quarta-feira, março 23, 2016

FANFIC O RECOMEÇO - CAPÍTULO 15


Capítulo 15 – Desilusões

Dois meninos negros brincavam no chão, em frente da casa, quando a carruagem parou bruscamente. Ao ver Edward, os meninos se afastaram correndo, de vez em quando, entretanto, podia se ouvir suas risadas em uma das esquinas da casa do outro lado do alpendre. Logo se ouviu um forte "chist" e um estalo de gargalhadas. Da parte traseira da casa, a voz estridente de um jovem gritou:
– O senhor Edward está aqui! Por fim chegou a casa!

Então, uma voz feminina exclamou:

– Vá! O menino retornou finalmente.

A porta se abriu repentinamente e uma mulher negra enorme se precipitou para o alpendre, limpando as mãos no avental. Olhou para a carruagem com os olhos entreabertos.

– Senhorzinho Emmett, por que se incomodou em trazer para casa esse desperdício do cais? – brincou a mulher.

Edward abriu a porta do carro e desceu de um salto, sorrindo abertamente.

– Hatti você, velha faladeira, um destes dias vou torcer seu pescoço como merece – replicou.

A mulher soltou uma alegre gargalhada e se apressou a recebe–lo com os braços abertos. Edward a abraçou com carinho, estreitando–a com força enquanto ela ria. Quando a soltou, a mulher recuperou o fôlego, aliviada.

– Eita, Senhorzinho Ed, vejo que você não perdeu a força – observou a mulher. – Estou certa de que um destes dias me vai romper uma costela – acrescentou, tentando averiguar quem estava no interior da carruagem. – O que é isso que trouxe com você, Senhorzinho? Está tentando ocultar algo à velha Hatti? Tire–a agora mesmo e deixe que dê uma olhada para saber do que se trata desta vez, Senhorzinho Edward. Da última vez apareceu com esse touro do Bartholomeu. Mas está claro que agora não é nenhum touro e posso ver que não se trata da senhorita Tânia.

Enquanto falava, Emmett desceu da carruagem e se virou para ajudar Bella.

– Sim se detenha Hatti – continuou impaciente.

– Depressa, Senhorzinho Emm, que estou ansiosa para vê–la. E saia do meio, sempre foi um menino muito desajeitado para sua idade.

Emm se afastou com um brilho alegre nos olhos e deixou que a boa mulher lançasse a primeira olhada a jovem. Hatti estudou atentamente o rosto de Isabella. Finalmente, esboçou um sorriso de satisfação e comentou:

– Vá, não é mais que uma menina. Onde encontrou este bombom, Senhorzinho Edward?

Ao observar o volumoso ventre de Bella ficou séria. Depois se voltou para Edward com um olhar grave e consternado, sem duvidar nem por um segundo que ele era culpado. Começou a interrogá–lo, prescindindo desta vez de seu apelido.

– Senhorzinho Cullen, suponho que se casará com esta menina – grunhiu –, ela necessita muito mais que a senhorita Tânia. Sua pobre mãe se revolveria na tumba se não o fizesse.

Edward respondeu com um sorriso:

– Já me ocupei disso em Londres, Hatti. Apresento a minha esposa, Isabella.

– OH, bendito seja, Senhorzinho Ed – gritou Hatti feliz. – Deixou de frescuras e por fim nos trouxe para Harthaven uma nova senhora Cullen. Agora vamos ter bebês nesta casa, milhares e milhares de bebês. Já era hora. Certamente, deu–nos um bom susto com a outra mulher. Asseguro–lhe que passei um mau pedaço. Quase abandono à família. – voltou–se para Bella com um sorriso radiante e as mãos na cintura. – Senhora Cullen... – riu. – Sim, realmente lhe fica bem esse nome. É difícil encontrar gente como os Cullen. Mas você é tenra como um pêssego e bela como uma flor. – Sem lhe dar tempo para responder, puxou–a pela mão e continuou com seu falatório. – Venha comigo. Não deixe que estes homens a deixem aqui fora em seu estado. – Lançou um olhar acusatório a Edward e prosseguiu –: Deve estar muito fatigada depois de passar tanto tempo nesse navio com todos esses homens. Mas já não tem do que preocupar–se, senhora Bella. Agora está aqui com a velha Hatti, vai cuidar de você como se deve, primeiro tiraremos a roupa da viagem e, depois, a poremos bonita e confortável, foi uma viagem muito longa desde Charleston para você e o bebê, precisará descansar um pouco antes de jantar.

Bella olhou seu marido por cima do ombro, indefesa ante essa mulher que, quase arrancando seu braço, a levava rindo entusiasmada.

No caminho da casa, Hatti deu uma série de ordens a duas garotas:

– Você, vá procurar um pouco de água para o banho da senhorita, e não perca o tempo, ouviu?

Emmett se pôs a rir apoiado na a carruagem enquanto o irmão sacudia a cabeça observando a cena divertido.

– Essa velha... – resmungou Edward. – Não mudou nada.

– Digam ao George e ao Luke que quando chegarem se apressem a subir os baús – ordenou Hatti sem olhá–los. – Certo que esse par de mulas levará muito tempo.

A porta principal se fechou de repente. Bella se encontrou no meio de um vestíbulo enorme com um forte aroma de cera procedente do chão que, sob seus pés, resplandecia com um brilho aveludado. Bella contemplou a sala com os olhos muito abertos e Hatti, ao perceber o interesse da jovem e sem parar de falar, atravessou várias habitações dando um rodeio até chegar ao salão. Indicou–lhe o retrato de um homem sobre a chaminé, muito parecido ao Edward e ao Emmett, embora com os olhos escuros e expressão mais séria.

– Esse é o velho amo. Ele e sua esposa construíram esta casa – informou Hatti.

Bella observava fascinada, os esplêndidos móveis enquanto Hatti ria orgulhosa, empurrando–a de novo para o vestíbulo e escada acima.

– De onde você é, senhora Bella? – perguntou, e, sem deixar que respondesse, prosseguiu –: Deve ser desse lugar, Londres. Encontrou lá o senhorzinho Ed? Com certeza que sim. Acendemos um bom fogo no seu quarto para que se esquente e seu banho estará preparado em seguida, vamos deixar você muito bonita e confortável.

Ao chegar ao final das escadas Hatti a conduziu ao dormitório de Edward. Era um quarto grande com uma cama gigantesca com quatro colunas e dossel, em cuja cabeceira aparecia esculpido o escudo da família e de onde pendia um enorme mosquiteiro. Bella se sentiu como em casa imediatamente, ao aproximar–se da cama seu coração começou a pulsar muito rápido, pois ali era onde voltaria a compartilhar o leito com seu marido nessa noite. Subitamente pensou que nesse lugar daria a luz a seu filho... e que geraria a outros... se os houvesse.

O banho estava preparado, e enquanto Hatti a ajudava a despir–se, Bella descobriu sobre a penteadeira um diminuto marco dourado com o retrato de uma mulher. Colheu–o com curiosidade e o examinou. Seus olhos verdes eram inequivocamente parecidos com os de Edward e o sorriso revelava um traço em comum com a perpétua alegria de Emmet. Nenhum deles tinha o cabelo castanho claro ou o rosto pequeno, mas os olhos... esses olhos!

– Essa é a senhorita Esme – disse Hatti, orgulhosa –, a mãe do Senhorzinho. Era tão doce como você, mas trabalhava muito duro para cuidar desta casa. Com sua maneira peculiar de fazer as coisas conseguia que esse par de patifes e seu pai a ajudassem em tudo, e quando esses meninos faziam algo que não deviam, ela falava suavemente até que saíam engatinhando pelo alpendre. Mas nunca souberam que era ela quem mandava na casa, e mesmo se soubessem, gostavam que fosse desse modo, porque nunca se ouvia uma queixa. Era doce como o mel, e amava ao velho amo e a seus meninos como se não existisse ninguém mais no mundo. Mas o amo era outra coisa, era tão rebelde e teimoso que teria lutado sozinho na guerra e a teria ganho, o Senhorzinho Ed é como ele, é orgulhoso, ah! Se o é! Não há ninguém como ele. Acreditei que a senhorita Tânia o tinha agarrado, e isso teria sido um verdadeiro problema, porque estou segura de que teria acabado matando–a ao cabo de pouco tempo.

         Bella ergueu a vista, surpreendida, e perguntou:

         – Por que diz isso, Hatti?

         A mulher torceu a boca com um gesto de desaprovação:

         – O Senhorzinho diz que falo muito – respondeu, e partiu apressada em busca de óleo de banho.

Isabella ficou atônita, a anciã tinha despertado sua curiosidade, mas no momento parecia ter perdido a fala.

Um grito e o relincho furioso de um cavalo captaram sua atenção. Aproximou–se da janela e viu Edward montado sobre um cavalo negro que fazia pulava e relinchava, procurando livrar–se de seu cavaleiro. Emm contemplava como seu irmão lutava por controla–lo, Hatti se reuniu junto a ela na janela para observar a cena. O animal, desesperado sob os arreios e esporas, encabritava–se e escoiceava levantando a terra com os cascos, mas Edward, com uma vara na mão, atiçava–o com o extremo entre as orelhas até domina–lo. Ao final a besta empreendeu o galope, mas Edward voltou a impor sua autoridade cortando as rédeas, levou–o através dos pastos até que, esgotado, deteve–se junto à grade.

Hatti sacudiu a cabeça:

– Esse velho cavalo só se deixa montar pelo Senhorzinho Ed. Com certeza o frio e todo trigo que comeu está deixando–o gordo, cada vez que o Senhorzinho retorna a casa tem que voltar a doma–lo.

Enquanto Emmett abria a grade para deixar sair o cavalo e seu cavaleiro, Bella se aproximou mais da janela para afastar as cortinas que a impediam de vê–los partir. Por uns instantes animal e homem se viraram para a casa e Edward pôde ver sua jovem esposa na janela com os olhos postos nele, o corcel escavava a terra e mascava as rédeas impaciente para empreender a marcha, mas seu amo o segurava com firmeza, distraído diante da visão. Bella se afastou e correu a cortina, a atenção de Edward se voltou para o cavalo, que saiu galopando através da grade, estendendo seus poderosos músculos e mostrando toda sua fúria.

Edward soltou as rédeas deixando que corresse e desfrutou, uma vez mais, da agitação rítmica daquele garanhão que tinha sob suas pernas.

– Vamos, doce menina – insistiu Hatti com Bella – O banho está quente e vai esfriar se ficar muito tempo aí. O Senhorzinho sabe como montar o velho Leopold, assim não tem do que preocupar–se.

Bella se meteu na banheira ao mesmo tempo em que Hatti empurrava George Luke escada acima até o quarto do lado, com os baús. Começou a desfaze–los e a pôr a roupa sobre a cama do amo. Entre todos os vestidos, a anciã escolheu um de veludo de cor malva para que Bella o pusesse, e o estendeu cuidadosamente.

– Gosta deste vestido, senhorita Bella? É bem bonito. Com certeza que o Senhorzinho Ed adora. Ele comprou–lhe tudo isto? Esse homem... sabe como cuidar do que é seu.

A moça sorriu deixando que continuasse tagarelando. Fazia tempo que Hatti acertava com surpreendente tino a maioria das hipóteses que formulava.

A mulher de cor se aproximou da banheira com uma toalha enorme estendida para secar a sua jovem ama.

– Levante seu corpinho e deixe que a velha Hatti a seque – disse. – Depois a esfregarei bem com óleo de rosas e assim poderá descansar um pouco antes de jantar. O Senhorzinho Ed quererá que seu banho esteja preparado para quando voltar.

Pouco depois Hatti fechou a porta silenciosamente deixando Bella adormecida na cama, coberta com um edredom aveludado. Já era da noite quando despertou, e a criada, intuindo o de alguma forma, entrou para ajuda–la a vestir–se para o jantar.

– Tem um cabelo lindo, senhorita – disse sorrindo enquanto lhe escovava lentamente a longa cabeleira. – Aposto que o Senhorzinho julga isso – e em voz baixa acrescentou –: Ora, a senhorita Tânia não lhe chega à sola dos sapatos.

De repente ouviram os passos de Edward no vestíbulo e as mãos de Hatti se moveram freneticamente para acabar seu penteado.

– Valha–me Deus, o Senhorzinho Ed está em casa e ainda não terminei com você!

Abriu a porta e Edward entrou na habitação, ainda sufocado pela excursão, com o casaco pendurado no ombro.

– Espere senhor, espere. Acabo com ela em um minuto – se apressou a dizer Hatti.

Ele riu com tranquilidade contemplando Bella sentada com roupa interior me frente ao espelho.

– Cuidado, vê se não vai explodir em mil pedaços, Hatti. Fica tranqüila ou terá um ataque.

–Já está pronta. Parece que não se pode ter nem um momento de descanso – a doce criada sorriu.

Edward deixou o casaco sobre uma cadeira e começou a desabotoar o colete enquanto Hatti prendia o cabelo de sua esposa com uma fita. Depois, sempre sob seu atento olhar, ajudou–a a colocar o vestido. Quando foi abotoa–lo Edward se levantou e se aproximou delas.

– Deixa, Hatti, eu farei isso. Vá se ocupar de meu banho – ordenou–lhe.

– Sim, Senhorzinho Ed – respondeu a criada, e saiu do quarto arrastando os pés.

Edward fechou a parte de trás do vestido pausadamente, assegurando–se de que todos e cada um dos colchetes estivessem bem seguros. Com a proximidade, Bella sentiu o aroma masculino de cavalo e couro suado. As mãos dele ficaram lentas ao chegar aos últimos colchetes, e então inclinou a cabeça até que seu rosto roçou o cabelo de sua jovem esposa, inalando sua doce fragrância. Ela permaneceu imóvel, com os olhos entreabertos, escutando–o, cheirando–o, sentindo–o, temendo que o menor movimento rompesse o encanto desse momento.

Subitamente, ouviu–se a voz de Hatti nas escadas.

– Traz a água agora mesmo. O Senhorzinho Edward está esperando seu banho.

Bella se voltou, mas seu marido tinha se afastado e agora estava desabotoando a camisa. Hatti abriu a porta para deixar entrar vários meninos com baldes de água quente. Encheram a banheira e saíram rapidamente apressados pela ansiosa anciã. Esta parou na porta, voltou–se e perguntou:

– Isto é tudo o que necessitam por agora?

– Sim – respondeu Edward ao mesmo tempo em que começava a tirar as calças.

Hatti partiu fechando a porta atrás de si.

Bella preparou a toalha e a roupa do marido enquanto observava furtivamente como ele terminava de despir–se. Admirou seus músculos longos e fibrosos, o quadril estreito e as costas largas. De repente experimentou um orgulho possessivo por ele ao saber que era dela e que nenhuma outra mulher tinha o direito de reclama–lo, nem a própria Tânia.

Sentou–se na cama para calçar as meias e os sapatos enquanto Edward se metia na banheira. Este desviou sua atenção ao ver que recolhia as saias e, ensaboando–se distraidamente, admirou suas pernas esbeltas.

– Hatti já lhe mostrou a casa? – inquiriu enquanto a observava deslizar pela coxa uma liga com bordados.

Bella sacudiu a cabeça.

– Não – respondeu alegremente. – Só o salão e a sala de jantar. Mas tenho muita vontade de ver o resto. Nunca pensei que a casa fosse tão grande nem tão bonita. – Com um encantador risinho, acrescentou: – Imaginei que viveríamos em um casebre, não me disse que tinha uma mansão.

Edward sorriu enquanto ela abaixava as saias e as alisava.

– Não me perguntou, querida – disse. Bella se pôs a rir. Foi para a banheira, colocou os dedos na água e lhe salpicou o peito.

– Se apresse, por favor, Edward. Estou faminta – apressou–o.

Ele estava pondo um colete quando uns risinhos captaram sua atenção.

– Céu santo! O que é isto? – gritou Hatti no outro quarto. – Nunca vi nada assim na minha vida!
Edward abriu a porta para averiguar o que estava acontecendo. Bella se juntou a ele e ambos viram que Hatti inspecionava as calças acolchoadas de Bella. Ao entrar, olhou seu amo de forma inquisitiva.

– Senhorzinho Edward, isto é seu? – interrogou–o. – Tem muitos bordados.

Bella levou a mão à boca para conter uma gargalhada.

– São muito pequenas para você, senhor – prosseguiu a criada. – Para quem os comprou? – voltou–se para Bella e, em tom de incredulidade, perguntou: – São suas, senhorita Bella?

– Já explicou, Hatti – disse Edward – Mandei confeccionar para minha esposa, para que não passasse frio. – sorriu – O Atlântico Norte no inverno não é lugar para que uma senhora passeie sem nada debaixo das saias.

– Sim, sim, senhor – concordou a mulher com um tom zombador. Edward pôs–se a rir e sacudiu a cabeça.

– Hatti, saia daqui. Vá ver quanto falta para o jantar. Sua ama está a ponto de desfalecer.

– Sim, Senhorzinho Ed – respondeu a criada e saiu muito depressa.

Bella começou a bisbilhotar pelo dormitório diante do atento olhar do marido. Tocou a cama, depois passou delicadamente os dedos por uma cadeira. Edward terminou de vestir o colete e explicou:

– Antes isto era uma sala de estar, mas minha mãe fez que pusessem a cama aqui depois que nasci. Não gostava de incomodar meu pai quando Emm e eu ficávamos doentes, assim ficava aqui se por acaso precisávamos dela. O quarto das crianças fica aqui ao lado.

Bella continuou inspecionando o quarto, familiarizando–se com cada um dos objetos que havia ali, os olhos de seu marido a seguiam fixamente em seu delicado corpo e um impulso cresceu em seu interior. Ele desejava atraí–la para si, acariciar suas mechas reluzentes. Ela reparou na colcha feita à mão, Edward se aproximou por trás, mas se deteve antes de abraça–la.

O que aconteceria se ela voltasse a resistir outra vez, se voltasse a lutar contra ele. Se a tomasse com violência poderia fazer mal ao bebê, ou a ela, pensou. Ao sentir sua proximidade, seu aroma, seus suaves cachos de seus cabelos, e ficou extasiado. Não lutaria com ela nem cederia aos seus desejos, ela teria que se aproximar dele por vontade própria.

Que ela escolha, pensou. Este quarto ou o meu. Esta cama solitária ou compartilhar a minha. Deixarei que seja ela quem escolha. Limpou a garganta.

– Esta cama... este quarto ... é seu se o quiser, Bella. – Fez uma pausa procurando com estupidez as palavras.

Isabella ficou gelada, com o coração na mão, como se tivessem enfiado uma adaga nas costas. Meu Deus pensou a jovem, não entendo por que chega perto de mim dessa maneira se me odeia tanto. Nem sequer pode compartilhar seu leito comigo. Agora que voltou para casa e pode continuar sua vida com Tânia, vai me separar de sua vida e se esquecerá de que existo.

Os olhos se encheram de lágrimas ao pensar nas esperanças que tinha criado a respeito de levar uma existência feliz e normal junto a ele. Inclinou–se consternada e alisou a colcha.

– É uma cama muito bonita – murmurou. – E o quarto está muito perto do quarto das crianças. Imagino que é o melhor lugar para mim.

Edward encolheu os ombros, muito cansado.

– Direi a Hatti que volte para levar sua roupa.

Virou–se, abatido, e voltou a seu quarto. Fechou a porta e se apoiou nela frustrado, depois zangado por ter levantado o assunto. Amaldiçoou–se em voz baixa:

– Estúpido! Boca grande! Idiota enganador! Poderia tê–la metido em sua casa e em sua cama sem abrir a boca! – aproximou–se apressado da escrivaninha na qual havia uma garrafa de conhaque e se serviu de uma generosa dose. Depois ficou olhando fixamente o copo.

– Tinha que se fazer de galante e deixar que ela escolhesse! – bebeu o conhaque de um gole e concluiu: – Assim agora terá que se arrumar sozinho com o frio do inverno, idiota!

Largou o copo de um golpe, agarrou seu casaco bruscamente e saiu zangado da habitação. No corredor topou com o Hatti, e grunhiu:

– A senhora Birmingham decidiu que prefere o outro quarto. Encarregue–se de que tirem sua roupa de meu dormitório antes que eu volte.

A criada, perplexa diante de semelhante mudança de humor, observou–o com a boca aberta e assentiu com um sussurro enquanto ele descia furioso pelas escadas. Abriu a porta do quarto, ainda sacudindo a cabeça ante o mau humor de seu amo, e encontrou–se com Bella chorando sentada na beirada da cama. Ao vê–la, a moça se voltou e secou as lágrimas.

– Está muito bela, senhorita – assegurou–lhe Hatti com doçura. – O Senhorzinho Emm está esperando impaciente que desça, afirma que se seu irmão não tiver cuidado vai rouba–la diante de seu nariz.

Bella se ergueu e conseguiu esboçar um sorriso trêmulo. Os olhos castanhos de Hatti procuraram o rosto de sua jovem ama refletindo, ao vê–lo, o sofrimento que havia nele, mas se apressou a continuar falando em um tom alegre para aliviar seu sofrimento:

– Agora vá lavar essa cara linda e vá comer algo. Se não, esse bebê vai morrer de fome.

O falatório de Hatti dissipou em parte a tristeza da moça. Após alguns minutos entrou no salão. Ao vê–la, Emmett se levantou de sua cadeira depressa e, tomando suas mãos, tratou–a com atenção e com um rosário de cumprimentos. Bella lançou um olhar de incerteza a seu marido, mas este, de costas, parecia inacessível, Emm se inclinou sobre sua mão como se se tratasse mesmo de uma rainha, ante o que ela sorriu decidida a mostrar–se alegre. Não daria a seu marido o prazer de vê–la preocupada por ter sido relegada ao outro quarto.

– Ah, lady Isabella, sua beleza inunda esta alma assim como às florescentes primaveras inundam os bosques. – Emmet suspirou. Já tinha bebido vários whiskys durante a espera relativamente longa.

A jovem fez uma reverência e respondeu a seu palavrório:

– Obrigada senhor. Possivelmente este jantar tardio o tenha provocado ilusões. Está claro que seria capaz de cobrir minha fealdade com suas adulações para saciar sua fome.

O jovem voltou atrás se sentindo insultado e replicou:

– Oh, minha apreciada irmã, feriu–me no mais profundo de meu ser.

– Galante cavalheiro – consolou–o –, aprecio enormemente suas amáveis palavras. – Apontou uma mão para Edward e prosseguiu: – Mas ali se esconde o dragão mais malvado de todos, e temo que fique muito bravo.

Emmett, rindo alegremente, dirigiu–se ao bar brincando como um palhaço, serviu uma taça de vinho leve e a tendeu a jovem.

– Rogo–lhe que se reúna a nós, milady – convidou–a. – Nós dois fizemos uma longa viagem para este sóbrio prazer.

Edward se virou com um humor melhor depois de ter sido o alvo de suas mordazes brincadeiras.

– Não tenho preocupações suficientes para me irritar – observou –, mas devo suportar um irmão idiota que estaria melhor se fazendo de palhaço em uma companhia de teatro ambulante, e a uma esposa ingênua cuja temeridade só ultrapassa sua habilidade para zombar de mim. Agradeceria que assim que terminassem com seus jogos infantis procedamos com o jantar. A fome me altera mais que seu engenhoso entretenimento.

Emm se pôs a rir e estendeu um braço a Bella.

– Acredito que meu grosseiro irmão está muito zangado conosco, milady – disse. – É preciso que sigamos a corrente, não acha?

 Ela viu que seu marido estava de pé observando–a, e levantou a cabeça.

– Sim, é claro, querido irmão. Realmente necessita que sigamos a corrente. Como sabe deixou o alegre celibato e agora tem de carregar uma esposa grávida. Muitos homens se zangariam com semelhante atadura.

Edward fulminou–a com o olhar, mas ela se voltou para Emm com um sorriso sedutor, movendo a cabeça com coqueteia e fazendo com que seus cachos de cabelo soltos balançassem.

– Agora, doce irmão – prosseguiu –, devemos encontrar uma esposa para você, assim ficará tão sério, abatido e triste como ele. Isso poria a prova seu bom humor.

Emmett jogou sua cabeça para trás rindo de boa vontade.

– Sem você, querida irmã, estaria assim. Portanto, continuarei esperando e desse modo poderei conservar minha encantadora forma de ser.
Puseram–se a rir. Emm a acompanhou até a sala de jantar onde a mesa tinha sido posta seguindo o protocolo: Edward em um extremo, Bella no outro, dois candelabros entre ambos, e, no meio, Emm. Este retirou a cadeira de Bella para que se sentasse e com uma expressão de desgosto a fez saber que estavam sentados muito separados, Edward esperou junto a sua cadeira que seu desenvolto irmão ocupasse seu lugar na mesa mas este, em lugar de fazê-lo e coçando o queixo, continuou desaprovando a disposição.

– Querido irmão – explicou Emm –, deve ter uma predileção especial pela solidão, mas acontece que eu sou muito amigável e não suporto que minha doce irmã fique sozinha. – Agarrou seu serviço e o colocou alegremente à esquerda de Bella.

Edward lhe lançou primeiro um olhar furioso, mas logo se abrandou diante da alegria de ambos e se uniu a eles. O jantar transcorreu de uma maneira informal, o bate–papo alegre conseguiu melhorar um pouco o humor do irmão mais velho. Os criados retiraram os últimos pratos e serviram cálices de licor Bella se virou para trás em sua cadeira e suspirou; tinha comido com gosto e se sentia farta. Precisava caminhar um pouco, pois o jantar tinha lhe dado sono.

Edward se levantou para lhe retirar a cadeira e todos se dirigiram ao salão. Ele e Emm cortaram uns longos e verdes charutos enquanto a moça se sentava no sofá. Poucos minutos depois a necessidade de respirar ar fresco tomou Bella e ela disse a seu marido em voz baixa:

– Edward, receio que este jantar maravilhoso me deu indigestão. Se me permitir eu gostaria de dar um passeio.

O homem assentiu, e observando seu ventre volumoso, chamou um criado para que fosse procurar algum casaco. Quando o menino retornou, Edward ajustou–lhe o xale nos ombros e a acompanhou à porta principal. Abriu–a para acompanha–la, mas Bella o impediu com a mão.

– Não – disse–lhe –, sei que Emmett e você precisam falar de muitas coisas. Não demorarei; só preciso tomar um pouco de ar fresco.

Edward estava reticente a deixa–la partir sem companhia, mas finalmente aceitou.

– Não se afaste muito da casa – advertiu.

Bella voltou–se, assentindo com a cabeça, e saiu para o alpendre. Edward retornou ao salão com seu irmão.

Era uma noite agradável e fresca. Nuvens pequenas e brancas rasgavam o brilhante céu estrelado. Debaixo da lua cheia os imponentes carvalhos com seus musgos pendentes pareciam sentinelas vestidos de cinza. Quase não havia vento e os ruídos da noite surgiam dos bosques. Podiam ver–se as luzes nos aposentos dos criados e ouvir–se alguma voz ocasional. Bella desceu as escadas até a erva fria e úmida e passeou devagar entre as árvores gigantescas contemplando como seus ramos espreitavam à lua.

Minha primeira noite aqui pensou, e já me sinto estranha e deliciosamente unida a esta terra. É mais imensa, mais vasta do que jamais tinha sonhado.

Voltou–se e contemplou a casa, parecia estar observando–a em silêncio meditando sobre o tipo de ama que seria. Sua fachada a enterneceu e a fez pensar... Uma casa para criar meus filhos, um paraíso, um lugar prazeroso.

– Oh grande casa branca – murmurou. – Por favor, deixa que encontre a felicidade aqui. Permita que dê a luz a meus filhos entre suas paredes. Faça com que meu marido fiquei orgulhoso de mim e não deixe que traga nenhuma desgraça sobre seus alicerces.

De repente se sentiu muito aliviada, como se lhe tivessem tirado um peso de cima. Caminhou depressa para a casa em busca de seu calor, com a sensação familiar de uma companhia nova e estranha, abriu e fechou a porta sem fazer ruído para não incomodar aos homens. Enquanto tirava o xale, ouviu que no salão Emmett gritava zangado com seu irmão.

– Foi lá esta tarde? Maldição, já viu como essa cadela tratou Isabella. Não perdeu nem um só minuto em deixa–la saber o que havia entre você dois antes que viajasse. Queria sangue, o sangue de Bella, e cravou–lhe as unhas o mais fundo que pôde.

– É tão estranho para você – perguntou Edward muito zangado – acreditar que Tânia tenha podido sofrer um forte impacto nesta tarde quando, esperando a seu noivo, encontrou–se com a esposa deste? Não foi fácil para ela, e certamente não fomos os cavalheiros mais galantes do mundo. Podia ser informada de que tinha me casado de um modo mais suave. Não estou muito satisfeito comigo mesmo por ter terminado com ela dessa forma. Realmente me portei mal.

Ao ouvi–lo, Bella ficou indecisa sem saber se saia fugindo de novo ou cruzava depressa o vestíbulo em direção às escadas, ao pensar em Edward a sós com Tânia sua alma se encolheu.

– Demônios, Ed, acha que foi uma Santa todo o tempo que esteve fora? Esteve saindo como se fossem os últimos dias de sua vida, e seus amigos podem confirmar isso.

Diante do silêncio de seu irmão, Emm soltou uma gargalhada.

– Não se surpreenda tanto, Ed – prosseguiu. – Pensa por acaso que em todo este tempo não esteve com nenhum homem? É obvio que o considera o melhor garanhão da cidade, mas enquanto o macho estava ausente, acha que essa fêmea se privou de seus prazeres? Saberá muito bem quando tiver que pagar todas as dívidas que contraiu como a futura senhora Cullen. Os lojistas vieram a mim com suas faturas para assegurar–se de que iria se casar com ela, e vai ver como ela gastou mais de quinhentas libras em seu nome.

– Quinhentas libras! – exclamou Edward. – Que diabos fez?

Emmett riu, divertido.

– Comprou joias, roupa, tudo o que possa imaginar, e depois fez com que arrumassem Oakley de cima abaixo – explicou. – Não é nada econômica, como você sabe. Se o fosse, teria podido viver comodamente com o dinheiro que herdou de seu pai. Mas o gastou em menos tempo que o esperado e deixou abandonada a plantação, estava esperando com ansiedade o momento de casar–se contigo e ficar com seu dinheiro.

Ao terminar seu discurso, Emm se dirigiu rapidamente ao bar para encher seu copo, e ao passar em frente da porta, surpreendeu Bella, envergonhada, com o xale na mão. Deteve–se e a olhou, ela se ruborizou por ter sido descoberta espiando e encolheu os ombros nervosa.

– Sinto muito... sinto muito – desculpou–se gaguejando. – Fazia muito frio lá fora... só queria ir para meu quarto.

Edward se aproximou do irmão e viu que Bella corava ainda mais. Muito confusa, ela colocou o xale sobre os ombros e cruzou o vestíbulo correndo para as escadas, Edward a viu subir por elas a toda pressa, voltou–se mal–humorado para o Emm, que se mostrou surpreso diante da repentina mudança de humor de seu irmão.

Bebeu de um trago o que ficava no copo e caminhou rapidamente para o bar, Emmett observou inquisitivamente a crescente agitação de seu irmão surpreso ante seu abuso do conhaque, Edward encheu o copo e se virou para Emm, que o olhou preocupado, Ed parecia mal–humorado e bebia conhaque como se tratasse de um bálsamo poderoso capaz de afastar os maus espíritos.

– Sem pensar muito diria que a vida de casado não está de acordo com você, Ed – comentou Emm lentamente. – Não posso entender qual é o problema. Olha para sua esposa como um macho que cheira uma fêmea em cio e sua baba cai com cada coisa que ela faz. Parece que se assusta em toca–la e inclusive vi como a maltratava, e, que demônios é isso que ouvi de quartos separados? – Viu que seu irmão tomava novamente a bebida com uma expressão de dor no rosto e continuou: – Perdeste o juízo? É endemoniadamente bela; fala bem, é educada, tudo o que um homem desejaria para si, e lhe pertence. Mas por uma estranha razão que não entendo a afastaste de você como se tivesse a sífilis. Por que se enfurece tanto consigo mesmo? Relaxe. Desfruta–a. É tua.

– Me deixe em paz – disse–lhe Edward, furioso. – Não é assunto seu.

Emm sacudiu a cabeça, exasperado.

– Edward, graças a um surpreendente golpe do destino foi–lhe concedido uma mulher que vale a pena conservar. Como chegou a encontrar semelhante pedaço de fruta tenra me deixa bastante perplexo, embora duvide que o responsável tenha sido sua grande habilidade para escolher companhia feminina. Seus gostos sempre se inclinaram por fulanas ou mulheres cabeças de vento, e não por moças doces e inocentes como Bella. Mas lhe direi isto, Ed: se por alguma razão a perde–la, terá perdido muito mais do que imagina.
Edward se voltou e lhe lançou um olhar de fúria.

– Irmão, sabe como fazer com que perca a paciência – disse. – Suplico–lhe que feche a boca. Sei muito bem a sorte que tive e não é preciso que seus instintos maternais me recordem isso. 

Emm deu de ombros e respondeu:

– Acredito que precisa que lhe digam os passos que deve tomar, porque está fazendo todo o possível para arruinar sua vida.
         Edward ergueu a mão, impaciente.

– Esquece isso. Trata–se da minha vida – sentenciou.

Emm terminou seu uísque e deixou o copo.

– Estarei por aqui para ver como resolve seus problemas – disse olhando fixamente seu irmão. – Agora, boa noite, e desejo–lhe doces sonhos em seu solitário leito.

Edward lançou um olhar de ódio, mas Emmett já estava de costas saindo do aposento. Ficou de pé, somente com o copo vazio na mão. Olhou–o durante um longo momento sentindo já a solidão de seu dormitório... e de sua cama, sentindo falta da presença de sua bela esposa sob os edredons, de repente jogou o copo contra a chaminé e partiu enfurecido do salão.

3 comentários:

  1. Oh boca grande!! Edward perdeu uma grande chance de ficar calado! Agora quero vê como vai se sair dessa!! Quando o próximo? Saudade!!

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  2. Eu fico muito feliz quando posta mas capítulos estou amando essa fic todos os dias eu olho para ver ser tem capítulos novos por favor continue postando

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