios e secar as gotas que caíam pelo decote. Recomeçou a atividade e, uma vez mais, a gaze deslizou, já bastante molhada.

– Havia alguns, mas não deve se preocupar – assegurou. – Não eram como você. Eles eram cavalheiros.

– Não estou preocupado absolutamente, minha querida – respondeu com calma. – Sei que estava muito bem protegida.

– Sim – replicou com sarcasmo. – De todos menos de você.

Edward soltou uma gargalhada e lhe dirigiu um olhar abrasador.

– Foi um prazer, querida.

         Bella explodiu em fúria.

– E suponho que ter me deixado grávida também agrada seu ego masculino! Deve estar muito orgulhoso de si mesmo! – gritou.

Edward esboçou um sorriso zombador.

– Não me desagrada. Acontece que eu gosto muito de crianças – afirmou.

– Oh, é... é... – balbuciou furiosa. O sorriso se desvanecendo com uma velocidade aterradora. Não poderia negar que não conhecia esse lado do marido.

– Acaba o banho de seu marido, querida – ordenou com sarcasmo.

– Não posso – gemeu.

Edward levantou seu rosto com suavidade e a olhou intensamente nos olhos. – Se eu quiser, sabe que terá de fazê-lo não é verdade? – preveniu–a.

– Sim – afirmou com tristeza chorando com lágrimas vivas. Edward a acariciou.

– Então recolhe minhas roupas, fará isso, amor? Estou seguro de que todo mundo está esperando para ver como passou a noite.

Bella, agradecida, começou a recolher a roupa espalhada pelo chão do quarto e estava realmente agradecida pela indulgência de seu marido. Passaria muito tempo até que voltasse a insulta–lo ou a importuna–lo. Devia recordar–se que Edward não gostava de insolência e que não a toleraria.

Deixaram o quarto, caminhando um junto ao outro em silêncio. Bella, muito dócil, inclusive lhe dedicou um tímido sorriso quando Edward deslizou a mão por detrás de sua cintura.

– Está radiante como sempre, pequena – afirmou Lorde Halle aliviado.

– Acaso esperava outra coisa, milorde? – inquiriu Edward friamente.

– Não guarde rancor, filho – pediu. – Para mim, a felicidade de Bella é o principal.

– Sim, deixou–o perfeitamente claro – replicou – Agora me permite leva–la a meu navio hoje ou devemos aceitar de novo sua hospitalidade obrigatória?

– É obvio, pode leva–la com minha bênção. Mas antes não se oporá a almoçar conosco? Não é uma ordem, e sim um convite. Se não se sentir com vontade, entenderemos. É que simplesmente detestamos ver Bella partir. É como se se tratasse de nossa própria filha.

– Suponho que não nos fará nenhum mal se ficamos – respondeu Edward secamente. – Mas devo retornar a meu navio tão logo acabemos. Estive muito tempo afastado dele.

– É claro, é claro. Entendemos – replicou lorde Halle. – Mas desejaria discutir com você o tema do dote de Isabella. Estamos dispostos a acertar este assunto generosamente.

– Não quero nada de vocês, senhor – replicou Edward.

Sua resposta deixou a todos perplexos. Principalmente Bella. Alice ficou olhando fixamente ao capitão ianque durante uns instantes, completamente desconcertado.

– Ouvi bem, senhor? – perguntou.

– Sim – respondeu Edward muito sério. – Não tenho nenhuma intenção de receber nada por me casar com minha esposa.

– Mas é o costume! – insistiu o ancião. – Quero dizer, uma mulher deve contribuir com seu marido com um dote. Estou mais que disposto...

– O dote que vai me dar é o filho que leva dentro de si, nada mais – concluiu. – Sou perfeitamente capaz de cuidar dos meus, sem presentes de qualquer tipo. De qualquer forma, obrigado pelo oferecimento.

– Louco ianque – murmurou tia Victória.

Edward parou diante dela e fez uma reverência.

– Vindo de você, senhora, é um cumprimento – observou.

Tia Victória ficou olhando a ponto de proferir um insulto, mas pensou melhor. Mordeu a língua e afastou o rosto do olhar zombador.

– Como você bem sabe, senhora – prosseguiu Edward a suas costas –, o que digo é certo. Sei cuidar muito bem das minhas e das suas dívidas.

Bella não entendeu o significado de suas últimas palavras, mas Victória ficou muito pálida e nervosa. Negou–se a olha–lo. Ainda permanecia em silêncio quando um dos criados irrompeu na sala para anunciar que o almoço estava servido.

Uma tormenta de outono refrescou o ambiente e deixou o firmamento londrino coberto de nuvens. As rodas da carruagem estralavam sobre as ruas pavimentadas e enlameadas enquanto se precipitava, cambaleando, em direção aos moles. Bella, no assento traseiro, estava tranquila junto a lady Halle. Alice lhe falava com doçura e, de vez em quando, alisava com ternura um de seus cachos negros e lustrosos ou lhe agarrava brandamente a mão. Era a única demonstração de nervosismo que as invadia pelo doloroso momento que se aproximava. Bella observava frequentemente o rosto imperturbável do seu marido, sentado junto a lorde Halle, diante dela. Apertava–se contra a esquina da carruagem para amortecer as sacudidelas e, de vez em quando, dava uma olhada a sua esposa.

Ao chegarem no porto Edward apeou silenciosamente da carruagem e se voltou para Bella.

– Dispõe de algum tempo para te despedir – anunciou. – Preciso que o agente do armazém atribua a meu navio uma carga.

Dito isto, afastou–se resolutamente. O vento alvoroçava seu cabelo e o babado dos punhos. Bella o seguiu com o olhar até a entrada do armazém. Depois voltou–se lentamente para olhar lady Halle, a quem encontrou soluçando, muito aflita. Não tinha podido reprimir por mais tempo a dor que lhe causava a separação. Bella abraçou à mulher e, através de suas lágrimas, ambas compartilharam a dor de uma menina sem mãe e de uma mulher sem filhos. Lorde Halle limpou a garganta e, depois de uns instantes, a moça se separou.

O ancião tomou a mão, olhando–a nos olhos.

– Esteja tranquila, pequena – a consolou. – Muito poucas separações são para sempre. Quem sabe quando nossos caminhos voltarão a encontrar–se e poderemos compartilhar nossas vidas de novo? Cuide–se muito, minha menina.

– Sentirei sua falta – afirmou Bella ao abraçar Alice. A mulher agarrou à moça com força.

– Terá a seu marido, meu amor, e logo a um filho. Terá muito pouco tempo para pensar em nós. Mas algo me diz que será muito mais feliz com ele do que seria se ficasse aqui. Agora vá, querida. E Bella, recorde–se que o amor e o ódio são duas faces da mesma moeda.

Bella se libertou de lady Halle a contra gosto e se dispôs a abrir a porta da carruagem. Ouviu que o marido falava energicamente com um marinheiro. Compreendeu que já tinha retornado e que a estava esperando junto aos cavalos. Secou as lágrimas, abriu a porta e levantou as saias do vestido para descer da carruagem. Edward se apressou a ajuda–la, agarrando–a pela cintura. Seus olhos se encontraram e, por uma vez, o homem não zombou do pranto de sua esposa. Baixou–a com suavidade.  Logo agarrou as capas e um fardo com os presentes de lady Halle que seu marido lhe estendia. Bella se afastou enquanto Edward falava em voz baixa com os Halle.

A vida de um capitão de navio se resumia na cena miserável e imunda que tinha diante dela e no navio que estava um pouco mais à frente. Ainda não sabia o lugar que ocuparia na vida do marido. A única coisa de que estava realmente segura era de que ia ser a mãe de seu filho. Se Edward a levava com ele em viagens futuras ou a deixava convenientemente em terra, era uma decisão unicamente dele e em que ela tinha pouco ou nada que dizer. Com o tempo, talvez, não se importasse que o amor não tivesse batido a sua porta.

Seus pensamentos se desvaneceram de repente quando seu marido lhe tocou as costas. Aproximara–se dela silenciosamente, sobressaltando–a. Ao notar que seu corpo frágil tremia, Edward a cobriu com sua capa.

– Devemos subir ao navio – murmurou. Agarrou–a pelo braço e a guiou através de mercadorias amontoadas, cordas e redes enroladas. O bote se aproximava do final do embarcadouro. Ao chegar ao mole, o homem mais miúdo saltou a terra e correu para eles. Tirou o gorro e, ver o George, Bella se sobressaltou. O homem fez uma tosca reverência e se dirigiu a seu capitão.

– Pensávamos que devia retornar ontem, capitão – comentou o marinheiro. – Quase demos por perdido. Estive a ponto de agarrar uns homens e varrer a cidade. Deu–nos um bom susto, capitão. – E com uma nova reverência, dirigiu–se a jovem: – Olá, senhora.

– Entretivemos–nos na casa de lorde Halle – replicou Edward.

Com um gesto de assentimento e, voltando–se para colocar a boina sobre a reluzente cabeça, ajudou a seu capitão com as malas caminhando atrás deles em direção ao navio. O primeiro a descer ao bote foi Edward, que agarrou Bella nos braços e a depositou junto a ele na proa. George lhe deu os fardos e o cabo. Depois desceu pela escada, ocupou seu posto na popa e agarrou o cano do leme.

– Ânimo, marinheiros! – gritou enérgico. – É hora de zarpar! Levantem âncoras! Remos à água! Remem... remem, remem. Se não nos apressarmos esta senhora vai congelar. Assim, senhoritas, remem com força.

O pequeno bote rodeou a popa de um casco de navio mercante que estava ancorado e prosseguiu adiante em direção ao Fleetwood. A brisa sacudiu o pequeno farol que iluminava a embarcação e umas gotas de água do mar gelados salpicaram o rosto de Bella, deixando–a sem fôlego e provocando um calafrio. Enrolou–se nas dobras quentes da capa de Edward, mas o bem–estar durou poucos minutos, pois a combinação dos elementos provocou a aparição de novos desconfortos.

A proa do bote rompia as ondas, subindo e descendo bruscamente entre elas. A falta de costume fez que o estômago de Bella se revolvesse e, com cada novo mergulho, aumentassem as náuseas. Lançou um olhar inquieto a seu marido, que estava sentado de rosto ao vento, desfrutando das ondas, e cobriu o pescoço com as mãos.

Se vomitar agora, vou me odiar durante toda minha vida, pensou a jovem, furiosa.

Enquanto suas mãos empalideciam, seu rosto foi adquirindo um tom esverdeado, como o do mar. Quase tinha ganho a batalha quando, próximos ao casco de navio, ergueu os olhos para os mastros enormes que balançavam por cima dela em um movimento oposto ao que ela sentia, e escapou um gemido.

Edward observou seu rosto pálido e angustiado, lutando para controlar as náuseas, e agiu sem demora. Rodeou–a com seus braços, inclinou sua cabeça pela amurada e deixou que a natureza resolvesse na água.

Minutos depois, a jovem sofreu uma última sacudida e se endireitou, odiando a si mesma. Envergonhada e humilhada, não se atreveu a levantar a vista. Edward umedeceu um lenço e o colocou sobre a testa.

– Sente–se melhor agora? – inquiriu o homem. O movimento tinha cessado com a embarcação a sota–vento do casco do navio. Bella assentiu fracamente enquanto George aproximava o bote ao casco do navio.

– Vamos, ma petite, a ajudarei a subir a bordo.

A jovem se aproximou dele com cuidado e colocou um pé sobre a escada. Edward a rodeou com um braço e a subiu à coberta do navio e logo Edward estava a seu lado.

    – Terá que mudar de vestido, Bella – comentou. – Comprei para você algumas coisas antes de descobrir que tinha desaparecido. Estão no meu camarote. – Arqueando uma sobrancelha zombeteiramente, acrescentou: – Suponho que já conhece o caminho.
A moça corou intensamente e olhou indecisa para uma das portas sob a ponte de comando.

– Sim, vejo que o conhece – acrescentou o capitão. – Encontrará a roupa no meu baú. Estarei contigo dentro de um instante.

Despedida dessa maneira, afastou–se em direção à porta. Antes de abri–la, voltou–se para dar uma olhada a seu marido, entretido em uma profunda conversação com George; parecia tê–la esquecido.

O camarote era tal como o recordava, compacto e pequeno, roubando o mínimo espaço possível à carga. Um crepúsculo escuro marcou o fim do triste dia. O lugar estava iluminado unicamente por uma luz brumosa procedente das janelas de popa. Antes de dirigir–se para o baú, acendeu uma vela e deixou a capa de seu marido em um varal próximo à porta. Ajoelhou–se frente ao baú, acariciou o fecho e levantou a tampa.

Ao fazê-lo, exalou um gemido sobressaltada. O vestido bege jazia ali, cuidadosamente dobrado. As lembranças a assediaram uma vez mais. Recordou a James e a noite que tinha passado nesse mesmo camarote. Seus olhos se pousaram no beliche em que tinha perdido a virgindade. Durante um instante, ficou pensando na batalha que tinha tido nesse lugar, nos beijos apaixonados de Edward sobre seu corpo e na derrota final. Levou a mão ao ventre e seu rosto avivou.

Nesse instante Edward abriu a porta. A jovem afastou o vestido bege e tirou um de veludo vermelho que estava debaixo. Este possuía um generoso decote e mangas longas e ajustadas debruadas com babados brancos nos punhos. Era um vestido confeccionado para uma mulher sem reminiscências infantis que pudessem deslustrar sua simplicidade e beleza. Enquanto Edward depositava o casaco sobre o beliche, Bella começou a desabotoar o vestido com mãos trêmulas. Tirou–o com cuidado e o deixou no baú.

– Há uma estalagem perto daqui – comentou o marido atrás dela. – Estará mais cômoda ali.

Uma pequena ruga cruzou a testa da esposa enquanto se voltava para observa–lo. Este tinha desabotoado a camisa e estava absorto em seus livros. Podia desfazer–se dela com a mesma facilidade com que o tinha feito ao subir a bordo. Até podia deixa–la abandonada na estalagem. Não tinha nenhuma garantia de que não o faria e se finalmente o fizesse, veria forçada a viver na miséria.

– Estou acostumada aos desconfortos – replicou a jovem com voz doce. – Estarei bem aqui. Não tem por que me levar a estalagem.
Edward elevou a vista.

– É muito amável, meu amor – apontou soltando uma arrogante gargalhada. – Mas sou eu quem toma as decisões aqui. A estalagem é o que mais te convém.

Bella não tinha pensado na possibilidade de que podia abandona–la em terra. Ficou gelada. Era esse seu destino? Perguntou–se desesperada. Ser abandonada no mole e ter o parto em mãos de uma parteira acostumada à imundície e à miséria? Que meu filho, tendo um sobrenome, cresça como um ser da rua? Voltou–se sentindo um calafrio.

Pegou o vestido vermelho tentando serenar–se e se aproximou dele. Edward a olhou com uma expressão de incerteza. A cor intensa do vestido fazia contraste com a pele imaculada que brilhava assombrosamente.

– Não posso fecha–lo. – Tinha o estômago revolto pela crescente consternação. – Se importaria? –inquiriu finalmente.

Sentiu os dedos de Edward em suas costas, baixou a cabeça e esperou, apenas sem respirar, que terminasse. Logo se afastou e lhe lançou um olhar para comprovar que, uma vez mais, estava absorto em seus livros. Mas agora franzia o sobrecenho sombriamente.

Bella começou a mover–se com rapidez pelo camarote. Recolheu a capa do vestido de noiva, preparou a roupa que ia necessitar para ir à estalagem e pendurou a capa de Edward em um cabide no interior do armário. Enquanto o fazia, espiou o marido com o temor de que tanta atividade pudesse irrita–lo. Mas vê–lo, compreendeu que estava completamente alheio a ela, pois continuava estudando seus livros.
Eram quase dez da noite quando Edward afastou a cadeira de sua mesa e a olhou. Seus olhos desceram de novo até os seios da jovem e uma ruga voltou a lhe cruzar a fronte.

– Será melhor que se cubra com minha capa para ir à estalagem – disse bruscamente.

Bella se ruborizou e voltou a cabeça. Logo balbuciou uma resposta obediente e se levantou, roçando–o ao ir em busca do traje.

Pouco depois estavam no paquete esperando que George descesse. O criado deixou cair o embrulho de Bella e um saco de lona no interior da embarcação. Depois desceu e ordenou aos marinheiros que levantassem âncoras. Uma vez em terra, caminhou atrás deles, vigiando para que não houvesse ladrões ou outro tipo de personagem perigoso.

Chegaram à estalagem sem nenhum percalço. Nela soavam os sons de uma triste melodia entoada por um marinheiro baixo e esquálido, mas que tinha a voz de um barítono. Perto dele, vários homens bebiam cerveja enquanto o escutavam cativados pela magia de sua voz. O fogo crepitava na chaminé e um aroma de porco assado flutuava no ambiente, fazendo que abrisse o apetite de Bella.

Edward sussurrou algo a George e o criado apressou se a falar com o hospedeiro. Enquanto isso, Bella seguiu seu marido até uma mesa em um canto e se sentou na cadeira que este retirou para ela. Em poucos minutos serviram–lhes a comida.

Bella não percebeu o interesse que tinha despertado entre os homens do lugar, nem tampouco de que a capa tinha escorregado, atraindo a atenção de dois homens de muito mau aspecto, que estavam sentados diante dela, cochichando em voz baixa. A atenção da moça estava dividida entre a comida e a canção do marinheiro.

Edward se levantou bruscamente, assustando–a, e se aproximou dela para lhe colocar a capa sobre os ombros. Bella ajustou o traje e deu uma olhada com cautela a seu redor, percebendo que seu marido estava certo. Convertera–se no centro de atenção. Até o marinheiro tinha deixado de cantar durante uns instantes para contempla–la. Pouco tempo depois reatou a canção.

Negro é o cabelo de minha amada,

De uma beleza que fascina.

De suaves mãos e tenro olhar:

Amo o chão sobre o qual caminha.

Amo a minha amada e ela bem sabe,

Amo o chão sobre o qual caminha.

Se já na terra não estivesse, que dúvida cabe,

Minha vida se desvaneceria.

Bella viu que seu marido estava irritado pela canção do marinheiro, mas continuava comendo com o tique nervoso que delatava sua ira. Temendo sua reação, permaneceu em silêncio como tinha feito em ocasiões anteriores.

Depois do jantar, o hospedeiro mostrou–lhes o quarto que momentos antes, tinha arrumado com George. O criado levou–lhes os pacotes e depois se retirou. Durante instantes, Bella acreditou que Edward partiria e não voltaria jamais, entretanto, este se acomodou em uma cadeira sem mostrar pressa alguma. Ante esta nova situação, de todo inesperada, a jovem se aproximou dele e pediu–lhe que lhe desabotoasse o vestido. Começou a despir–se, agora com a ideia de que Edward permaneceria no quarto. Soltou o cabelo e o penteou com as mãos, pois não dispunha de pente ou escova. Tirou o vestido e a combinação, sabendo–se observada, e os depositou sobre uma cadeira. Continuando, colocou a camisola que lady Halle lhe tinha dado. Era de uma fina cambraia branca, com babados no peito e um proeminente decote de corte redondo. Uma fita estreita rodeava o traje e o atava à altura do busto. As mangas eram longas e acabavam em uns volantes com babado. Embora mais recatada que a camisola que tinha usado em sua noite de núpcias, tinha sido confeccionada, como aquela, para excitar a um homem. Bella se deteve um instante em frente da vela e ao vê–la iluminada por seu resplendor, Edward blasfemou em voz baixa e se dirigiu rapidamente para a porta, a jovem o olhou atemorizada.

– Voltarei dentro de uma ou duas horas – disse abrindo a porta, contrariado. Assim que partiu, Bella desabou soluçando, muito assustada.

Nem sequer é capaz de me dizer a verdade, pensou. Nunca voltará. A partir desse momento, os minutos se fizeram eternos. Bella começou a caminhar de um lado a outro do quarto, perguntando–se o que fazer e aonde ir. Não podia retornar a casa de sua tia e deixar que seu filho crescesse sob o jugo dessa mulher cruel, nem tampouco a casa de lorde Halle. Era muito orgulhosa para voltar a pedir–lhes ajuda. Possivelmente se a vida fosse generosa com ela, poderia encontrar um trabalho como donzela na estalagem. Perguntaria amanhã; agora tentaria dormir.

Terminou a noite e, embora Bella tivesse tentado acalmar seus temores e afastar suas dúvidas, não conseguiu dormir. Quando um dos sinos bateu uma hora, pareceu a Bella que tinha passado uma eternidade. Saltou da cama, dirigiu–se correndo à janela e a fechou violentamente. Apoiou a cabeça contra o batente e começou a chorar desconsolada. Ouviu como um homem respondia a outro fora da habitação. Seu medo aumentou e, ao abrir a porta, seu sangue gelou. Mas a luz do corredor iluminou o semblante de George e perfilou o corpo alto e musculoso de seu marido.

– Voltou! – exclamou aliviada. Edward a olhou antes de fechar a porta e voltar a inundar–se na escuridão.

– Por que não está na cama? – inquiriu aproximando–se do leito às escuras. Prendeu uma vela que havia sobre a mesa e lhe dirigiu um olhar. – Está passando mal?

A moça se aproximou dele; a luz da vela iluminando as lágrimas que enchiam seus olhos.

– Pensei que me tinha abandonado – confessou em voz baixa. – Pensei que não voltaria a vê–lo jamais.

Edward a observou durante segundos muito surpreso, depois sorriu docemente e a atraiu para si.

– E estava assustada? – perguntou.

Bella assentiu com tristeza e tentou reprimir um soluço que finalmente escapou, assemelhando–se a um grasnido. Edward afastou meigamente uma mecha de seu rosto e a beijou na testa para tentar acalmar seu nervosismo.

– Nunca esteve sozinha, ma petite – assegurou. – George esteve aí fora todo este tempo, protegendo–a. acabou de ir dormir agora mesmo. Mas realmente acha que sou tão descarado para a deixar aqui sozinha, desprotegida?

– Não sabia o que pensar – replicou Bella – Temia que não fosse voltar.

– Por Deus! Realmente não tem muito boa opinião de mim... nem tampouco de você – observou Edward – Nunca deixaria sozinha uma dama em um lugar como este, e muito menos a minha própria esposa grávida de meu filho. Mas se vai se sentir melhor, enquanto estiver aqui não voltarei a deixa–la sozinha outra vez.

A moça o olhou nos olhos e vislumbrou neles uma cálida ternura.

– Não faz mal que o faça – replicou em voz baixa. – Não voltarei a me assustar.
Edward levantou o queixo de sua jovem esposa.

– Então vamos para a cama – decidiu. – O dia foi muito comprido e estou muito cansado.

Bella se meteu na cama secando as lágrimas. Acomodou–se no lado próximo à porta e observou em silêncio como Edward abria o fardo que George havia trazido junto ao dela. Seus olhos se abriram de par em par ao ver que seu marido tirava a caixa dos trabucos com os que, meses antes, tinha ameaçado ao criado. Depositou–a sobre a cama, tirou as armas e se pôs carrega–las.

– Espera alguma briga? – perguntou a moça, endireitando–se.

Ele a olhou e esboçou um sorriso.

– É simplesmente uma precaução que tomo quando as coisas que me rodeiam não me inspiram confiança – explicou Edward – Não tem do que se preocupar, meu amor.

Bella observou com curiosidade como seu marido carregava uma das pistolas, recordando a angústia que tinha sentido ao tentar averiguar como se fazia e não o conseguir. Ao ver seu interesse Edward soltou uma gargalhada.

– Agora deseja aprender a carregar uma destas? – inquiriu o homem divertido. – Fez isso muito bem sem que estivessem carregadas. George se sentiu bastante humilhado quando viu que o tinha enganado. O fato de que um suspiro de feminilidade como você lhe tivesse feito tremer de medo diante de uma arma descarregada, feriu–lhe no mais profundo de seu orgulho. Esteve insuportável durante bastante tempo. Como eu – acrescentou bruscamente, recordando como tinha insultado seu criado ao retornar ao Fleetwood e descobrir que a garota tinha escapado. E sua atitude piorou ao ver que tinha desaparecido sem deixar rastro. Edward a ajudou a sentar–se junto a ele, na borda da cama.

– Mas agora não tem importância – comentou. – Se quer aprender a carregar uma pistola, ensinarei a você. – Olhou–a nos olhos e a preveniu: – Mas não lhe ocorra cometer o engano de me apontar e não disparar. Eu não sou George; teria que me matar para poder escapar. – Voltou a rir brandamente. – Quanto a isto, duvido que seja o tipo de pessoa que mataria a um homem, assim estarei a salvo.

Bella engoliu a saliva e observou Edward em silencio com os olhos bem abertos. Sabia que o que havia dito era verdade. Ele não era desses a quem se podia ameaçar em vão.

Estavam sentados tão juntos que seus corpos se tocavam. A coxa de Bella estava apoiada na dele, o braço apertado contra seu flanco. Edward lhe rodeava as costas com um braço, apoiando a mão sobre a cama, muito perto de suas nádegas. A moça estava muito tensa. Baixou o olhar nervoso e viu que a camisola tinha lhe subido quase até os quadris quando Edward a tinha atraído para ele. Apressou–se a baixa–la para cobrir a coxa e os joelhos.

– Posso carrega–la? – perguntou, tocando indecisa a pistola que seu marido tinha nas mãos.

– Se for o que deseja – respondeu, entregando–lhe o trabuco que era muito pesado e era feito para a mão de um homem. Sentiu que lhe era incômodo. Apoiou–o sobre os joelhos, agarrou o corno da pólvora e levantou o canhão para verter um pouco.

–Afaste–o do rosto – ordenou Edward. Bella obedeceu e jogou uma pequena quantidade do pó cinza na boca da arma. Tal como o tinha visto fazer, colocou uma parte pequena de papel e o apertou com a vara até o fundo do canhão. Logo envolveu uma bola de chumbo em uma parte de tecido impregnada de azeite e a introduziu também no canhão. – Já está pronto.

– Aprende muito rápido – observou Edward em voz baixa, enquanto agarrava a pistola e a deixava junto à outra sobre a mesa.

Tentando manter o clima de cordialidade entre eles, Bella perguntou:
– Você viaja todo ano? – inquiriu a jovem.

 – Durante os últimos dez anos, sim. Mas esta será a última vez – respondeu. – Tenho uma plantação da qual me devo fazer responsável. Não posso descuida–la por mais tempo. E agora vou ter outras responsabilidades. Quando chegar a casa, venderei o Fleetwood.

Algo sobressaltou o coração de Bella. Era possível que acabasse de dizer que já não ia navegar nenhuma vez mais? Que ia estabelecer se e a ser um pai para seu filho? Até melhor, lhe permitiria desempenhar um papel simbólico em seu lar. Ao pensa–lo, enterneceu–se e quase se relaxou apoiada nele.

– Eu também viverei na plantação? – perguntou Bella temendo a resposta.

– É obvio – replicou, bastante surpreso pela pergunta. – Onde acreditava que iria viver?

Bella encolheu os ombros muito nervosa.

– Não... não sabia. Nunca me disse – respondeu. Edward pôs–se a rir.

– Pois agora já sabe – respondeu. – Agora seja uma boa garota e se deite.

A jovem se deitou enquanto ele começava a despir–se. Quando ficou sem roupa, empurrou–a para o outro lado da cama.

– É melhor que eu durma perto da porta – comentou.

Bella mudou rapidamente de lado sem perguntar. Estava claro que Edward esperava que algo ocorresse nessa noite.

Bella sentia o horror em seus sonhos. Uma mão lhe tampou a boca violentamente, sufocando os gritos alimentados pelo pânico, ao abrir completamente os olhos, desesperada, arranhou a mão que a oprimia. De repente, por cima de sua cabeça e na escuridão, surgiu o rosto de seu marido. Ao reconhece–lo, recuperou o juízo. Conseguiu vencer seus temores e se afundou de novo no travesseiro. Olhou–o fixamente, confusa e agitada, com os olhos muito abertos.

– Deite e não se mova – ordenou Edward com carinho. – Fique quieta. Não faça nem um ruído. Aja como se dormisse.

Bella assentiu com a cabeça, obedecendo. Edward afastou a mão e se voltou de novo junto a ela. Sua respiração se fez lenta e regular, como se dormisse. A jovem pôde ouvir no corredor uma voz amortecida e ruídos estranhos. A tranca da porta começou a abrir lentamente, a moça tentou controlar a respiração. Com o coração na boca, não era uma tarefa fácil.

Uma luz fraca entrou na habitação e aumentou ao abrir a porta por completo. Com os olhos meio fechados, a jovem viu como aparecia uma cabeça. Ouviu um murmúrio.

– Estão dormindo. Vamos.

Duas figuras entraram na escuridão do quarto às escondidas e fecharam a porta. Bella apertou as mandíbulas enquanto via os homens aproximarem–se e, em um momento dado, saltar sobressaltados pelo ranger do chão. Ouviu um sussurro zangado.

– Não desperte o homem, imbecil, ou não poderá agarrar à garota – sussurrou um dos intrusos. – Não há quem o intimide!

– Está do outro lado da cama – apontou o outro com a voz um pouco mais alta.

– Chsss, chsss – fez calar o primeiro. – Já a vejo, estúpido.

Quase estavam aos pés da cama, quando Edward deslizou as pistolas por debaixo dos lençóis e se endireitou na cama, apontando neles.

– Quietos, amigos – ordenou. – Fiquem bem quietinhos se não desejam que lhes meta uma bala de chumbo na cabeça.

Os dois assaltantes ficaram petrificados. Um fazendo um gesto de fugir; o outro, agarrado ao braço de seu companheiro.

– Bella, acende a vela para que possamos ver as caras de nossos visitantes noturnos – a apressou Edward.

A jovem engatinhou sobre a cama, passando por cima dele, e acendeu a vela que havia na cômoda. O resplendor da chama se estendeu por todo quarto, iluminando os rostos dos homens. Eram os mesmos que, durante o jantar, tinham estado cochichando em frente deles.

– Não queríamos lhes fazer nenhum dano – balbuciou um deles. – Não íamos fazer nada à garota.

O outro presumido sequestrador era um pouco mais temerário que o primeiro.

 – Prometemos uma parte do dinheiro em troca dela, capitão – ofereceu–lhe. – Conhecemos um duque disposto a pagar seu peso em ouro. Não importa que já não seja virgem. – Seus olhos pousaram em Bella enquanto sorria, deixando ver uma deteriorada dentadura. – Bem vale o dinheiro, capitão. Faremos três partes iguais, juro.

Bella procurou proteção junto a seu marido e, tremendo, cobriu–se até o pescoço. Desagradava–lhe a forma como os lascivos homens lhe sorria. Sabia que se conseguissem sequestra–la, a usariam várias vezes antes de entrega–la ao duque. Eram do mesmo gênero que James, decididos a saciar primeiro sua própria luxúria.

Edward se pôs a rir sentado na cama. Não sentia pudor algum por estar nu ante eles e segurava as pistolas com uma imprudente fanfarronice que não ajudava em nada acalmar a crescente inquietação dos dois ladrões.

– Devo decepciona–los, cavalheiros – afirmou Edward com tranquilidade. – Esta jovem leva meu filho em seu ventre e sou um homem muito egoísta.

– Não se preocupe, capitão – interrompeu–o o mais tímido. – O duque a deixará em paz quando chegar o nono mês. Quando vir como é bonita não será difícil fazê–lo. Deixará algumas horas para dar à luz e logo depois voltará a deitar–se com ela. Pagará o mesmo, e daremos a metade a você para que procure outra moça que esquente a cama.
Edward lhes lançou um olhar glacial. Suas mãos se esticaram ao redor dos trabucos e o tique nervoso apareceu de novo.

– Há um fedor neste quarto que me está asfixiando – afirmou arrastando as palavras e forçando um sorriso. – Aproximem–se da janela, senhoritas, e abram–na para mim. Vão bem devagar porque minhas mãos estão se cansando.

Os dois homens se apressaram a obedecer. Logo se voltaram de novo para o ianque sorridente.

 – E agora, coraçãozinho, devo explicar uma vez mais qual é a situação antes que partam – disse Edward de uma maneira clara e concisa, quase amável. De repente sua voz se tornou ameaçadora e perversa: – Esta garota é minha esposa e carrega meu filho. Pertence–me, e o que é meu é meu!

As últimas palavras estalaram na cabeça dos malfeitores, desvanecendo toda esperança de sair vitoriosos na luta. Aterrados, abriram os olhos de par em par e suas testas se empaparam de suor. Começaram a temer seriamente por suas vidas.

– Mas, capitão, ela... nós...

Ambos gaguejaram em suas tentativas de apazigua–lo. Finalmente, o mais temerário se atreveu a falar.

– Mas, capitão, não sabíamos – argumentou. – Nenhuma esposa normal e correta parece tão disposta na cama. Quero dizer, senhor...

– Saiam agora mesmo! – bramou Edward. – Fora antes que estrangule aos dois!

         Precipitaram–se para a porta, mas Edward os deteve rindo maliciosamente.

– Oh não, senhoritas. Melhor pela janela – ordenou. Os homens o olharam atordoados e balbuciaram:

 – Mas, capitão, vai permitir que quebremos o pescoço contra os paralelepípedos?

 – Fora! – exclamou o capitão ameaçando–os com os trabucos.

Os dois ladrões obedeceram. Subiram na janela e o mais atrevido se lançou por ela. O resultado de sua ação foi incerto. Bella e Edward ouviram um golpe surdo, logo maldições estranguladas e gemidos.

– Acho que quebrei as duas pernas, marinheiro bastardo! –gritou o homem.

O mais covarde olhou para trás e se encontrou com Edward apontando para a janela. Lançou–se a contra gosto e, ao chegar ao chão, uma cacofonia de alaridos, insultos e gemidos. Mas todos esses alaridos não conseguiram mais que arrancar ao capitão uma sonora gargalhada enquanto fechava a janela do segundo andar.

Trancou de novo a porta e a assegurou para que não pudesse ser aberta de fora. Os dois ladrões se afastaram coxeando e, com eles, desapareceram os ruídos. Ainda rindo, Edward deslizou na cama junto a sua esposa, que agora jazia no meio, observando–o em silencio com os olhos muito abertos.

– Pergunto–me o que terá ocorrido ao último. Foi o que mais gritou não acha, meu amor?

Bella assentiu e soltou uma gargalhada doce e musical.


– É claro que sim – conveio.

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