Capítulo 12 – O fim?
Eram mais de dez horas quando Bella
despertou na cadeira, Edward continuava dormindo profundamente. A jovem se
levantou e, ao fazê-lo, lançou a seu marido um olhar de desprezo antes de
começar a vestir–se, horas depois do meio–dia, ouviu–se um gemido procedente da
cama. Bella continuou costurando tranquilamente, vendo como Edward se sentava
lentamente na beirada da cama. Afundou a cabeça despenteada e dolorida entre
nas mãos como se seus ombros não pudessem sustenta–la. Queixou–se, olhou Bella
de soslaio ainda agachado e, finalmente, levantou–se.
– Traga o roupão – grunhiu.
Bella deixou o trabalho e foi para o
armário procura–lo. Edward recusou ajuda, o arrebatou e o pôs lentamente. Com
uma forte dor de cabeça, dirigiu–se à porta e a abriu.
– Tenha o banho preparado para quando
retornar – disse. – E será melhor que esteja quente se não quer que morda o seu
traseiro.
Depois de fechar a porta, Isabella
celebrou satisfeita a irritação do marido, Edward retornou muito pálido, desfez–se
das calças e introduziu–se na água fumegante com supremo cuidado e conteve a
respiração ao sentir a elevada temperatura, soltou um suspiro antes de instalar–se
comodamente, apoiando as costas contra a tina de metal. Permaneceu um longo
momento imóvel, até alguém bater na porta.
– Demônios, basta deste martírio! – rugiu
zangado. Fez uma careta e acrescentou: – Adiante!
George entrou no quarto nas pontas dos pés
e com a cabeça encurvada, levando uma pequena bandeja com uma generosa taça de
conhaque. Trocou um olhar furtivo com Bella para comprovar se tinha sobrevivido
ao transe e decidiu que havia capeado perfeitamente o temporal, deu a taça a
seu capitão e bateu em uma apressada retirada.
Edward bebeu a metade do conhaque de um
gole e depois apoiou a cabeça na banheira, começando a sentir o efeito do
álcool no corpo. Sentindo o desejo irreprimível de interromper o devaneio do
marido, Bella aproximou–se dele e atirou a esponja e o sabão na água, ele se
sobressaltou ligeiramente quando a água salpicou seu rosto e olhou Bella, que
mais do que rapidamente se afastou da tina, principiando a retirar–se do quarto
quando Edward a interrompeu.
– Onde acha que vai dessa maneira?
Bella tocou o ombro, logo as costas. Tinha
esquecido que estava meio nua. Levantou a cabeça e respondeu com ar senhorial:
– Vou lá embaixo para que George me abotoe
o vestido.
Fechou a porta velozmente antes que Edward
pudesse fazer qualquer comentário. A explosão de blasfêmias e maldições que
veio do interior do quarto confirmou que seu marido não estava muito alegre com
ela. No caminho do restaurante, cruzou com uma garçonete a quem pediu que lhe
abotoasse o vestido.
Era domingo, a estalagem estava tranquila e o restaurante quase vazio. Bella pediu chá, sentou–se na mesa de sempre e
conversou tranquilamente com a mulher do hospedeiro. Não passou muito tempo até
que Edward se reuniu a ela. Com o cenho franzido, sentou–se sem dar uma
palavra, depois que a garçonete serviu a comida e saiu para realizar seus
trabalhos, Edward falou mal–humorado.
– É melhor que vá com cuidado, senhora
minha – ameaçou–a.
Bella lhe dedicou um olhar de menina
inocente com seus olhos chocolates e fingiu não saber a causa de seu
aborrecimento.
– Diga, meu amor, por que razão ameaça sua
própria mulher, que leva seu filho em seu interior?
Edward apertou as mandíbulas.
– Isabella – resmungou –, não brinque
comigo ou comprovará que não estou com bom humor.
A jovem engoliu a saliva com dificuldade e
voltou a concentrar–se em seu prato.
Ao retirar–se a seus aposentos aquela
tarde, Edward viu a camisola rasgada no armário. Tocou–a e franziu o
sobrecenho, depois se voltou e viu Bella metendo–se na cama coberta com a
combinação. Apagou as velas e se despiu na escuridão, permaneceu longo momento
olhando o teto com as mãos atrás da cabeça. Bella lhe deu as costas ficando tão
longe quanto permitia a largura da cama, cobriu–se até o pescoço com o edredom,
como se este a protegesse de seu marido. Edward blasfemou em voz baixa, voltou–se
e decidiu que, depois de tudo, não tinha ocorrido nada, pois Isabella estava
muito alegre consigo mesma e, além disso, ele não sentia nenhum alívio em seu
corpo.
Na manhã seguinte, Edward tirou a mulher
da cama antes do amanhecer sem lhe dar tempo para protestar.
– Se apresse, não posso chegar tarde.
Vamos carregar o Fleetwood esta manhã e devo estar presente.
Ajudou–a a vestir–se e depois ele fez o
mesmo. Conduziu–a escada abaixo e tomou o café da manhã apressadamente enquanto
ela bebia uma taça de chá tentando não bocejar. Levou–a de volta a seus
aposentos e deu instruções a George, depois partiu e não retornou até altas
horas da madrugada. Como na noite anterior, despiu–se na escuridão e se meteu
na cama procurando não desperta–la. Durante os dias vindouros, o horário foi o
mesmo, e Bella não falava com Edward exceto durante o café da manhã. Ela
permanecia no quarto durante o tempo que ele estava fora, entretendo–se o
melhor que podia. Comia ali mesmo ou, se não havia muitos marinheiros, no
salão, custodiada pelo George.
Na quarta noite Edward chegou cedo, Bella
se encontrava na banheira, não esperava a chegada de seu marido a essas horas
da tarde. Quando a porta se abriu, sobressaltou–se e soltou um grito afogado.
O homem hesitou um momento antes de
entrar, contemplando com prazer a encantadora e atrativa imagem doméstica.
Bella se levantou, cruzando os braços recatadamente. Abriu seus enormes olhos
chocolates, recuperando–se lentamente do sobressalto, a pele úmida brilhava e
resplandecia sob a suave luz da vela, seu cabelo estava preso sobre a cabeça e
alguns cachos caíam sugestivamente sobre os ombros. Era uma cena realmente
sedutora, o mais belo que tinha tido o prazer de ver aquele dia.
Junto à tina de metal havia um pequeno
tamborete para ajuda–la a entrar e a sair e, sobre ele, uma garrafa de azeite
de banho e uma pedra de sabão. Edward sorriu meigamente e se apoiou contra a
porta. Ao cabo de alguns segundos a fechou e, com passo compassado, cruzou o
aposento até a banheira, apoiou–se nela e se inclinou como se fosse beija–la.
– Boa tarde, meu amor – murmurou com
doçura. Muito confusa por suas amáveis maneiras e sentindo–se apanhada, Bella
foi afundando lentamente na tina até que a água cobriu os ombros. Tentou
devolver o sorriso, mas lhe tremiam muito os lábios. Edward riu zombador ante o
esforço da esposa e se ergueu, de repente tudo o que a moça pode ver dele foi a
mão com a pedra de sabão. Edward a lançou à água justamente em frente de seu
rosto, empapando–a e deixando–a balbuciando quase sem fôlego. Ela abriu os
olhos e se encontrou com a mão de Edward sustentando uma toalha.
– Seque o rosto, anjo – ordenou. – Está
muito molhado.
Bella arrebatou a toalha furiosa e
esfregou os olhos.
– Oh, é... é... – engasgou–se, muito
zangada. Edward se afastou rindo.
Sentou–se em uma cadeira com os pés
esticados e a observou tentando segurar a risada, mas ao ver o olhar cheio de
ódio de sua mulher soltou uma gargalhada.
– Desfruta de seu banho, amor – disse,
inclinando–se para frente, como se fosse levanta–la. – Importa–se se esfrego
suas costas?
Isabella apertou as mandíbulas, impotente,
e começou a levantar–se para sair da banheira, mas viu que ele se apoiava
novamente na cadeira lhe indicando que voltasse a sentar–se.
– Relaxe, Bella, e desfrute – disse em tom
mais sério. – Provavelmente este vai ser o último bom banho que lhe dou durante
um tempo.
Bella se sentou e o olhou desconcertada.
Pensou que se tratava de uma nova fórmula de dar disciplina.
– Edward... rogo–lhe. Tenho muito poucos
prazeres e este é o que mais desfruto. Imploro a sua generosidade, Edward, não
me tire isto. Oh, por favor.
Edward deixou de sorrir, levantou–se da
cadeira e se aproximou da banheira. A jovem permanecia sentada olhando para
baixo, completamente abatida, como uma menina esperando ser repreendida, quando
Edward finalmente falou, o fez com ternura.
– Está cometendo uma grave injustiça
comigo, Bella, ao supor que, por despeito, atreveria–me a te negar um prazer
como este – comentou. – Me referia a que amanhã subiremos a bordo e
permaneceremos ali três dias antes de zarpar.
Isabella olhou fixamente Edward.
– Oh, Edward, sinto muito – se desculpou. –
Fui muito mesquinha ao pensar mal de ti. – Guardou silêncio ao perceber que o
olhar de Edward tinha descido.
Ele tinha os lábios brancos e o tique
nervoso na face. Bella corou intensamente e, desculpando–se com um murmúrio
inaudível, levou a esponja aos seios. Edward se voltou bruscamente e se se
aproximou da janela.
– Se sair da tina – disse asperamente sem
olha–la –, poderemos jantar em condições mais civilizadas. E melhor será que se
apresse. Ordenei a George que fosse procurar o jantar.
Isabella obedeceu no ato.
Quando Edward despertou, pareceu a Bella
que acabava de deitar. Ainda era de noite, mas ele já estava perfeitamente
vestido. Tirou–a da cama e entregou–lhe a roupa. Bella se envolveu no vestido
com a ajuda do marido. Enquanto lhe abotoava os colchetes, ela arrumava o
cabelo. Colocou–lhe a capa sobre os ombros e a esperou junto à porta enquanto
ela esfregava o rosto com uma toalha úmida, apagando qualquer vestígio do sono.
Depois deixaram as escadas, e tomaram o café da manhã velozmente. Depois de um
momento, caminharam em direção ao navio.
A tripulação já estava em movimento,
preparando o navio para subir a carga do dia. Os homens interromperam sua
atividade para ver seu capitão e sua jovem esposa subirem a bordo. Seguiram–nos
com o olhar até que desaparecessem pela porta, sob aponte.
Uma vez no camarote, Bella se desfez da
capa e se meteu no beliche. Não percebeu quando Edward lhe cobriu com o
edredom, depois de terminar o almoço que Ed tinha levado, subiu a coberta e
ficou apoiada no passadiço, observando a atividade dos marinheiros no porto.
Estava repleto de vendedores que pululavam pelo cais vendendo fruta e verduras
frescas aos marinheiros, ansiosos por romper sua monótona dieta consistente em
porco salgado e curado, ervilhas e ração.
Ricos mercadores, elegantemente vestidos,
tropeçavam com mendigos e ladrões que tentavam lhes saquear os bolsos. Alguns
marinheiros passeavam com prostitutas às quais acariciavam abertamente e havia
carruagens que esperavam para ser alugadas. Vivas cores se mesclavam com a
rotina, para vestir o porto em seu esplendor diário. Havia navios carregando e
descarregando. Bella nunca tinha visto um lugar com tanta atividade, parecia um
pouco aturdida apoiada no passadiço, desfrutando da vista de tudo que acontecia
ali embaixo. De vez em quando, podia ouvir a voz grave e autoritária de Edward
em diferentes partes do navio, dando ordens a seus homens enquanto estes
traziam a bordo o carregamento, há alguns momentos vira–o falando com Boniface,
com o contramestre ou com o oficial de coberta. Em outras ocasiões, podia vê–lo
embaixo, nos moles, conversando com comerciantes.
Era já tarde quando George chegou num
carro puxado por cavalos, carregado com seu baú, a bolsa de lona de Edward e,
para sua surpresa, a banheira de metal da estalagem. Muito confusa, viu como
descarregavam os objetos do carro e os subiam a bordo.
Foi então que compreendeu que Edward a
tinha comprado para ela. Olhou primeiro George, depois seu marido, que
conversava com o senhor Boniface. Edward tinha cofiado a seu criado a aquisição
do artefato, havia se voltado para ela e seus olhares se encontraram, Bella se
sentiu cheia de alegria e vitalidade. Não havia presente mais belo ou mais caro
que pudesse faze–la tão feliz como a terrina de metal. Seu sorriso era doce,
cálido e belo. Ao vê–la, Edward ficou preso por seu feitiço. O senhor Boniface
limpou a garganta e repetiu a pergunta.
Estava anoitecendo quando madame
Fontaineau e duas de suas criadas levaram os vestidos a Bella. Depois de dar
sua aprovação, Edward tirou uma caixa forte de seu baú e começou a contar o
dinheiro para madame. A costureira se aproximou silenciosamente para dar uma
olhada no conteúdo da caixa e deixou escapar um sonoro suspiro ao ver a
quantidade de dinheiro que esta guardava. Edward arqueou uma sobrancelha
olhando à mulher, fazendo com que retornasse ao seu lugar do outro lado da
mesa, e continuou contando.
Madame Fontaineau olhou de soslaio Bella,
ajoelhada em frente a seu baú, desempacotando vestidos e outros artigos. Voltou
a fixar–se em Edward, sorrindo–lhe com um brilho calculista nos olhos. A visão
do dinheiro sempre a fazia ser um pouco imprudente.
– Madame voltará com você o ano que vem, monsieur?
– Não – respondeu Edward.
Madame Fontaineau, cujo sorriso se
alargou, alisou o cabelo.
– Quando retornar, virá a minha loja para
comprar novos vestidos não, monsieur?
Estarei esperando ansiosa o momento de costurar para ela de novo – afirmou,
paquerando com ele. – Meus talentos estarão ao seu dispor, monsieur.
Bella, cujos inocentes ouvidos não
captaram o comentário, continuou com sua tarefa sem olhar à costureira. Mas
Edward entendeu perfeitamente quais eram as intenções desta. Manteve os olhos
fixos em Madame Fontaineau e depois baixou o olhar fazendo uma avaliação,
detendo–se por um instante em seu busto de matrona e seus quadris largos.
Depois, voltou a concentrar–se no dinheiro.
– Entendeu–me mau, madame – a corrigiu. –
Quero dizer que jamais retornarei a Inglaterra. Esta é minha última viagem.
A mulher retrocedeu, impressionada pela
resposta. Instantes mais tarde, Edward se aproximou dela e entregou uma bolsa
com o dinheiro que lhe devia. Madame Fontaineau não esperou para conta–lo, deu
meia volta e, sem dar uma palavra, partiu.
Durante o jantar, Edward não trocou uma
palavra com Bella, distraído em seus assuntos. Ao acabar, está se retirou ao
beliche e ele ficou trabalhando em seus livros, recibos e faturas, sentado no
escritório. Era mais de meia–noite quando apagou as velas, despiu–se na
escuridão e se meteu na cama junto a ela. Ainda acordada, Bella se afastou para
deixar mais espaço, embora não houvesse muito que compartilhar. Por diferentes
motivos, tentaram não recordar tudo o que tinha acontecido da última vez que
tinham compartilhado o beliche.
Os dois dias seguintes passaram velozes. A
carga tinha sido vendida, o aprovisionamento estava completo, as últimas
escotilhas asseguradas e finalizadas as despedidas. Grandes botes rebocavam ao
Fleetwood para o porto para que pudesse desdobrar as velas e aproveitar o vento
do anoitecer.
Era um entardecer tranquilo. O mar
cristalino estava em calma. O navio, com suas gáveas e brigas desdobradas,
esperava as primeiras rajadas de vento. O sol, quase no ocaso, iluminava os
telhados de Londres. De repente, uma gaivota bateu as asas fortemente rompendo
o silêncio. Todos olharam imediatamente para cima. O sol se pôs e a fria brisa
roçava o rosto de Bella, que estava de pé, junto a Edward, na ponte. Uma vez
mais, as velas se abriram e a voz de Edward retumbou:
– Levantem âncoras! Se animem, princesas,
vamos para casa.
– Virem! A estibordo!
A âncora abandonou as águas do Tâmisa e o
navio começou a ganhar velocidade. Bella observou como as luzes se afastavam na
escuridão e um nó atravessou sua garganta.
Já era de madrugada quando Edward entrou
em seu camarote e se dispôs a dormir. Durante o café da manhã, explicou a Bella
o que esperava dela naquela longa viajem.
– Bella – esclareceu–, o navio pertence a
meus homens até uma hora razoável da manhã. Se se aventurar a sair muito cedo,
pode ser que o que veja a incomode. Aconselho–a que permaneça no camarote até
tarde.
Bella assentiu, obediente, com o olhar
fixo no prato e as faces ligeiramente rosadas.
– E os porões são terreno proibido para
você – continuou ele. – Lá é onde vivem os homens e é um doce muito tentador em
uma viagem tão longa. Eu não gostaria de ter que matar um de meus homens por
ter perdido o juízo. Portanto, se manterá afastada dali e fora de seu caminho.
Edward a olhou por cima de sua taça de
café. Ela agarrou a sua e o observou atentamente, muito ruborizada. O enorme
anel de ouro que coroava o magro dedo da jovem, resplandecia captado por um dos
primeiros raios de sol da manhã.
O sol amanheceu triste no quarto dia de
viagem, e os ventos do leste começaram a aumentar. Os dois primeiros dias
tinham sido relativamente agradáveis e, com cada centímetro de lona desdobrado,
o Fleetwood tinha avançado a bom ritmo sobre um mar ligeiramente encaracolado.
Agora os equipamentos do barco vibravam com o vento e o navio rangia enquanto
cortava as ondas com seu casco branco banhado pela espuma. Mas o Fleetwood se
defendia perfeitamente e respondia com suavidade às ordens do leme.
Edward examinou um banco de nuvens baixas
que se estendiam no horizonte, o vento soprava frio naquela manhã e traduzia
mau tempo. Entretanto, sorriu enquanto descia ao camarote, satisfeito com a
velocidade que tinham alcançado, percorrendo quase quarenta léguas diárias.
– Esta noite teremos convidados para
jantar, George – anunciou asperamente, e se virou. – Pedi ao senhor Boniface e
ao oficial de coberta, Tory MacTavish, que se unam a nós. Se ocupe de tudo, por
favor.
– Sim, capitão – respondeu o criado,
lançando um olhar a Bella, que tinha se afastado e parecia estar concentrada em
esquentar as mãos junto à estufa. Não havia dúvida de que estava preocupada e
George sacudiu a cabeça consternado pelas maneiras grosseiras de seu amo. O
capitão não devia obstinar–se em manter a independência de sua vida de
solteiro, pois agora era um pai de família.
A noite se fez mais fria. Bella colocou um
de seus vestidos e permaneceu com as costas encostadas à estufa, esperando que
Edward acabasse de vestir–se. Tinha escolhido seu traje pensando no calor que
lhe pudesse proporcionar mais que em qualquer outra coisa, era de veludo, com
manga longa, gola alta e ajustada e um sutiã adornado com abundantes azeviches
e contas cintilantes. Prendeu o cabelo em um moderno penteado e, entre todos
aqueles homens, era um contraste realmente encantador. Uma vez finalizada sua
avaliação crítica, Edward decidiu que era uma atraente esposa para um capitão
de navio. Sorriu divertido ao ver como deslizava em silêncio junto à estufa e
recolhia as saias para deixar que o calor subisse por suas pernas.
– Do modo como se aproxima dessa estufa,
duvido muito que desfrute do tempo que se avizinha – brincou.
Edward observou os finos tornozelos que
apareciam pela prega e pensou nos ventos gelados que levantariam suas saias e
provocariam sua fuga em busca de calor quando o vento penetrasse e acariciasse
sua nudez. A delicada roupa interior lhe proporcionaria sem dúvida muito pouco
amparo. Pensou que tinha que fazer algo a respeito.
– Fará tanto frio, Edward? – perguntou em
tom de preocupação.
– Sim – respondeu. – Vamos tomar a rota do
norte, justo ao sul do Newfoundiand, para poder recuperar parte do tempo que
perdemos ao deixar a Inglaterra. Tal como vamos agora, não acredito que
cheguemos a casa antes do ano novo, embora tenha razões para pensar que
poderíamos faze–lo antes.
Os convidados pareceram desfrutar da noite
e, em particular, da presença a bordo da jovem. Se realmente estavam a par das
circunstâncias que a tinham levado até ali, não deram sinal algum. Ao entrar no
camarote, presentearam–lhe com uma pequena réplica do Fleetwood e agradeceram o
convite com amabilidade. Edward ficou um tanto perplexo ao ver que davam por
sentado que o convite tinha vindo por parte dela, afastou–se zombador ao tempo
que ela aceitava o presente com a promessa de que o guardaria em um lugar
seguro.
A noite transcorreu com tranquilidade, com
divertidos relatos sobre a corte inglesa que tanto entretinham Bella. Durante o
jantar, Bella observou em segredo o rosto do marido e ponderou sobre seus
estados de humor: O ataque de ira ante o menino da loja da costureira, a fria
fúria com os ladrões que pretendiam separa–la dele e, com ela mesma, quando
tinha ido em busca de seu criado para que lhe ajudasse a abotoar o vestido. Mas
apesar disso, sempre que podia, deixava bem claro a pouca estima que lhe tinha.
Realmente ela constituía uma carga para ele. Então, por que razão se comportava
dessa maneira? Cobiça? Duvidava–o. Tinha provado de sobra sua generosidade. O
luxuoso guarda–roupa, a comida que acabavam de jantar, os deliciosos vinhos que
adornavam a mesa ou os excelentes charutos que esperavam ser fumados. Não. Não
era avareza. Mas uma estranha ira estalava cada vez que outro homem desfrutava
de sua companhia alegre e conversação amena. Com que classe de homem se casou?
Seria sua vida com ele alguma vez normal ou unicamente um jogo de adivinhações
no qual ela sempre sairia perdendo?
O jantar tinha terminado e a mesa
retirada. Acenderam os charutos com imensas desculpas para ela e a conversação
se centrou nos negócios. Boniface perguntou a Edward se não seria mais segura a
rota do sul. O capitão sorveu um pouco de vinho, permaneceu pensativo durante
uns instantes e respondeu:
– Faz uma semana que levantamos âncoras –
comentou ao marinheiro –, e dois navios mercantes partiram para Charleston com
os porões cheios. Ambos tomaram a rota do sul. Se atracarem no porto antes que
nós o façamos, nosso carregamento valerá a metade, de modo que devemos nos
adiantar. Espero chegarmos à terra antes deles. Esta é minha última viagem e
quero tirar grandes benefícios para todos.
– Parece muito justo, capitão – sorriu
Tory MacTavish.
Boniface assentiu.
– Emmett e eu investimos muito no
carregamento – continuou Edward – Eu gostaria que meu dinheiro duplicasse. Se
conseguirmos chegar a tempo, fará isso.
MacTavish levou uma mão ao denso bigode
ruivo.
– Sim, capitão. Vale a pena arriscar. Se
chegarmos a tempo, também minha parte será considerável – afirmou animado.
– E a minha – interveio o comissário de
bordo com um sorriso.
– Acredita que Emmet se assentará
finalmente ao ver que você se casou, capitão? – inquiriu MacTavish com um vivo
brilho em seus olhos azuis.
Edward olhou rapidamente para o outro lado
da mesa, antes de sorrir com malícia e sacudir a cabeça.
– Pelo que sei, MacTavish, meu irmão
prefere o celibato, apesar de Haiti e de sua insistência para que o abandone –
explicou.
– Quando vir o bem que faz a você, capitão
– apontou MacTavish, voltando–se para Bella e lhe dedicando um cálido e
amistoso sorriso –, é muito provável que queira mudar de opinião.
Bella devolveu o sorriso, agora
ruborizada. Notou que Edward ponderava a afirmação que seu oficial de coberta
acabava de formular e logo a examinava para comprovar se era certa. As mãos da
jovem começaram a tremer. Ao olhá–lo, encontrou–se com seus olhos do outro lado
da mesa.
Boniface e MacTavish trocaram um olhar de
cumplicidade. Os dois concordaram em silêncio não demorar mais sua saída.
Quando a porta se fechou atrás deles, Edward retornou uma vez mais a seu
escritório e a seus livros, Bella levantou o vestido, sentada o mais perto
possível da estufa. O pequeno artefato de ferro era insuficiente e Bella trocou
de posição várias vezes numa tentativa de manter todo seu corpo a uma
temperatura razoável. Seus movimentos acabaram por distrair a Edward, que
deixou sua pena e se voltou para ela. Por um instante permaneceu sentado
olhando–a colérico, com um cotovelo apoiado na mesa e uma mão no joelho.
Levantou–se e se aproximou. Com os braços atrás das costas, manteve–se erguido
em frente a ela, enquanto esta se inquietava diante da atenção excessiva.
Abaixou o vestido e o olhou.
– Aconteceu algo, Edward? – perguntou
Edward pareceu não ouvi–la. Deu meia
volta, foi para seu baú e levantou a tampa. Começou a tirar pacotes, deixando–os
descuidadamente sobre o chão, até que encontrou um pequeno. Agarrou–o e se
dirigiu de novo para o Bella.
– Pode ser que no princípio o ache
incômodo, mas logo o achará útil – afirmou.
Bella abriu com cautela o pacote e ficou
olhando seu conteúdo, confusa. Rindo do assombro de sua mulher, Edward se
agachou e levantou o objeto ligeiramente acolchoado, segurando–o para que ela
pudesse inspeciona–lo.
– Dúvida de minha castidade? – inquiriu
Bella, desconcertada. – Pretende me amarrar com isto?
Edward soltou uma gargalhada.
– São como as ceroulas de um homem, mas
tem que pôr isso debaixo do vestido para que lhe deem calor – explicou.
Bella não afastava o olhar daquele
estranho invento.
– Não sabe o trabalho que me deu encontrar
alguém que o queria fazer – sorriu. – Todos os alfaiates pensaram que estava louco
quando descrevi o que queria, e nenhum deles acreditou quando disse que eram
para uma mulher. Tive que pagar uma grande soma de dinheiro para que finalmente
me fizessem isso.
–Diz que devo vestir isso pôr debaixo do
vestido? – inquiriu a jovem incrédula.
Edward assentiu, muito divertido diante da
consternação da esposa.
– A menos que prefira continuar sentindo o
frio sob suas saias. Asseguro que os mandei fazer com minha melhor intenção.
Não estou zombando de você. Só quero me assegurar de que não passe frio.
Bella segurou assombrada a roupa, e
finalmente esboçou um tímido sorriso.
– Obrigada – murmurou.
Transcorreram outros cinco dias e o frio
era cada vez mais insuportável. Bella deixou de duvidar do calor que lhe
proporcionava a estranha criação que Edward tinha mandado fazer para ela.
Estava mais que agradecida. O primeiro dia em que os tinha posto, riu a
gargalhadas de seu aspecto, pois nunca tinha visto antes nada semelhante.
Chegavam–lhe até os tornozelos e se ajustavam à cintura com uma cinta. Seu
aspecto era ridículo. Ainda continuava rindo quando Edward desceu para almoçar.
Segurou as saias, muito divertida, para acostumar seu marido, que a observou
atentamente.
Só prescindia deles na hora de deitar–se,
já que eram desnecessários com a presença de Edward a seu lado. O calor de seu
corpo atuava como um ímã, atraindo–a para ele enquanto dormia. Freqüentemente
tinha despertado durante a noite encostada às suas costas e muitas vezes, com a
cabeça sobre o ombro de Edward ou o joelho entre suas pernas. O fato de que
durante à noite se abandonava tanto causava–lhe certo desassossego, agora
estavam de costas, mas acordados. A noite anterior se deitaram muito cedo para
combater o frio que reinava no camarote, podendo comprovar que o beliche era um
verdadeiro paraíso que ambos podiam compartilhar quando a pequena estufa não
lhes proporcionava o calor suficiente. Aquela noite, Bella tinha contado como
tinha sido sua vida antes de o conhecer, embora suspeitasse que lorde Hale já
lhe tivesse contado os antecedentes. Apesar disso, Edward a escutou com atenção
e formulou ocasionais perguntas para completar e entender melhor o relato.
– Mas como foi parar em Londres na noite
em que nos conhecemos? – perguntou–lhe quando Bella concluiu a história. Voltou–se
sobre o travesseiro para olha–la, elevando um lustroso cacho de cabelo que
jazia sobre seu ombro, brincando com ele.
Bella engoliu a saliva com dificuldade e
afastou o olhar.
– Fui com o irmão de minha tia – murmurou.
– Ele ia me ajudar a encontrar trabalho em uma escola para senhoritas, mas me
perdi quando me levou a uma feira na noite em que chegamos a Londres.
– Que tipo de homem era para seu tio
permitir que fosse com ele? – inquiriu ele.
Bella encolheu os ombros, nervosa.
– Um muito rico, Edward – respondeu.
– Maldição, Bella, não me refiro a isso –
disse ele. – Seu tio era tão estúpido para deixar que esse homem te levasse com
a única promessa de conseguir trabalho? Não sabe que poderia têm–la vendido a
outros homens ou inclusive haver a usado ele mesmo? Talvez no final tenha sido
melhor que a perdesse.
Bella permaneceu muito quieta junto a ele,
sentindo sua raiva. Começou a perguntar–se se seria o momento adequado para lhe
contar o ocorrido com o James e se o entenderia. Agora estava a salvo, longe da
Inglaterra e da prisão. Mas aceitaria que sua mulher fosse uma assassina?
O medo afugentou a ideia de confiar nele e
a verdade do ocorrido naquela noite continuou sendo um segredo.
– Acabávamos de chegar à terra naquela
manhã – explicou Edward com ternura, brincando com um de seus cachos. – Se não
fosse assim, estou convencido de que teria me comportado de outro modo. Mas
estava inquieto, assim ordenei ao George que buscasse um pouco de diversão. Sua
escolha não podia me proporcionar mais surpresas: uma formosa virgem, muito
fértil e com amigos influentes.
Bella se voltou, ruborizada. Edward cravou
o olhar na nuca da jovem, onde a brancura de sua pele contrastava com a
escuridão de seu cabelo. Era um lugar muito tentador que desejava beijar com
ardor. Por alguns momentos foi impossível pensar com frieza e esquecer que era
dele.
– Agora terei que dar uma explicação sobre
meu irmão – disse.
Bella se voltou para ele, muito
surpreendida ao inteirar–se de que tinha um cunhado.
– Não sabia que tinha um irmão.
Edward arqueou uma sobrancelha e a olhou
sem alterar–se.
– Sou bastante consciente disso, minha
senhora – replicou. – Ainda há muitas coisas que tem que aprender sobre mim. Eu
não saio por aí contando a história de minha vida como a senhora parece ansiosa
por fazer.
Bella, ofendida ante tal insulto, voltou–se
furiosa, e se afastou dele tudo o que o beliche lhe permitiu. Ficou furiosa
enquanto ele ria, e lhe encheram os olhos de lágrimas enquanto o amaldiçoava em
silêncio.
Edward despertou
lentamente, como se estivesse sob a água e nadasse para a superfície, podia
sentir a suavidade e calidez do corpo de Bella junto ao dele. Os voluptuosos
seios da moça pareciam querer penetrar suas costas, e as coxas estavam apoiadas
contra seus glúteos, ao mesmo tempo em que os braços macios permaneciam sobre
seu corpo, seu corpo despertou ante o pensamento de possuí–la, desta vez com
ternura.
Seu corpo e mente se uniram para traí–lo,
honra, orgulho e vingança se converteram em fumaça ante o torvelinho de suas
paixões. Deitou–se sobre ela, decidido a saciar sua masculinidade; pressionou o
pequeno e redondo ventre com seus quadris e, ao fazê-lo, um ligeiro movimento
distraiu sua atenção, deslizou a mão sobre o pequeno abdômen e voltou a senti–lo,
desta vez muito mais forte. Seu filho estava dando pontapés, protestando pelos
pensamentos de seu progenitor, uma consciência fria se apoderou dele,
consciente de sua próxima perda de controle.
Levantou–se do beliche em silencio para
não desperta–la e se vestiu. A lua brilhava com intensidade, mostrando o
caminho sem necessidade de acender uma vela. Serviu–se de uma taça de conhaque
e começou a caminhar pelo camarote, completamente acordado e enormemente
preocupado. Seu corpo conduzia–o a lugares nos quais sua mente não queria
chegar e, ultimamente, esses sonhos eram cada vez mais frequentes. Se não
tomasse cuidado, levantaria um dia tendo consumado o ato.
Deteve–se frente ao beliche, apoiou um
braço sobre a viga que se estendia por cima de sua cabeça e a contemplou,
inocente e terna, profundamente adormecida. Pensou na violência e crueldade que
semelhante ternura tinha desencadeado, Bella tinha suportado sua fúria e o
abuso de tia Victória, embora a inocência fosse uma qualidade inata nela. De
repente Tânia veio a seus pensamentos, tratava–se da mulher que, na cúpula da
maturidade, esperava sua volta, era completamente diferente da delicada jovem
que jazia em seu beliche, e não só fisicamente. Tânia jamais tinha conhecido a
crueldade ou a violência, seus pais lhe tinham concedido tudo, não existia
quase nada que a ofendesse. Em questão de homens era muito atrevida e sabia
desfrutar dos prazeres do amor; Bella, pelo contrário, tinha mostrado sua
satisfação ao não ter que desempenhar os deveres próprios de uma esposa, e
agora que Edward pensava nisso, parecia–lhe estranho que, apesar das vezes que
se deitou com a Tânia ela nunca tivesse ficado grávida. Com Bella tinha
ocorrido justamente o contrário, sua semente tinha encontrado em terra fértil a
primeira vez que o havia deixado toca–la.
E agora ele se encontrava ali, de pé,
totalmente inerte e apanhado por aquela cândida virgem, com seu amor próprio no
chão, igual a um jovem granjeiro incapaz de percorrer sozinho o caminho do
estábulo ao armazém. E essa imprevista influência que a jovem exercia sobre ele
se intensificava cada dia, sendo extremamente difícil poder conter suas
inclinações amorosas.
Bella se mexeu no beliche e começou a
tremer de frio, a proximidade de seu marido já não a mantinha quente, cruzou os
braços ao redor do delicado corpo e se embrulhou no edredom. Edward esboçou um
sorriso irônico e despiu o roupão. Deslizou junto a ela, tentando não desperta–la,
e a estreitou entre os braços para lhe dar calor, durante esses breves
instantes, esqueceu–se de suas paixões e de sua vingança, simplesmente a
contemplou como uma menina com a necessidade de que cuidassem dela.
Quando Bella despertou Edward já havia
partido, havia outro edredom sobre ela e, ao dar–se conta, sorriu pensando em
quão atento seu marido podia ser. Se encontraram para tomar o desjejum, Edward
estava tranquilo e pensativo, tinha o semblante enrijecido pelos ventos gélidos
e usava um volumoso pulôver de gola alta, calças escuras e botas lustrosas. Ao
chegar ao camarote tirou o gorro e um pesado casaco de lã, sua vestimenta era um
tanto grosseira, mas Bella decidiu imediatamente que não diminuía seu encanto.
Ficava atraente com qualquer coisa que vestisse.
A tarde Bella se aventurou a sair do
camarote e, coberta com uma grossa capa, subiu à ponte. Ao não ver Edward em
nenhuma parte, dirigiu–se para a popa, até chegar junto ao timoneiro; a jovem
teve que gritar por cima do forte vento para que pudesse ouvir sua voz.
– Pensava que o capitão estava de guarda –
exclamou.
O timoneiro elevou o braço e assinalou
para cima. Seguindo sua indicação, Bella viu Edward no alto do mastro maior,
inspecionando atentamente os cabos e colocando–os em seu lugar. A jovem,
enjoada pela altura em que se encontrava seu marido, gemeu e retrocedeu um
passo. O mastro parecia muito frágil para aguentar seu peso. Notou como seu
coração pulsava com força, paralisada pelo medo; não podia afastar a vista
dele. De repente, uma rajada de vento bateu fortemente as velas, o navio
escorou ligeiramente e Edward, pego por surpresa, teve que agarrar–se
firmemente para não cair. Bella levou a mão à boca para tapar um grito e
começou a morder os nódulos da mão.
Ao olhar para baixo e avistar Bella,
Edward interrompeu seu trabalho imediatamente, subiu até a ponte, na popa, e se
dirigiu bruscamente ao jovem marinheiro que estava ao leme.
– Vigie essas rajadas, marinheiro –
grunhiu. – Muito em breve teremos que pôr este navio a prova e é melhor que não
o force agora.
– Sim, meu capitão – balbuciou o
marinheiro, envergonhado diante da reprimenda.
Edward agarrou o casaco que pendia do
corrimão junto à amurada e o pôs, Bella se sentiu mais tranquila.
– Oh, Edward, o que estava fazendo ali em
cima? – perguntou zangada. O medo quase a tinha feito chorar.
Um pouco surpreso pelo tom de sua voz,
Edward a olhou e descobriu uma expressão de angústia no rosto da esposa.
Observou–a por instantes, maravilhado diante da emoção que a embargava, e
encolheu os ombros.
– Fique tranquila, não corria perigo,
simplesmente inspecionava os equipamentos do barco.
Bella franziu o cenho, confusa.
– Inspecionava os equipamentos do barco? –
repetiu.
– Sim, minha senhora – disse ele, erguendo
a cabeça e escrutinando o horizonte com os olhos entreabertos. – Antes de três
dias teremos uma tormenta sobre nós e prefiro não ser surpreendido por um cabo
quebrado.
– Mas outro homem não pode fazer isso? –
perguntou preocupada.
Edward abaixou os olhos para ela e sorriu
enquanto lhe colocava a capa.
– É responsabilidade do capitão e,
portanto, trabalho do capitão – explicou.
Bella não estava segura de que a resposta a tivesse satisfeito.
Entretanto, não prosseguiria suplicando.
– Tomará cuidado, não é verdade?
Os olhos dele brilharam ao olha–la.
– Tentarei. É uma jovem muito bela para te
deixar viúva.
O dia seguinte amanheceu com um
impressionante sol de cor vermelha e um inquietante sinal de tormenta, o vento
soprava com valentia, mas instável, assim os homens foram enviados uma e outra
vez a orientar os equipamentos de barco, a arriar uma vela ou a soltar outra. O
mar começou a preguear–se e a ser desfavorável e o navio começou a cambalear e
a cabecear. Nuvens baixas corriam e cobriam o céu, permitindo que o sol
aparecesse intermitentemente tingindo as brumosas águas cinza de um verde
cristalino, a noite se fez negra e um farol situado em cima do timoneiro era a
única luz.
Os ventos cederam antes da alvorada e uma
tênue luz anunciou o novo dia, as velas se agitavam soltas balançadas apenas
pela suave brisa, e o mar subia e descia impacientemente, não se via nada no horizonte,
pois o mar se fundia com as nuvens, o Fleetwood avançava e sulcava o mar com
irritante lentidão. Entrou pouco a pouco na noite, com um uma tensão dominante,
enquanto os homens descansavam recuperando as forças que precisariam para
vencer a batalha que se aproximava.
O vento foi ganhando força à medida que a
noite avançava, esta foi longa e inquietante, a tripulação precisou levantar–se
várias vezes e sair para recolher as velas cada vez que o vento aumentava. O
dia passou, as ondas se fizeram mais altas e o vento varreu com crueldade tudo
que se interpunha em seu caminho. No interior do Fleetwood, que cambaleava em
meio de uma massa turbulenta de água e nuvens, as vigas rangiam.
Vários dias tinham transcorrido daquele
modo...
Já era de noite quando George veio ao
camarote para informar Bella de que a tormenta, por fim, tinha começado a
amainar e que o pior já tinha passado. Edward retornou a meia–noite depois de
um longo dia, Bella despertou e fez um gesto de levantar–se do beliche para
ajuda–lo a despir–se, mas disse–lhe asperamente que ficasse onde estava; um
instante depois, deslizou a seu lado sob os edredons, sua esposa se encostou a
ele para lhe dar calor, tiritando de frio, ele aceitou seus esforços
agradecido, atraindo–a ainda mais. Seus tremores foram acalmando pouco a pouco
até ficar profundamente adormecido, muito cansado até para virar–se e separar–se
dela.
Abriu os olhos ao amanhecer, vestiu–se e
voltou para cumprir com suas obrigações, Bella continuava dormindo, apesar da
tormenta ainda bramar com fúria, Edward retornou cedo aquela tarde e se sentou
em frente da estufa com as pernas estendidas e o casaco aberto para desfrutar
do calor, Bella se tinha aproximado silenciosamente da estufa e agora estava em
sua postura favorita: sentada com as saias puxadas e as estranhas calças expostas
ao calor. Ele a observava tranquilamente com os olhos entreabertos,
ligeiramente zangado consigo mesmo por lhe haver comprado aquele horrível
traje. Ao ouvir a porta, Bella cobriu as pernas e se voltou, mandou George
entrar e ele se apressou trazendo uma bandeja com uma cafeteira e várias
xícaras. Encheu uma para seu capitão e se voltou para Bella.
– Dentro de um momento trarei um pouco de
chá, senhora – comentou o criado.
Edward olhou a seu criado com cara de
poucos amigos, pensando no quanto a mimava, logo se voltou para ela com a mesma
expressão em seu semblante, Bella pôde sentir sua desaprovação e se apressou a
acalmar seus ânimos.
– Desta vez tomarei café, George – disse a
jovem. O criado lhe serviu uma xícara, olhando–a com pouca convicção. Sabia que
não gostava de café.
Percebendo que os homens a observavam,
Bella pôs açúcar em sua xícara, removeu o conteúdo, deu um sorvo corajosamente
e tentou reprimir o calafrio que, imediatamente, percorreu seu corpo. Olhou
George com expressão de angústia e, sem pensar, perguntou:
– Poderia me trazer um pouco de leite,
George?
Edward soltou uma gargalhada, cuspiu o
sorvo de café na xícara e ficou de pé.
– Como diz, minha senhora? – inquiriu
entre risadas. – Acaso acredita que vamos encontrar uma vaca no meio do
Atlântico Norte?
Bella se sobressaltou diante da rudeza de
suas maneiras e abaixou a cabeça para que a xícara ocultasse as lágrimas que
enchiam seus olhos, aquele homem não tinha nenhum direito de falar–lhe dessa
forma, e muito menos diante de seu criado.
Edward tomou a xícara de um gole, George
olhou a um e a outro, confuso. Queria consolar à dama, mas não se atrevia e
decidiu que era o momento de bater em uma discreta retirada. Recolheu a bandeja
e partiu. Edward se levantou, depositou a xícara sobre a mesa de um golpe e
seguiu seu homem, abotoando o casaco e murmurando algo a respeito das mulheres.
Quando Bella ouviu a porta bater atrás
dele, assoou–se e ficou olhando a porta ofensivamente. Depois, agarrou bruscamente
a agulha e começou a costurar, desafogando–se no pobre modelo.
– Trata–me como se fosse uma menina –
afirmou zangada. – Esse estúpido espera que eu saiba tudo a respeito de seu
navio e seus mares! Destrambelha contra mim diante de todo mundo como se suas
brincadeiras não me ferissem.
Afastou o modelo ao ver que o estava
danificando e se levantou muito zangada. As lágrimas quase a cegavam, lutou
para controlar–se, pois não queria que quando Edward retornasse a encontrasse
nesse estado, devia aprender a pensar só em seu filho e a aguentar as
penalidades que se colocassem em seu caminho.
Mas não era fácil ser a esposa dócil
quando suas emoções estalavam com a mesma turbulência que a tormenta que os
envolvia. Quando Edward voltou para o camarote, Bella ainda estava aborrecida
por suas palavras. Desfez–se das roupas molhadas, relaxando em uma cadeira
diante da estufa. A suas costas, ela o olhava encolerizada, comportava–se com
frieza e falava muito pouco, unicamente para responder às perguntas que
formulava diretamente.
Chegou a hora de jantar e a noite
transcorreu sem que Bella abrisse a boca, George, ao observar que a jovem não
havia tocado o prato, duvidou pela primeira vez da inteligência do homem a quem
tinha servido com tanta lealdade e tirou a mesa. Bella se sentou junto à estufa
e começou a desfazer os prejuízos que tinha causado à sua costura, Edward
observou, com o canto do olho e perguntou–se o que tinha causado o mau humor de
sua esposa.
Ao perceber que Edward não se vestia e partia
de novo para o convés, pelo contrário, acomodava–se tranquilamente em sua
cadeira a ler um livro, Bella se levantou e se dirigiu para seu baú. Afastou–se
e tirou o vestido e a combinação, ao faze–lo, o marido desviou sua atenção das
páginas do livro e a observou lenta e pausadamente. Pôde ver suas delicadas
costas nuas e, quando se inclinou para pegar sua camisola, viu parte de seu
seio também, uma chama ardeu em seus olhos diante da visão.
Uma vez tendo colocado a colcha sobre o
beliche, Bella se aproximou de novo da estufa para escovar o cabelo, Edward
perdeu de novo o interesse pelo livro, fechou–o e o afastou. Olhou–a
abertamente, desfrutando do momento em que Bella soltava o cabelo e permitia
que seus cachos caíssem livres sobre seus ombros e costas. O resplendor das
velas que estavam detrás dela perfilou sua figura, dirigindo a atenção de
Edward para seu ventre, pela primeira vez se deu conta de sua gravidez; quando
chegassem a casa, sua maternidade não passaria inadvertida e todos fariam
perguntas ao vê–la em tão avançado estado de gestação. Muito em breve
entenderiam que Edward não tinha demorado em possuí–la depois de atracar no
porto de Londres, podia imaginar os rostos cheios de estupefação ao apresenta–la.
Mas os que eram amigos ou o conheciam não se atreveriam a lhe perguntar por
medo de provocar sua ira. Só sua família e sua noiva o interrogariam e o que
lhes ia dizer, tendo em conta que Bella ficou nesse estado nas vinte e quatro
horas depois de chegar à terra?
Rindo de seus pensamentos, levantou–se e
se dirigiu para ela. Bella deu um pulo, deixou de escovar o cabelo e o olhou
com os olhos muito abertos. Edward sorriu e apoiou uma mão sobre seu ventre.
– Está se ficando bem redonda, minha
senhora – brincou. – Toda Charleston saberá que não esperei nem um só minuto
para possuí–la, o mais difícil será explicar a minha noiva por que está ao meu
lado.
Bella o olhou, enfurecida, evidentemente
ofendida por suas palavras e afastou–lhe a mão de sua barriga muito zangada.
– É um imbecil! –rugiu. – Como se atreve a
dizer que terá que dar explicações a sua noiva a respeito de mim! Se tivesse
coração me daria essas explicações! Eu sou sua esposa, a mãe de seu filho, e me
trata pior que a um lixo que tivesse pisado na rua! – encarou–o, fulminando–o
com seus olhos chocolates – Me importa realmente muito pouco o que vai dizer.
Estou certa de que suas palavras serão suaves e doces quando lhe contar que eu
o forcei a se casar com uma mulher que já estava grávida. Se fará de inocente,
se aproveitando de mim ante essa maquinadora, sem se importar com absolutamente
com a criança. Não se esqueça de contar também, meu amor, que me tirou da
miséria em que vivia e me deu seu nome forçado por chantagem. Suas palavras
serão as mais convincentes, não tenho a menor dúvida, e antes que acabe, terá
ganho também sua virgindade!
Edward a olhou zangado e deu um passo para
ela, Bella retrocedeu de um salto e colocou uma cadeira entre os dois.
– Não se atreva a me pôr uma mão em mim! –
gritou. – Se o fizer, juro que me atirarei pela amurada.
Edward a alcançou, afastou a cadeira e
seguiu avançando contra ela, a jovem foi retrocedendo temerosa até que suas
costas tocaram a parede.
– Por favor – suplicou soluçando enquanto ele a agarrava pelos
braços. – Por favor, não me faça mal, Edward. Pense no bebê.
– Não tenho nenhuma intenção de fazer–lhe mal – grunhiu ele –, mas
sua língua afiada desperta minha raiva.
Aja com cuidado, mulher.
Tenho muitas outras formas para fazer de sua vida uma desgraça.
Isabella engoliu a saliva. Seus olhos
estavam bem abertos, seu olhar inseguro e os lábios tremiam. Ao ver o terror na
jovem, Ed blasfemou e se dirigiu ao beliche.
– Agora venha para a cama. Estive muito
tempo sem dormir e tenho intenção de me recuperar esta noite.
Bella levantou bruscamente a cabeça
enquanto o medo dava passo à ira. Como se atrevia a sugerir que voltasse para
junto dele, depois de tudo o que lhe havia dito? Tinha seu orgulho.
Embora tivesse os olhos arrasados de
lágrimas, levantou desafiante o queixo, aproximou–se do beliche, agarrou seu
travesseiro e o edredom e os levou ao canto do camarote, Edward se voltou com
uma sobrancelha arqueada e observou por cima do ombro como estendia a colcha no
batente da janela.
– Pretende dormir aí? – inquiriu,
incrédulo.
– Sim – respondeu ela num murmúrio,
tirando o roupão. Acomodou–se sobre as almofadas e se cobriu com o edredom.
– Não é um bom lugar para passar a noite –
disse ele. – Ainda não passou a tormenta. A janela está úmida e faz frio, não
estará cômoda aí.
– Me arrumarei – respondeu–lhe Bella.
Edward blasfemou em voz baixa, tirou o
roupão e atirou–o sobre a cadeira, sentou–se na beirada do beliche e ficou
olhando–a fixamente. Bella se mexeu tentando encontrar uma postura em que pudesse
dormir, de repente, o navio deu uma forte sacudida quase a derrubando no chão,
Edward não pôde segurar a risada e ela o olhou enfurecida, puxando a colcha.
Colocou–se entre as vigas de madeira e se segurou nelas para não cair.
Conseguiu um pouco de segurança, mas a postura continuava sendo
insuportavelmente incômoda.
Edward se sentou durante um longo momento
observando–a, até que finalmente se deitou. Viu o espaço em que ela tinha
dormido desde o início da viagem, agora vazio, e de repente deu–se conta do
muito que iria sentir a falta dela a seu lado. Justamente na noite anterior,
ela tinha compartilhado o calor de seu corpo tentando afastar o frio dele.
Voltou a olha–la e, quando falou, sua voz
parecia a ponto de quebrar–se.
– Há muito pouco calor para desperdiçar
neste navio. Sugiro que combinemos ficar debaixo destas mantas – comentou.
– Sou tão tola, meu senhor, que acredito
que há vacas no meio do Atlântico e meu cérebro é tão simples que não me
permite me levantar desta janela e passar a noite nessa cama com você –
replicou.
– Muito bem, então, pequena cabeça dura –
falou. – Estou certo de que você e o gélido mar serão grandes companheiros
nesse rígido batente. Não voltarei a suplicar–lhe que venha para mim,
simplesmente, quando se tiver cansado de brincar, deixe–me sabe–lo e lhe darei
um lugar. Não durará aí muito tempo.
Bella sentiu o sangue ferver de raiva,
preferia morrer congelada que ir engatinhando até sua cama e permitir que
zombasse dela. À medida que a noite avançava, a colcha foi gelando lentamente
com a umidade que se filtrava através da janela, começou a sentir frio e se
enrolou no edredom molhado em busca de calor, apertou os dentes para evitar que
tocassem castanholas e esticou os músculos de todo o corpo para deter o tremor;
sentiu falta do beliche, mas seu orgulho recordou–lhe de novo a crueldade do
marido e não lhe permitiu ir em busca do bem–estar do leito. A camisola não
proporcionava proteção alguma contra aquele frio úmido e, pouco a pouco, foi se
pegando ao corpo. Finalmente, adormeceu ao amanhecer, exausta.
Despertou de repente ao ouvir a porta
bater e, muito cansada, observou que o beliche estava vazio e que seu marido se
fora, tentou levantar–se, mas o camarote balançou e a sacudiu violentamente. Já
não sentia frio, e sim um calor seco que a abrasava, tentou tirar de cima de si
o edredom úmido, mas estava preso sob o corpo, e os braços começaram a tremer
com o esforço, mudou de tática, deslizou os pés até o chão e se sentou na
beirada enquanto o navio balançava até alcançar finalmente um ritmo suave.
Nesse momento, pensou que poderia conseguir, tentou ficar em pé e desfazer–se
do edredom, mas ele estava preso nela como se estivesse vivo, ficou de joelhos
e caiu no chão sob o peso da manta. Exausta depois da luta, permaneceu esticada
imóvel até que voltou a recuperar–se, o frio penetrava através do chão e pelo
edredom, começou a tiritar violentamente.
Levantou a cabeça, divisou a lareira e
imaginou seu calor, havia uma cadeira junto a ela, se pudesse levantar–se,
aquele lastro gelado a deixaria em paz de uma vez, chegou até a cadeira,
agarrou–se a suas pernas e se arrastou até conseguir apoiar a cabeça sobre ela,
permaneceu ali ofegando, extenuada. O camarote dava voltas a seu redor,
subitamente, teve a sensação de estar caindo por um túnel comprido e escuro. Só
conseguia distinguir um diminuto ponto de luz que acabou por desaparecer.
Edward retornou ao camarote com seu humor
um pouco melhorado, a sorte continuava a seu lado e o risco tinha sido recompensado.
A tormenta os tinha empurrado para o sul, mas tinham ganhado vários dias. O mau
tempo tinha descarregado sua fúria contra o navio, tinha passado ao longo e
tinha lhes deixado baixas temperaturas, águas agitadas e ventos que sopravam
enfurecidos contra as velas, dando–lhes velocidade. Apesar de sua boa fortuna,
pensou na noite anterior e voltou a ficar de mau humor, sorriu maliciosamente
para si mesmo, não permitiria que aquela pequena teimosa desafogasse sua ira
contra ele, ainda tinha que aprender uma lição se desejava ser a esposa de um
Cullen.
Ordenou a George que a procurasse com
comida e se aproximou da porta do camarote decidido a repreender Bella, abriu a
porta violentamente, com expressão de fúria, de repente, se deteve e a ira se
desvaneceu ao ver Bella sentada no chão, com a cabeça e uma mão apoiadas sem
força sobre a cadeira, o cobertor enrolado em redor de seus quadris e a outra
mão no solo, com a palma voltada para cima.
Ao ouvir Edward pronunciar seu nome, abriu
os olhos e o viu aproximar–se, levantou a cabeça e tentou falar, mas seus
tremores fizeram com que seu discurso fosse ininteligível. Edward afastou o
pesado edredom de seu corpo e a agarrou nos braços, sua cabeça desabou antes de
apoiar–se sobre o ombro do marido, o ouviu seu marido chamar George e notou que
a colocava sobre o beliche e a cobria com mantas.
O criado chegou correndo e Edward lhe
gritou algumas ordens, mas a confusa mente da moça só ouviu um barulho de
palavras. Edward voltou a inclinar–se sobre ela, desta vez para afastar os
cobertores, ainda tiritando, Bella choramingou e lutou para conserva–los sobre
o corpo, pensando que Edward ia castiga–la como sempre o fazia.
– Deixe, Bella – disse bruscamente. – Sua
camisola está molhada. Vai sentir–se melhor sem ela.
A jovem relaxou as mãos e não opôs
resistência enquanto desabotoava a camisola e a tirava pelos pés. Uma vez mais
a cobriu com os lençóis.
Bella notou uma mão em sua testa, e a
frieza a reconfortou. Abriu lentamente os olhos pensando que veria Edward, mas
não era ele quem estava ali, de pé, tocando–lhe a testa, e sim seu pai.
– Isabella
Marie – disse pacientemente. – Tome o
caldo como uma boa garota ou papai se zangará.
– Mas
não gosto dele, papai.
– Como
acha que vai se transformar em uma bela dama se não comer, Isabella Marie? Está
muito magra para ter seis anos.
A visão se fez imprecisa e, um instante
depois, voltou a entender as coisas.
– Tem
de ir embora outra vez?
Seu pai sorriu.
– Estará
bem com os criados. É seu décimo aniversário. Que criança, nessa idade, receia
ficar sozinha?
Bella observou como seu pai se afastava,
seus lábios começaram a tiritar e seus olhos se encheram de lágrimas.
– Eu,
papai. Eu tenho medo. Volta, papai. Por favor. – Não leve o retrato da mamãe. É
tudo o que tenho dela.
– Com
isto as notas promissórias pagarão as dívidas. E com o retrato de seu pai,
também. Tenho que levar isso tudo.
– Viemos
por sua causa, Bella. Irá viver com sua tia e comigo.
– Você
ainda é menina. Com esse aspecto tão frágil que tem não acredito que possa
fazer as tarefas da casa, meus vestidos ficarão bem em você, não trará nenhum
bastardo para minha casa, não vou a perder de vista. É UMA BRUXA, ISABELLA SWAN.
– Não.
Não sou uma bruxa!
– Este
é meu irmão James. Veio te buscar para levar até Londres.
– Que
doce é, minha menina. Apresento a meu assistente, Dimitri. Não é o tipo de
homem que é atraente para as mulheres.
– Por
favor, se afaste de mim. Não me toque!
– Vou
te possuir, querida, assim não há razão para que resista.
– Caiu
sobre a faca. Foi um acidente. Tentou me violentar. Alguém me persegue. Ele não
sabe que matei um homem. Acredita que sou uma prostituta.
– Acha
que vou deixar que escape de mim?
– Foi
o ianque quem me tomou. O filho que levo é dele. Ninguém mais pôs uma mão em
cima de mim. Pensa me converter em sua amante para ter seu filho enquanto se
casa com outra mulher em sua terra. É tão presunçoso. Tomará que seja uma
menina. Não queria gritar. Assustou–me. Por favor, não me faça mal. Deixou o
seu chapéu, George. Voltará logo?
– O
capitão é um bom homem.
– Oh,
Edward, o que estava fazendo ali em cima? Trata–me como se fosse uma menina. Dá–me
tapinhas no ventre e depois me fala de sua noiva.
O calor era insuportável. Lutou tentando
escapar dele. Algo frio e úmido desligou por seu corpo uma e outra vez,
lentamente. Fortes, embora suaves, mãos viraram–na e suas costas ficaram
expostas às refrescantes carícias.
– Beba isso – ordenou uma voz. – Beba.
Bella voltou a ver seu pai, que lhe levava
uma taça aos lábios enquanto segurava suas costas, obediente como sempre a seus
desejos, bebeu o caldo.
Tia Victória apareceu frente a ela, com o
corpo de seu irmão morto e a faca atravessada no peito, gritou diante da visão,
tentou explicar que tinha sido um acidente, que não tinha tentado mata–lo, que
tinha caído sobre a faca. Dimitri se aproximou juntamente com sua tia e sacudiu
a cabeça, apontando–a com gesto acusador. Os espasmos de frio voltaram e seu
pai segurou sua longa cabeleira.
– Beba. Beba.
– Está melhor, capitão? – perguntou o
criado. Não parava de tremer e estava muito fria. Colocaram–lhe algo quente a
seu redor e, uma vez mais, os pesados cobertores a prenderam.
– Papai?
Não me deixe, papai. Jacob, não posso me casar contigo. Por favor, não me
pergunte as razões. Há tanto sangue... Só era uma pequena ferida.
James riu e a olhou com lascívia, estava
bêbado, o senhor Dimitri se achava a seu lado e ambos foram atrás dela, suas
garras tentaram apanha–la. Bella retrocedeu e fugiu deles caindo nos braços do
ianque.
–
Salve–me, por favor! Não deixe que me levem com eles! Sou sua esposa!
–
Você não é minha esposa.
Bella se retorceu, afogada por um mormaço,
e as convulsões começaram de novo, viu Edward acima dela e sentiu que lhe
acariciava o corpo com um pano frio e úmido.
–
Não deixe que meu filho morra, Edward!
Sua enorme mão deslizou por seu ventre e
seus olhos a olharam.
– Está vivo, meu amor.
Tia Victória está atrás dele.
–
Ouviu isso, mocinha? Seu bastardo ainda vive.
Os rostos de James, Dimitri, tia Victória
e tio Laurent avançavam contra ela, todos desfilando com risos com a boca muito
aberta.
–
ASSASSINA! ASSASSINA! ASSASSINA!
Bella tapou os ouvidos e se retorceu
grosseiramente.
–
NÃO O SOU! NÃO O SOU! NÃO O SOU!
– Beba
isto. Deve o fazer.
– Não
me deixe, papai.
Os campos estavam verdes e ela ria e
brincava de correr fugindo da pessoa que a perseguia, agarrou–a e com braços
firmes levantou–a do chão. Lançou os braços no pescoço, rindo alegremente,
enquanto o rosto do homem se inclinava para beija–la, de repente, Bella soltou
um grito dilacerador ao reconhecer Dimitri, separou–se dele e, ao voltar–se,
viu que a silhueta de um homem desaparecia no topo de uma colina.
–
Não me deixe! Não me deixe aqui com ele! Não me deixe!
Estava caindo na escuridão, na pacífica e
tranquila escuridão. Flutuava, deslizava, balançava–se. Uma neblina a envolveu
até faze–la desaparecer...
Pobre Bella :-(
ResponderExcluirE agora?
Bem não percam o prossimo capitulo pois eu também nao
E agora? pelo jeito ela estava delirando durante a febre, Edward já sabe q ela matou o canalha, como ele vai se comportar depois disso? espero que ele melhore o comportamento dele, amando a fic. bjs.
ResponderExcluireu também espero que ele tenha outros sentimentos com ela após esta doença.
ResponderExcluirIremos ler sob a visão de Edward o que aconteceu durante a doença?:
Por favor não demore a posta os outros capítulos amando esta fic
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