Capítulo 15 – Desilusões
Dois meninos negros brincavam no chão, em
frente da casa, quando a carruagem parou bruscamente. Ao ver Edward, os meninos
se afastaram correndo, de vez em quando, entretanto, podia se ouvir suas
risadas em uma das esquinas da casa do outro lado do alpendre. Logo se ouviu um
forte "chist" e um estalo de gargalhadas. Da parte traseira da casa,
a voz estridente de um jovem gritou:
– O senhor Edward está aqui! Por fim
chegou a casa!
Então, uma voz feminina exclamou:
– Vá! O menino retornou finalmente.
A porta se abriu repentinamente e uma
mulher negra enorme se precipitou para o alpendre, limpando as mãos no avental.
Olhou para a carruagem com os olhos entreabertos.
– Senhorzinho Emmett, por que se incomodou
em trazer para casa esse desperdício do cais? – brincou a mulher.
Edward abriu a porta do carro e desceu de
um salto, sorrindo abertamente.
– Hatti você, velha faladeira, um destes
dias vou torcer seu pescoço como merece – replicou.
A mulher soltou uma alegre gargalhada e se
apressou a recebe–lo com os braços abertos. Edward a abraçou com carinho,
estreitando–a com força enquanto ela ria. Quando a soltou, a mulher recuperou o
fôlego, aliviada.
– Eita, Senhorzinho Ed, vejo que você não
perdeu a força – observou a mulher. – Estou certa de que um destes dias me vai
romper uma costela – acrescentou, tentando averiguar quem estava no interior da
carruagem. – O que é isso que trouxe com você, Senhorzinho? Está tentando
ocultar algo à velha Hatti? Tire–a agora mesmo e deixe que dê uma olhada para
saber do que se trata desta vez, Senhorzinho Edward. Da última vez apareceu com
esse touro do Bartholomeu. Mas está claro que agora não é nenhum touro e posso
ver que não se trata da senhorita Tânia.
Enquanto falava, Emmett desceu da
carruagem e se virou para ajudar Bella.
– Sim se detenha Hatti – continuou
impaciente.
– Depressa, Senhorzinho Emm, que estou
ansiosa para vê–la. E saia do meio, sempre foi um menino muito desajeitado para
sua idade.
Emm se afastou com um brilho alegre nos
olhos e deixou que a boa mulher lançasse a primeira olhada a jovem. Hatti
estudou atentamente o rosto de Isabella. Finalmente, esboçou um sorriso de
satisfação e comentou:
– Vá, não é mais que uma menina. Onde
encontrou este bombom, Senhorzinho Edward?
Ao observar o volumoso ventre de Bella
ficou séria. Depois se voltou para Edward com um olhar grave e consternado, sem
duvidar nem por um segundo que ele era culpado. Começou a interrogá–lo,
prescindindo desta vez de seu apelido.
– Senhorzinho Cullen, suponho que se
casará com esta menina – grunhiu –, ela necessita muito mais que a senhorita
Tânia. Sua pobre mãe se revolveria na tumba se não o fizesse.
Edward respondeu com um sorriso:
– Já me ocupei disso em Londres, Hatti.
Apresento a minha esposa, Isabella.
– OH, bendito seja, Senhorzinho Ed –
gritou Hatti feliz. – Deixou de frescuras e por fim nos trouxe para Harthaven
uma nova senhora Cullen. Agora vamos ter bebês nesta casa, milhares e milhares
de bebês. Já era hora. Certamente, deu–nos um bom susto com a outra mulher. Asseguro–lhe
que passei um mau pedaço. Quase abandono à família. – voltou–se para Bella com
um sorriso radiante e as mãos na cintura. – Senhora Cullen... – riu. – Sim,
realmente lhe fica bem esse nome. É difícil encontrar gente como os Cullen. Mas
você é tenra como um pêssego e bela como uma flor. – Sem lhe dar tempo para
responder, puxou–a pela mão e continuou com seu falatório. – Venha comigo. Não
deixe que estes homens a deixem aqui fora em seu estado. – Lançou um olhar
acusatório a Edward e prosseguiu –: Deve estar muito fatigada depois de passar
tanto tempo nesse navio com todos esses homens. Mas já não tem do que preocupar–se,
senhora Bella. Agora está aqui com a velha Hatti, vai cuidar de você como se
deve, primeiro tiraremos a roupa da viagem e, depois, a poremos bonita e
confortável, foi uma viagem muito longa desde Charleston para você e o bebê,
precisará descansar um pouco antes de jantar.
Bella olhou seu marido por cima do ombro,
indefesa ante essa mulher que, quase arrancando seu braço, a levava rindo
entusiasmada.
No caminho da casa, Hatti deu uma série de
ordens a duas garotas:
– Você, vá procurar um pouco de água para
o banho da senhorita, e não perca o tempo, ouviu?
Emmett se pôs a rir apoiado na a carruagem
enquanto o irmão sacudia a cabeça observando a cena divertido.
– Essa velha... – resmungou Edward. – Não
mudou nada.
– Digam ao George e ao Luke que quando
chegarem se apressem a subir os baús – ordenou Hatti sem olhá–los. – Certo que
esse par de mulas levará muito tempo.
A porta principal se fechou de repente.
Bella se encontrou no meio de um vestíbulo enorme com um forte aroma de cera
procedente do chão que, sob seus pés, resplandecia com um brilho aveludado.
Bella contemplou a sala com os olhos muito abertos e Hatti, ao perceber o interesse
da jovem e sem parar de falar, atravessou várias habitações dando um rodeio até
chegar ao salão. Indicou–lhe o retrato de um homem sobre a chaminé, muito
parecido ao Edward e ao Emmett, embora com os olhos escuros e expressão mais
séria.
– Esse é o velho amo. Ele e sua esposa
construíram esta casa – informou Hatti.
Bella observava fascinada, os esplêndidos
móveis enquanto Hatti ria orgulhosa, empurrando–a de novo para o vestíbulo e
escada acima.
– De onde você é, senhora Bella? –
perguntou, e, sem deixar que respondesse, prosseguiu –: Deve ser desse lugar,
Londres. Encontrou lá o senhorzinho Ed? Com certeza que sim. Acendemos um bom
fogo no seu quarto para que se esquente e seu banho estará preparado em
seguida, vamos deixar você muito bonita e confortável.
Ao chegar ao final das escadas Hatti a
conduziu ao dormitório de Edward. Era um quarto grande com uma cama gigantesca
com quatro colunas e dossel, em cuja cabeceira aparecia esculpido o escudo da
família e de onde pendia um enorme mosquiteiro. Bella se sentiu como em casa
imediatamente, ao aproximar–se da cama seu coração começou a pulsar muito
rápido, pois ali era onde voltaria a compartilhar o leito com seu marido nessa
noite. Subitamente pensou que nesse lugar daria a luz a seu filho... e que
geraria a outros... se os houvesse.
O banho estava preparado, e enquanto Hatti
a ajudava a despir–se, Bella descobriu sobre a penteadeira um diminuto marco
dourado com o retrato de uma mulher. Colheu–o com curiosidade e o examinou.
Seus olhos verdes eram inequivocamente parecidos com os de Edward e o sorriso
revelava um traço em comum com a perpétua alegria de Emmet. Nenhum deles tinha
o cabelo castanho claro ou o rosto pequeno, mas os olhos... esses olhos!
– Essa é a senhorita Esme – disse Hatti,
orgulhosa –, a mãe do Senhorzinho. Era tão doce como você, mas trabalhava muito
duro para cuidar desta casa. Com sua maneira peculiar de fazer as coisas
conseguia que esse par de patifes e seu pai a ajudassem em tudo, e quando esses
meninos faziam algo que não deviam, ela falava suavemente até que saíam
engatinhando pelo alpendre. Mas nunca souberam que era ela quem mandava na
casa, e mesmo se soubessem, gostavam que fosse desse modo, porque nunca se
ouvia uma queixa. Era doce como o mel, e amava ao velho amo e a seus meninos
como se não existisse ninguém mais no mundo. Mas o amo era outra coisa, era tão
rebelde e teimoso que teria lutado sozinho na guerra e a teria ganho, o
Senhorzinho Ed é como ele, é orgulhoso, ah! Se o é! Não há ninguém como ele.
Acreditei que a senhorita Tânia o tinha agarrado, e isso teria sido um
verdadeiro problema, porque estou segura de que teria acabado matando–a ao cabo
de pouco tempo.
Bella ergueu a vista, surpreendida, e perguntou:
– Por que diz isso, Hatti?
A mulher torceu a boca com um gesto de desaprovação:
– O Senhorzinho diz que falo muito – respondeu, e partiu
apressada em busca de óleo de banho.
Isabella ficou atônita, a anciã tinha
despertado sua curiosidade, mas no momento parecia ter perdido a fala.
Um grito e o relincho furioso de um cavalo
captaram sua atenção. Aproximou–se da janela e viu Edward montado sobre um
cavalo negro que fazia pulava e relinchava, procurando livrar–se de seu
cavaleiro. Emm contemplava como seu irmão lutava por controla–lo, Hatti se
reuniu junto a ela na janela para observar a cena. O animal, desesperado sob os
arreios e esporas, encabritava–se e escoiceava levantando a terra com os
cascos, mas Edward, com uma vara na mão, atiçava–o com o extremo entre as
orelhas até domina–lo. Ao final a besta empreendeu o galope, mas Edward voltou
a impor sua autoridade cortando as rédeas, levou–o através dos pastos até que,
esgotado, deteve–se junto à grade.
Hatti sacudiu a cabeça:
– Esse velho cavalo só se deixa montar
pelo Senhorzinho Ed. Com certeza o frio e todo trigo que comeu está deixando–o
gordo, cada vez que o Senhorzinho retorna a casa tem que voltar a doma–lo.
Enquanto Emmett abria a grade para deixar
sair o cavalo e seu cavaleiro, Bella se aproximou mais da janela para afastar
as cortinas que a impediam de vê–los partir. Por uns instantes animal e homem
se viraram para a casa e Edward pôde ver sua jovem esposa na janela com os
olhos postos nele, o corcel escavava a terra e mascava as rédeas impaciente
para empreender a marcha, mas seu amo o segurava com firmeza, distraído diante
da visão. Bella se afastou e correu a cortina, a atenção de Edward se voltou
para o cavalo, que saiu galopando através da grade, estendendo seus poderosos
músculos e mostrando toda sua fúria.
Edward soltou as rédeas deixando que
corresse e desfrutou, uma vez mais, da agitação rítmica daquele garanhão que
tinha sob suas pernas.
– Vamos, doce menina – insistiu Hatti com
Bella – O banho está quente e vai esfriar se ficar muito tempo aí. O
Senhorzinho sabe como montar o velho Leopold, assim não tem do que preocupar–se.
Bella se meteu na banheira ao mesmo tempo
em que Hatti empurrava George Luke escada acima até o quarto do lado, com os
baús. Começou a desfaze–los e a pôr a roupa sobre a cama do amo. Entre todos os
vestidos, a anciã escolheu um de veludo de cor malva para que Bella o pusesse,
e o estendeu cuidadosamente.
– Gosta deste vestido, senhorita Bella? É
bem bonito. Com certeza que o Senhorzinho Ed adora. Ele comprou–lhe tudo isto?
Esse homem... sabe como cuidar do que é seu.
A moça sorriu deixando que continuasse
tagarelando. Fazia tempo que Hatti acertava com surpreendente tino a maioria
das hipóteses que formulava.
A mulher de cor se aproximou da banheira
com uma toalha enorme estendida para secar a sua jovem ama.
– Levante seu corpinho e deixe que a velha
Hatti a seque – disse. – Depois a esfregarei bem com óleo de rosas e assim
poderá descansar um pouco antes de jantar. O Senhorzinho Ed quererá que seu
banho esteja preparado para quando voltar.
Pouco depois Hatti fechou a porta
silenciosamente deixando Bella adormecida na cama, coberta com um edredom
aveludado. Já era da noite quando despertou, e a criada, intuindo o de alguma
forma, entrou para ajuda–la a vestir–se para o jantar.
– Tem um cabelo lindo, senhorita – disse
sorrindo enquanto lhe escovava lentamente a longa cabeleira. – Aposto que o
Senhorzinho julga isso – e em voz baixa acrescentou –: Ora, a senhorita Tânia
não lhe chega à sola dos sapatos.
De repente ouviram os passos de Edward no
vestíbulo e as mãos de Hatti se moveram freneticamente para acabar seu
penteado.
– Valha–me Deus, o Senhorzinho Ed está em
casa e ainda não terminei com você!
Abriu a porta e Edward entrou na
habitação, ainda sufocado pela excursão, com o casaco pendurado no ombro.
– Espere senhor, espere. Acabo com ela em
um minuto – se apressou a dizer Hatti.
Ele riu com tranquilidade contemplando
Bella sentada com roupa interior me frente ao espelho.
– Cuidado, vê se não vai explodir em mil
pedaços, Hatti. Fica tranqüila ou terá um ataque.
–Já está pronta. Parece que não se pode
ter nem um momento de descanso – a doce criada sorriu.
Edward deixou o casaco sobre uma cadeira e
começou a desabotoar o colete enquanto Hatti prendia o cabelo de sua esposa com
uma fita. Depois, sempre sob seu atento olhar, ajudou–a a colocar o vestido.
Quando foi abotoa–lo Edward se levantou e se aproximou delas.
– Deixa, Hatti, eu farei isso. Vá se
ocupar de meu banho – ordenou–lhe.
– Sim, Senhorzinho Ed – respondeu a
criada, e saiu do quarto arrastando os pés.
Edward fechou a parte de trás do vestido
pausadamente, assegurando–se de que todos e cada um dos colchetes estivessem
bem seguros. Com a proximidade, Bella sentiu o aroma masculino de cavalo e
couro suado. As mãos dele ficaram lentas ao chegar aos últimos colchetes, e
então inclinou a cabeça até que seu rosto roçou o cabelo de sua jovem esposa,
inalando sua doce fragrância. Ela permaneceu imóvel, com os olhos entreabertos,
escutando–o, cheirando–o, sentindo–o, temendo que o menor movimento rompesse o
encanto desse momento.
Subitamente, ouviu–se a voz de Hatti nas
escadas.
– Traz a água agora mesmo. O Senhorzinho
Edward está esperando seu banho.
Bella se voltou, mas seu marido tinha se
afastado e agora estava desabotoando a camisa. Hatti abriu a porta para deixar
entrar vários meninos com baldes de água quente. Encheram a banheira e saíram
rapidamente apressados pela ansiosa anciã. Esta parou na porta, voltou–se e
perguntou:
– Isto é tudo o que necessitam por agora?
– Sim – respondeu Edward ao mesmo tempo em
que começava a tirar as calças.
Hatti partiu fechando a porta atrás de si.
Bella preparou a toalha e a roupa do
marido enquanto observava furtivamente como ele terminava de despir–se. Admirou
seus músculos longos e fibrosos, o quadril estreito e as costas largas. De
repente experimentou um orgulho possessivo por ele ao saber que era dela e que
nenhuma outra mulher tinha o direito de reclama–lo, nem a própria Tânia.
Sentou–se na cama para calçar as meias e
os sapatos enquanto Edward se metia na banheira. Este desviou sua atenção ao
ver que recolhia as saias e, ensaboando–se distraidamente, admirou suas pernas
esbeltas.
– Hatti já lhe mostrou a casa? – inquiriu
enquanto a observava deslizar pela coxa uma liga com bordados.
Bella sacudiu a cabeça.
– Não – respondeu alegremente. – Só o
salão e a sala de jantar. Mas tenho muita vontade de ver o resto. Nunca pensei
que a casa fosse tão grande nem tão bonita. – Com um encantador risinho,
acrescentou: – Imaginei que viveríamos em um casebre, não me disse que tinha
uma mansão.
Edward sorriu enquanto ela abaixava as
saias e as alisava.
– Não me perguntou, querida – disse. Bella
se pôs a rir. Foi para a banheira, colocou os dedos na água e lhe salpicou o
peito.
– Se apresse, por favor, Edward. Estou
faminta – apressou–o.
Ele estava pondo um colete quando uns
risinhos captaram sua atenção.
– Céu santo! O que é isto? – gritou Hatti
no outro quarto. – Nunca vi nada assim na minha vida!
Edward abriu a porta para averiguar o que
estava acontecendo. Bella se juntou a ele e ambos viram que Hatti inspecionava
as calças acolchoadas de Bella. Ao entrar, olhou seu amo de forma inquisitiva.
– Senhorzinho Edward, isto é seu? –
interrogou–o. – Tem muitos bordados.
Bella levou a mão à boca para conter uma
gargalhada.
– São muito pequenas para você, senhor –
prosseguiu a criada. – Para quem os comprou? – voltou–se para Bella e, em tom
de incredulidade, perguntou: – São suas, senhorita Bella?
– Já explicou, Hatti – disse Edward –
Mandei confeccionar para minha esposa, para que não passasse frio. – sorriu – O
Atlântico Norte no inverno não é lugar para que uma senhora passeie sem nada
debaixo das saias.
– Sim, sim, senhor – concordou a mulher
com um tom zombador. Edward pôs–se a rir e sacudiu a cabeça.
– Hatti, saia daqui. Vá ver quanto falta
para o jantar. Sua ama está a ponto de desfalecer.
– Sim, Senhorzinho Ed – respondeu a criada
e saiu muito depressa.
Bella começou a bisbilhotar pelo
dormitório diante do atento olhar do marido. Tocou a cama, depois passou
delicadamente os dedos por uma cadeira. Edward terminou de vestir o colete e
explicou:
– Antes isto era uma sala de estar, mas
minha mãe fez que pusessem a cama aqui depois que nasci. Não gostava de
incomodar meu pai quando Emm e eu ficávamos doentes, assim ficava aqui se por
acaso precisávamos dela. O quarto das crianças fica aqui ao lado.
Bella continuou inspecionando o quarto,
familiarizando–se com cada um dos objetos que havia ali, os olhos de seu marido
a seguiam fixamente em seu delicado corpo e um impulso cresceu em seu interior.
Ele desejava atraí–la para si, acariciar suas mechas reluzentes. Ela reparou na
colcha feita à mão, Edward se aproximou por trás, mas se deteve antes de abraça–la.
O que aconteceria se ela voltasse a
resistir outra vez, se voltasse a lutar contra ele. Se a tomasse com violência
poderia fazer mal ao bebê, ou a ela, pensou. Ao sentir sua proximidade, seu
aroma, seus suaves cachos de seus cabelos, e ficou extasiado. Não lutaria com
ela nem cederia aos seus desejos, ela teria que se aproximar dele por vontade
própria.
Que ela escolha, pensou. Este quarto ou o
meu. Esta cama solitária ou compartilhar a minha. Deixarei que seja ela quem
escolha. Limpou a garganta.
– Esta cama... este quarto ... é seu se o quiser,
Bella. – Fez uma pausa procurando com estupidez as palavras.
Isabella ficou gelada, com o coração na
mão, como se tivessem enfiado uma adaga nas costas. Meu Deus pensou a jovem,
não entendo por que chega perto de mim dessa maneira se me odeia tanto. Nem
sequer pode compartilhar seu leito comigo. Agora que voltou para casa e pode
continuar sua vida com Tânia, vai me separar de sua vida e se esquecerá de que
existo.
Os olhos se encheram de lágrimas ao pensar
nas esperanças que tinha criado a respeito de levar uma existência feliz e
normal junto a ele. Inclinou–se consternada e alisou a colcha.
– É uma cama muito bonita – murmurou. – E
o quarto está muito perto do quarto das crianças. Imagino que é o melhor lugar
para mim.
Edward encolheu os ombros, muito cansado.
– Direi a Hatti que volte para levar sua
roupa.
Virou–se, abatido, e voltou a seu quarto.
Fechou a porta e se apoiou nela frustrado, depois zangado por ter levantado o
assunto. Amaldiçoou–se em voz baixa:
– Estúpido! Boca grande! Idiota enganador!
Poderia tê–la metido em sua casa e em sua cama sem abrir a boca! – aproximou–se
apressado da escrivaninha na qual havia uma garrafa de conhaque e se serviu de
uma generosa dose. Depois ficou olhando fixamente o copo.
– Tinha que se fazer de galante e deixar
que ela escolhesse! – bebeu o conhaque de um gole e concluiu: – Assim agora
terá que se arrumar sozinho com o frio do inverno, idiota!
Largou o copo de um golpe, agarrou seu
casaco bruscamente e saiu zangado da habitação. No corredor topou com o Hatti,
e grunhiu:
– A senhora Birmingham decidiu que prefere
o outro quarto. Encarregue–se de que tirem sua roupa de meu dormitório antes
que eu volte.
A criada, perplexa diante de semelhante
mudança de humor, observou–o com a boca aberta e assentiu com um sussurro
enquanto ele descia furioso pelas escadas. Abriu a porta do quarto, ainda
sacudindo a cabeça ante o mau humor de seu amo, e encontrou–se com Bella
chorando sentada na beirada da cama. Ao vê–la, a moça se voltou e secou as
lágrimas.
– Está muito bela, senhorita – assegurou–lhe
Hatti com doçura. – O Senhorzinho Emm está esperando impaciente que desça,
afirma que se seu irmão não tiver cuidado vai rouba–la diante de seu nariz.
Bella se ergueu e conseguiu esboçar um
sorriso trêmulo. Os olhos castanhos de Hatti procuraram o rosto de sua jovem
ama refletindo, ao vê–lo, o sofrimento que havia nele, mas se apressou a
continuar falando em um tom alegre para aliviar seu sofrimento:
– Agora vá lavar essa cara linda e vá
comer algo. Se não, esse bebê vai morrer de fome.
O falatório de Hatti dissipou em parte a
tristeza da moça. Após alguns minutos entrou no salão. Ao vê–la, Emmett se
levantou de sua cadeira depressa e, tomando suas mãos, tratou–a com atenção e
com um rosário de cumprimentos. Bella lançou um olhar de incerteza a seu
marido, mas este, de costas, parecia inacessível, Emm se inclinou sobre sua mão
como se se tratasse mesmo de uma rainha, ante o que ela sorriu decidida a
mostrar–se alegre. Não daria a seu marido o prazer de vê–la preocupada por ter
sido relegada ao outro quarto.
– Ah, lady Isabella, sua beleza inunda
esta alma assim como às florescentes primaveras inundam os bosques. – Emmet
suspirou. Já tinha bebido vários whiskys durante a espera relativamente longa.
A jovem fez uma reverência e respondeu a
seu palavrório:
– Obrigada senhor. Possivelmente este
jantar tardio o tenha provocado ilusões. Está claro que seria capaz de cobrir
minha fealdade com suas adulações para saciar sua fome.
O jovem voltou atrás se sentindo insultado
e replicou:
– Oh, minha apreciada irmã, feriu–me no
mais profundo de meu ser.
– Galante cavalheiro – consolou–o –,
aprecio enormemente suas amáveis palavras. – Apontou uma mão para Edward e
prosseguiu: – Mas ali se esconde o dragão mais malvado de todos, e temo que
fique muito bravo.
Emmett, rindo alegremente, dirigiu–se ao
bar brincando como um palhaço, serviu uma taça de vinho leve e a tendeu a
jovem.
– Rogo–lhe que se reúna a nós, milady –
convidou–a. – Nós dois fizemos uma longa viagem para este sóbrio prazer.
Edward se virou com um humor melhor depois
de ter sido o alvo de suas mordazes brincadeiras.
– Não tenho preocupações suficientes para
me irritar – observou –, mas devo suportar um irmão idiota que estaria melhor
se fazendo de palhaço em uma companhia de teatro ambulante, e a uma esposa
ingênua cuja temeridade só ultrapassa sua habilidade para zombar de mim.
Agradeceria que assim que terminassem com seus jogos infantis procedamos com o
jantar. A fome me altera mais que seu engenhoso entretenimento.
Emm se pôs a rir e estendeu um braço a
Bella.
– Acredito que meu grosseiro irmão está
muito zangado conosco, milady – disse. – É preciso que sigamos a corrente, não
acha?
Ela viu que seu marido estava de pé
observando–a, e levantou a cabeça.
– Sim, é claro, querido irmão. Realmente
necessita que sigamos a corrente. Como sabe deixou o alegre celibato e agora
tem de carregar uma esposa grávida. Muitos homens se zangariam com semelhante
atadura.
Edward fulminou–a com o olhar, mas ela se
voltou para Emm com um sorriso sedutor, movendo a cabeça com coqueteia e
fazendo com que seus cachos de cabelo soltos balançassem.
– Agora, doce irmão – prosseguiu –,
devemos encontrar uma esposa para você, assim ficará tão sério, abatido e
triste como ele. Isso poria a prova seu bom humor.
Emmett jogou sua cabeça para trás rindo de
boa vontade.
– Sem você, querida irmã, estaria assim.
Portanto, continuarei esperando e desse modo poderei conservar minha
encantadora forma de ser.
Puseram–se a rir. Emm a acompanhou até a
sala de jantar onde a mesa tinha sido posta seguindo o protocolo: Edward em um
extremo, Bella no outro, dois candelabros entre ambos, e, no meio, Emm. Este
retirou a cadeira de Bella para que se sentasse e com uma expressão de desgosto
a fez saber que estavam sentados muito separados, Edward esperou junto a sua
cadeira que seu desenvolto irmão ocupasse seu lugar na mesa mas este, em lugar
de fazê-lo e coçando o queixo, continuou desaprovando a disposição.
– Querido irmão – explicou Emm –, deve ter
uma predileção especial pela solidão, mas acontece que eu sou muito amigável e
não suporto que minha doce irmã fique sozinha. – Agarrou seu serviço e o
colocou alegremente à esquerda de Bella.
Edward lhe lançou primeiro um olhar
furioso, mas logo se abrandou diante da alegria de ambos e se uniu a eles. O
jantar transcorreu de uma maneira informal, o bate–papo alegre conseguiu
melhorar um pouco o humor do irmão mais velho. Os criados retiraram os últimos
pratos e serviram cálices de licor Bella se virou para trás em sua cadeira e
suspirou; tinha comido com gosto e se sentia farta. Precisava caminhar um
pouco, pois o jantar tinha lhe dado sono.
Edward se levantou para lhe retirar a
cadeira e todos se dirigiram ao salão. Ele e Emm cortaram uns longos e verdes
charutos enquanto a moça se sentava no sofá. Poucos minutos depois a
necessidade de respirar ar fresco tomou Bella e ela disse a seu marido em voz
baixa:
– Edward, receio que este jantar
maravilhoso me deu indigestão. Se me permitir eu gostaria de dar um passeio.
O homem assentiu, e observando seu ventre
volumoso, chamou um criado para que fosse procurar algum casaco. Quando o
menino retornou, Edward ajustou–lhe o xale nos ombros e a acompanhou à porta
principal. Abriu–a para acompanha–la, mas Bella o impediu com a mão.
– Não – disse–lhe –, sei que Emmett e você
precisam falar de muitas coisas. Não demorarei; só preciso tomar um pouco de ar
fresco.
Edward estava reticente a deixa–la partir
sem companhia, mas finalmente aceitou.
– Não se afaste muito da casa – advertiu.
Bella voltou–se, assentindo com a cabeça,
e saiu para o alpendre. Edward retornou ao salão com seu irmão.
Era uma noite agradável e fresca. Nuvens
pequenas e brancas rasgavam o brilhante céu estrelado. Debaixo da lua cheia os
imponentes carvalhos com seus musgos pendentes pareciam sentinelas vestidos de
cinza. Quase não havia vento e os ruídos da noite surgiam dos bosques. Podiam
ver–se as luzes nos aposentos dos criados e ouvir–se alguma voz ocasional.
Bella desceu as escadas até a erva fria e úmida e passeou devagar entre as
árvores gigantescas contemplando como seus ramos espreitavam à lua.
Minha primeira noite aqui pensou, e já me
sinto estranha e deliciosamente unida a esta terra. É mais imensa, mais vasta
do que jamais tinha sonhado.
Voltou–se e contemplou a casa, parecia
estar observando–a em silêncio meditando sobre o tipo de ama que seria. Sua
fachada a enterneceu e a fez pensar... Uma casa para criar meus filhos, um
paraíso, um lugar prazeroso.
– Oh grande casa branca – murmurou. – Por
favor, deixa que encontre a felicidade aqui. Permita que dê a luz a meus filhos
entre suas paredes. Faça com que meu marido fiquei orgulhoso de mim e não deixe
que traga nenhuma desgraça sobre seus alicerces.
De repente se sentiu muito aliviada, como
se lhe tivessem tirado um peso de cima. Caminhou depressa para a casa em busca
de seu calor, com a sensação familiar de uma companhia nova e estranha, abriu e
fechou a porta sem fazer ruído para não incomodar aos homens. Enquanto tirava o
xale, ouviu que no salão Emmett gritava zangado com seu irmão.
– Foi lá esta tarde? Maldição, já viu como
essa cadela tratou Isabella. Não perdeu nem um só minuto em deixa–la saber o
que havia entre você dois antes que viajasse. Queria sangue, o sangue de Bella,
e cravou–lhe as unhas o mais fundo que pôde.
– É tão estranho para você – perguntou
Edward muito zangado – acreditar que Tânia tenha podido sofrer um forte impacto
nesta tarde quando, esperando a seu noivo, encontrou–se com a esposa deste? Não
foi fácil para ela, e certamente não fomos os cavalheiros mais galantes do
mundo. Podia ser informada de que tinha me casado de um modo mais suave. Não
estou muito satisfeito comigo mesmo por ter terminado com ela dessa forma.
Realmente me portei mal.
Ao ouvi–lo, Bella ficou indecisa sem saber
se saia fugindo de novo ou cruzava depressa o vestíbulo em direção às escadas,
ao pensar em Edward a sós com Tânia sua alma se encolheu.
– Demônios, Ed, acha que foi uma Santa
todo o tempo que esteve fora? Esteve saindo como se fossem os últimos dias de
sua vida, e seus amigos podem confirmar isso.
Diante do silêncio de seu irmão, Emm
soltou uma gargalhada.
– Não se surpreenda tanto, Ed –
prosseguiu. – Pensa por acaso que em todo este tempo não esteve com nenhum
homem? É obvio que o considera o melhor garanhão da cidade, mas enquanto o
macho estava ausente, acha que essa fêmea se privou de seus prazeres? Saberá
muito bem quando tiver que pagar todas as dívidas que contraiu como a futura
senhora Cullen. Os lojistas vieram a mim com suas faturas para assegurar–se de
que iria se casar com ela, e vai ver como ela gastou mais de quinhentas libras
em seu nome.
– Quinhentas libras! – exclamou Edward. –
Que diabos fez?
Emmett riu, divertido.
– Comprou joias, roupa, tudo o que possa
imaginar, e depois fez com que arrumassem Oakley de cima abaixo – explicou. –
Não é nada econômica, como você sabe. Se o fosse, teria podido viver
comodamente com o dinheiro que herdou de seu pai. Mas o gastou em menos tempo
que o esperado e deixou abandonada a plantação, estava esperando com ansiedade
o momento de casar–se contigo e ficar com seu dinheiro.
Ao terminar seu discurso, Emm se dirigiu
rapidamente ao bar para encher seu copo, e ao passar em frente da porta,
surpreendeu Bella, envergonhada, com o xale na mão. Deteve–se e a olhou, ela se
ruborizou por ter sido descoberta espiando e encolheu os ombros nervosa.
– Sinto muito... sinto muito – desculpou–se
gaguejando. – Fazia muito frio lá fora... só queria ir para meu quarto.
Edward se aproximou do irmão e viu que
Bella corava ainda mais. Muito confusa, ela colocou o xale sobre os ombros e
cruzou o vestíbulo correndo para as escadas, Edward a viu subir por elas a toda
pressa, voltou–se mal–humorado para o Emm, que se mostrou surpreso diante da
repentina mudança de humor de seu irmão.
Bebeu de um trago o que ficava no copo e
caminhou rapidamente para o bar, Emmett observou inquisitivamente a crescente
agitação de seu irmão surpreso ante seu abuso do conhaque, Edward encheu o copo
e se virou para Emm, que o olhou preocupado, Ed parecia mal–humorado e bebia
conhaque como se tratasse de um bálsamo poderoso capaz de afastar os maus
espíritos.
– Sem pensar muito diria que a vida de
casado não está de acordo com você, Ed – comentou Emm lentamente. – Não posso
entender qual é o problema. Olha para sua esposa como um macho que cheira uma
fêmea em cio e sua baba cai com cada coisa que ela faz. Parece que se assusta
em toca–la e inclusive vi como a maltratava, e, que demônios é isso que ouvi de
quartos separados? – Viu que seu irmão tomava novamente a bebida com uma
expressão de dor no rosto e continuou: – Perdeste o juízo? É endemoniadamente
bela; fala bem, é educada, tudo o que um homem desejaria para si, e lhe
pertence. Mas por uma estranha razão que não entendo a afastaste de você como
se tivesse a sífilis. Por que se enfurece tanto consigo mesmo? Relaxe. Desfruta–a.
É tua.
– Me deixe em paz – disse–lhe Edward,
furioso. – Não é assunto seu.
Emm sacudiu a cabeça, exasperado.
– Edward, graças a um surpreendente golpe
do destino foi–lhe concedido uma mulher que vale a pena conservar. Como chegou
a encontrar semelhante pedaço de fruta tenra me deixa bastante perplexo, embora
duvide que o responsável tenha sido sua grande habilidade para escolher
companhia feminina. Seus gostos sempre se inclinaram por fulanas ou mulheres
cabeças de vento, e não por moças doces e inocentes como Bella. Mas lhe direi
isto, Ed: se por alguma razão a perde–la, terá perdido muito mais do que
imagina.
Edward se voltou e lhe lançou um olhar de
fúria.
– Irmão, sabe como fazer com que perca a
paciência – disse. – Suplico–lhe que feche a boca. Sei muito bem a sorte que
tive e não é preciso que seus instintos maternais me recordem isso.
Emm deu de ombros e respondeu:
– Acredito que precisa que lhe digam os
passos que deve tomar, porque está fazendo todo o possível para arruinar sua
vida.
Edward ergueu a mão, impaciente.
– Esquece isso. Trata–se da minha vida –
sentenciou.
Emm terminou seu uísque e deixou o copo.
– Estarei por aqui para ver como resolve
seus problemas – disse olhando fixamente seu irmão. – Agora, boa noite, e
desejo–lhe doces sonhos em seu solitário leito.
Edward lançou um olhar de ódio, mas Emmett
já estava de costas saindo do aposento. Ficou de pé, somente com o copo vazio
na mão. Olhou–o durante um longo momento sentindo já a solidão de seu
dormitório... e de sua cama, sentindo falta da presença de sua bela esposa sob
os edredons, de repente jogou o copo contra a chaminé e partiu enfurecido do
salão.
o tiro de Edward saiu pela culatra.
ResponderExcluirOh boca grande!! Edward perdeu uma grande chance de ficar calado! Agora quero vê como vai se sair dessa!! Quando o próximo? Saudade!!
ResponderExcluirEu fico muito feliz quando posta mas capítulos estou amando essa fic todos os dias eu olho para ver ser tem capítulos novos por favor continue postando
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