segunda-feira, fevereiro 22, 2016

FANFIC O RECOMEÇO - CAPÍTULO 11


Capítulo 11 – Confissões

Edward estudou durante longo tempo a pequena e escura cabeça que se apoiava sobre seu ombro, antes de deslizar seu braço ao redor dela e encosta–la contra seu peito. Bella havia adormecido assim que entraram na carruagem e estava com uma expressão satisfeita, imersa em seus sonhos, e colocou sua mão no peito de seu marido, este podia sentir sua respiração no pescoço. Ficou pálido e de repente começou a tremer, amaldiçoou–se por deixar que uma simples menina o afetasse daquele jeito. Tinha que dar uma lição nessa garota e mal podia manter as mãos afastadas dela. Onde estava seu julgamento frio e lógico, seu autocontrole?

Precipitara–se ao jurar que jamais a trataria como uma esposa? E depois, ao saber que já não poderia faze–lo tinha percebido repentinamente que a única coisa que desejava era possuí–la? Mas sempre a tinha desejado, mesmo quando acreditara que jamais a voltaria a ver.

O que lhe estava acontecendo? Era uma mulher suficientemente velha para levar um filho no ventre. Tinha que estar em um lugar seguro, com alguém que a mimasse, e não ali com ele, a ponto de converter–se em mãe.

Mas o fato era inegável, desejava fazer amor, desejava possuí–la imediatamente. Quanto tempo poderia aguentar tendo–a junto a ele e vendo–a em diferentes estados de nudez sem deitar–se sobre ela e satisfazer seus desejos? Mas não podia, não importava quanto o desejasse. Não podia deixar que suas ameaças se desvanecessem. Tinha jurado que pagaria por tê–lo intimidado e demônios, o faria! Ninguém podia o chantagear e partir tranquilamente como se nada tivesse acontecido.

Quando chegaram a estalagem, Bella ainda dormia e Edward, com voz suave a chamou.

– Bella – chamou–a em voz baixa. – Quer que a leve até o quarto?

– Como? – perguntou ainda sonolenta.

– Quer que a leve no colo? – repetiu Edward. A jovem abriu os olhos, piscando lentamente, ainda sedada pelos efeitos do sono.

– Não – respondeu sonolenta. Mas não fez nenhum esforço para levantar–se.
Edward se pôs a rir suavemente, colocando a mão sobre a dela.

– Se insistir, meu amor, podemos dar outra volta pela cidade – brincou.

Tentou sair da carruagem tropeçando nele e quase caiu no chão de cabeça ao abrir a porta. Foi a rápida reação de Edward que evitou a queda. Pôs o braço na frente dela para segura–la e levantou–a de novo, sentando–a em seu colo.

– O que tentava fazer? – gritou. – Matar–se?

– Oh, me deixe em paz! – gritou. – Deixe–me em paz! Odeio–o! Odeio–o!

– Estou certo que sim, querida – observou rindo maliciosamente. – Além de tudo, se não tivesse me conhecido, ainda continuaria vivendo com sua tia gorda, suportando seus abusos, tentando esconder o corpo embainhado em vestidos doze vezes maior, esfregando e esfregando até te romper as costas, agarrando a escassa comida que desprezaram, contente de encontrar amparo em seu exíguo canto e ficando velha com a virgindade intacta, sem saber jamais o que significa ser mãe! Sim, fui muito cruel ao afasta–la dessa vida tão agradável. Foi muito feliz ali e devo me amaldiçoar por ter forçado você a deixa–la. –Fez uma pausa, logo prosseguiu com mais crueldade. – Não sabe o quanto me arrependo de me ter sentido tentado por seu corpo de mulher, sem ter me dado conta, primeiro, de que ainda era uma menina. Agora a tenho pendurada ao pescoço para sempre e isso não me agrada absolutamente nada, cada vez que penso nisso. Teria sido melhor que tivessem me castrado faz tempo e me deixassem viver em paz!

De repente, os ombros de Bella desabaram e rompeu a chorar sentindo toda a miséria do mundo em seu interior. Todo seu corpo tremeu com seu pranto, não desejava ser uma carga para ele, um peso morto para suportar, odiar e nunca querer. Não tinha nascido para isso.

Ao observar como o pequeno corpo se agitava, Edward perdeu todo o desejo de feri–la. Uma enorme pressão lhe oprimiu o peito, enquanto procurava seu lenço sem êxito.

– Onde colocou meu lenço? – perguntou suspirando. – Não o encontro.
– Não sei – murmurou tristemente, sem poder pensar com clareza. Secou as lágrimas com a prega do vestido ao mesmo tempo em que procurava nos bolsos. Enquanto isso, o condutor da carruagem se aproximou e olhou de soslaio para o interior.
– Posso fazer algo pela dama? – ofereceu–se, hesitante. – Ouvi–a chorar. Rompe–me o coração ouvir uma mulher chorar.

Edward franziu o sobrolho, olhou o homem e continuou procurando seu lenço.

– Não necessitamos de ajuda, senhor – respondeu educadamente. – Minha esposa está um pouco zangada comigo porque não permito que sua mãe venha viver conosco. Ficará bem quando compreender que suas lágrimas não vão mudar minha decisão.

O condutor sorriu.

– Nesse caso, senhor, deixo–o com ela. Sei muito bem o que é viver com a mãe de uma esposa. Deveria ter sido tão inflexível quanto você quando me casei com a minha. Agora não teria essa velha bruxa na minha casa. – Dirigiu–se para os cavalos, enquanto Edward tirava o lenço e enxugava as lágrimas de Bella.

– Sente–se melhor? – inquiriu. – Já podemos ir para o quarto?

Após um leve aceno por parte da moçam ele continuou:

– Então deixe que me levante – disse. – Ajudarei você a sair da carruagem.

– George foi em busca de uma bandeja de comida – comentou o capitão. – Eu não ficarei para jantar. E preferiria que não abandonasse o quarto na minha ausência. Não estaria a salvo, desprotegida. Se necessitar de algo, George estará lá fora. Peça–lhe o que necessitar.

Bella lhe lançou um olhar de incerteza por cima do ombro.

– Obrigada – murmurou.

Edward partiu sem pronunciar uma palavra mais, deixando–a só e desalentada, com o olhar fixo na porta.

A moça sentiu no interior um movimento que lembrava as asas de uma mariposa, quase irreal por sua fragilidade. Caiu na cama e permaneceu muito quieta coberta pelo edredom. Temia fazer qualquer movimento e esperava que a sensação desaparecesse. Estirada na escuridão, sorriu para si mesma. Uma vez mais voltou a senti–lo, esta vez com mais intensidade. Deslizou a mão até seu ventre, como se estivesse em um sonho, e seus pensamentos se esclareceram repentinamente.

Não era fácil saber que ele tinha razão, pensou. Teria sido impossível fugir da casa sem ser vista, não importava quão bem o tivesse planejado. 

Vigiavam–me muito de perto. Teria passado a vida ali se ele não me tivesse levado consigo e me tivesse dado seu filho.

Sentiu de novo aquele revoo sob sua mão.

Então agora estou a ponto de me transformar em mãe e ele se odeia e amaldiçoa por isso. Mas tem que ser deste modo? É tão difícil mostrar amabilidade e gratidão sabendo que odeia o chão que piso e que preferiria deixar de ser um homem antes que ter que se encarregar de mim? Apesar do ódio que sente por mim, foi atento. Agora devo mostrar que não sou uma menina e que estou agradecida. Mas não vai ser fácil. Assusta–me e sou tão covarde...

Bella ouviu seus passos na escuridão, Edward se moveu silenciosamente pelo quarto enquanto se despia, unicamente iluminado pela luz do pátio, que mostrava o caminho. Deslizou na cama, junto a ela, e se virou para a porta. Uma vez mais, o dormitório ficou em silêncio e Bella só pôde ouvir o som de sua respiração...

Na manhã seguinte, antes de abrir os olhos, Bella ouviu o barulho da chuva, Edward afastou os lençóis e se sentou na cama. Ela fez o mesmo atraindo a atenção de seu marido, que franziu o cenho.

– Não é preciso que se levante agora – resmungou – Tenho que comprovar umas coisas relacionadas com a carga e não posso te levar comigo.

– Vai sair já? – perguntou insegura, temendo sua reação.

– Não. Não imediatamente – respondeu ele. – Antes de ir me banharei e tomarei o café da manhã.

– Então, se não se incomodar – disse a jovem docemente –, preferiria me levantar.

    – Faça o que te agradar – grunhiu Edward em voz baixa. – Tanto faz para mim.
Trouxeram–lhe água quente para seu banho. Quando ficaram a sós, ele se meteu na tina de metal. Estava de mau humor. Bella se aproximou da banheira assustada e lhe ofereceu seus serviços, estava tão nervosa que quase não podia nem pensar, e lhe tremiam as mãos. Arrebatou a esponja e Edward a olhou surpreso.

– O que quer? – perguntou impaciente. – O gato comeu sua língua?

– Eu... eu... me agradaria ajudar você em seu banho – conseguiu dizer.
– Não é necessário – resmungou. – Vista–se. Se desejar, pode tomar o café da manhã comigo lá embaixo.

– Não importa – disse em tom áspero. – Posso faze–lo sozinho. Pega a escova e arrume o cabelo.

Enquanto escovava o cabelo, Edward se aproximou e começou a lhe abotoar o vestido. Quando terminou, Bella agradeceu com um tímido sorriso. Edward a olhou e, ao notar seu olhar Bella sentiu que, tal como o dia, seu coração brilhava resplandecente.

Nos dias seguintes, Bella passou a maior parte do tempo encerrada no quarto, com a certeza de que George estava em um lugar próximo, via seu marido pelas manhãs, quando ele se levantava para banhar–se e vestir–se e tomavam o café da manhã juntos. Logo ele partia e permanecia fora até altas horas da noite, muito depois dela se deitar. Sempre chegava sem fazer ruído e se despia na escuridão com supremo cuidado para não desperta–la.

Era já a quinta manhã e o dia a dia se converteu em uma rotina relaxada. O mau humor de Edward ao despertar suavizava–se cada manhã com o banho de água quente, às vezes, enquanto lhe esfregava as costas, ficava imóvel durante um longo momento. Esses interlúdios matinais eram doces e tranquilos para Bella, desfrutavam um do outro em silêncio. Antes de partir depois do café da manhã, depositava um beijo na testa de sua esposa e depois partia para cumprir com seus afazeres cotidianos.  

Aquela tardia manhã de outubro começou como sempre. Ao sentarem–se para tomar o café da manhã, Edward comentou.

– Combinei as provas de vestuário para esta tarde. Voltarei às duas. Peça ao George para que tenha uma carruagem nos esperando.

Permaneceu sentada, observando–o de soslaio, estava impecavelmente vestido, como era habitual nele, e era tão atraente que todas as mulheres ficavam desarmadas. Bella se surpreendeu ao descobrir que tampouco lhe era indiferente.

A porta principal da estalagem se abriu. Um jovem alto, enfeitado com um chapéu e casaco azul entrou. Seu olhar se dirigiu a Edward, cruzou o salão e tirou o chapéu. Enquanto se aproximava, este ergueu a vista e se endireitou na cadeira.

– Bom dia, senhor – disse o jovem arrastando as palavras. Inclinou a cabeça ligeiramente em frente a Bella e acrescentou: – Bom dia, senhora.

Edward apresentou o homem como Alfred Boniface, o comissário de bordo do Fleetwood, e a Bella como sua esposa, o jovem não mostrou nenhuma surpresa e Bella não teve a menor dúvida de que tinha sido informado das repentinas bodas de seu capitão. Não sabia até que ponto conhecia os detalhes, mas desejou que ignorasse a maior parte dos fatos que tinham acontecido e especialmente a data em que tivera lugar o casamento.

Boniface sorriu abertamente.

– É um prazer conhece–la, senhora.

– Será muito esperar que a esta hora da manhã traga boas notícias do porto, ou há algum assunto urgente que requeira minha atenção? – inquiriu o capitão.

– Pode ficar tranquilo, capitão – assegurou Boniface. – Tudo vai bem. Amanhã abrirão o porto para o fornecimento de Charleston e poderemos carregar. O encarregado diz que se desencadeou uma violenta tormenta invernal no mar do Norte. Teremos que esperar uns seis dias antes de poder levantar âncoras e entrar no mar. É o melhor que podíamos esperar com a escassez de homens experientes que há nestes portos.

Edward exalou um suspiro de alívio.

– Quase tinha perdido a esperança de nos afastar deste porto. Devemos encontrar os homens em toda costa, estamos a muito tempo aqui e estou ansioso para partir.

– Sim, senhor – disse Boniface, ansioso. Bella não pôde compartilhar o entusiasmo do jovem, pelo contrário, sentiu medo e incerteza. Deixou de pensar no que o homem podia saber. Este era seu lar; não era fácil abandona–lo e partir para uma terra estranha. Mas na voz de seu marido detectou um tom suave e quente que nunca antes tinha ouvido e compreendeu que estava preparado para ir para casa.

Enfrentava o desconhecido, com um homem que tinha jurado vingar–se dela. Educaria seu filho entre pessoas estranhas que certamente se comportariam com ela de forma hostil. Seria como um pequeno carvalho arrancado do bosque e plantado em uma nova terra. Não tinha a menor ideia se chegaria a ficar raízes e a florescer ou se murcharia e morreria.

Bella acabou de remendar a camisa e a deixou cuidadosamente dobrada sobre a cômoda. Um pouco antes, George lhe tinha levado um pequeno almoço e agora estava se arrumando para a saída. Uma vez feito isto, dispôs–se a esperar a volta de seu marido. George entrou no quarto e informou–lhe que a carruagem os aguardava no pátio. Em algum lugar da cidade, os sinos tocaram as duas e seu eco foi morrendo lentamente até fundir–se com a voz de Edward na rua de baixo. Ao cabo de uns minutos ouviu seus passos na escada, até que finalmente a porta se abriu.

– Vejo que já está pronta – comentou Edward com aspereza, franzindo ligeiramente o sobrecenho enquanto a olhava com o canto do olho. Tinha uma capa de veludo cinza dobrada sobre o braço. Aproximou–se dela e a desdobrou.

Bella encolheu os ombros.

– Não havia nada que me pudesse atrasar, Edward – murmurou.

– Então – disse ele ao mesmo tempo em que estendia a capa – ponha isto, pois faz frio e vai precisar de casaco. Pensei que está capa assentaria melhor que uma das minhas.

Bella pegou–a, pensando que era de Edward. Mas, ao coloca–la sobre os ombros, comprovou que se tratava de uma peça feminina muito cara. Nunca tinha tido uma como essa, nem quando vivia com seu pai. Tocou–a com grande admiração e a alisou.

– Oh, Edward – observou assombrada –, é linda.

Edward se aproximou para abotoar–lhe as presilhas de seda, mas a jovem estava tão entusiasmada que o impediu de realizar a tarefa. Tão excitada se sentia movendo–se de um lado a outro e inclinando–se para se ver vestida, que no final conseguiu arrancar de seu marido um sorriso.

– Fique quieta, pequena formiguinha e deixe que termine com isto – ordenou alegremente. – É mais difícil abotoar isto que tentar pegar uma abelha.

Bella riu bobamente e se inclinou por cima das mãos de Edward para admirar a capa fina. Roçou com a cabeça o peito de seu marido e, ao faze–lo, a doce fragrância do seu cabelo o envolveu.

– E agora já não vejo nem o que estou fazendo – brincou ele.

Bella teve um ataque de riso enquanto aparecia a cabeça por cima dele. Sua alegria estava presente em cada traço de seu rosto. Um sorriso cruzou o semblante de Edward, que desfrutava do alvoroço que o inesperado presente havia trazido para a jovem. Seus olhos se obscureceram.

Instintivamente, Bella colocou a mão sobre o peito de Edward, e ao contato, ambos os corpos se eletrizaram. Seus olhos se encontraram e os sorrisos desvaneceram. As mãos de Edward acabaram a tarefa por si só, e deslizaram, como impulsionadas por uma força estranha, sobre os ombros de Bella até as costas e atraiu–a para si. Bella se sentiu muito fraca, as pernas tremiam e sua respiração quase parou, os olhos de Edward a apanharam por instantes e o tempo ficou suspenso no quarto. O relincho de um cavalo e gritos procedentes da rua romperam o feitiço. Edward retirou as mãos e sacudiu sua mente, voltou a sorrir, tomou a mão e a colocou sobre a dobra do cotovelo.

– Vamos, querida – insistiu com suavidade. – Devemos nos apressar.
– Parece que as carruagens maiores já estão ocupadas, capitão – George informou.

– Não tem por que se desculpar, George. Esta será suficiente. Vou ficar várias horas fora, de modo que tenha uma mesa preparada com o jantar em nossos aposentos. Há um assunto que deve ser atendido. Minha mulher necessitará de um baú. Encontre um amplo e faça que o subam. – Tirou uma bolsa de seu bolso e a lançou ao criado. – Que seja bonito, George – ordenou.

O homem sorriu e fez uma reverência.

– Sim, meu capitão.

Madame Fontaineau os esperava na porta de sua loja com um animado falatório e os conduziu imediatamente ao provador.

– Tudo está indo muito bem, capitão Cullen – assegurou. – Muito melhor do que esperava. Não haverá nenhum problema em ter tudo a tempo.

– Então tudo está bem, madame – respondeu Edward, acomodando–se na cadeira que lhe tinha dado amavelmente. – Zarpamos dentro de uma semana.

A mulher riu.

– Não se preocupe, monsieur – o tranquilizou. – Não tenho nenhuma intenção de o ver zarpar sem os vestidos de madame.

A costureira começou a revisar os trajes alinhavados. Bella se aproximou de Edward, virou–se e afastou o cabelo para que lhe desabotoasse o vestido. Uma estranha expressão apareceu no semblante de seu marido enquanto levantava as mãos para o vestido, seus dedos eram um pouco mais torpes do que o normal. Bella tirou o vestido e madame Fontaineau a ajudou a provar o primeiro traje.

– É uma sorte – começou a dizer a senhora muito animada – que a moda seja assim. Com a cintura tão alta, não terá nenhuma dificuldade em usa–los durante vários meses. A alguns, estamos deixando uma boa costura para que possa usa–los inclusive nos últimos meses.

Edward enrugou a testa e fixou o olhar no abdômen de sua mulher. Tinha esquecido por completo seu estado e as circunstâncias que tinham rodeado seu matrimônio.

         – Acha que é de seu agrado este vestido, monsieur? – perguntou Madame Fontaineau sobre o traje seguinte. – A cor é muito atraente, não é?

Edward observou o delicado corpo da esposa, quase sem perceber o vestido rosado que tinha posto. Murmurou uma resposta de conformidade e afastou o olhar.

Pouco depois, o vestido foi retirado e Bella falou tranquilamente com a mulher a respeito das medidas, enquanto Edward a estudava furtivamente. A alça da combinação tinha caído sem que Bella se dessa conta, remexeu–se na cadeira ao perceber que a visão o tinha afetado fisicamente.

– Oh, este negro é meu favorito, monsieur – afirmou a costureira minutos mais tarde, enquanto Bella examinava outro traje alinhavado – Quem a não ser você poderia ter pensado que a cor negra é tão elegante, monsieur? Madame está radiante não acha, monsieur?

Edward respondeu prontamente e se mexeu na cadeira, pouco antes na estalagem tinha estado muito perto de quebrar suas promessas. Se tivesse se aproximado um pouco mais, teria esquecido seu orgulho, sua honra e teria traído a palavra. Teria atirado Bella sobre a cama, sem que nada nem ninguém tivesse podido impedir que fizessem amor. Vendo–a vestir–se e despir–se constantemente, sentia–se a ponto de estourar. Não podia suportar aquela tortura por mais tempo. Seu orgulho e suas paixões estavam travando uma terrível batalha e o final da luta era incerto.

Muito a seu pesar, Bella provou vários vestidos mais. Amaldiçoou–se por ter comprado tantos. A ruga de sua fronte se tornou inquietante e suas respostas a madame Fontaineau eram cada vez mais diretas. Ambas as mulheres lhe lançaram olhares receosos.

– Monsieur, possivelmente não está contente com os vestidos? – inquiriu a mulher muito insegura.

– O trabalho é perfeitamente satisfatório, madame – respondeu secamente. – São estas eternas ninharias que acabam com meus nervos.

Madame Fontaineau suspirou aliviada. Simplesmente estava cansado das pesadas provas, como o estaria qualquer outro homem.

– Oh, Edward, vê isto? – interrogou triste, aproximando–se dele. – Me sinto como um agulheiro. A garota deve ter deixado todas as agulhas da mesa de costura neste vestido, não posso respirar sem me picar com alguma.

Bella manteve o braço no alto e se moveu inocentemente entre as pernas do marido. Este empalideceu, um horrível arranhão marcava a pele branca da axila e um comprido alfinete de aspecto assassino sobressaía do tecido, justo na lateral do seio. A cabeça da agulha estava no interior do vestido e não podia ser tirada. De muito má vontade, Edward se levantou e deslizou dois de seus dedos pelo interior do sutiã, apertando–os contra seu quente seio, enquanto ela permanecia quieta, muito obediente, confiando plenamente nele. Seus olhares se encontraram durante segundos e, surpreendentemente Edward corou.

Que demônios! Pensou muito zangado. Fez com que eu corasse como se fosse um pirralho inexperiente!

Afastou bruscamente a mão como se o contato com sua pele o tivesse queimado.

– Terá que esperar que madame Fontaineau volte – grunhiu. – Eu não alcanço.

– Madame, por favor – suplicou Bella, desesperada. – Tenho que tirar este vestido. Está cheio de alfinetes.

– Bon Dieu! – exclamou a costureira. – Oh, madame Cullen, sinto muito. Esta Marie é ainda uma menina – voltou–se para a garota e fez um gesto para que saísse. – Vá! Vá! Falarei com você mais tarde. Agora devo atender a madame.

Finalmente, madame Fontaineau desabotoou o vestido e Bella pôde respirar tranquila. Era o último, assim, momentos depois, e para grande alívio de Edward, já estavam fora do diminuto provador e preparados para abandonar a loja.

Chegaram quando era quase noite, atravessaram o salão sem mais incidentes e se dirigiram ao quarto. Edward deixou cair os pacotes sobre a cama e se aproximou da janela. Um baú gigantesco com asas de metal brilhantes jazia aos pés da cama, ao passar ao seu lado, Edward levantou o olhar para sua esposa indicando–o.
    
– Isto é seu – disse – Deve colocar suas coisas nele. De qualquer forma terá de empacotar tudo nestes dias.

Bella tirou a capa, acendeu uma vela que havia sobre a cômoda e viu que tinham disposto uma mesa com uma toalha branca com dois serviços, a tarde tinha sido tão movimentada que, até esse momento, não se tinha dado conta de quão faminta estava. Ao pensar em comida, fez–se água na boca e esperou com ansiedade que chegasse o momento de desfruta–la, seu estômago se queixou enquanto pendurava a capa ao lado da de Edward em um cabide que havia junto à porta. Estava ordenando os pacotes, quando, de repente, ouviram–se umas ligeiras batidas na porta. Depois de um "Sim" de Edward, está se abriu e apareceu George, dois meninos seguiam–no com bandejas repletas de comida e uma garrafa de vinho, deixaram tudo sobre a mesa e partiram.

Acabaram o jantar sem trocar uma palavra, Bella dirigiu–se a cama para abrir os pacotes, classificar seus conteúdos e guarda–los no baú. Desembalou um regalo de pele de raposa e não pôde resistir ao impulso de acaricia–lo. Soprou sobre a suave pele e esfregou o nariz, sem saber que Edward se levantara e estava de pé observando–a, de repente ele estendeu um braço e levantou docemente um dos cachos do cabelo que lhe caíam sobre o ombro. Bella ergueu os olhos e viu que se encontrava muito perto dela, ele tinha um estranho olhar, entre dor e prazer; tentou falar mas as palavras ficaram atravessadas na garganta. Apertou as mandíbulas, deu meia volta e começou a caminhar furioso pelo aposento como um leão enjaulado. Bella observou–o e seu desconcerto cresceu, quando finalmente falou, a jovem deu um salto assustada.

– Maldição, Bella! – exclamou. – Há algumas coisas que deve aprender sobre um homem. Não posso...

Edward guardou silêncio e o tique nervoso voltou a aparecer em seu rosto, deteve–se em frente à janela e permaneceu, uma vez mais, olhando à escuridão. Depois de esperar durante um longo momento que continuasse sua conversa, Bella se dispôs a empacotar de novo as coisas para guardar nos compartimentos do baú, por uns minutos se dedicou a diversas ninharias, lançando, de vez, em quando, olhares furtivos a seu marido.

– Bella – murmurou finalmente. – É uma longa viagem até a América. Estaremos juntos a maior parte do tempo em um aposento muito menor que este, dormiremos juntos em uma cama que mede a metade da que existe aqui. Fará um frio espantoso e não será agradável para você, sobre tudo porque será a única mulher a bordo, não poderá rondar livremente pelo navio ou se afastar de mim, quando estiver fora do camarote. Seria muito perigoso que o fizesse. Bella... os marinheiros passam muito tempo afastados da terra e não podem olhar uma mulher sem... excitar–se. Se são provocados repetidas vezes se desesperam. – Olhou–a atentamente para comprovar se tinha entendido o que acabara de dizer. Ela o observava fixamente, escutando com atenção cada uma de suas palavras. Mas Edward duvidava que fosse capaz de associar o que dizia a sua própria pessoa, suspirou e continuou falando: – Bella, se um homem vê uma mulher formosa e permanece perto dela durante certo tempo, é inevitável que sinta o impulso de leva–la a seu leito. Se não puder fazê-lo, é verdadeiramente doloroso para ele. Deve...

Parecia não poder acabar a frase. As faces de Bella ruborizaram e voltou a agarrar muito nervosa o vestido.

– Ficarei no camarote todo o tempo que seja possível, Edward – afirmou brandamente sem olha–lo. – Tentarei não cruzar com ninguém.

Edward blasfemou em voz baixa e o músculo de seu rosto tencionou.
– Por Deus, Bella – disse em tom áspero, levantando–se da cadeira. – O que estou tentando dizer é que... vai ser uma longa viagem sem... sem... Maldita seja... vais ter que me permitir...

Não acabou a frase. O orgulho tinha vencido. Com uma brutal maldição, afastou a cadeira e atravessou muito furioso o quarto até a porta.

– Não abandone o quarto – ordenou sem olha–la. – George estará aqui para velar por sua segurança. – Abriu a porta bruscamente e saiu encolerizado, blasfemando. Bella permaneceu sentada, atônita, incapaz de entender o que tinha ocorrido. Tinha perdido a paciência com ela, quando a única coisa que ela tinha feito tinha sido tentar entende–lo. Ouviu como grunhia uma série de ordens ao George e, um momento depois, viu que este entrava no aposento tão confuso quanto ela. Passou com sua permissão e começou a retirar a mesa. Bella se levantou da cadeira suspirando e ficou olhando pela janela, o chapéu de Edward jazia sobre o batente, agarrou–o e o acariciou com ternura, quase amorosamente. Voltou–se ainda tocando–o.

– Esqueceu o chapéu, George – murmurou em tom melancólico. – Disse quando voltaria?

– Não, senhora – respondeu o criado quase desculpando–se. – Nenhuma palavra. – Depois acrescentou com dificuldade: – Senhora, às vezes o capitão se comporta de um modo estranho, mas normalmente acaba resolvendo seus problemas. Tenha um pouco de paciência com ele, senhora. É um homem duro, mas bom.

Envergonhado, sentindo–se culpado pela confissão, continuou empilhando os pratos sobre a bandeja. Bella lhe sorriu amavelmente, segurando o chapéu de Edward e apertando–o contra o peito.

– Obrigada, George – murmurou.

Já na porta, este lhe deu uma olhada e disse por cima do ombro:

– Desejará água quente para seu banho como sempre, senhora?

Bella assentiu lentamente e ainda sorrindo respondeu:

–Sim, George, como sempre.

Bella despertou lentamente, remexeu–se sob o edredom aveludado e sorriu, piscou meio adormecida, movendo uma mão para o travesseiro vazio de Edward e se sentou na cama sobressaltada, era quase a alvorada, o céu estava iluminado e as estrelas se desvaneciam. Seus olhos foram para a porta, e ali encontrou Edward, desabado sobre o batente, olhando–a fixamente, tinha os olhos vermelhos e frágeis, a gravata borboleta desatada e a jaqueta torcida. Um sorriso embriagado torceu sua boca como se algo o divertisse.

– Edward? – sussurrou. – Está bem?

Esse era um aspecto dele no qual nunca tinha pensado, encostava–se e não se sustentava em pé. Cambaleou em direção a ela e um aroma de rum e perfume barato a golpeou como se tratasse de algo sólido, Bella retrocedeu ligeiramente, observando–o com cautela.

– Falsa rameira – disse olhando–a com lascívia. – Com esses seios erguidos e bem contornados e esse rosado traseiro, é uma tentação inclusive quando está dormindo. Aaah, malditas virgens! – grunhiu. – Todas são iguais. Castram os homens mentalmente e fazem que sejam incapazes de deitar–se com outras mulheres. Rasgam seu orgulho com suas garras cruéis e depois os prendem, fazem alarde de sua inocência frente ao mundo, levantando seus finos narizes. – Tropeçou e, muito instável, aferrou–se a um dos pilares da cama, de repente abriu os braços e, com grandes dramalhões, simulou uma apresentação de Bella ao mundo: – E aqui, comigo, está sentada a rainha das virgens, em seu trono de gelo, rodeada de um halo de pureza. E o que tem de mim? Joguei e ganhei o troféu. Agora tenho que guarda–lo em minha casa sem poder toca–lo. – Agarrou o pilar da cama com ambas as mãos e esfregou a testa como se com isso fosse desfazer da dor que sentia na alma. – OH, esposa virgem – prosseguiu –, por que não a fizeram fraca e feia para que pudesse te ignorar tal e como você deseja? Mas entre todas as mulheres da cidade de Londres, eu, pobre de espírito, escolhi você, a mais bela dama que já tentou a um homem. E não me trata como a um homem, mas sim como a um animal, muito cansado para buscar uma fêmea. Brinca e posa ante mim e espera que meus ânimos não se exaltem. Tenta–me e provoca e depois nega meus direitos maritais. Oh, Deus! Acaso acha que sou um eunuco junto ao qual está a salvo? Com somente um xelim posso comprar mais ternura do que você é capaz de me dar! – apoiou–se nela e a olhou fixamente.

Equilibrou–se sobre a cama com os braços estendidos, tentando agarra–la pela cintura. Bella estremeceu horrorizada e se separou de um salto, envolta na sensual camisola, uma lágrima começou a brotar em seus olhos, Edward caiu escancarado no meio do leito, olhando estupidamente o farrapo que tinha apanhado em sua mão, apoiou–se sobre um cotovelo e, desconcertado, olhou o corpo nu de sua esposa, sua pele branca e resplandecente diante da primeira luz da alvorada. Depois se afundou na cama lentamente, vencido pelo estupor do álcool, sua mão relaxou e a camisola caiu ao chão.

Bella o observou com precaução por um instante, esperando que se levantasse de novo e fosse para ela. Ao não faze–lo, aproximou–se dele e escrutinou, por cima do braço, seu rosto afundado no edredom. Tinha os olhos fechados e a respiração era regular.

– Edward? – chamou–o com desconfiança. Não se moveu. Seus olhos permaneceram fechados.

Bella se aproximou e tocou a mão com muita cautela, preparada para saltar se fizesse o menor gesto de ir contra ela, empurrou–o ligeiramente e, ao fazê-lo, o braço de Edward caiu da cama, pendurado; Bella se aproximou mais, observou–o e levantou o braço. Agora estava a salvo, agachou–se, recolheu a camisola do chão e a depositou sobre os pés do leito, depois tratou de lhe tirar o casaco.  

Não era tão fácil como parecia, pesava muito para que pudesse move–lo sozinha. Só podia fazer uma coisa: ir procurar a George, vestiu a combinação, jogou a capa por cima, saiu do quarto e desceu as escadas até o quarto do criado, bateu na porta e ouviu como o homem amaldiçoava e tropeçava, a porta chiou ao se abrir e apareceu George esfregando os olhos. A enorme camisola quase cobria as pernas delgadas e os dedos dos pés se retorciam sobre o chão gelado, na cabeça usava um gorro de ponta que pendia por um dos lados. Ao vê–la, abriu os olhos de par em par, ocultando rapidamente a parte inferior do corpo atrás da porta. Deu uma olhada à primeira luz da alvorada que já entrava pela janela e voltou a olha–la.

– Senhora! O que está fazendo a estas horas? – inquiriu.

– Necessito de ajuda, George – disse ela docemente. – O capitão bebeu muito e terá que move–lo.

George a olhou confuso e respondeu:

– Sim, senhora. Em um momento.

Bella voltou para o quarto. George a seguiu minutos mais tarde com as calças perfeitamente postas. Viu Edward escancarado no meio da cama, e abriu os olhos com expressão de surpresa.
– Oh, desta vez o capitão superou a si mesmo. – Suspirou. Olhou de soslaio à dama e acrescentou: – Não é algo habitual nele, senhora, asseguro.

Bella não respondeu, voltou–se para Edward e começou a lhe tirar um dos sapatos, George a olhou e descobriu a camisola rasgada aos pés da cama. Sem dar uma palavra, apressou–se a ajudar seu capitão, o pôs direito e juntos lhe tiraram o casaco, a gravata–borboleta e o colete. Exceto por algum grunhido ou suspiro, Edward não despertou de seus bêbados sonhos, Bella olhou George com indecisão na hora de tirar as calças e ambos concordaram em silêncio deixa–las postas. Cobriram–no com o lençol e, antes de ir, George colocou um balde ao lado da cama, à altura da cabeça de Edward. Deteve–se na porta.

– Não despertará antes de meio–dia, senhora. Trarei algo para lhe aliviar a dor de cabeça. – Dando uma olhada rápida pela janela, murmurou: – Bom dia, senhora.

Bella fechou a porta atrás de si e devolveu a capa ao cabide. Arrastando o edredom da cama, sentou–se na cadeira maior que havia no quarto, embrulhou–se nela feita um novelo e começou a trabalhar no modelo. A impressão provocada pela volta de Edward deu lugar lentamente a uma sensação de raiva. Já não costurava o modelo a um ritmo pausado, enfiava a agulha, desafogando–se com ela.

– Rastreia as ruas em busca de uma fulana e como não encontra nenhuma a suficientemente animada – murmurou entre dentes – entra aqui tropeçando com tudo e me busca para saciar seus desejos!

Edward, deitado em seu travesseiro, continuava dormindo profundamente com o aspecto de um inocente bebê bem amamentado. Ao vê–lo, Bella enfiou a agulha de novo no tecido com um olhar cheio de ódio.

– Estúpido libidinoso! – levantou o fio de um puxão. – Só quando já saqueou a cidade volta para mim. E então me mostra o demônio que mora em sua alma!

A falta de resposta animou–a a continuar. Era verdadeiramente estranho que Bella pudesse desdobrar sua raiva e sarcasmo sem temer castigo. Voltou a enfiar a agulha.

– Amaldiçoa a todas as virgens, mas bem que não faz muito tomou uma para saciar seus impulsos – levantou–se da cadeira, atirando o modelo no chão. Muito irritada, começou a caminhar de um lado a outro do quarto. – O que acredita que vou fazer? Esperar humildemente na cama e agir como uma vulgar prostituta ao mínimo estalo dos dedos? – Seus olhos pousaram no casaco que estava pendurado no encosto da cadeira. Ombros largos e cintura estreita. – O que acha, que me caia a baba cada vez que o vejo e que penso passar a vida satisfazendo seus caprichos?

Voltou–se e se aproximou bruscamente à lateral da cama para olha–lo. Edward permanecia imóvel, sumido em um sonho profundo.

– Estúpido mentecapto. Sou uma mulher. O que zelosamente guardava para o homem que eu escolhesse, você arrebatou. Sou um ser humano e tenho meu orgulho. – Com um grunhido, deu meia volta, sentou–se de novo na cadeira, enfurecida, e se cobriu com o edredom. Ao voltar a observar seu atraente rosto, um sorriso malicioso torceu seus lábios.

Ah, era um homem tão magnífico!

2 comentários:

  1. Ansiosa pelos próximos capítulos por favor não demore a posta

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  2. Ansiosa pelos próximos capítulos por favor não demore a posta

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