Capítulo 5 – Fugindo do Capitão Arrogante
Edward
provou o doce sabor de seus lábios e da embriaguez de sua presença sem que
chegasse a sua mente algum pensamento lógico. Rodeou-a com seus braços,
estreitando-a fortemente, desfrutando da inesperada calidez de sua resposta.
Seu corpo gritava que continuasse. A pequena dama era muito tentadora. Seus
lábios eram muito quentes, seu corpo maravilhoso, afastar-se dela estava
convertendo-se em uma tarefa muito difícil. Demônios! Finalmente fez um esforço
e conseguiu separar-se.
– Se
me beijar assim vai ser muito difícil partir – murmurou com voz rouca.
Bella
ruborizou. O beijo também tinha sido uma surpresa para ela, pois não tinha sido
tão desagradável depois de tudo.
– E
agora receio que minha partida deverá atrasar-se um pouco - acrescentou -, pois
estas calças são muito justas.
Os
inocentes olhos de Bella posaram em suas calças. Imediatamente lamentou tê-lo
feito. Voltou-se, ruborizada, e emitiu um gemido, mortificada.
Edward
se pôs a rir. Suspirou ao vestir-se e balbuciou com melancolia:
– Se
dispusesse de tempo, senhorita... se me permite, fica ainda mais linda quando
fica corada...
A
jovem começou a empilhar pratos sujos sobre a mesa, furiosa, odiando o homem
que estava atrás dela. Decidiu que era mais que detestável.
Edward
estava dando o último toque ao colarinho quando Bella se virou para ele. Não
podia negar que estava muito arrumado, apesar de todo o ódio que sentia por
ele. Suas roupas imaculadas e muito bem escolhidas estavam à altura dos ditames
da moda, e sentavam à perfeição, ajustando-se esplendidamente a sua estatura e
a físico corpulento. As calças eram tão bem confeccionadas que se aderiam a
pele, dissimulando muito pouco a virilidade proeminente.
É tão
atraente que seguramente as mulheres brigam por ele, pensou com amargura.
Edward
se aproximou tranquilamente dela e beijou-a.
– Voltarei
logo, querida - disse com um sorriso. Bella desejava gritar, mas mordeu a
língua. Viu-o partir seguro de si, e logo que ouviu o som da porta ao fechar-se,
agarrou os pratos que tinha empilhado momentos antes sobre a mesa e os jogou no
chão com fúria.
Bella
sabia que se Edward retornasse antes que ela tivesse fugido, suas oportunidades
de faze-lo diminuiriam enormemente. Tentou pensar na melhor maneira de subornar
George e se perguntou se poderia consegui-lo com dinheiro. Mas o que podia usar
em vez desse bem tão escasso para ela? O vestido bege era a única coisa de
valor que possuía, e refletiu se seria o suficiente para convencer o criado.
Então pensou no homem que tinha usado seu corpo e a ideia se desvaneceu. O
criado seria muito leal a esse descarado presunçoso ou teria muito medo dele
para arriscar a vida por um suborno. Não, aquilo não funcionaria. Tinha que
pensar em algo melhor.
Começou
a procurar algo que servisse para persuadir o homem para que entregasse as
chaves do camarote. Abriu todas as gavetas da escrivaninha, procurando com
desespero entre os papéis e os livros. A única coisa que encontrou foi uma
bolsa com moedas. Esgotada, sentou-se na cadeira atrás da mesa, e observou com
o olhar cada canto, cada esconderijo do camarote.
Tem
que haver uma arma, decidiu mordendo os lábios contrariada, pois o tempo não
estava a seu favor. Olhou o armário, levantou-se da cadeira de um salto e
atravessou o espaço para abrir as portas. Procurou com desespero entre a roupa
pendurada, mas uma vez mais, não encontrou nada. Extraiu o conteúdo do armário
chorando desconsolada, até que descobriu no chão do diminuto compartimento uma
caixa envolta em um pano.
Serão
suas joias, pensou irritada enquanto a agarrava.
Abriu
a caixa. Não estava interessada nas joias, se isso era o que continha, mas o
recipiente em si atraiu sua atenção, Bella ficou boquiaberta e agradeceu a Deus
sua sorte, ali, sobre um leito de veludo vermelho, descansavam duas pistolas de
desenho francês belamente trabalhadas. Sabia muito pouco de armas de fogo, mas
seu pai tinha tido uma coleção destas. Examinou as pistolas
sem conseguir entender seu funcionamento. Seu pai não lhe tinha ensinado. Sabia
que devia puxar para trás o ferrolho para monta-la, mas carrega-la era para ela
um completo mistério. Amaldiçoou sua ignorância em silêncio e fechou a tampa,
tentando pensar em outra forma de enfrentar George. Voltou a abrir a caixa,
tirou uma das pesadas pistolas e a examinou. George não saberia de que ela não
tinha nem ideia de como usá-la, ela podia tentar engana-lo e assusta-lo o
suficiente para que lhe desse a chave da porta.
Reuniu
a coragem necessária e se dirigiu à mesa com um sorriso no rosto. Sentou-se na
cadeira, tirou papel e lápis e começou a rabiscar uma nota dirigida ao capitão.
Precisaria de dinheiro, mas não permitiria que a acusassem de vender seu corpo
para consegui-lo. Tomaria uma libra da bolsa de dinheiro que tinha encontrado
um momento antes e deixaria seu vestido bege em troca. Era um trato mais que
aceitável.
Dobrou
a nota e a depositou sobre o vestido. Depois escondeu cuidadosamente uma das
pistolas sob mapas e papéis.
Quando
George voltasse com o chá, que tinha pedido enquanto recolhia os pratos
quebrados do chão, poderia usa-la com facilidade. O criado se mostrou ansioso
por agrada-la, apesar da grande desordem que tinha provocado no camarote, e
tinha dito que demoraria alguns minutos para trazer o chá pois devia pedir a um
homem para fazê-lo.
Aquilo
tinha funcionado perfeitamente, pois durante sua ausência pôde vasculhar o
camarote. Pôs tudo em ordem para que o criado não suspeitasse que o tinha
descoberto. Depois, sentou-se e começou a ler um livro que tinha encontrado
sobre a escrivaninha. Era o mínimo que podia fazer; tinha prometido isso.
Demonstraria ao capitão Birmingham que não era a classe de pessoa a que se
podia reter contra sua vontade. Pôs-se a rir ao imaginar a ira que recairia
sobre George, por quem ela não sentia mais que ódio. Depois de tudo, era o
responsável por que tivesse caído em desgraça. A recompensa parecia mais que
justa, pensou.
Hamlet
não resultou ser muito tranquilizador para seus já crispados nervos. Inquieta
pelo atraso de George, afastou o livro e ficou a caminhar para cima e para
baixo pelo camarote. Depois de uns minutos, obrigou-se a retomar a leitura até
que finalmente, George fez girar a chave na fechadura e bateu na porta. Bella
deixou cair o livro e ficou de pé muito nervosa, logo retornou a seu assento e
pediu que entrasse. O criado entrou com o chá e se virou para fechar a porta.
–Trouxe
o chá, senhorita – anunciou. - É bom e está quente. - Sorriu e se dirigiu para
ela.
Aquela
era sua oportunidade. Bella ergueu a pistola.
– Não
se mova George ou terei que lhe disparar - ameaçou-o. A voz lhe soou muito
estranha.
George
levantou a vista da bandeja e se encontrou com a imponente arma apontando para
si. Não acreditava que uma pistola em mãos de uma mulher fosse algo para
tomar-se como brincadeira. Eram incapazes de entender o verdadeiro perigo que
era uma arma. George empalideceu.
–
Deixa as chaves sobre a mesa, por favor, George, e com cuidado - ordenou a
jovem. Observou-o enquanto este obedecia, apoiando suas trêmulas pernas contra
a mesa para não cair. - Agora, com muito cuidado, vai para o assento da janela
- acrescentou sem tirar-lhe os olhos de cima.
George
cruzou o camarote lentamente. Sabia ser precavido se as circunstâncias o
exigissem. Quando chegou a frente da janela, Bella exalou um longo suspiro.
–
Sente-se, por favor - indicou sentindo que recuperava um pouco a confiança.
Aproximou-se da mesa, agarrou as chaves e, sem tirar os olhos de cima do
criado, retrocedeu até a porta. Procurou a fechadura sem voltar-se, introduziu
a chave e girou-a. Imediatamente após isso, a sensação de estar na prisão
desapareceu. - Por favor, entre no armário, George – ordenou. - E não tente
nada porque estou muito nervosa e a pistola pode disparar.
George
desistiu da ideia de saltar sobre ela. Era verdade, estava muito nervosa;
custava-lhe manter a pistola firme e mordia constantemente os lábios. Estava
seguro de que se tentasse detê-la dispararia. Perguntou-se o que seria pior: a
ira de seu capitão ou um disparo da pistola. Sabia que a fúria do homem podia
chegar a limites insuspeitados se o provocavam. Estava com ele há muito tempo.
Tinha-lhe muito carinho e o admirava, mas às vezes também o temia. Duvidava que
seu capitão fosse mata-lo, e a pistola podia envia-lo facilmente à tumba se tentasse
arrebata-la da assustada jovem. Finalmente, caminhou para o armário, entrou no
reduzido espaço e fechou a porta atrás de si.
Bella
se aproximou da porta do armário para assegurar-se de que estava bem fechado.
Este não dispunha de fecho no interior, assim teria o tempo suficiente para
escapar antes que George pudesse dar a voz de alarme. Foi até a escrivaninha e
abriu a gaveta onde tinha encontrado a bolsa com o dinheiro. Agarrou uma libra
e depositou a pistola descarregada sobre a mesa.
Não
demorou muito em chegar à porta. Abriu-a sem pressa. Não havia ninguém na
escada que conduzia à cabine, assim se dirigiu até a porta que havia ao fundo.
Não tinha pensado na maneira de sair para a coberta e, ao entreabri-la,
compreendeu que sua fuga era impossível. Havia muita gente a bordo e sabia que
não passaria inadvertida. Vários homens muito bem vestidos iam de um lado para
outro, atarefados. Bella supôs que eram comerciantes que inspecionavam a carga.
O que
aconteceria se tentasse abandonar o navio? Perguntou-se. Só o capitão e um par
de homens sabiam que ela estava a bordo. Aqueles homens não a conheciam. Por
que não ser valente para variar? Simplesmente saia e misture-se com eles, disse
para si.
Ao
pensar nisso abrigou uma nova esperança. Abriu a porta, desta vez sem duvidar
por um instante. Seu coração pulsava tão forte que ameaçava estalar no peito.
Avançou entre a multidão com o ar próprio de uma rainha, forçando o sorriso.
Com a cabeça bem erguida, respondia aos homens que a contemplavam boquiabertos.
Estes lhe devolviam o sorriso e avisavam a outros para que se virassem para
olha-la. De repente, o silêncio reinou na coberta do navio. Todos os homens a
observavam maravilhados sem que nenhum fizesse nada para detém-la. Quando o
vento levantou ligeiramente suas saias, todos admiraram seus bonitos tornozelos
e seus pés delicados e pequenos. Um homem de meia idade, alto, de tez morena,
cabelo branco e cavanhaque lhe ofereceu a mão. Ela a aceitou com um doce
sorriso. Ao afastar-se dele para descer pela passarela, sentiu que a devorava
com o olhar. Antes de chegar ao extremo da rampa, voltou-se para lhe dedicar um
último sorriso. Este o devolveu cortesmente com uma reverência, chapéu no
peito.
Bella
sabia que estava paquerando com ele, mas sabia que o capitão saberia os
detalhes e queria enfurece-lo. Tinha sido mais esperta que ele! Ao descer da
rampa, eram muitos os cavalheiros que a esperavam para assisti-la. Pululavam em
torno dela com a intenção de lhe estender a mão.
Bella
escolheu ao mais atraente e posou sua mão sobre a dele e lhe pediu amavelmente
que fosse em busca de uma carruagem; ante seu assombro, o homem obedeceu
imediatamente deixando tudo no chão. Ao cabo de poucos minutos, retornou
oferecendo-se para escolta-la. Ela recusou o oferecimento muito educadamente e,
com relutância, o homem lhe estendeu a mão para ajudá-la a subir na carruagem
que a aguardava. A moça agradeceu sua amabilidade cortesmente. Perguntou-lhe
onde vivia, mas ela guardou silêncio, diante do que o homem exalou um suspiro,
soltou-lhe a mão e fechou a porta. Uma vez, no caminho, Bella lhe sorriu de
novo, mas ao ver que ele tinha interpretado o sorriso como um convite para que
a acompanhasse, e já estava a ponto de pôr-se a correr atrás dela, sacudiu sua
cabeça em sinal de negativa.
Quando
a carruagem dobrou a esquina, Bella se ajeitou no assento e sorriu. Sentiu
vontades de voltar a rir, em parte de histeria, mas também de alívio. Relaxou,
fechou os olhos e não voltou a abri-los até chegar às garagens, nos subúrbios
de Londres. Ali se apressou a reservar um assento no carro que a levaria de
volta à casa de tia Victória, onde pensou que jamais retornaria e onde
esqueceria aquele capitão dono de maravilhosos olhos verdes...
putz o capitão vai matar um até encontrar ela. E será que a Bella não ficou gravida?
ResponderExcluir