Capítulo 11 – Confissões
Edward estudou durante
longo tempo a pequena e escura cabeça que se apoiava sobre seu ombro, antes de
deslizar seu braço ao redor dela e encosta–la contra seu peito. Bella havia
adormecido assim que entraram na carruagem e estava com uma expressão
satisfeita, imersa em seus sonhos, e colocou sua mão no peito de seu marido,
este podia sentir sua respiração no pescoço. Ficou pálido e de repente começou
a tremer, amaldiçoou–se por deixar que uma simples menina o afetasse daquele
jeito. Tinha que dar uma lição nessa garota e mal podia manter as mãos
afastadas dela. Onde estava seu julgamento frio e lógico, seu autocontrole?
Precipitara–se ao jurar que jamais a
trataria como uma esposa? E depois, ao saber que já não poderia faze–lo tinha
percebido repentinamente que a única coisa que desejava era possuí–la? Mas
sempre a tinha desejado, mesmo quando acreditara que jamais a voltaria a ver.
O que lhe estava acontecendo? Era uma
mulher suficientemente velha para levar um filho no ventre. Tinha que estar em
um lugar seguro, com alguém que a mimasse, e não ali com ele, a ponto de
converter–se em mãe.
Mas o fato era inegável, desejava fazer
amor, desejava possuí–la imediatamente. Quanto tempo poderia aguentar tendo–a
junto a ele e vendo–a em diferentes estados de nudez sem deitar–se sobre ela e
satisfazer seus desejos? Mas não podia, não importava quanto o desejasse. Não
podia deixar que suas ameaças se desvanecessem. Tinha jurado que pagaria por
tê–lo intimidado e demônios, o faria! Ninguém podia o chantagear e partir
tranquilamente como se nada tivesse acontecido.
Quando chegaram a estalagem, Bella
ainda dormia e Edward, com voz suave a chamou.
– Bella – chamou–a em voz baixa. – Quer
que a leve até o quarto?
– Como? – perguntou ainda sonolenta.
– Quer que a leve no colo? – repetiu
Edward. A jovem abriu os olhos, piscando lentamente, ainda sedada pelos efeitos
do sono.
– Não – respondeu sonolenta. Mas não
fez nenhum esforço para levantar–se.
Edward se pôs a rir suavemente,
colocando a mão sobre a dela.
– Se insistir, meu amor, podemos dar
outra volta pela cidade – brincou.
Tentou sair da carruagem tropeçando
nele e quase caiu no chão de cabeça ao abrir a porta. Foi a rápida reação de
Edward que evitou a queda. Pôs o braço na frente dela para segura–la e
levantou–a de novo, sentando–a em seu colo.
– O que tentava fazer? – gritou. –
Matar–se?
– Oh, me deixe em paz! – gritou. –
Deixe–me em paz! Odeio–o! Odeio–o!
– Estou certo que sim, querida –
observou rindo maliciosamente. – Além de tudo, se não tivesse me conhecido,
ainda continuaria vivendo com sua tia gorda, suportando seus abusos, tentando
esconder o corpo embainhado em vestidos doze vezes maior, esfregando e
esfregando até te romper as costas, agarrando a escassa comida que desprezaram,
contente de encontrar amparo em seu exíguo canto e ficando velha com a
virgindade intacta, sem saber jamais o que significa ser mãe! Sim, fui muito
cruel ao afasta–la dessa vida tão agradável. Foi muito feliz ali e devo me
amaldiçoar por ter forçado você a deixa–la. –Fez uma pausa, logo prosseguiu com
mais crueldade. – Não sabe o quanto me arrependo de me ter sentido tentado por
seu corpo de mulher, sem ter me dado conta, primeiro, de que ainda era uma
menina. Agora a tenho pendurada ao pescoço para sempre e isso não me agrada
absolutamente nada, cada vez que penso nisso. Teria sido melhor que tivessem me
castrado faz tempo e me deixassem viver em paz!
De repente, os ombros de Bella
desabaram e rompeu a chorar sentindo toda a miséria do mundo em seu interior.
Todo seu corpo tremeu com seu pranto, não desejava ser uma carga para ele, um
peso morto para suportar, odiar e nunca querer. Não tinha nascido para isso.
Ao observar como o pequeno corpo se
agitava, Edward perdeu todo o desejo de feri–la. Uma enorme pressão lhe oprimiu
o peito, enquanto procurava seu lenço sem êxito.
– Onde colocou meu lenço? – perguntou
suspirando. – Não o encontro.
– Não sei – murmurou tristemente, sem poder pensar com clareza. Secou as
lágrimas com a prega do vestido ao mesmo tempo em que procurava nos bolsos.
Enquanto isso, o condutor da carruagem se aproximou e olhou de soslaio para o
interior.
– Posso fazer algo pela dama? –
ofereceu–se, hesitante. – Ouvi–a chorar. Rompe–me o coração ouvir uma mulher
chorar.
Edward franziu o sobrolho, olhou o
homem e continuou procurando seu lenço.
– Não necessitamos de ajuda, senhor –
respondeu educadamente. – Minha esposa está um pouco zangada comigo porque não
permito que sua mãe venha viver conosco. Ficará bem quando compreender que suas
lágrimas não vão mudar minha decisão.
O condutor sorriu.
– Nesse caso, senhor, deixo–o com ela.
Sei muito bem o que é viver com a mãe de uma esposa. Deveria ter sido tão
inflexível quanto você quando me casei com a minha. Agora não teria essa velha
bruxa na minha casa. – Dirigiu–se para os cavalos, enquanto Edward tirava o
lenço e enxugava as lágrimas de Bella.
– Sente–se melhor? – inquiriu. – Já
podemos ir para o quarto?
Após um leve aceno por parte da moçam
ele continuou:
– Então deixe que me levante – disse. –
Ajudarei você a sair da carruagem.
– George foi em busca de uma bandeja de
comida – comentou o capitão. – Eu não ficarei para jantar. E preferiria que não
abandonasse o quarto na minha ausência. Não estaria a salvo, desprotegida. Se
necessitar de algo, George estará lá fora. Peça–lhe o que necessitar.
Bella lhe lançou um olhar de incerteza
por cima do ombro.
– Obrigada – murmurou.
Edward partiu sem pronunciar uma
palavra mais, deixando–a só e desalentada, com o olhar fixo na porta.
A moça sentiu no interior um movimento
que lembrava as asas de uma mariposa, quase irreal por sua fragilidade. Caiu na
cama e permaneceu muito quieta coberta pelo edredom. Temia fazer qualquer
movimento e esperava que a sensação desaparecesse. Estirada na escuridão,
sorriu para si mesma. Uma vez mais voltou a senti–lo, esta vez com mais
intensidade. Deslizou a mão até seu ventre, como se estivesse em um sonho, e
seus pensamentos se esclareceram repentinamente.
Não era fácil saber que ele tinha
razão, pensou. Teria sido impossível fugir da casa sem ser vista, não importava
quão bem o tivesse planejado.
Vigiavam–me muito de perto. Teria
passado a vida ali se ele não me tivesse levado consigo e me tivesse dado seu
filho.
Sentiu de novo aquele revoo sob sua
mão.
Então agora estou a ponto de me
transformar em mãe e ele se odeia e amaldiçoa por isso. Mas tem que ser deste
modo? É tão difícil mostrar amabilidade e gratidão sabendo que odeia o chão que
piso e que preferiria deixar de ser um homem antes que ter que se encarregar de
mim? Apesar do ódio que sente por mim, foi atento. Agora devo mostrar que não
sou uma menina e que estou agradecida. Mas não vai ser fácil. Assusta–me e sou
tão covarde...
Bella ouviu seus passos na escuridão,
Edward se moveu silenciosamente pelo quarto enquanto se despia, unicamente
iluminado pela luz do pátio, que mostrava o caminho. Deslizou na cama, junto a
ela, e se virou para a porta. Uma vez mais, o dormitório ficou em silêncio e
Bella só pôde ouvir o som de sua respiração...
Na manhã seguinte, antes de abrir os
olhos, Bella ouviu o barulho da chuva, Edward afastou os lençóis e se sentou na
cama. Ela fez o mesmo atraindo a atenção de seu marido, que franziu o cenho.
– Não é preciso que se levante agora –
resmungou – Tenho que comprovar umas coisas relacionadas com a carga e não
posso te levar comigo.
– Vai sair já? – perguntou insegura,
temendo sua reação.
– Não. Não imediatamente – respondeu
ele. – Antes de ir me banharei e tomarei o café da manhã.
– Então, se não se incomodar – disse a
jovem docemente –, preferiria me levantar.
– Faça o que te agradar – grunhiu Edward em voz
baixa. – Tanto faz para mim.
Trouxeram–lhe água quente para seu
banho. Quando ficaram a sós, ele se meteu na tina de metal. Estava de mau
humor. Bella se aproximou da banheira assustada e lhe ofereceu seus serviços,
estava tão nervosa que quase não podia nem pensar, e lhe tremiam as mãos.
Arrebatou a esponja e Edward a olhou surpreso.
– O que quer? – perguntou impaciente. –
O gato comeu sua língua?
– Eu... eu... me agradaria ajudar você
em seu banho – conseguiu dizer.
– Não é necessário – resmungou. – Vista–se. Se desejar, pode tomar o
café da manhã comigo lá embaixo.
– Não importa – disse em tom áspero. –
Posso faze–lo sozinho. Pega a escova e arrume o cabelo.
Enquanto escovava o cabelo, Edward se
aproximou e começou a lhe abotoar o vestido. Quando terminou, Bella agradeceu
com um tímido sorriso. Edward a olhou e, ao notar seu olhar Bella sentiu que,
tal como o dia, seu coração brilhava resplandecente.
Nos dias seguintes, Bella passou a
maior parte do tempo encerrada no quarto, com a certeza de que George estava em
um lugar próximo, via seu marido pelas manhãs, quando ele se levantava para
banhar–se e vestir–se e tomavam o café da manhã juntos. Logo ele partia e
permanecia fora até altas horas da noite, muito depois dela se deitar. Sempre
chegava sem fazer ruído e se despia na escuridão com supremo cuidado para não
desperta–la.
Era já a quinta manhã e o dia a dia se
converteu em uma rotina relaxada. O mau humor de Edward ao despertar
suavizava–se cada manhã com o banho de água quente, às vezes, enquanto lhe
esfregava as costas, ficava imóvel durante um longo momento. Esses interlúdios
matinais eram doces e tranquilos para Bella, desfrutavam um do outro em silêncio.
Antes de partir depois do café da manhã, depositava um beijo na testa de sua
esposa e depois partia para cumprir com seus afazeres cotidianos.
Aquela tardia manhã de outubro começou
como sempre. Ao sentarem–se para tomar o café da manhã, Edward comentou.
– Combinei as provas de vestuário para
esta tarde. Voltarei às duas. Peça ao George para que tenha uma carruagem nos
esperando.
Permaneceu sentada, observando–o de
soslaio, estava impecavelmente vestido, como era habitual nele, e era tão atraente
que todas as mulheres ficavam desarmadas. Bella se surpreendeu ao descobrir que
tampouco lhe era indiferente.
A porta principal da estalagem se
abriu. Um jovem alto, enfeitado com um chapéu e casaco azul entrou. Seu olhar
se dirigiu a Edward, cruzou o salão e tirou o chapéu. Enquanto se aproximava,
este ergueu a vista e se endireitou na cadeira.
– Bom dia, senhor – disse o jovem
arrastando as palavras. Inclinou a cabeça ligeiramente em frente a Bella e
acrescentou: – Bom dia, senhora.
Edward apresentou o homem como Alfred
Boniface, o comissário de bordo do Fleetwood, e a Bella como sua esposa, o
jovem não mostrou nenhuma surpresa e Bella não teve a menor dúvida de que tinha
sido informado das repentinas bodas de seu capitão. Não sabia até que ponto conhecia
os detalhes, mas desejou que ignorasse a maior parte dos fatos que tinham
acontecido e especialmente a data em que tivera lugar o casamento.
Boniface sorriu abertamente.
– É um prazer conhece–la, senhora.
– Será muito esperar que a esta hora da
manhã traga boas notícias do porto, ou há algum assunto urgente que requeira
minha atenção? – inquiriu o capitão.
– Pode ficar tranquilo, capitão –
assegurou Boniface. – Tudo vai bem. Amanhã abrirão o porto para o fornecimento
de Charleston e poderemos carregar. O encarregado diz que se desencadeou uma
violenta tormenta invernal no mar do Norte. Teremos que esperar uns seis dias
antes de poder levantar âncoras e entrar no mar. É o melhor que podíamos
esperar com a escassez de homens experientes que há nestes portos.
Edward exalou um suspiro de alívio.
– Quase tinha perdido a esperança de
nos afastar deste porto. Devemos encontrar os homens em toda costa, estamos a
muito tempo aqui e estou ansioso para partir.
– Sim, senhor – disse Boniface,
ansioso. Bella não pôde compartilhar o entusiasmo do jovem, pelo contrário,
sentiu medo e incerteza. Deixou de pensar no que o homem podia saber. Este era
seu lar; não era fácil abandona–lo e partir para uma terra estranha. Mas na voz
de seu marido detectou um tom suave e quente que nunca antes tinha ouvido e
compreendeu que estava preparado para ir para casa.
Enfrentava o desconhecido, com um homem
que tinha jurado vingar–se dela. Educaria seu filho entre pessoas estranhas que
certamente se comportariam com ela de forma hostil. Seria como um pequeno
carvalho arrancado do bosque e plantado em uma nova terra. Não tinha a menor
ideia se chegaria a ficar raízes e a florescer ou se murcharia e morreria.
Bella acabou de remendar a camisa e a
deixou cuidadosamente dobrada sobre a cômoda. Um pouco antes, George lhe tinha
levado um pequeno almoço e agora estava se arrumando para a saída. Uma vez
feito isto, dispôs–se a esperar a volta de seu marido. George entrou no quarto
e informou–lhe que a carruagem os aguardava no pátio. Em algum lugar da cidade,
os sinos tocaram as duas e seu eco foi morrendo lentamente até fundir–se com a
voz de Edward na rua de baixo. Ao cabo de uns minutos ouviu seus passos na
escada, até que finalmente a porta se abriu.
– Vejo que já está pronta – comentou
Edward com aspereza, franzindo ligeiramente o sobrecenho enquanto a olhava com
o canto do olho. Tinha uma capa de veludo cinza dobrada sobre o braço.
Aproximou–se dela e a desdobrou.
Bella encolheu os ombros.
– Não havia nada que me pudesse
atrasar, Edward – murmurou.
– Então – disse ele ao mesmo tempo em
que estendia a capa – ponha isto, pois faz frio e vai precisar de casaco.
Pensei que está capa assentaria melhor que uma das minhas.
Bella pegou–a, pensando que era de
Edward. Mas, ao coloca–la sobre os ombros, comprovou que se tratava de uma peça
feminina muito cara. Nunca tinha tido uma como essa, nem quando vivia com seu
pai. Tocou–a com grande admiração e a alisou.
– Oh, Edward – observou assombrada –, é
linda.
Edward se aproximou para abotoar–lhe as
presilhas de seda, mas a jovem estava tão entusiasmada que o impediu de
realizar a tarefa. Tão excitada se sentia movendo–se de um lado a outro e
inclinando–se para se ver vestida, que no final conseguiu arrancar de seu
marido um sorriso.
– Fique quieta, pequena formiguinha e
deixe que termine com isto – ordenou alegremente. – É mais difícil abotoar isto
que tentar pegar uma abelha.
Bella riu bobamente e se inclinou por
cima das mãos de Edward para admirar a capa fina. Roçou com a cabeça o peito de
seu marido e, ao faze–lo, a doce fragrância do seu cabelo o envolveu.
– E agora já não vejo nem o que estou
fazendo – brincou ele.
Bella teve um ataque de riso enquanto
aparecia a cabeça por cima dele. Sua alegria estava presente em cada traço de
seu rosto. Um sorriso cruzou o semblante de Edward, que desfrutava do alvoroço
que o inesperado presente havia trazido para a jovem. Seus olhos se
obscureceram.
Instintivamente, Bella colocou a mão
sobre o peito de Edward, e ao contato, ambos os corpos se eletrizaram. Seus
olhos se encontraram e os sorrisos desvaneceram. As mãos de Edward acabaram a
tarefa por si só, e deslizaram, como impulsionadas por uma força estranha,
sobre os ombros de Bella até as costas e atraiu–a para si. Bella se sentiu
muito fraca, as pernas tremiam e sua respiração quase parou, os olhos de Edward
a apanharam por instantes e o tempo ficou suspenso no quarto. O relincho de um
cavalo e gritos procedentes da rua romperam o feitiço. Edward retirou as mãos e
sacudiu sua mente, voltou a sorrir, tomou a mão e a colocou sobre a dobra do
cotovelo.
– Vamos, querida – insistiu com
suavidade. – Devemos nos apressar.
– Parece que as carruagens maiores já estão ocupadas, capitão – George
informou.
– Não tem por que se desculpar, George.
Esta será suficiente. Vou ficar várias horas fora, de modo que tenha uma mesa
preparada com o jantar em nossos aposentos. Há um assunto que deve ser
atendido. Minha mulher necessitará de um baú. Encontre um amplo e faça que o
subam. – Tirou uma bolsa de seu bolso e a lançou ao criado. – Que seja bonito,
George – ordenou.
O homem sorriu e fez uma reverência.
– Sim, meu capitão.
Madame Fontaineau os esperava na porta
de sua loja com um animado falatório e os conduziu imediatamente ao provador.
– Tudo está indo muito bem, capitão
Cullen – assegurou. – Muito melhor do que esperava. Não haverá nenhum problema
em ter tudo a tempo.
– Então tudo está bem, madame –
respondeu Edward, acomodando–se na cadeira que lhe tinha dado amavelmente. –
Zarpamos dentro de uma semana.
A mulher riu.
– Não se preocupe, monsieur –
o tranquilizou. – Não tenho nenhuma intenção de o ver zarpar sem os vestidos de
madame.
A costureira começou a revisar os
trajes alinhavados. Bella se aproximou de Edward, virou–se e afastou o cabelo
para que lhe desabotoasse o vestido. Uma estranha expressão apareceu no
semblante de seu marido enquanto levantava as mãos para o vestido, seus dedos
eram um pouco mais torpes do que o normal. Bella tirou o vestido e madame
Fontaineau a ajudou a provar o primeiro traje.
– É uma sorte – começou a dizer a
senhora muito animada – que a moda seja assim. Com a cintura tão alta, não terá
nenhuma dificuldade em usa–los durante vários meses. A alguns, estamos deixando
uma boa costura para que possa usa–los inclusive nos últimos meses.
Edward enrugou a testa e fixou o olhar
no abdômen de sua mulher. Tinha esquecido por completo seu estado e as
circunstâncias que tinham rodeado seu matrimônio.
– Acha que
é de seu agrado este vestido, monsieur? – perguntou Madame Fontaineau sobre o
traje seguinte. – A cor é muito atraente, não é?
Edward observou o delicado corpo da
esposa, quase sem perceber o vestido rosado que tinha posto. Murmurou uma
resposta de conformidade e afastou o olhar.
Pouco depois, o vestido foi retirado e
Bella falou tranquilamente com a mulher a respeito das medidas, enquanto Edward
a estudava furtivamente. A alça da combinação tinha caído sem que Bella se dessa
conta, remexeu–se na cadeira ao perceber que a visão o tinha afetado fisicamente.
– Oh, este negro é meu favorito, monsieur –
afirmou a costureira minutos mais tarde, enquanto Bella examinava outro traje
alinhavado – Quem a não ser você poderia ter pensado que a cor negra é tão
elegante, monsieur? Madame está radiante não acha, monsieur?
Edward respondeu prontamente e se mexeu
na cadeira, pouco antes na estalagem tinha estado muito perto de quebrar suas
promessas. Se tivesse se aproximado um pouco mais, teria esquecido seu orgulho,
sua honra e teria traído a palavra. Teria atirado Bella sobre a cama, sem que
nada nem ninguém tivesse podido impedir que fizessem amor. Vendo–a vestir–se e
despir–se constantemente, sentia–se a ponto de estourar. Não podia suportar
aquela tortura por mais tempo. Seu orgulho e suas paixões estavam travando uma
terrível batalha e o final da luta era incerto.
Muito a seu pesar, Bella provou vários
vestidos mais. Amaldiçoou–se por ter comprado tantos. A ruga de sua fronte se
tornou inquietante e suas respostas a madame Fontaineau eram cada vez mais diretas.
Ambas as mulheres lhe lançaram olhares receosos.
– Monsieur, possivelmente
não está contente com os vestidos? – inquiriu a mulher muito insegura.
– O trabalho é perfeitamente
satisfatório, madame – respondeu secamente. – São estas eternas ninharias que
acabam com meus nervos.
Madame Fontaineau suspirou aliviada.
Simplesmente estava cansado das pesadas provas, como o estaria qualquer outro
homem.
– Oh, Edward, vê isto? – interrogou
triste, aproximando–se dele. – Me sinto como um agulheiro. A garota deve ter
deixado todas as agulhas da mesa de costura neste vestido, não posso respirar
sem me picar com alguma.
Bella manteve o braço no alto e se
moveu inocentemente entre as pernas do marido. Este empalideceu, um horrível
arranhão marcava a pele branca da axila e um comprido alfinete de aspecto
assassino sobressaía do tecido, justo na lateral do seio. A cabeça da agulha
estava no interior do vestido e não podia ser tirada. De muito má vontade,
Edward se levantou e deslizou dois de seus dedos pelo interior do sutiã,
apertando–os contra seu quente seio, enquanto ela permanecia quieta, muito
obediente, confiando plenamente nele. Seus olhares se encontraram durante
segundos e, surpreendentemente Edward corou.
Que demônios! Pensou muito zangado. Fez
com que eu corasse como se fosse um pirralho inexperiente!
Afastou bruscamente a mão como se o
contato com sua pele o tivesse queimado.
– Terá que esperar que madame
Fontaineau volte – grunhiu. – Eu não alcanço.
– Madame, por favor – suplicou Bella,
desesperada. – Tenho que tirar este vestido. Está cheio de alfinetes.
– Bon Dieu! – exclamou a
costureira. – Oh, madame Cullen, sinto muito. Esta Marie é ainda uma menina –
voltou–se para a garota e fez um gesto para que saísse. – Vá! Vá! Falarei com
você mais tarde. Agora devo atender a madame.
Finalmente, madame Fontaineau
desabotoou o vestido e Bella pôde respirar tranquila. Era o último, assim,
momentos depois, e para grande alívio de Edward, já estavam fora do diminuto
provador e preparados para abandonar a loja.
Chegaram quando era quase noite,
atravessaram o salão sem mais incidentes e se dirigiram ao quarto. Edward
deixou cair os pacotes sobre a cama e se aproximou da janela. Um baú gigantesco
com asas de metal brilhantes jazia aos pés da cama, ao passar ao seu lado,
Edward levantou o olhar para sua esposa indicando–o.
– Isto é seu – disse – Deve colocar
suas coisas nele. De qualquer forma terá de empacotar tudo nestes dias.
Bella tirou a capa, acendeu uma vela
que havia sobre a cômoda e viu que tinham disposto uma mesa com uma toalha
branca com dois serviços, a tarde tinha sido tão movimentada que, até esse
momento, não se tinha dado conta de quão faminta estava. Ao pensar em comida,
fez–se água na boca e esperou com ansiedade que chegasse o momento de
desfruta–la, seu estômago se queixou enquanto pendurava a capa ao lado da de
Edward em um cabide que havia junto à porta. Estava ordenando os pacotes,
quando, de repente, ouviram–se umas ligeiras batidas na porta. Depois de um "Sim"
de Edward, está se abriu e apareceu George, dois meninos seguiam–no com
bandejas repletas de comida e uma garrafa de vinho, deixaram tudo sobre a mesa
e partiram.
Acabaram o jantar sem trocar uma
palavra, Bella dirigiu–se a cama para abrir os pacotes, classificar seus
conteúdos e guarda–los no baú. Desembalou um regalo de pele de raposa e não
pôde resistir ao impulso de acaricia–lo. Soprou sobre a suave pele e esfregou o
nariz, sem saber que Edward se levantara e estava de pé observando–a, de
repente ele estendeu um braço e levantou docemente um dos cachos do cabelo que
lhe caíam sobre o ombro. Bella ergueu os olhos e viu que se encontrava muito
perto dela, ele tinha um estranho olhar, entre dor e prazer; tentou falar mas
as palavras ficaram atravessadas na garganta. Apertou as mandíbulas, deu meia
volta e começou a caminhar furioso pelo aposento como um leão enjaulado. Bella
observou–o e seu desconcerto cresceu, quando finalmente falou, a jovem deu um
salto assustada.
– Maldição, Bella! – exclamou. – Há
algumas coisas que deve aprender sobre um homem. Não posso...
Edward guardou silêncio e o tique
nervoso voltou a aparecer em seu rosto, deteve–se em frente à janela e
permaneceu, uma vez mais, olhando à escuridão. Depois de esperar durante um
longo momento que continuasse sua conversa, Bella se dispôs a empacotar de novo
as coisas para guardar nos compartimentos do baú, por uns minutos se dedicou a
diversas ninharias, lançando, de vez, em quando, olhares furtivos a seu marido.
– Bella – murmurou finalmente. – É uma
longa viagem até a América. Estaremos juntos a maior parte do tempo em um
aposento muito menor que este, dormiremos juntos em uma cama que mede a metade
da que existe aqui. Fará um frio espantoso e não será agradável para você,
sobre tudo porque será a única mulher a bordo, não poderá rondar livremente
pelo navio ou se afastar de mim, quando estiver fora do camarote. Seria muito
perigoso que o fizesse. Bella... os marinheiros passam muito tempo afastados da
terra e não podem olhar uma mulher sem... excitar–se. Se são provocados
repetidas vezes se desesperam. – Olhou–a atentamente para comprovar se tinha
entendido o que acabara de dizer. Ela o observava fixamente, escutando com
atenção cada uma de suas palavras. Mas Edward duvidava que fosse capaz de
associar o que dizia a sua própria pessoa, suspirou e continuou falando: –
Bella, se um homem vê uma mulher formosa e permanece perto dela durante certo
tempo, é inevitável que sinta o impulso de leva–la a seu leito. Se não puder fazê-lo,
é verdadeiramente doloroso para ele. Deve...
Parecia não poder acabar a frase. As
faces de Bella ruborizaram e voltou a agarrar muito nervosa o vestido.
– Ficarei no camarote todo o tempo que
seja possível, Edward – afirmou brandamente sem olha–lo. – Tentarei não cruzar
com ninguém.
Edward blasfemou em voz baixa e o
músculo de seu rosto tencionou.
– Por Deus, Bella – disse em tom
áspero, levantando–se da cadeira. – O que estou tentando dizer é que... vai ser
uma longa viagem sem... sem... Maldita seja... vais ter que me permitir...
Não acabou a frase. O orgulho tinha
vencido. Com uma brutal maldição, afastou a cadeira e atravessou muito furioso
o quarto até a porta.
– Não abandone o quarto – ordenou sem
olha–la. – George estará aqui para velar por sua segurança. – Abriu a porta
bruscamente e saiu encolerizado, blasfemando. Bella permaneceu sentada,
atônita, incapaz de entender o que tinha ocorrido. Tinha perdido a paciência
com ela, quando a única coisa que ela tinha feito tinha sido tentar entende–lo.
Ouviu como grunhia uma série de ordens ao George e, um momento depois, viu que
este entrava no aposento tão confuso quanto ela. Passou com sua permissão e
começou a retirar a mesa. Bella se levantou da cadeira suspirando e ficou
olhando pela janela, o chapéu de Edward jazia sobre o batente, agarrou–o e o
acariciou com ternura, quase amorosamente. Voltou–se ainda tocando–o.
– Esqueceu o chapéu, George – murmurou
em tom melancólico. – Disse quando voltaria?
– Não, senhora – respondeu o criado
quase desculpando–se. – Nenhuma palavra. – Depois acrescentou com dificuldade:
– Senhora, às vezes o capitão se comporta de um modo estranho, mas normalmente
acaba resolvendo seus problemas. Tenha um pouco de paciência com ele, senhora.
É um homem duro, mas bom.
Envergonhado, sentindo–se culpado pela
confissão, continuou empilhando os pratos sobre a bandeja. Bella lhe sorriu
amavelmente, segurando o chapéu de Edward e apertando–o contra o peito.
– Obrigada, George – murmurou.
Já na porta, este lhe deu uma olhada e
disse por cima do ombro:
– Desejará água quente para seu banho
como sempre, senhora?
Bella assentiu lentamente e ainda
sorrindo respondeu:
–Sim, George, como sempre.
Bella despertou lentamente, remexeu–se
sob o edredom aveludado e sorriu, piscou meio adormecida, movendo uma mão para
o travesseiro vazio de Edward e se sentou na cama sobressaltada, era quase a
alvorada, o céu estava iluminado e as estrelas se desvaneciam. Seus olhos foram
para a porta, e ali encontrou Edward, desabado sobre o batente, olhando–a
fixamente, tinha os olhos vermelhos e frágeis, a gravata borboleta desatada e a
jaqueta torcida. Um sorriso embriagado torceu sua boca como se algo o
divertisse.
– Edward? – sussurrou. – Está bem?
Esse era um aspecto dele no qual nunca
tinha pensado, encostava–se e não se sustentava em pé. Cambaleou em direção a
ela e um aroma de rum e perfume barato a golpeou como se tratasse de algo
sólido, Bella retrocedeu ligeiramente, observando–o com cautela.
– Falsa rameira – disse olhando–a com
lascívia. – Com esses seios erguidos e bem contornados e esse rosado traseiro,
é uma tentação inclusive quando está dormindo. Aaah, malditas virgens! –
grunhiu. – Todas são iguais. Castram os homens mentalmente e fazem que sejam incapazes
de deitar–se com outras mulheres. Rasgam seu orgulho com suas garras cruéis e
depois os prendem, fazem alarde de sua inocência frente ao mundo, levantando
seus finos narizes. – Tropeçou e, muito instável, aferrou–se a um dos pilares
da cama, de repente abriu os braços e, com grandes dramalhões, simulou uma
apresentação de Bella ao mundo: – E aqui, comigo, está sentada a rainha das
virgens, em seu trono de gelo, rodeada de um halo de pureza. E o que tem de
mim? Joguei e ganhei o troféu. Agora tenho que guarda–lo em minha casa sem
poder toca–lo. – Agarrou o pilar da cama com ambas as mãos e esfregou a testa
como se com isso fosse desfazer da dor que sentia na alma. – OH, esposa virgem
– prosseguiu –, por que não a fizeram fraca e feia para que pudesse te ignorar
tal e como você deseja? Mas entre todas as mulheres da cidade de Londres, eu,
pobre de espírito, escolhi você, a mais bela dama que já tentou a um homem. E
não me trata como a um homem, mas sim como a um animal, muito cansado para
buscar uma fêmea. Brinca e posa ante mim e espera que meus ânimos não se
exaltem. Tenta–me e provoca e depois nega meus direitos maritais. Oh, Deus!
Acaso acha que sou um eunuco junto ao qual está a salvo? Com somente um xelim
posso comprar mais ternura do que você é capaz de me dar! – apoiou–se nela e a
olhou fixamente.
Equilibrou–se sobre a cama com os
braços estendidos, tentando agarra–la pela cintura. Bella estremeceu
horrorizada e se separou de um salto, envolta na sensual camisola, uma lágrima
começou a brotar em seus olhos, Edward caiu escancarado no meio do leito,
olhando estupidamente o farrapo que tinha apanhado em sua mão, apoiou–se sobre
um cotovelo e, desconcertado, olhou o corpo nu de sua esposa, sua pele branca e
resplandecente diante da primeira luz da alvorada. Depois se afundou na cama
lentamente, vencido pelo estupor do álcool, sua mão relaxou e a camisola caiu
ao chão.
Bella o observou com precaução por um
instante, esperando que se levantasse de novo e fosse para ela. Ao não faze–lo,
aproximou–se dele e escrutinou, por cima do braço, seu rosto afundado no
edredom. Tinha os olhos fechados e a respiração era regular.
– Edward? – chamou–o com desconfiança.
Não se moveu. Seus olhos permaneceram fechados.
Bella se aproximou e tocou a mão com muita
cautela, preparada para saltar se fizesse o menor gesto de ir contra ela,
empurrou–o ligeiramente e, ao fazê-lo, o braço de Edward caiu da cama,
pendurado; Bella se aproximou mais, observou–o e levantou o braço. Agora estava
a salvo, agachou–se, recolheu a camisola do chão e a depositou sobre os pés do
leito, depois tratou de lhe tirar o casaco.
Não era tão fácil como parecia, pesava
muito para que pudesse move–lo sozinha. Só podia fazer uma coisa: ir procurar a
George, vestiu a combinação, jogou a capa por cima, saiu do quarto e desceu as
escadas até o quarto do criado, bateu na porta e ouviu como o homem amaldiçoava
e tropeçava, a porta chiou ao se abrir e apareceu George esfregando os olhos. A
enorme camisola quase cobria as pernas delgadas e os dedos dos pés se retorciam
sobre o chão gelado, na cabeça usava um gorro de ponta que pendia por um dos
lados. Ao vê–la, abriu os olhos de par em par, ocultando rapidamente a parte
inferior do corpo atrás da porta. Deu uma olhada à primeira luz da alvorada que
já entrava pela janela e voltou a olha–la.
– Senhora! O que está fazendo a estas
horas? – inquiriu.
– Necessito de ajuda, George – disse
ela docemente. – O capitão bebeu muito e terá que move–lo.
George a olhou confuso e respondeu:
– Sim, senhora. Em um momento.
Bella voltou para o quarto. George a
seguiu minutos mais tarde com as calças perfeitamente postas. Viu Edward
escancarado no meio da cama, e abriu os olhos com expressão de surpresa.
– Oh, desta vez o capitão superou a si
mesmo. – Suspirou. Olhou de soslaio à dama e acrescentou: – Não é algo habitual
nele, senhora, asseguro.
Bella não respondeu, voltou–se para
Edward e começou a lhe tirar um dos sapatos, George a olhou e descobriu a
camisola rasgada aos pés da cama. Sem dar uma palavra, apressou–se a ajudar seu
capitão, o pôs direito e juntos lhe tiraram o casaco, a gravata–borboleta e o
colete. Exceto por algum grunhido ou suspiro, Edward não despertou de seus
bêbados sonhos, Bella olhou George com indecisão na hora de tirar as calças e
ambos concordaram em silêncio deixa–las postas. Cobriram–no com o lençol e,
antes de ir, George colocou um balde ao lado da cama, à altura da cabeça de
Edward. Deteve–se na porta.
– Não despertará antes de meio–dia,
senhora. Trarei algo para lhe aliviar a dor de cabeça. – Dando uma olhada
rápida pela janela, murmurou: – Bom dia, senhora.
Bella fechou a porta atrás de si e
devolveu a capa ao cabide. Arrastando o edredom da cama, sentou–se na cadeira
maior que havia no quarto, embrulhou–se nela feita um novelo e começou a
trabalhar no modelo. A impressão provocada pela volta de Edward deu lugar
lentamente a uma sensação de raiva. Já não costurava o modelo a um ritmo
pausado, enfiava a agulha, desafogando–se com ela.
– Rastreia as ruas em busca de uma
fulana e como não encontra nenhuma a suficientemente animada – murmurou entre
dentes – entra aqui tropeçando com tudo e me busca para saciar seus desejos!
Edward, deitado em seu travesseiro,
continuava dormindo profundamente com o aspecto de um inocente bebê bem
amamentado. Ao vê–lo, Bella enfiou a agulha de novo no tecido com um olhar
cheio de ódio.
– Estúpido libidinoso! – levantou o fio
de um puxão. – Só quando já saqueou a cidade volta para mim. E então me mostra
o demônio que mora em sua alma!
A falta de resposta animou–a a
continuar. Era verdadeiramente estranho que Bella pudesse desdobrar sua raiva e
sarcasmo sem temer castigo. Voltou a enfiar a agulha.
– Amaldiçoa a todas as virgens, mas bem que não faz muito tomou uma para
saciar seus impulsos – levantou–se da cadeira, atirando o modelo no chão. Muito
irritada, começou a caminhar de um lado a outro do quarto. – O que acredita que
vou fazer? Esperar humildemente na cama e agir como uma vulgar prostituta ao
mínimo estalo dos dedos? – Seus olhos pousaram no casaco que estava pendurado
no encosto da cadeira. Ombros largos e cintura estreita. – O que acha, que me
caia a baba cada vez que o vejo e que penso passar a vida satisfazendo seus
caprichos?
Voltou–se e se aproximou bruscamente à
lateral da cama para olha–lo. Edward permanecia imóvel, sumido em um sonho
profundo.
– Estúpido mentecapto. Sou uma mulher.
O que zelosamente guardava para o homem que eu escolhesse, você arrebatou. Sou
um ser humano e tenho meu orgulho. – Com um grunhido, deu meia volta, sentou–se
de novo na cadeira, enfurecida, e se cobriu com o edredom. Ao voltar a observar
seu atraente rosto, um sorriso malicioso torceu seus lábios.
Ah, era um homem tão magnífico!
Ansiosa pelos próximos capítulos por favor não demore a posta
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