Capítulo 16 – Natal
Na manhã seguinte o sol brilhava quando Hatti bateu brandamente na
porta de sua ama e fez entrar uma jovem chamada Mary, a quem apresentou como a
sua neta. A garota ia ocupar um posto de honra como a criada pessoal de Bella.
– Esteve aprendendo o melhor, senhorita Bella – explicou orgulhosa
e transbordante de alegria –, para que possa cuidar bem da nova senhora Cullen.
Bella sorriu para a menina magra e agradeceu à anciã:
– Estou certa de que se diz que é a melhor, Hatti, é porque o é.
Muito obrigada.
A mulher esboçou um sorriso.
– De nada, senhorita Bella – respondeu. – O Senhorzinho Ed diz que
permanecerá em Charleston vários dias. Tem que se ocupar do seu navio.
Bella inclinou a cabeça pensando no que tinha ouvido por acaso na
noite passada. Não duvidava que Tânia tivesse dado a Edward boas vindas
afetuosas, e ao voltar para sua casa, tinha tirado dela, de sua mulher, o seu
lugar legítimo, como se fosse um casaco. Agora poderia ir quando quisesse sem
ter que despedir–se.
Suspirou e passou a manteiga em uma torrada, pelo menos tinha sido
bem recebida nessa casa e se sentiria feliz entre sua gente atenta e agradável.
Enquanto tomava o café da manhã prepararam o banho no dormitório
do amo. Estava tomando o café quando chegou Mary com um pente e uma escova para
lhe prender o cabelo em um grande coque. Ao cabo de alguns instantes já estava
desfrutando de um banho fumegante.
Hatti chegou ao quarto de Bella uma vez que esta estava lavada e
limpa, foi inspecionar o trabalho de sua neta Mary. Ao ver o excelente
penteado, assentiu.
– Fez isso muito bem, menina – felicitou–a apesar de agarrar o
pente para retocar um cacho –, mas como se trata da senhorita Bella tem de
estar perfeito – acrescentou em um tom de leve advertência.
A rotina diária começou com o convite de Hatti para fiscalizar o
cardápio do dia. Bella seguiu à criada escada abaixo até a cozinha, um recinto
anexo a casa, para conhecer tia Ruth, ela era a rainha desse lugar e a
encarregada da preparação da comida em Harthaven. Era espaçoso e estava muito
limpo, no centro havia uma grande mesa de pedra flanqueada por duas chaminés
enormes. O esmero da cozinha e da rotina do trabalho mantida por Hatti e tia
Ruth assombraram a Isabella. Ambas as mulheres eram peritas em seus respectivos
afazeres.
Hatti a conduziu de novo até a casa entre explicações e detalhes.
Cada vez que passavam junto a um arbusto, uma árvore ou uma construção fazia um
comentário. Ao entrar, a anciã começou a ir de um lado a outro inspecionando
meticulosamente a limpeza que o pessoal da casa tinha dispensado a cada um dos
aposentos. Bella tentou manter–se a seu lado em todo momento, pouco depois se
detiveram no salão e a moça se sentou em uma cadeira soltando uma gargalhada.
– Oh, Hatti, tenho que descansar – suplicou. – Receio que não
esteja preparada para tanta atividade depois de uma viagem tão longa.
Hatti fez um sinal a Mary para que fosse procurar uma jarra de
limonada fria. Serviu um pouco do refresco a sua ama, que aceitou encantada e
que insistiu em que elas o também tomassem.
– E Hatti, por favor, sente–se – convidou. Agradeceu em voz baixa
e aceitou o copo que lhe deu Mary e se sentou com cuidado em uma cadeira. Bella
apoiou a cabeça sobre uma mão, fechou os olhos e suspirou.
– Hatti, quando conheci Edward não imaginei que graças a ele
viveria em uma casa como esta – assegurou endireitando–se e esboçando um doce
sorriso. – E inclusive quando nos casamos a única coisa que sabia é que era o
capitão de um navio e pensei que passaria o resto de minha vida nos quartos
sujos dos portos. Nunca pensei em algo como isto.
A anciã pôs–se a rir.
– Sim, esse é o Senhorzinho Ed, sempre tirando o sarro às pessoas
que mais ama – respondeu.
Depois do almoço Bella decidiu explorar a casa por sua conta,
retornou ao salão de baile intrigada por sua beleza. Ao abrir as portas
envidraçadas que davam ao jardim, a brisa invernal fez tilintar os lustres com
um som suave e agradável. Permaneceu um longo momento escutando, pensativa,
exalou um suspiro, fechou as portas e abandonou a sala. Dirigiu–se ao
escritório de Edward em busca de sua presença, e a encontrou em sua poltrona em
frente da escrivaninha de madeira de nogueira, provou a poltrona e achou–a dura
e desconfortável como se estivesse importunada diante daquela presença
feminina. Levantou–se e caminhou pelo aposento sabendo que, apesar de sua
desordem, era nesse lugar onde os homens da família Cullen faziam sua fortuna.
O aposento estava limpo embora as cadeiras enormes parecessem permanecer na
mesma posição em que tinham sido abandonadas da última vez que as usaram. As
estantes estavam abarrotadas de livros sem uma ordem aparente. Um móvel alto
guardava uma ampla seleção de pistolas cujo brilho indicava seu uso frequente e
sobre a lareira um veado a observava em silêncio. O único toque feminino que
havia no escritório era o retrato radiante de Catherine Birmingham pendurado em
um lugar onde pudesse receber a luz do sol.
A voz de um menino que gritava na porta principal a tirou de seu
sonho.
– O viajante está aqui! O viajante está aqui! Quer falar com a
senhora da casa.
Bella permaneceu indecisa por um instante sem saber se devia ir
saudar o mascate, mas ao ver Hatti que se dirigia para a parte frontal da casa
decidiu segui–la até o alpendre. O viajante saudou a anciã com confiança e esta
lhe respondeu de igual forma antes de apresentar a sua ama.
– Senhor Bate, esta é a nova senhora do Harthaven, a esposa do
Senhorzinho Ed.
O homem tirou o chapéu e se inclinou cortês.
– Ah, senhora Cullen, é uma honra conhecê–la. Tinha ouvido muitos
rumores a respeito de uma nova esposa na família, e se me permite dizer–lhe
senhora, confirma–os maravilhosamente.
A jovem lhe agradeceu educadamente o comentário com um sorriso.
– Com sua permissão senhora Cullen, eu gostaria de mostrar meus
artigos – manifestou o homem. – Disponho de quantidade de objetos de uso
cotidiano para a casa e possivelmente encontre algum que seja de seu agrado. –
Ao perceber que a moça assentia, levantou depressa a lona que cobria o carro e
baixou uma prateleira. – Antes de tudo, senhora, eu gostaria de lhe mostrar os
utensílios de cozinha. E, é obvio, disponho de uma grande variedade – assegurou
abrindo uma caixa repleta dos produtos mencionados e fez uma demonstração da
resistência de suas chaleiras, frigideiras e demais equipamentos.
Bella não mostrou nenhum interesse, mas Hatti os examinou com
atenção. Depois o homem mostrou perfumes supostamente do Oriente e sabões
aromáticos, Hatti escolheu uns quantos com coquetria e perguntou a sua senhora
se desejava algo de tudo aquilo. A moça declinou o oferecimento com o objetivo
de ocultar sua falta de dinheiro, o senhor Bate desdobrou seus tecidos e,
diante do olhar de Bella, Hatti escolheu um muito fino para usar aos domingos.
Quando o vendedor tirou um veludo de cor verde escuro o interesse da jovem
aumentou e pensou em como Edward ficaria atraente com ele. Ficou olhando–o um
longo momento desejando comprá–lo até que lhe veio uma ideia à cabeça. Rogou
que a desculpassem e saiu correndo para a casa. Subiu as escadas até sua
habitação e procurou entre sua roupa até encontrar o traje que queria tocar. Ao
agarrá–lo recordou a história do vestido bege, tinha–o usado no dia em que
tinha conhecido a seu marido. Eram muitas as lembranças que lhe evocava e
estava segura de que não sentiria nenhuma pena por desfazer–se dele. Afastou os
penosos pensamentos de sua mente e desceu correndo pelas escadas para o
alpendre.
– Está disposto a fazer uma troca, senhor Bate? – perguntou a
jovem ao vendedor.
O homem assentiu.
– Se a peça valer a pena, senhora, é obvio – respondeu.
Bella estendeu o vestido diante dele. O vendedor arregalou os
olhos.
A moça apontou o veludo verde e pediu que mostrasse linhas, cintas
e cetim do mesmo tom para o forro. Quando o homem subiu ao carro em busca do
material, Hatti se aproximou silenciosamente dela e suplicou–lhe em voz baixa:
– Senhorita Bella, não troque esse vestido tão bonito. O amo
sempre deixa dinheiro na casa para estas coisas. Eu mostrarei onde.
– Obrigada, Hatti – disse Bella com um sorriso –, mas é uma
surpresa e prefiro não gastar seu dinheiro a menos que ele me ofereça.
A anciã se afastou com um gesto de desaprovação, mas não fez mais
objeções. A jovem se voltou para o homem que a esperava com os objetos
requeridos.
– O veludo verde é um gênero muito caro, senhora – assinalou com
astúcia. – Cuido como se fosse ouro, e terá percebido que é da melhor
qualidade.
Ela assentiu com amabilidade e elogiou seu traje de igual modo:
– O vestido vale muito mais que todos seus tecidos juntos, senhor.
– Deslizou a mão no interior do traje para mostrar o trabalho feito a mão do
sutiã. Este reluziu sob o sol do entardecer. – Não acredito que tenha a sorte
de encontrar um vestido como este todo dia. Está na última moda e muitas
mulheres desejariam tê–lo em seu quarto de vestir.
O vendedor voltou a elogiar suas malhas, mas Bella não era uma
pessoa fácil de convencer, e ao cabo de poucos minutos a troca estava feita
para satisfação de ambas as partes. O vendedor entregou a mercadoria em troca
do vestido, que dobrou e envolveu com supremo cuidado. Uma vez tendo o guardado
se voltou, tirou o chapéu, e muito compungido para tratar–se de um hábil
comerciante recriminou–a:
– Não há dúvida de que minha estupidez e sua hábil língua, senhora
Cullen, diminuíram meus benefícios para o resto do dia.
Bella arqueou uma sobrancelha e pôs–se a rir ante o fingido
desgosto do homem.
– Bom senhor – respondeu –, sabe muito bem qual é o valor de
semelhante peça, e me enredou para que aceite estes simples trapos em troca.
Ambos riram–se deleitados. O homem se inclinou ante ela e brincou:
– Senhora, seu encanto é tal que logo retornarei para permitir que
troque minha mercadoria por outro objeto simples.
Hatti resmungou contrariada enquanto Bella prevenia o vendedor.
– Se o fizer senhor, rogo–lhe que melhore seu engenho, pois nunca
mais serei tão flexível para permitir que meus tesouros mais apreciados
desapareçam com tanta facilidade.
O homem se despediu rindo. Bella, feliz, reuniu as coisas e se
dirigiu para a casa com Hatti queixando–se a seu lado.
– Não sei por que trocou seu bonito vestido com esse vendedor –
repreendeu–a. – O Senhorzinho Edward tem dinheiro, não é nenhum pobre
desgraçado.
– Hatti, não se atreva a lhe contar uma palavra disto quando
voltar – preveniu–a com doçura. – Vou fazer com isto seu presente de Natal e
quero que seja uma surpresa.
– Sim, senhorita – balbuciou a criada. As duas mulheres caminharam
para a casa, Hatti com passo firme e muito desgostosa.
Edward retornou de Charleston no dia seguinte perto da meia–noite.
A casa estava em silêncio, todos dormiam à exceção do Joseph, o mordomo, e
George, que lhe deu as boas–vindas junto à porta. Os três homens subiram as
malas e os baús a seu dormitório e despertaram primeiro a Emmet e depois à
Bella, está se levantou da cama ao ouvir vozes no quarto contíguo e compreender
que seu marido estava em casa. Vestiu o roupão e as sapatilhas e entrou no
dormitório. Ali se encontrou com os dois irmãos e os dois criados desfrutando
de um gole noturno. Sorriu a seu marido, sonolenta, enquanto este se aproximava
e a beijava na testa.
– Não queríamos despertá–la, querida – assegurou com doçura
deslizando um braço ao redor de sua cintura.
Ela suspirou sonolenta.
– Teria levantado se soubesse que voltaria esta noite. Terminou
seus negócios com o navio? – perguntou–lhe.
– Depois do Natal, querida – respondeu. – Agora temos de deixar o
Fleetwood em boas condições para seus possíveis compradores. Quando estiver
preparado o levarei a Nova Iorque para vendê–lo.
Bella levantou o rosto completamente acordada.
– Vai a Nova Iorque? – perguntou com delicadeza. – Permanecerá
fora muito tempo?
Edward sorriu e lhe afastou o cabelo do rosto.
– Não muito – respondeu. – Um mês aproximadamente, embora não
esteja seguro. Agora será melhor que volte a se deitar, amanhã nos levantaremos
muito cedo para ir à igreja.
Uma vez mais a beijou na testa e a observou partir para seus
aposentos. Ao voltar–se, George e Emm o olhavam fixamente. O criado afastou os
olhos, mas seu irmão sacudiu a cabeça como se lhe recriminasse algo. Edward fez
caso omisso dele, serviu–se de outra dose de conhaque e a bebeu tranquilamente.
Na manhã seguinte, Mary estava avivando o fogo no dormitório de
Bella quando esta acordou, levantou–se tiritando de frio e se aproximou da
chaminé para esquentar–se. O vento açoitava as árvores perto de sua janela
nesta fria manhã de dezembro.
Vestiu–se com esmero para ir à igreja, colocando o traje de seda
cor azul safira. Era o que Edward tinha escolhido especialmente, quando se
contemplou em frente do espelho, Mary conteve a respiração.
– Oh, senhora Cullen, nunca vi ninguém tão linda como você.
Asseguro–lhe! – exclamou.
Bella sorriu, depois examinou seu reflexo de forma crítica.
Desejava ter um aspecto radiante para ir à igreja, pois ali estariam todos os
amigos de seu marido e queria causar uma boa impressão. Saiu do quarto mordendo
o lábio inferior, nervosa. Temia que seu aspecto não os agradasse, completavam
seu traje um casaco do mesmo tom azul, e um regalo e um chapéu de raposa
prateada. Enquanto descia as escadas rapidamente, observou que o chapéu não era
adequado, mas não tinha tempo de ir trocá–lo.
Os homens estavam esperando no salão com um aspecto imponente,
enfeitados com seus melhores ornamentos, interromperam a conversa ao vê–la
entrar. Observaram–na tão deleitados por sua deliciosa beleza que ela se
ruborizou, ao percebê–lo, os dois irmãos avançaram juntos, chocando–se
bruscamente. Puseram–se a rir e Emm se pôs de lado para permitir que seu irmão
avançasse.
– Estou vestida adequadamente? – perguntou a Edward com a
esperança de que ele gostasse de vê–la bem ante seus amigos.
Ele sorriu e ajudou–a a vestir o casaco.
– Meu amor, não tem por que preocupar–se – tranquilizou–a. –
Asseguro que vai ser a jovem mais bela que honra nossa igreja nesta manhã. – apoiou–se
em seus ombros e lhe sussurrou ao ouvido: – Deixará fascinados a todos os
homens e as mulheres não pararão de falar de você.
Bella esboçou um sorriso de satisfação, preparada para enfrentar
os amigos de Edward.
Quando a carruagem se deteve bruscamente frente à igreja, as
pessoas que ainda permaneciam lá fora se voltaram para ver os Cullen descerem.
Emm foi o primeiro a sair, depois Edward e quando este se virou para ajudar a
esposa, todos os pressente fixaram seus olhos na porta cheios de curiosidade.
Ouviu–se um murmúrio entre a multidão quando finalmente apareceu Bella; as
jovens que ainda eram solteiras e suas mães proferiram comentários
depreciativos, entretanto os homens a adularam com seu silêncio.
Emm comentou divertido com seu irmão:
– Acredito que nossa encantadora dama atraiu a atenção de todo
mundo.
Edward deu uma olhada ao redor e ao fazê–lo as pessoas se viraram
rapidamente por ter sido surpreendidas com a boca aberta. Estendeu a mão para
Bella a fim de ajudá–la a descer. No caminho da igreja foi saudando todas as
pessoas com quem cruzava, cumprimentando e levando uma mão ao chapéu.
No interior do templo, uma mulher corpulenta olhou aos recém–chegados
de forma muito grosseira enquanto sua filha os esquadrinhava por cima do ombro.
Bella era o centro da atenção, as duas mulheres a olharam de cima abaixo com
curiosidade e receio. A mãe tinha os quadris largos e os ombros estreitos, e se
não fosse por usar um vestido feminino e cabelo comprido, ninguém diria que era
uma mulher.
A filha era mais alta e proporcionada, mas tinha um rosto ossudo e
dentes proeminentes que a enfeavam. Sua pele era pálida, salpicada de sardas, e
o cabelo castanho claro estava recolhido sob um chapéu ridículo. Seus olhos
azuis cinzentos estavam emoldurados por óculos de metal através dos quais
contemplava a jovem Cullen, ambas as mulheres desviaram a atenção para o ventre
volumoso e nos olhos da jovem apareceu um brilho de inveja. Edward tirou o
chapéu e saudou primeiro à mãe e depois à filha desta.
– Senhora Scott. Senhorita Sybil. É um dia bastante frio, não
acham? – perguntou.
A mãe esboçou um gélido sorriso enquanto a filha ruborizava, ria
bobamente e gaguejava:
– Sim. Sim, é mesmo.
Edward prosseguiu caminhando, escoltando Bella pelo corredor para
o banco da família nas primeiras filas, as pessoas que já estavam sentadas se
se viraram para saudá–los com um sorriso. Edward se afastou para deixar passar
primeiro Emm e depois Bella, e os três tomaram seus assentos. Os dois homens altos
e corpulentos flanqueavam o corpo delicado da jovem, quando Edward a ajudou com
o casaco, Emm se inclinou e lhe sussurrou algo ao ouvido.
– Acaba de ter o prazer de ver a senhora Scott, o búfalo, e a sua
tímida vitela, Sybil. – Sorriu. – A garota foi muito amável com seu marido
durante muito tempo, e a mãe, ao ver as vantagens de contar com um genro rico,
fez todo o possível para que se casassem. Que Edward nunca fizesse caso de sua
filha sempre foi motivo de preocupação para ela, garanto que estão lhe furando
as costas com seu olhar neste momento, há muitas outras donzelas fazendo o
mesmo. Será melhor que afie suas garras para enfrentar às rejeitadas por seu
marido quando finalizar a missa. Não é um grupo alegre, digamos assim, e além
disso é bastante numeroso.
Bella agradeceu–lhe o conselho e se voltou para Edward, que se
inclinou para ela.
– Não me havia dito que tinha mais de uma prometida – sussurrou–lhe
exasperada com a ideia de que Edward tivesse estado com outras mulheres além da
Tânia. – De quais destas jovens tenho que me manter afastada? É Sybil capaz de
guardar as aparências? Parece uma menina muito forte. Eu não gostaria nada que
ela, ou possivelmente outra jovem dama, me atacasse.
Com os olhos entreabertos Edward olhou seu irmão, que encolheu os
ombros.
– Asseguro querida – respondeu em voz baixa Edward, muito irritado
–, que nunca compartilhei o leito com nenhuma destas damas, não são de meu
agrado. E quanto a Sybil, me permita que diga que não é a mais indicada para
chamar–se de menina, pois leva dez anos mais que você.
Vários bancos mais atrás, Sybil e sua mãe observavam ao casal
Birmingham não muito felizes ao ver que a jovem esposa sorria a seu marido e
retirava do casaco imaculado uma penugem, alisando–o com familiaridade, a
julgar pelas aparências eram um casal que se dava muito bem.
Depois que terminou o ofício, os Cullen se dirigiram à entrada
para saudar o pastor e apresentar Bella, desceram pelas escadas e um grupo de
casais jovens, amigos de Emm o chamaram e este, desculpando–se à sua cunhada,
afastou–se para reunir–se com eles. Pouco depois vários homens se aproximaram
de Edward.
– É um perito em cavalos, Edward – disse–lhe um dos homens com um
sorriso. – Que tal se viesse e resolvesse uma disputa?
Os dois homens o puxaram pelo braço e o arrastaram. Edward, sem
nenhuma outra opção, afastou–se rindo por cima do ombro.
– Estarei com você em um momento, querida – desculpou–se. Levaram–no
a um dos lados da igreja, fora da vista do pastor. Bella viu como um dos homens
tirava do fraque um pequeno frasco marrom, a moça sorriu a ver que o passavam a
Edward e lhe davam uma palmada nas costas. Estava convencida de que não existia
nenhum problema importante para que seu marido devesse resolver.
Permaneceu indecisa vendo como se formavam grupos de mulheres
perto do cemitério com a sensação de estar um pouco perdida sem uma cara
familiar à vista, então se interessou por uma anciã muito elegante que
procurava um lugar protegido ao lado da igreja. A senhora levava uma sombrinha
longa que fazia mais as funções de bengala que de guarda–sol. O lacaio lhe
trouxe da carruagem uma cadeira para que se sentasse, divisou Bella e lhe
indicou com gesto imperativo que se reunisse com ela. Ao chegar a seu lado a
anciã deu umas batidinhas com a ponta de sua sombrinha no chão, bem diante
dela.
– Sente–se aqui, filha, e deixe que eu dê uma olhada em você –
ordenou–lhe.
Bella obedeceu à nervosa. A anciã a submeteu a um longo
escrutínio.
– Bem, é muito bonita. Quase me sinto ciumenta – brincou, e se pôs
a rir. – Asseguro que acaba de dar tema às fofocas para várias semanas. Se por
acaso ainda não sabe, sou Abegail Clark. E como se chama querida?
O criado da anciã trouxe uma manta e a colocou sobre os joelhos.
– Isabella, madame Clark. Isabella Cullen – respondeu.
A anciã inspirou profundamente.
– Uma vez fui uma madame, mas desde que meu marido faleceu prefiro
que me chamem simplesmente Abegail – continuou, sem deixar que a jovem
respondesse. – Suponho que sabe que acabou com a esperança de todas as jovens
disponíveis da cidade. Edward era o homem mais perseguido de Charleston, mas me
agrada comprovar que fez uma magnífica escolha, deixou–me preocupada durante
muito tempo.
Um grupo considerável de mulheres se reuniu em torno delas para
escutar a conversa. Emm abriu espaço entre elas e se colocou ao lado de Bella,
estreitando sua cintura, sorriu à senhora que, ignorando–o, prosseguiu com seu
bate–papo.
– E o mais provável é que agora Emm herde os cuidados de todas
essas parvas – observou, e novamente pôs–se a rir ante sua própria acuidade.
– Tome cuidado com esta viúva respeitável, Bells – advertiu Emm,
brincando. – Tem a língua tão afiada como uma navalha e o temperamento de um
velho jacaré. De fato, acredito que é famosa por ter arrancado algumas pernas.
– Jovem cavalheiro, se tivesse vinte anos menos estaria de joelhos
em meu alpendre me suplicando uma palavra amável – replicou a senhora Clark.
Emm se pôs a rir.
– Abegail, meu amor, suplico–te uma palavra amável – brincou.
A anciã rejeitou suas adulações com um gesto.
– Não necessito de nenhum meninote falador para me lisonjear.
O jovem sorriu.
– Está claro, Abegail, que o radiante sol não temperou seu amor
por mim, nem amorteceu sua habilidade.
– Ora! – riu a anciã com satisfação. – É esta jovem formosa e
reluzente que está junto de você que me alegrou o dia – afirmou. – Seu irmão
fez muito bem, e, além disso, esteve ocupado. – Olhou Bella. – Quando nascerá o
menino de Edward, querida? – perguntou.
– No fim de março, senhora Clark – respondeu brandamente Bella,
consciente de que todas as mulheres tinham concentrado sua atenção nela.
– Ora! – soprou a senhora Scott, que acabava de reunir–se ao
grupo. – Está claro que não perdeu muito tempo – acrescentou com desprezo. –
Seu marido é famoso por sua preferência pelas camas jovens, mas você tem pouca
idade para estar grávida.
Ao ouvi–la, a senhora Clark golpeou o chão com seu guarda–chuva.
– Cuidado, Maranda – acautelou. – Está mostrando seu rancor. Que
não o tenha podido apanhar para sua Sybil, não lhe dá direito a abusar desta
jovem inocente.
– Claro, era só questão de tempo o que alguém o apanhasse –
espetou a senhora Scott com um sorriso desdenhoso, e olhou com ar de
superioridade às demais mulheres. – Do modo como frequentava a outras é
assombroso que não o apanhassem antes.
Bella sentiu que corava, mas Emm respondeu com rapidez.
– Tudo isso era antes de conhecer sua esposa, senhora Scott.
A mulher, com um brilho ardiloso em seus olhos, dirigiu–se a Bella
e lançou em voz alta e clara uma pergunta carregada de intenção:
– Quando se casaram, querida?
De repente, a sombrinha da senhora Clark levantou a grama.
– Não é assunto seu Maranda – interrompeu com irritação. – E, além
disso, detesto esta perseguição.
A senhora Scott fez caso omisso da anciã e continuou interrogando–a
em tom afetado.
– E não obstante conseguiu persuadi–lo para que se metesse na sua
cama, não é, querida? Suponho que utilizou alguma artimanha para consegui–lo.
Por aqui nunca se mostrou vacilação alguma nesses misteres.
– Maranda, perdeste o juízo? – disse Abegail murmurando e
esgrimindo a sombrinha como se fosse uma espada. – Onde estão suas maneiras?
Edward tinha chegado a tempo de escutar as últimas trocas de
palavras. Caminhou furioso para o grupo de mulheres e dirigiu um olhar glacial
à senhora Scott, que deu um passo atrás.
– Tenho grandes reservas para com algumas jovens, senhora, como você
bem sabe – disse Edward com frieza.
A senhora Scott se ergueu enquanto os restos das senhoras riam
bobamente. Edward se voltou dando por terminada a conversação, e agarrou o
braço de sua esposa sorrindo para a anciã.
– Bem, Abegail, como sempre, em meio às refregas – brincou.
A anciã pôs–se a rir.
– Inquietou a cidade ao trazer como esposa a uma estrangeira,
Edward. Entretanto, fez com que restabelecesse minha fé em seu bom senso. Nunca
suportei sua outra escolha. – Olhou para Bella. – Mas esta... Acredito que sua
mãe estaria orgulhosa de você.
Edward sorriu e respondeu delicadamente:
– Obrigado, Abegail. Temi que ficasse ciumenta.
– Sentará para conversar com uma velha? – perguntou com um sorriso
um tanto malicioso. – Eu gostaria de ouvir como capturou a esta criatura tão
encantadora.
– Talvez outro dia, Abegail – respondeu ele. – O caminho de volta
a casa é longo e devemos partir em seguida.
A anciã concordou sorrindo e deu uma olhada à senhora Scott.
– Entendo–o, Edward. Foi um dia um tanto rude.
– Faz muito tempo que não honra Harthaven com sua presença,
Abegail – comentou Emm.
– Como? E arruinar minha reputação? – brincou a anciã. – Mas
acredito que me sentirei melhor agora que os dois têm uma mulher perto para
controlá–los.
Emm se inclinou e depositou um beijo sobre sua mão.
– Venha nos visitar logo – convidou–a. – Desde que Edward a trouxe
para casa é um lugar bastante diferente. Até Hatti aprova a mudança.
Uma vez tendo se despedido, Edward conduziu Bella entre a
multidão, Emm seguia–os, um pouco atrás. Ao passar junto à senhora Scott, esta
fez um gesto de desdém.
– Com todas as jovens encantadoras que há aqui teve que ir a
Inglaterra procurar uma esposa Tory.
Emm lhe sorriu tocando o chapéu.
– A irlandesa Tory mais endemoniadamente formosa que já vi –
replicou ultrapassando–a.
Ao aproximar–se da carruagem, Bella percebeu que Sibyl procurou
amparo sentada na carruagem da família, observando–os com tristeza, parecia tão
abatida que não pôde evitar compadecer–se dela e inclusive de sua mãe, que
permanecia atrás deles olhando–os com ira, sabendo–se perdedora da inútil
batalha que tinha travado. Tinha conseguido muito pouco, e sofrido uma cruel
humilhação. Embora tivesse tentando de vingar–se dela informando–a do passado
de seu marido, tinha perdido seu tempo, porque Bella sabia muito mais a
respeito dele do que a mulher imaginava. Desde a primeira vez que o conheceu
soube que não era nenhum santo, de maneira que as palavras da senhora tinham
tido muito pouco efeito.
Edward a ajudou a subir à carruagem diante do atento olhar das
Scott, Bella se sentou no assento traseiro e desdobrou uma manta sobre seus
joelhos, segurando uma extremidade no alto convidando Edward para ocupar o lugar
junto a ela. Sentou–se e escrutinou seu rosto para comprovar seu estado de
ânimo, Bella respondeu com um terno sorriso e se apertou a ele em busca de
calor, o homem ficou pensativo durante um momento com os olhos fixos nas mãos
enluvadas de sua esposa sobre seu braço e depois, desviou a atenção a um ponto
na distância através da janela.
O frio vento do norte produzia um som triste ao soprar entre as
copas dos altos pinheiros da Carolina, e gelava aos ocupantes da carruagem
Bella se encostou–se a seu marido sob a manta, mas Emm, sozinho em frente a
eles, fazia o que podia para combater o frio. Observou divertida como lutava
para pôr sua manta debaixo do assento gelado e sobre suas longas pernas e seus
pés. Apertava–se contra o canto embrulhado em seu capote, e cada vez que a
carruagem passava sobre um buraco, perdia a segurança e tinha que voltar a
acomodar–se. Bella decidiu lhe fazer um vão junto a eles e se apertou a seu
marido ainda mais.
– Dizem que três é multidão, Emm – observou com um sorriso. – Se
importaria de sentar–se a meu lado e fazer que seja uma multidão aquecida?
O jovem obedeceu sem demora e estendeu sua manta sobre os joelhos
dos três. Bella se acomodou entre os dois homens, abraçada a seu marido.
Emm lhe sorriu divertido.
– Que vergonha, senhora! – exclamou fingindo–se ofendido –, pois
não é minha comodidade o que a preocupa, e sim a sua.
Bella levantou os olhos, rindo, Edward esboçou um sorriso.
– Cuidado, Emmet – acautelou seu irmão. – Esta pequena Tory pode fazer
com que desapareça o calor de seu corpo. – Olhou–a avaliando–a. – Sendo meio
irlandesa, meio Tory e estando casada com um ianque, não imagino em que lado
teria lutado.
Emm se uniu a ele em tom de brincadeira.
– Acredito que é seu acento inglês que levanta tanta curiosidade
entre as pessoas. Com sua forma de falar dentro de pouco teremos todo o país
contra a nós. Nosso pobre pai se revolveria em sua tumba se soubesse que
albergamos a uma Tory em nossa casa. – Sorriu e prosseguiu falando tolamente. –
Minha querida Tory, só tem que aprender a falar com acento sulino.
Bella agradeceu seu comentário com a cabeça e imitou o melhor
acento sulino que pôde.
– Certamente, Senhorzinho Emm.
Os dois irmãos puseram–se a rir e ela os olhou confusa ante sua
reação. Então compreendeu que tinha imitado o acento dos criados, muito
distinto do das mulheres com as que tinha estado essa manhã, e se uniu a eles,
rindo–se de si mesma.
Os criados tinham recebido os presentes na noite anterior,
compartilhando o espírito natalino, e tinham desfrutado da generosidade de seu
amo comendo e bebendo para celebrar a feliz festa seguindo suas próprias
tradições. Bella tinha guardado seu presente até esta manhã para dá–lo em
particular, despertou cedo esperando que seu marido se levantasse.
Agora podia ouvir como caminhava pelo quarto, lavava–se e abria as
portas de seu armário, levantou–se e agarrou o presente envolto alegremente, e
abriu a porta que separava os dois quartos. Edward não percebeu que sua esposa
tinha entrado; estava ocupado procurando uma camisa em seu armário, vestido só
com as calças e as meias. A jovem deixou o presente sobre a cama e se sentou
silenciosamente em uma cadeira junto à lareira, Edward encontrou a camisa,
vestiu–o e ao voltar–se, descobriu que a porta estava aberta. Reparou então na
presença de Bella, sentada na cadeira com um sorriso malicioso iluminando seu
rosto.
– Bom dia – Edward saudou–a. – Feliz Natal.
Sua atitude de duende travesso fez o marido sorrir.
– Bom dia, querido, eu também lhe desejo um Feliz Natal. Trouxe–lhe
um presente – anunciou ela, apontando a cama. – Não o vai abrir?
Ele se pôs a rir enquanto acabava de enfiar as abas da camisa nas
calças. Obedeceu e, com certa surpresa, segurou no alto o casaco que o
deleitava, admirando com especial interesse o bordado com o escudo da família
que havia no lado esquerdo.
– Você gostou? – apressou–se a perguntar Bella – Vista para que eu
o veja.
Caía–lhe com perfeição. Satisfeito, abotoou–o e examinou com atenção
o laborioso trabalho do escudo.
– É muito bonito, Bella. Não havia dito que possuía tanto talento.
– Levantou a cabeça com um brilho perverso em seus olhos verdes. – Mas agora
que sei, terá que me confeccionar todas as camisas, não sou fácil de agradar.
Até para minha mãe era uma carga muito pesada na hora de me fazer certos
trajes. – Sua voz se suavizou e seu olhar se intensificou. – Fico satisfeito
que minha esposa seja capaz de me agradar.
Bella se pôs a rir feliz e se levantou da cadeira de um salto para
admirar o casaco e seu “cabide”.
– Assenta–lhe muito bem – comentou orgulhosa, alisando–lhe as
costas –, e deixa–o muito atraente.
Edward soltou uma gargalhada e se dirigiu para seu baú, tirou uma
pequena caixa negra e a entregou.
– Receio que meu humilde presente ficará eclipsado debaixo de seu
rosto, ficando totalmente insosso – brincou.
Permaneceu ao lado de Bella enquanto está o abria. Ao levantar a
tampa da caixa, a esmeralda e os diamantes que a rodeavam brilharam intensamente.
Bella ficou olhando o broche maravilhada e incrédula e levantou seus olhos
assombrada.
– É para mim? – perguntou.
Edward pegou a caixa, tirou o broche e jogou–a sobre a cama.
– E a quem a não ser a você teria comprado semelhante presente?
Asseguro que é seu. – Deslizou as mãos sob o roupão da jovem e prendeu o broche
no veludo violeta sobre seu peito. Suas mãos tremeram ao contato com o calor da
suave pele fazendo a tarefa bastante difícil.
– Pode fechá–lo? – interrogou–o enquanto observava as mãos finas e
bronzeadas. A cintilação travessa dos olhos da jovem tinha dado lugar a um
brilho quente aceso pelo contato de seu marido, o velho tremor voltou a possuí–la.
– Sim – respondeu Edward ao conseguir finalmente fechá–lo.
Bella se apoiou contra ele, e sem desejar afastar–se, acariciou a joia.
– Obrigada – murmurou. – Nunca tive nada tão lindo.
Edward deslizou um braço por suas costas e lhe levantou o queixo,
o coração da moça começou a pulsar com força. De repente se ouviram batidas na
porta e ele se afastou contrariado. Enquanto Hatti entrava com uma bandeja de
comida, Edward puxou uma cadeira da mesa, Bella se sentou, observando como seu
marido provocava à anciã.
– Onde está a sombrinha que te dei de presente, Hatti? – inquiriu.
– Pensei que estaria esmurrando–a contra o chão para chamar a atenção de todo o
mundo. A senhora Clark deve estar muito ciumenta.
– Sim, Senhorzinho Ed – afirmou a mulher. – Deve estar. Nunca teve
uma tão bonita, e esse também é um casaco muito bonito o que está usando. –
Olhou Bella entreabrindo os olhos enquanto servia o café da manhã.
– Obrigado, Hatti – respondeu, olhando Bella com um sorriso. –
Minha mulher o fez para mim.
A criada apertou a boca e antes de sair voltou–se para lhe dar
outra olhada.
– Sim senhor, é um Casaco muito bonito. – Fez uma pausa e
prosseguiu zangada. – É uma pena que para confeccioná–lo a senhorita tivesse
que trocá–lo por sua roupa.
Edward deixou o garfo e a olhou, mas a anciã prosseguiu sua marcha
satisfeita, o homem apoiou os cotovelos sobre a mesa observando a sua mulher,
que havia se voltado para a janela em atitude pensativa, apertou as mãos e
apoiou o queixo nelas.
– Trocando roupa por presentes, Bella? – inquiriu com deliberada
lentidão. – Onde vai parar isso?
A moça encolheu os ombros com uma expressão inocente.
– Não tinha dinheiro e desejava surpreender você com um presente.
Só era um vestido velho – se desculpou.
– Não tinha nenhum vestido velho – disse.
Bella se apressou a responder com um sorriso.
– Sim o tinha.
O homem ficou parado por um momento e remexeu a memória para ver
se recordava do vestido ao qual ela se referia. À exceção do vestido de noiva,
Bella tinha vindo a ele virtualmente nua.
– E qual é esse vestido que considerava velho, meu amor? –
inquiriu com uma expressão irônica.
A jovem se reclinou em sua cadeira acariciando seu ventre.
– O que tinha vestido quando me conheceu, recorda – respondeu.
– Mmm – grunhiu ele. Levou o garfo à boca e durante um momento
mastigou irritado a parte de presunto. Depois de engoli–lo prosseguiu com um
tom de desaprovação. – Teria preferido que não o fizesse, Bella, eu não gosto
da ideia de que minha esposa troque sua roupa com um mascate. – Deu várias
mordidas em uma torta e a admoestou com severidade: – Costuma haver dinheiro no
escritório de baixo, logo mostrarei a você onde. Está aí para usá–lo quando se
necessita.
Bella bebeu um gole de chá com delicadeza e levantou a cabeça
ligeiramente ofendida.
– Senhor, deixou–me muito claro que não tinha direito a gastar seu
dinheiro – respondeu, furiosa.
Edward deixou o garfo e, agarrando a mesa, lançou–lhe um olhar
cheio de fúria.
– Trocou um traje que era meu, senhora, meu! – exclamou ele entre dentes.
– Antes que nos casássemos me tirou um pouco de dinheiro e deixou o vestido a
conta. Era o troféu de uma batalha, por dizê–lo de algum jeito, a lembrança de
uma moça formosa que tinha conhecido e o guardava com carinho.
Bella o observou confusa, as lágrimas encheram seus olhos ao
pensar em como estava aborrecido com ela.
– Sinto muito, Edward – se desculpou. – Não tinha nem ideia de que
lhe fosse tão caro. – Baixou o olhar, abatida, e inconscientemente acariciou o
broche.
Ele
a contemplou durante uns segundos, e recordando que estavam no Natal, acalmou–se
e se sentiu culpado por lhe haver arrebatado com tanta mesquinharia a alegria
de seu presente. Decidiu lhe levantar o ânimo e se apressou a ajoelhar–se junto
a sua cadeira.
– Meu amor – sussurrou com ternura tomando sua mão. – Eu gosto
muito do casaco e o usarei orgulhoso pela destreza que demonstrou ao
confeccioná–lo com tanto esmero, mas não sou um homem miserável e não vou
permitir que minha mulher tenha que trocar a roupa com um mascate como se fosse
a bruxa de um granjeiro. Tenho dinheiro e pode usá–lo, agora venha – levantou–se
e a ajudou a erguer–se para abraçá–la. – Tenhamos um feliz dia de Natal e não
mais lágrimas. Vai estragar seu precioso rosto.
Chovia e a casa estava em silêncio. Emm tinha partido para
Charleston para entregar alguns quantos presentes e não voltaria até a noite
para compartilhar com eles o jantar de Natal. Edward acendeu a lareira no salão
e se sentou no chão, apoiado na cadeira de Bella com as pernas estendidas,
estava lendo O sonho de uma Noite de Verão, de James Shakespeare.
A moça tecia um traje para seu bebê enquanto escutava divertida as
interpretações que fazia seu marido dos diferentes personagens. Em frente à
chaminé descansava um tronco que Emm e Ethan tinham talhado a noite anterior,
estava decorado alegremente com ramos de pinheiro e musgo, todo isso amarrado
com uma fita vermelha, duas enormes velas ardiam de cada lado.
Terminada a leitura, Edward tirou um tabuleiro de xadrez para
ensinar a esposa a jogar. Esta se sentia cada vez mais confusa, e se se punha a
rir diante de seus enganos arrancando algumas gargalhadas do marido com sua
inépcia. A noite se aproximava e a jovem se desculpou para arrumar–se para o
jantar. Momento mais tarde desceu pelas escadas, trazendo um traje de veludo
verde escuro, fazendo jogo com o broche. Seus seios, provocadores, pareciam
escapar do decote, e ao lhe fazer uma reverência, Edward beijou sua mão
devorando–a com o olhar.
– O broche não é nem a décima parte tão lindo quanto a pessoa que
o usa – disse em tom adulador, e a seguir serviu um copo de Madeira e o
ofereceu.
– Acredito que está sendo amável comigo porque perdi no xadrez –
disse ela.
Edward pôs–se a rir.
– É muito desconfiada, querida – disse. – Como pode duvidar
de mim quando só elogio sua beleza?
Bella sorriu e se dirigiu para a janela para contemplar a
tormenta. O vento rugia empurrando a chuva que caía mais forte que nunca entre
as árvores e sobre a grande mansão. Mas no salão, o fogo ardia vivamente
mantendo quentes a todos seus ocupantes, tinha sido um dia muito encantado para
Bella e sempre o recordaria com carinho, enquanto permanecia de pé em frente da
janela sonhando acordada, Edward se aproximou dela para contemplar também a escuridão
da noite.
– Eu adoro a chuva – murmurou Bella. – Especialmente quando posso
contemplá–la junto ao calor de um lar, meu pai sempre ficava comigo quando o
vento soprava forte. Imagino que por isso eu gosto tanto, nunca me assustava a
chuva.
– Devia querê–lo muitíssimo – disse Edward, a jovem assentiu
devagar.
– Sim – afirmou. – Era um bom pai e o quis muito, mas tinha muito
medo quando me deixava sozinha – pôs–se a rir brandamente. – Não sou muito
valente, Papai sempre me dizia que não era. De fato, era uma menina muito
covarde.
Edward sorriu e tomou a mão com delicadeza.
– Supõe–se que as meninas pequenas não têm que ser valentes,
querida – comentou. – É preciso que sejam mimadas, protegidas e sempre mantidas
a salvo de seus temores.
Bella o olhou assombrada por sua resposta. Sorriu envergonhada.
– Tornei a aborrecê–lo com a história de minha vida. Sinto muito –
desculpou–se. – Não era minha intenção.
– Nunca disse que me aborrecia, querida – murmurou ele. Conduziu–a
até o sofá e se sentaram.
Ainda estavam ali quando ouviram passos no alpendre, e ao cabo de
um instante Emm abriu a porta principal trazendo consigo uma rajada de vento e
chuva. Joseph se precipitou da parte traseira da casa até ele, para lhe ajudar
a tirar o chapéu e a capa molhados e trazer um par de sapatos, Emm tirou as
botas com considerável esforço, calçou umas pantufas e se reuniu com o casal no
salão ainda com o rosto molhado.
– Santo Deus, faz uma noite terrível – comentou, servindo–se de
uma dose de uísque no bar. Aproximou–se da lareira para esquentar as costas e
tirou do bolso de seu casaco uma caixa longa e fina que entregou a Bella. –
Minha mais querida e formosa Tory, trouxe–lhe um presente, embora hoje receio
que questionará sua utilidade.
– Oh Emm, não deveria tê–lo feito – murmurou ela, embora em
seguida sorrisse feliz. – Vou ficar como uma parva, porque não tenho nada para
você.
– Desfrute do presente, Bella – disse Emm com um sorriso. – Eu
escolherei o meu mais tarde.
A moça o abriu depressa e tirou um lindo leque com um cabo
esculpido laboriosamente em marfim e com abundante e delicado bordado espanhol.
Estendeu–o e, colocando–lhe fronte ao rosto, moveu–o pestanejando com
coqueteria.
– Certamente Emm – disse com um suave acento sulino obtendo uma
imitação perfeita –, sabe como agradar a uma dama.
– Certamente Bella, mas receio que ao lado do presente de meu
irmão o meu se vê um tanto pobre – respondeu com um sorriso.
– É bonito, não é verdade? – perguntou ela tocando o broche,
orgulhosa.
Observou seu marido e este lhe devolveu um olhar cálido.
– Meu irmão escolhe bem em tudo. Isto o demonstra – apontou Emm
lançando um olhar de cumplicidade a Edward.
De repente Hatti abriu as portas da sala de jantar para anunciar o
jantar.
– Será melhor que venham antes que esfrie a comida.
Bella se levantou do sofá e alisou o vestido sem dar–se conta de
que seus seios apareciam, tentadores, por cima do sutiã. Ao vê–lo, Emm abriu a
boca e os olhos, fascinado ante tal exibição inconsciente da jovem, Edward
ficou em pé, e colocando o dedo no queixo de seu irmão, fechou–lhe a boca
lentamente.
– Relaxe, Emmet – brincou–. Tem dono, mas não se desespere, talvez
um dia encontre uma mulher com a qual possa babar. – voltou–se e acompanhou
Bella até seu lugar na mesa, na qual, desta vez, as cadeiras estavam agrupadas.
Edward esperou junto à sua a que Emm se reunisse a eles.
– Bom, nunca vi a Tânia assim – se desculpou Emm ao chegar à mesa.
Edward franziu o sobrecenho e sem dizer uma palavra sentaram–se,
Bella os olhou com curiosidade, sobressaltada.
O primeiro prato do festim natalino foi servido imediatamente. O
jantar era uma obra professoral da arte culinária de tia Ruth e enquanto davam
conta dele, a conversa dos dois homens se desviou para os negócios. Edward
cortou uma parte de ganso assado para sua esposa e o serviu, pensativo.
– Averiguou algo mais sobre a madeireira de Bartlett? – perguntou
dirigindo–se a seu irmão.
– Não muito, na verdade – respondeu Emm – Sei que utiliza escravos
como mão de obra e estabelece preços muito altos para seus produtos. Por
enquanto está perdendo dinheiro.
– Então poderíamos convertê–lo em uma empresa relativamente
próspera – murmurou Edward para si mesmo. Depois olhou a seu irmão. – Se
substituirmos os escravos por uma boa mão de obra poderia tirar um rendimento
melhor, há um mercado excelente para madeira de navio em Delaware, e tal como
estão se desenvolvendo as coisas em Charleston, não deve haver nenhum problema
em vender madeira acabada aqui. Poderíamos estudar a possibilidade depois de
revisar tudo. Vou levar o Fleetwood a Nova Iorque dentro de duas ou três
semanas. Teremos que tomar uma decisão sobre a madeireira para deixar o assunto
resolvido antes de eu partir.
– E o que tem a Tânia? – inquiriu Emm sem levantar a vista do
prato. – Hoje estava na cidade e cansou–me com perguntas, pois desejava saber
se tinha tido a oportunidade de estudar suas dívidas e decidir algo a respeito.
Disse–lhe que não sabia nada do assunto.
Bella tinha estado escutando–os sem prestar muita atenção até que
ouviu mencionar o nome da Tânia, Edward percebeu seu interesse e se apressou a
responder.
– Outro dia veio para ver–me no Fleetwood para falar de sua
situação financeira. Ofereci–me saldar suas dívidas além de uma boa soma de
dinheiro em troca das terras, mas como continua sendo a mesma teimosa e com
falta de decoro, só saldarei as dívidas pequenas que contraiu enquanto esperava
converter–se em minha esposa. As dívidas mais importantes que acumulou quando
já estava à corrente da situação, não penso em tocá–las a menos que me assegure
que as terras serão minhas, teria gostado que a liberasse de suas obrigações
para poder seguir negociando com elas, mas não penso fazê–lo. Comunicarei minha
decisão e saldarei as contas que contraiu como minha noiva antes de partir.
Parece que vou estar muito ocupado até partir, especialmente se o caso da
madeireira funcionar. Por certo, estaria interessado em investir uma quantidade
se fosse rentável?
– Pensei que não fosse me perguntar isso – respondeu Emm com um
sorriso.
A conversa tocou uma grande variedade de temas e quando o jantar
acabou, Emm se apressou a retirar a cadeira de Bella antes que Edward se
levantasse. Conduziu–a ao salão, apesar do mau humor de seu irmão, e se deteve
debaixo do lustre. Contemplando–a, murmurou pensativo:
– Pobrezinha. Esteve aí todo o dia e não parece que a tenham
utilizado.
Bella ergueu a vista e viu no centro do lustre um solitário raminho
de azevinho.
Emm limpou a garganta e sorriu.
– E agora, senhora, sobre o presente que mencionou antes. –
Agarrou–a entre seus braços e fazendo caso omisso de seu desconcerto, inclinou–se
para beijá–la; seu beijo foi longo e nada parecido ao de um irmão, ela se
deixou abraçar, mas o desagrado de Edward diante da ousada atitude de seu irmão
era evidente em seu semblante. Emm se arrumou, e ao ver a expressão de fúria de
Edward, esboçou um sorriso.
– Calma, Ed – disse. – Não cheguei a beijar a noiva.
– Dá–me motivos para me perguntar se será seguro deixá–la sozinha
com você enquanto eu estiver fora – replicou Edward, – Se não se portasse tão
bem, estaria nervoso.
Emm se pôs a rir zombeteiramente.
– É esse monstro enorme e verde que vejo em suas costas?
Acreditava que se tinha desfeito do demônio dos ciúmes faz tempo...
Ah, o amor está no ar!! Ed todo gentil e amoroso, Emmet provocando o irmão. Rindo muito com isso. Ate quando ele vai ficar de bobeira com a Bella? Ansiosa por mais!!
ResponderExcluirespero que estes dois se entendam, adorava quando tinhas as cenas mais quentes
ResponderExcluirMas um capítulo postado ansiosa pelo próximos, não vejo a hora deles se entender bjs
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