Autora: AnnaThrzCullen
Gênero: Romance, drama
Classificação: +16 anos
Categoria: Beward
Avisos: Adaptação, Linguagem Imprópria, Nudez e Sexo
Capítulo XIII
― Vai partir. Não tente negar novamente.
Isabella olhou para o marido enquanto amamentava o bebê. Notara os preparativos, apesar da tentativa óbvia de ocultá-los e mantê-la confinada em seus aposentos. Edward suspirou e sentou-se na beirada da cama. Era covardia, sabia, mas havia mesmo tentado esconder dela seus planos até o momento de partir. Odiava mentir, mas algo lhe dizia para não revelar exatamente o motivo de sua jornada. Quando retornasse vitorioso com sua recompensa, então poderia ser totalmente honesto e franco.
— Esperava poupá-la da preocupação enquanto fosse possível.
— Acha que não percebo toda a movimentação? E acha que me preocupo menos por não saber a verdade?
— Na verdade, sim... tinha esperanças de que não notasse.
— Percebi tudo logo depois da partida de James e de minha família. Tem ideia do barulho provocado por tantos homens se preparando para uma batalha? É isso que eles fazem, não é? Logo irá lutar em algum lugar distante daqui.
— Sim, vamos para a Inglaterra. Para o Norte. Os ingleses causam problemas na fronteira mais uma vez.
— Mas você já deu ao rei seus quarenta dias de serviço. Há menos de um ano!
— Não se pode recusar a convocação do rei. — Especialmente quando a convocação foi solicitada pelo convocado.
— Não é fácil, eu sei, mas também sei que já foi feito antes. Um cavaleiro que já prestou tantos serviços e sempre foi leal pode solicitar licença.
— Não posso Isabella. O rei precisa da força de muitos guerreiros. Os ingleses não respeitam nosso soberano e nosso território. Alguém tem de contê-los.
— Ninguém conseguiu conter aqueles bárbaros até hoje.
Era verdade, mas Edward não pretendia concordar com ela. Invocar um chamado do rei e a necessidade de ação imediata pelo bem do país era a única maneira de fazer Isabella aceitar sua partida, mesmo que relutante. Era um subterfúgio detestável, mas necessário.
— Os saques não causam apenas a morte pela espada ou pelas flechas. Os ingleses roubam alimento, matando também pela fome. O Norte não pode mais ser submetido a esse tipo de terror.
— Eu sei. — Ela suspirou. — O bebê terminou de mamar. Pode colocá-lo no berço, por favor? Edna não vai voltar enquanto você estiver aqui.
Edward atendeu ao pedido e voltou a se sentar sobre a cama. Isabella sabia que não podia mais tentar retê-lo em casa. Insistir seria atentar contra sua honra e seu senso de dever. Isso era algo que não podia fazer.
Quando ele segurou suas mãos e fitou-a nos olhos, Isabella estudou-o. Não havia nele nenhum sinal de relutância, o que a desapontou, mas não a surpreendeu. Havia desposado um guerreiro, um homem que passara boa parte da vida empunhando uma espada. Diante da chance de lutar uma batalha justa, ele não podia recuar. Era seu dever de esposa esconder o medo e a apreensão e libertá-lo sem lágrimas ou condenação.
— Quer ir mostrar aos ingleses a fúria da Fera Vermelho, não é? — Ela sorriu com tristeza.
— Como diz Emmett, já enfrentamos dezenas de guerreiros ingleses de cabelos vermelhos. Chegou a hora de mostrar que a Inglaterra também tem alguns deles.
— Quando vai partir?
— Em dois dias.
— Dois dias? Tão cedo? Não pode esperar um pouco mais? Uma semana, talvez?
— Os ingleses não vão esperar por nós, minha querida.
— Malditos ingleses!
— Não vou demorar a voltar.
— Como pode ter certeza disso?
— Estamos falando de saques, não de uma guerra. Eles só querem roubar. Não querem lutar. É claro que não fugirão do confronto, mas não é esse o objetivo dos ingleses. Sua principal preocupação é voltar para casa levando o produto do saque. A nossa é recuperar tudo que pudermos. Essas coisas não são demoradas.
Isabella não concordava, mas havia um certo conforto na argumentação de Edward. Se os ingleses só queriam saquear e roubar, o perigo seria menor. Eles estariam mais interessados em fugir do que em lutar. Ficaria em casa rezando para que os ingleses encontrados por Edward fossem os mais covardes que jamais haviam vivido.
***
— O vento é frio. O bebê devia estar dentro de casa. E você também.
Isabella nem se deu ao trabalho de responder ao conselho de Edna. Ficaria ali até seu marido partir, e não pensaria que essa podia ser a última vez em que o via com vida. Ele voltaria. Precisava acreditar nisso.
Quando Thomas se aproximou para beijar o irmão e a madrasta e despedir-se, Isabella forçou um sorriso. Quisera impedi-lo de ir. Tão jovem ainda... Só um menino! Mas não havia manifestado esse desejo. Thomas era pajem de Edward. Fazia parte de seu treinamento de cavaleiro acompanhá-lo em batalhas. Só o mortificaria se tentasse retê-lo em Royal Deeside. E um dia teria de ter o mesmo controle emocional, porque Anthony e todos os outros filhos que tivesse também partiriam.
Esperava ter a mesma força para se despedir de Edward, porque ele caminhava em sua direção.
— Não devia ficar aqui fora, minha querida.
— Estamos agasalhados. Seu filho e eu viemos desejar boa viagem e orar para que Deus o proteja. E viemos dizer também que queremos vê-lo de volta em breve. São e salvo.
— Esse também é o meu desejo, Isabella. Vamos espantar aqueles ingleses, tomar de volta tudo o que eles roubaram, e então retornaremos. Não terá tempo nem para sentir nossa falta.
— Impossível! Já sinto sua falta, e você ainda está aqui. Vou ter de providenciar pedras quentes para aquecer nossa cama à noite.
— Desde que não utilize nenhum outro recurso... — Ele brincou, beijando-a na testa.
— E vou ter de encontrar pedras bem grandes para ocupar o espaço vazio. — Ela apoiou o rosto em seu peito. — Vai se cuidar, não vai?
— Pode ter certeza disso, Isabella. E você também vai. Espero encontrá-la saudável e forte quando eu voltar.
Isabella sorriu com esforço e recuou um passo. Edward montou. Ela o viu passar pelos portões de Royal Deeside e esperou até que todos os homens saíssem. E continuava ali quando os portões foram fechados. Rosalie se virou e correu para seus aposentos. Esperava que ela superasse a tristeza o quanto antes, porque precisariam muito da ajuda uma da outra para esperarem pelo retorno de seus homens.
***
— Onde está Rosalie? — Isabella perguntou a Edna quando a criada chegou a seus aposentos para cuidar de Anthony.
— Nas muralhas novamente.
— Isso já foi longe demais. Onde está meu manto?
Tentando ajudar sua senhora a se proteger contra o ar frio da noite, Edna argumentou: — Ela se casou há pouco...
— Eu também. E não pretendo censurá-la. Quero dizer, não pretendo ser muito dura. Mas Rosalie se casou com um cavaleiro, e precisa aprender a aceitar esses períodos de ausência. Caso contrário, expõe-se ao risco de adoecer e ainda envergonha o marido com sua fraqueza.
— Sim, a senhora está certa. Só peço que não fique muito tempo lá fora. O ar está frio e úmido.
Isabella assentiu e saiu do quarto. Edward e Emmett haviam partido uma semana antes. Rosalie se comportava de maneira tão estranha, que ela começava a se perguntar se a ausência de Emmett era a única coisa que a incomodava. Nos últimos dois ou três dias, passou a ter a impressão de que a prima estava zangada com ela, evitando-a deliberadamente. Por mais que tentasse se livrar dessa sensação, ela permanecia.
Rosalie estava em pé sobre uma das muralhas, olhando para o horizonte na direção em que seguiram Edward, Emmett e todos os outros. Ela tocou o braço da prima com a intenção de oferecer conforto, mas Rosalie se afastou.
— Sei que sente falta de Emmett. Eu também sinto falta de Edward e...
— Sente mesmo?
Estranhando a questão e o tom furioso, Isabella respondeu:
— É claro que sim. Como pode perguntar tal coisa?
— Considero estranho que afirme sentir falta do homem que você mesma enviou para o campo de batalha.
— Eu enviei?
— Nunca esperei isso de você, Isabella. Não imaginava que se importasse tanto com títulos e terras. Parecia tão satisfeita com Royal Deeside! Não pensei que faria diferença o fato de seu marido ser um simples cavaleiro ou um lorde. Acho que essas coisas devem fazer falta para quem sempre as teve, não é? Porém, devia ter pensado em mim antes de fazer esse pedido a Edward. Deve saber que Emmett sempre estará ao lado de seu marido. Uma coisa é enviar seu marido de encontro ao perigo para obter um título e propriedade. Mas mandar também o homem que eu amo? Nunca pensei que fosse tão cruel. Tão insensível.
— Rosalie, do que está falando? Não entendo... Edward disse que o rei o convocou para ir lutar contra os ingleses.
— Sim, mas só depois de Edward ter dito ao rei que precisava realizar um certo feito.
— Um feito...? Quer dizer que meu marido pediu para lutar?
— Exatamente. O rei há muito vem sugerindo que seu marido merece uma recompensa concreta, mais do que elogios e honras. Edward pediu para lutar em troca dessa recompensa. Título e terra. E ele fez isso por você, para poder oferecer a você tudo que teve de devolver a James.
— E ele disse que eu pedi isso?
— Não, ninguém disse isso. Não exatamente. — Rosalie suspirou, arrependida de ter julgado mal a prima que conhecia tão bem. — Foi a maneira como Emmett falou... Não pude acreditar que Edward partiria para a batalha, que poria em risco a própria vida e de todos que o seguem, apenas para obter uma recompensa de que não precisa. Ele já tem a terra que antes buscava. Sendo assim, deduzi que você havia falado alguma coisa... Que havia pedido de alguma maneira, ou insinuado... Isabella, se me enganei...
— É claro que se enganou, Rosalie. Sabe de meus sentimentos por Edward. Acha que eu o poria em risco por uma recompensa qualquer?
— Não, mas era a única explicação viável. E se não pediu nada, por que ele foi, então?
— Não sei. Mas pode estar certa de que vou perguntar ao idiota, se não acabar com a vida dele antes disso.
— Deve ter sido o orgulho. Ele pode sentir que precisa fazer tal coisa, ou vai parecer que se casou com você para obter lucro.
— Esse é o motivo pelo qual são arranjados quase todos os casamentos. Mas você tem razão. O orgulho tem boa participação nisso tudo. Porém, há outra razão. Um motivo que conheço bem. Há meses luto contra isso sem chance de vitória, e já começo a perder a esperança.
— Do que está falando?
— Não consigo fazer Edward acreditar que ele é o homem que quero.
— Ele deve ter percebido seu interesse quando você não quis acompanhar James. E se já disse a ele que o ama...
— Eu não disse.
— Não disse? Isabella, mas...
— Por favor, não me critique. Não disse nada porque acho que ele não vai acreditar em mim. Tentei de tudo para fazê-lo entender que estou contente a seu lado, mas ele ainda parece acreditar que me sinto sacrificada com esse casamento. Não sei mais o que fazer.
— Ame-o, Isabella. Só isso. Ele não pode ignorar seu amor para sempre. E reze para que ele volte logo para casa. Inteiro.
— Não tenho feito outra coisa, Rosalie.
— Nem eu.
— Continue rezando. Se Deus atender a nossas preces e eles retornarem inteiros, juro que estrangularei aquele idiota com quem me casou.
***
Edward mantinha a mão sobre o focinho do cavalo para silenciá-lo. Sentia que os ingleses estavam ali. Podia senti-los. Normalmente, iria embora e os deixaria fugir, porque já haviam recuperado quase todo o produto do saque, mas o rei queria sangue. Queria que os ingleses pagassem caro por sua ousadia. Muitos já estavam mortos, mas recebera ordens para matar todos que fossem encontrados em solo inglês, eliminá-los até que não restasse nenhum.
Por isso estava ali parado, cercado pela umidade e pela escuridão, tentando localizar o inimigo que não podia ver. E felizmente estava atento, ou teria sido atingido pelo golpe que ele só conseguiu conter com a espada no último instante.
Desequilibrado pelo impacto do golpe, ele se recuperou e contra-atacou.
O combate causava grande estardalhaço, anunciando sua posição para quem quisesse encontrá-lo. Em uma área repleta de inimigos, essa era uma ideia que o incomodava.
Matar o oponente não deu a ele nenhum sentimento de vitória. Na verdade, Edward nem teve tempo para sentir-se vitorioso. Um ruído anunciou uma segunda ameaça, e ele se virou apressado. Mas, antes que pudesse reagir, uma dor aguda na perna esquerda o derrubou do cavalo. Caído, ele tentou conter o inimigo com habilidade e destreza, mas não tinha forças para erguer a espada. A única alternativa era enfrentar o ataque da adaga adversária com a mão esquerda. A lâmina atingiu seus dedos, causando uma segunda onda de dor. Mesmo assim, conseguiu mover o braço e enterrar a espada no peito do escocês, matando-o.
Remover o corpo que o imobilizava foi o mais difícil. Sabia que perdia a pouca força que ainda lhe restava. Ele tentou se levantar e descobriu que a perna esquerda estava inutilizada. Podia tentar rastejar, mas montar seria impossível, e o cavalo estava agitado, uma indicação clara de que ainda havia algum perigo por ali.
Isabella foi a única imagem que passou por sua cabeça antes do mergulho na escuridão.
Emmett insistia em cavalgar pela área.
— Estou dizendo que ouvi sons de batalha — ele repetia para Merlion e Torr.
— E como pode saber de onde viveram? — indagou o último. — Nessa escuridão...
— Quieto — Merlion interrompeu o parceiro. — Ouviram isso?
— Um cavalo — sussurrou Emmett. — Ali na frente.
Eles seguiram adiante. Mais dois ou três minutos, e Emmett saltava de sua montaria para se ajoelhar ao lado do amigo caído no chão.
— É Edward!
— Ele está vivo? — Merlion perguntou enquanto desmontava.
— Sim, mas não estará por muito tempo se não receber alguns cuidados. — Emmett já começava a cuidar dos ferimentos. — Ele perdeu alguns dedos — disse, envolvendo a mão ensanguentada em ataduras improvisadas com pedaços de tecido que Torr ia rasgando da própria camisa.
— Devemos levá-lo para a cidade para uma sangria — opinou Merlion, unindo-se a Torr no esforço para estancar o sangramento da perna de Edward.
— Ele já perdeu muito sangue. Não precisa de sangria — protestou Emmett. — Aquela senhora que cuidou dos nossos feridos ontem à noite seria melhor.
Os três levantaram Edward do chão e o puseram sobre seu cavalo, conduzindo o animal com grande cuidado. A jornada foi longa e lenta, e Emmett temia que a demora pudesse custar a vida do grande amigo. Quando chegaram ao casebre que utilizavam como quartel-general, Emmett já não acreditava que Edward pudesse sobreviver para rever Royal Deeside.
Por muito tempo, Edward só teve consciência da dor. Depois ele ouviu um ruído abafado. Um ronco, talvez. De olhos fechados, moveu a mão numa exploração cega do ambiente que o cercava. Estava em uma cama. Alguém o encontrara. Recordações confusas o tomavam de assalto. A voz de Emmett, compressas frias sobre sua pele, um sacerdote murmurando e... o rei. Sem saber quanto era sonho e quanto era realidade, ele abriu os olhos. Havia luz no ambiente. Emmett dormia numa esteira ao lado de sua cama.
— Emmett... Emmett...
O cavaleiro se levantou de um salto empunhando a espada, olhando em volta com ar confuso e assustado.
— Emmett, sou eu. Está apavorado demais para um soldado.
Identificando a rouquidão seca na voz do amigo, Emmett foi buscar um pouco de caldo. Passando um braço em torno dos ombros de Edward, ele o ergueu apenas o suficiente para ajudá-lo a beber. A fraqueza no corpo castigado por inúmeros ferimentos era evidente e assustadora. A febre o enfraquecera também.
— Muito obrigado, amigo. Sinto-me fraco. Há quanto estou aqui?
Emmett sentou-se numa banqueta ao lado da cama.
— Há quase uma semana. Estava sangrando muito quando o encontramos. Uma senhora esteve aqui para cuidar dos ferimentos.
— Sim, sim, eu me lembro dela. É muito grave?
— Bem... Dois de seus dedos estão menores. Foram cortados quase ao meio.
— E minha perna?
— Ainda a tem, mas o ferimento é grave. O homem tentou aleijá-lo.
— E conseguiu.
— Ainda não sabemos. Não podemos saber enquanto não tentar andar. Vai sentir dificuldade no início, é claro, mas não temos como prever se o tempo vai trazer alívio ou devolver sua capacidade de locomoção. Mas, como disse, ainda tem sua perna. Só isso já é motivo para se sentir grato.
— Algum outro ferimento?
— Algumas novas cicatrizes, mas nenhuma que não pudesse ter adquirido antes em batalhas.
— E você, meu amigo, ficou com o ingrato dever de cuidar de mim? Está presente em todos os fragmentos de recordações que tenho desses últimos dias.
— Não foi um dever ingrato. Você já fez o mesmo por mim. Não me esqueci daquele tempo na França.
— Um tempo que eu também não vou esquecer. E o rei? Ele esteve aqui, ou foi uma alucinação?
— Sim, o rei esteve aqui. Por um momento, cheguei a pensar que você havia superado o delírio da febre, porque falou claramente com nosso soberano, mas assim que ele partiu, você voltou a delirar. Na verdade, quando falou com ele ainda estava delirando, lembrando outra visita do rei ao nosso acampamento, três anos atrás. Você conversava com uma lembrança. Mas não importa. O rei nada percebeu. Deu a recompensa que você tanto queria, e você respondeu como era esperado.
— Eu consegui o que queria?
— Sim, agora você é o barão de Royal Deeside, milorde. — Emmett sorriu e se inclinou. — E também é proprietário de uma pequena área três dias ao sul de Royal Deeside. Contarei mais quando se sentir mais forte. Precisa descansar para recuperar-se completamente. A batalha terminou, você conseguiu o que queria, e agora só precisa voltar para Royal Deeside e Isabella.
— Ah, Isabella... Não era um belo cavaleiro antes, mas pelo menos tinha todas as partes do corpo. Agora sou um aleijado. Talvez fosse melhor se...
— Edward, se disser que talvez seja melhor se afastar dela, juro que causarei mais alguns ferimentos nessa sua cabeça dura. Por favor! Durante todo o tempo em que esteve inconsciente você chamou por ela. Isabella é parte de você, meu amigo. Não conseguiu esquecê-la nem quando estava sofrendo com a possibilidade da morte. Acha mesmo que pode deixá-la, arrancá-la de sua vida? E justamente agora, quando tem tudo que pensa que ela queria?
— Sim, agora tenho o que sua origem nobre requer, mas olhe para mim! Minha mão foi mutilada e é bem provável que tenha de mancar pela vida. A única coisa que tinha a oferecer antes era um corpo forte e saudável. Agora não tenho mais essa saúde e essa força....
— Você é mesmo um idiota. Está sempre ressaltando sua falta de atrativos físicos, sem parar para pensar como as outras pessoas o veem. Acredita que Isabella se incomoda por não ser belo, mas já parou para tentar encontrar nela alguma evidência disso? Não, ou já teria descoberto seu erro.
— Está tentando me dizer que uma beldade como Isabella poderia amar um homem grande, vermelho, feio e cheio de cicatrizes?
— Não sei qual é a profundidade dos sentimentos de sua mulher. O que sei é que ela não o vê como você acredita. Não há desapontamento ou desgosto quando ela olha para você, e ela nunca tentou esconder o marido do mundo. Não. A mulher sempre esteve ao seu lado e sem nenhuma demonstração de relutância.
— Sim, é verdade. Você tem razão. Nunca parei para examinar... Tem razão, Emmett, nunca notei nela a repulsa que vi em tantas outras mulheres.
— Não em sua esposa.
— Não, nunca em Isabella. — Ele sorriu. — Mas isso foi antes de eu sofrer esses ferimentos. Agora...
— Chega, Edward. Você já chegou ao casamento coberto de cicatrizes, e ela o aceitou como é. Não se martirize mais, meu amigo. Aceite com gratidão o que a vida lhe deu.
Edward considerou as palavras de Emmett por um momento, depois sorriu. Como sempre, seu grande amigo estava certo. A revelação o enchia de alegria. Havia sido injusto com Isabella, até ofensivo de certa forma. Por mais que revirasse os próprios pensamentos, não era capaz de encontrar uma única ocasião em que ela houvesse demonstrado repulsa, desgosto ou decepção por sua aparência. Simplesmente não tinha importância. Ele lembrou os elogios que ouvira da esposa em várias situações e teve certeza de que Emmett tinha razão.
— Não, ela não vai me repelir — disse. — Porém, quando descobrir por que vim para o campo de batalha, por que fiz tudo isso... Isabella vai ficar furiosa comigo.
— Pela primeira vez desde que o conheço, meu amigo, sou obrigado a concordar com você e reconhecer que seu julgamento é acertado.
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