Autora: AnnaThrzCullen
Gênero: Romance, drama
Classificação: +16 anos
Categoria: Beward
Avisos: Adaptação, Linguagem Imprópria, Nudez e Sexo
A Fera Vermelha
Capitulo V
Isabella suspirou e deu um último retoque no arranjo de cabeça. Estavam na corte havia uma semana. Uma semana que, para ela, tinha sido longa demais. A Corte era pouco mais que um ninho de víboras imorais. O único passatempo dos cortesãos parecia ser roubar maridos e esposas, amantes e prometidos. Só uma coisa os distraía desse esporte, e era a chance de enfraquecer a posição de outra pessoa na corte, fortalecendo assim a própria posição. Era impossível desembaraçar a teia de mentiras e intrigas.
E como se não bastasse, havia Tanya. Pensar nela despertava em Isabella um instinto assassino.
A primeira reação de Edward à mulher fora de frieza, mas a alegria que ela sentira com isso havia durado pouco. Temia agora que ele se reaproximasse da antiga amante. Cortesia o impedia de repelir abertamente uma dama de tão elevada posição, mas... Seria só isso? Isabella temia a beleza e as tramas daquela mulher. Tinha medo de que Edward voltasse a amá-la.
— Está linda, esposa — ele disse, colocando-se atrás dela e sorrindo para o espelho. — Não precisa ficar tão preocupada.
— Tem certeza de que estou apresentável?
— Muito mais do que isso. Pronta?
— Sim. — Ela sorriu e se virou em seus braços. Edward beijou-a nos lábios e a segurou pela mão. — Não precisa se inquietar tanto.
— Não estou habituada a desfrutar de tão elevada companhia — ela explicou enquanto se dirigiam ao salão. — Nunca tive de exibir maneiras requintadas por tanto tempo antes.
— Não vai ter de suportar a pressão por muito mais tempo. Logo tomarei conhecimento dos planos feitos para mim. Levarei você de volta a RoyalDeeside, se assim preferir, cumprirei as tarefas que o rei designar, e depois irei encontrá-la em nossa casa. Também me irrito com a vida na corte. Tudo aqui é subterfúgio, traição e ócio.
— Hum... Pensei que quisesse me deixar aqui enquanto cumpre as ordens reais. Você disse que seria mais seguro.
— E é. Mas não suporto vê-la infeliz e tensa. Sei que não encontra aqui nada de seu interesse.
— É verdade. Às vezes... Muitas vezes, para ser sincera, surpreendo-me olhando em volta e pensando em tudo que poderia estar fazendo em Royal Deeside.
—Meus pensamentos também divagam. Prefiro cuidar da terra e da propriedade. Há mais trabalho nessa posição do que imaginava, e ainda temos de considerar o trabalho que os galeses nos dão em Royal Deeside. Lá tenho toda a possibilidade de batalha que posso desejar.
— É bom saber disso. — Ela riu satisfeita.
Neste momento, entraram no grande salão, e só isso o impediu de beijá-la na boca, como gostaria de fazer. Sentia esse impulso sempre que a via sorrir. Os medos logo o invadiram. Os homens olhavam para Isabella com cobiça e desejo, expressando abertamente admiração por sua beleza. Ele achava todos eram muito mais atraentes do que ele. Sua maior vontade era tirá-la dali, afastá-la da tentação.
Isabella olhou em volta e suspirou, registrando aqueles olhares novamente. Nada do que fazia podia evitá-los. Sentia-se desconfortável e zangada. Não se abalava com os elogios e as tentativas de aproximação dos jovens cortesãos, e ainda assim eles a atormentavam sem trégua.
Não sabia como lidar com o assédio, ainda pensava nisso, quando notou Tanya caminhando na direção deles. Sentiu a tensão imediata em Edward.
Não podia se deixar perturbar. Tinha de pensar que era em sua cama que ele passava todas as noites. Era seu marido. Ele a amparava, aquecia e saciava, e um homem cujo coração estava em outras partes não poderia demonstrar tanta ternura. Mas a insegurança persistia.
Lady Tanya anunciou que estava ali para escoltar Edward até a presença do rei.
Como se ele não pudesse encontrar o soberano sozinho, Isabella pensou irritada.
Quieta, ela procurou um recanto afastado para esperar pela volta do marido. Para seu desânimo, Tanya retornou a fim de fazer-lhe companhia. Sabia que o tão temido momento do confronto havia chegado e, resignada, rezou para que Edward voltasse o quanto antes para pôr fim à desagradável situação.
— Sente-se muito segura, não é, lady Isabella?
— E não devia ser assim, milady?
— Ele me amou no passado.
— No passado.
— E vai me amar novamente. Não vê como ele muda em minha presença? Poderia tê-lo arrancado de suas garras agora mesmo, e sem nenhuma dificuldade.
— Com que finalidade? — Isabella indagou, tentando não demonstrar que esse era seu maior temor. — Sei que procura um marido, mas Edward já é casado.
— Sim, realmente busco um marido, mas, enquanto isso preciso viver. Edward não é mais um cavaleiro destituído. Como amante, tenho certeza de que ele seria muito generoso.
— Não acredito que terá a oportunidade de confirmar sua suspeita.
— Não? Ele é um homem grande e saudável. E cheio de vigor. Ah, lembro-me bem de como ele pode se deixar consumir pela luxúria. Uma só mulher não pode saciar um homem com o apetite de seu marido.
— Ele não tem se queixado.
— Não? Talvez por não ter escolha. Veremos...
— Edward é um homem que honra seus votos. — Isabella gostaria de sentir a mesma convicção que demonstrava.
— Votos de casamento? — Tanya riu com desdém. — Menina tola! Nenhum homem os honra. Está apenas revelando sua ingenuidade. Vou lhe mostrar, criança inocente, como um homem pode esquecer facilmente as palavras pronunciadas diante de um sacerdote.
Isabella viu Tanya se afastar. Havia em seus passos um convite aberto ao pecado, uma segurança que alimentava sua fúria. Ousada, a mulher se dirigiu ao local onde Edward conferenciava com o rei e começou a flertar com um jovem cortesão que Isabella reconheceu, um rapaz de rara beleza chamado Dennis. Mas os olhos verdes de Tanya buscavam... os de seu marido! Isabella também o observava, apesar de saber que devia sair dali, ignorar o jogo proposto por aquela víbora.
Odiava a dúvida e a insegurança, mas nada podia fazer para aplacá-la. Não conseguia apagar da lembrança a expressão de Edward quando ele revelara ter amado Tanya, nem conseguia ignorar o fato de ele nunca ter declarado o fim desse amor. Temia que ele sucumbisse novamente aos encantos da mulher vil e vulgar. Sabia que, quando o coração estava envolvido, até o mais sábio dos homens podia ser um tolo.
Quando Edward acompanhou Tanya para fora do salão, Isabella sentiu o ar congelar em seus pulmões. Ele não só saía sem sequer olhar em sua direção, como mantinha os olhos fixos no belo rosto da cortesã. Tanya apoiava a mão no braço dele. Eram como dois amantes escapando para um momento de privacidade. Isabella se negava a crer que seu marido a submeteria a tamanha humilhação. Era como se todos os olhos estivessem voltados para ela.
— Ah, milady, venha comigo. Permita-me levá-la ao jardim — convidou uma suave voz masculina. Aturdida, Isabella olhou para Dennis que segurava seu braço.
— Jardim? Disse que quer me levar ao jardim?
— Sim. — Ele já a conduzia à saída. — Parece tão perturbada! Não é sensato revelar fraqueza em um ninho de víboras. Lamento, milady, mas essas coisas acontecem. É preciso aprender a manter a dignidade.
Dignidade era a última coisa em que ela pensava. A mente estava tomada por uma coleção de imagens de Edward e Tanya em abraços tórridos, e o pouco espaço restante já era dominado por imagens violentas dela atacando os dois, rasgando-os em tiras.
— Que coisas? — perguntou por entre os dentes, tentando não extravasar a ira na pessoa errada.
— Amantes, querida. — Ele parou em um recanto discreto do jardim.
Apoiada em um tronco de árvore, Isabella sentiu-se repentinamente cansada e enojada.
— Dê ao pecado seu verdadeiro nome, senhor. É adultério.
— E é comum. O casamento serve ao propósito de legitimar herdeiros. Mais nada. — Dennis apoiou uma das mãos no tronco da árvore, ao lado da cabeça de Isabella, e se aproximou.
— O casamento é a união entre um homem e uma mulher, uma união sancionada por Deus — ela murmurou.
— Sim, de forma que os filhos sejam legítimos e herdem sem dificuldade. Todos sabem disso. — Ele pôs a outra mão no tronco.
— Ninguém entende coisa nenhuma!
— Minha querida, deixe-me amenizar sua dor. — Segurando-a pelo queixo, ele a beijou.
Isabella levou um momento para superar o choque, mas, no instante seguinte, reagiu. Depositando no golpe toda a força de sua fúria, ela esbofeteou o rosto do ousado cavalheiro. O som da bofetada ecoou pelo jardim silencioso.
Dennis cambaleou. Sua expressão sugeria que considerava a recusa um insulto. Isabella gritou quando ele a segurou pelos ombros e a empurrou contra a árvore com violência.
— Maldita seja, mulher! Seu marido está alegremente se fartando em outro corpo, e você ainda se comporta como uma freira!
— Não cometerei o pecado para punir outro pecado. Deixe-me em paz! Outras o aceitarão com alegria, milorde. Eu não.
— Farei com que suplique por minhas carícias, minha encantadora freira.
Quando ele a jogou no chão, Isabella ficou perplexa. Todo o ar escapava de seu corpo pela força do golpe, e ela tentava encher novamente os pulmões. Porém, quando conseguiu gritar, já era tarde demais. Ele a beijava com ardor, e quando removia seus lábios dos dela, tratava de substituí-los com uma das mãos, silenciando-a com eficiência. Isabella tentava mordê-lo, mas ele a atingiu com um tapa no rosto que a deixou zonza, sem ação.
Dennis tentava despi-la. Aproveitando o momento de distração do cavalheiro, ela introduziu uma das pernas entre as dele. Seus irmãos a haviam instruído sobre a vulnerabilidade de um homem, explicando que tal conhecimento podia sempre ser útil em um momento de perigo. E o momento chegara. Ela ainda se debatia, tentando soltar-se das mãos fortes de Dennis e atingi-lo, quando percebeu a presença de mais alguém no recanto recluso. Edward, Tanya e Emmett se aproximavam.
Edward ria, divertindo-se com a troca de olhares furiosos entre Emmett e Tanya. Ele também se divertia com a patética tentativa de sedução da mulher. No momento em que ela se dissera indisposta, à beira de um desmaio, ele soube tratar-se de uma mentira, mas a acompanhara ao jardim mesmo assim, curioso para desmascará-la em seu jogo.
Nada sentia por essa mulher. Finalmente havia se libertado de seu pernicioso domínio. Isabella agora o dominava completamente, ocupando os espaços que antes Tanya poderia ter reclamado. A esposa restaurara sua confiança, e não havia mais nele a fraqueza de que Tanya se valia para mantê-lo sob controle. Ela era divertida, embora um pouco irritante em sua ousadia. Só isso.
A deliciosa euforia proporcionada por essa descoberta durou pouco, destruída com dolorosa violência pela cena que se descortinava diante de seus olhos. Isabella estava deitada na relva sob o corpo de um belo cavalheiro. Suas roupas estavam descompostas.
Era como viajar no tempo. Estava em outro jardim, sofrendo um novo e definitivo ataque a suas ilusões. A única diferença era que, agora, a dor era muito pior. Ele parou esperando pelo som das gargalhadas. Pelos comentários que o exporiam ao ridículo. Sentindo que Emmett pretendia interferir, ele conteve o amigo. Queria ver até onde poderia ir sua ingenuidade, sua tolice. Ali a verdade seria revelada. E pretendia encará-la de frente, sem reservas. Dessa vez não seguiria sendo tolo, um joguete nas mãos de uma mulher.
Aos poucos, a verdade que ele viu contrariou a primeira impressão. Isabella não estava naquela situação por vontade própria. Seus movimentos eram desesperados, como se lutasse. O que estava vendo não era o que imaginava em princípio.
Ela o viu. E o fitou com uma súplica no olhar. Havia em seu rosto choque, medo e muita dor, porque o marido nada fazia para ajudá-la. Edward sabia que ela considerava sua imobilidade a mais amarga traição, mas não conseguia se mover.
Isabella estava perplexa. Por que Edward não tomava uma atitude? Ele simplesmente a observava, chegando ao extremo de conter Emmett, impedindo-o de socorrê-la. Seu marido, obrigado pelos votos sagrados a defendê-la e protegê-la, deixava-a entregue à própria sorte.
A brisa fria em suas coxas a arrancou do estado de estupor. Teria de se defender sozinha, e o tempo não era seu aliado. Mais tarde lidaria com a atitude de Edward e o sofrimento causado por sua indiferença.
Erguendo a perna num movimento firme e veloz, levou o joelho à região entre as pernas de Dennis, empregando toda a força que tinha. Ele gritou, agarrou a parte ofendida e caiu de lado, libertando-a. Isabella levantou-se depressa, usando a árvore como apoio para não cair.
Sem sequer tentar esconder a dor causada por sua traição, ela olhou para Edward como se pretendesse agredi-lo também. Estava arfante. Gostaria de dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas temia vomitar. Ele deu um passo em sua direção. Ela ergueu a mão para contê-lo. Enquanto corria na direção de alguns arbustos próximos, viu Tanya ajudar Dennis a se levantar.
Pálido, ele nada dizia, percebendo o olhar atento e ameaçador de Emmett. O casal trocou algumas palavras furiosas e, aproveitando a distração de Edward e Emmett, desapareceu rapidamente. Isabella deduziu que tudo que havia acontecido nos últimos minutos fora planejado. Porém, a reação física ao choque ocupava seus pensamentos, e ela vomitava sem parar.
Caída de joelhos, fraca e trêmula, viu Edward estender a mão para ajudá-la.
— Não toque em mim! — disse, sucumbindo a mais um ataque de náusea violenta.
Edward recuou como se recebesse uma bofetada. Emmett aproximou-se dela e usou o lenço que umedecera na fonte para lavar sua testa, ajudando-a a superar o mal-estar.
Edward não sabia o que dizer. Não havia uma explicação para sua atitude condenável.
Minutos mais tarde, quando conseguiu se levantar, Isabella notou que Thomas se juntara aos dois homens. Tanya e Dennis haviam desaparecido. Sabia que tudo isso significava alguma coisa, mas estava abalada demais, furiosa demais para raciocinar com clareza. Sua atenção estava toda voltada para a principal causa de sua agonia.
— Isabella, eu...
— Não fale nada! Não se atreva a tentar explicar o que não tem explicação! Vai me dizer que não é capaz de distinguir um ato de amor de um estupro? Ou esse é um dos costumes dessa corte decadente? Você é meu marido!
— Isabella...
— Meu marido! Devia ter matado aquele miserável! Mas preferiu esperar para se certificar de suas suspeitas, não é?
— Não!
— Sim! Sempre esperou que eu desse um passo em falso, que cometesse um erro. Não percebeu a violência porque não esperava vê-la. Nunca confiou em mim, Edward. Nunca!
― Isabella, vamos conversar nos nossos aposentos. Você precisa se recompor, descansar...
— Não irei a lugar algum com você!
— Não pode vagar pela corte sozinha.
— Não posso? E por que não? Estou mais protegida sozinha do que em sua companhia. Um assassino poderia me atacar, cortar minha garganta e sair tranquilamente antes de você decidir se tudo é um truque ou um ataque real.
— Isabella, por favor...
— Vou me retirar para os nossos aposentos... sozinha! Foi um dia longo e difícil. Primeiro sua ex-amante destila o amargo veneno em meus ouvidos, depois sou forçada a vê-los deixando o salão de braços dados diante dos olhares debochados de toda a corte. E enquanto luto contra o ciúme sou arrastada para o jardim por um cortesão que perde a razão quando me ofendo com sua ousadia. E como se tudo isso não bastasse, descubro que meu marido sempre me julgou uma meretriz. É entretenimento demais para mim. — Ela sentiu alguém segurar sua mão e olhou para o lado. — Thomas?
— Eu vou com você — o menino declarou. A compaixão nos olhos do menino era um bálsamo para suas emoções torturadas. Ele não podia entender tudo que era dito ali. Porém, sabia que estava sofrendo, e se aproximava para oferecer conforto e carinho. Temendo vê-la partir antes que pudesse dizer alguma coisa, Edward estendeu a mão para conter a esposa. Isabella cuspiu um palavrão que o fez arregalar os olhos. Emmett e Thomas também pareciam chocados. Em seguida ela o acertou com um soco no estômago. Ainda dobrado ao meio, Edward a viu se afastar ao lado de Thomas, que olhava nervoso por cima de um ombro. Quando finalmente ele se moveu para segui-la, Emmett o impediu.
— Não, Edward. Deixe-a em paz. É melhor.
— Preciso falar com ela.
— Sobre o quê? O que vai dizer?
— Não sei. Quero pedir desculpas, acho.
— Ainda penso que é melhor deixá-la em paz por um tempo.
— Para que o ódio se cristalize?
— Ela não sente ódio. Mágoa, raiva, decepção... Sim. Por que se comportou daquela maneira? Como conseguiu ficar parado enquanto um verme apalpava sua mulher?
— Fiz exatamente aquilo que ela me acusou — Edward reconheceu com tom culpado.
O que as pessoas pensavam dele não era importante. Precisava pensar num jeito de reparar o mal que causara a Isabella. Porém, não estava muito confiante dessa possibilidade. E a expressão de Emmett também não transmitia muita esperança.
— Peça desculpas — ele sugeriu. — Pode ser um bom começo.
— É o que pretendo fazer. Assim que ela se dispuser a me ouvir.
— E o que vai dizer?
— Bem, não posso negar as acusações. Seria mentira. E mentir só tornaria a situação ainda pior, se é que isso é possível. Estava mesmo esperando pela traição. Você sabe disso, e até chamou minha atenção algumas vezes. Devia ter ouvido seus conselhos. E estava começando a confiar nela.
— Pena ter me ouvido tarde demais. Joguei pérolas aos porcos.
— Insultar-me não vai resolver o problema.
— Não. E também não pretendo ajudar com mais nada. Nem poderia, porque não sei o que sugerir.
— Sou capaz de enfrentar um exército com coragem e segurança!
— Pena Isabella não ser um exército.
Edward ignorou o comentário sarcástico.
— Mas, quando preciso lidar com uma mulher, eu me transformo num menino tolo e sem experiência. Trato a meretriz como dama e a dama como meretriz. Um marido tem o dever de proteger sua esposa. Na opinião de Isabella, deixei de cumprir esse sagrado dever.
— Ela precisa de tempo para superar a raiva.
— E acha que vai superar?
— Isabella não é rancorosa.
— Não, mas nunca a atingi tão duramente antes. Como posso saber?
— Escute, passe a noite nos meus aposentos. Deixe para conversar com ela amanhã. Assim ela terá tempo para acalmar-se, e você poderá refletir sobre tudo que aconteceu.
— É, talvez tenha razão. Se me deitar ao lado dela esta noite, Isabella é bem capaz de cortar meu pescoço.
Isabella de fato tinha pensamentos violentos enquanto se dirigia ao quarto. Edna a olhava assustada e curiosa enquanto ela lavava o rosto e enxaguava a boca, mas não dava nenhuma explicação. Nem poderia, pois, sentada ha cama, ela rompeu em lágrimas amarguradas.
Edna e Thomas não sabiam o que fazer. O menino finalmente pegou a escova, acomodou-se atrás dela e começou a escovar seus cabelos. O gesto a emocionou. Ela bebeu o chá de ervas preparado por Edna, depois deixou a criada vesti-la com a camisola de dormir. Enquanto isso, Thomas relatava a Edna os últimos eventos. Isabella queria ajudá-lo, mas os soluços e o pranto a impediam de falar. Finalmente se deitou, recebendo sobre a testa a compressa de água fria que Edna providenciou em silêncio, e ficou olhando para o teto, tentando sufocar os soluços que sacudiam seu corpo.
— Pobre Thomas — murmurou, olhando para o menino que ainda segurava sua mão. — Não sabe o que fazer comigo, não é?
— Vou ficar aqui. A seu lado — ele declarou.
— Sua companhia será um bálsamo para mim.
— Ela planejou tudo.
— O que disse?
— Minha mãe. Ela planejou tudo. Ouvi quando ela conversava com aquele homem. Ela queria que meu pai a visse com aquele homem, porque então se reaproximaria dela.
— Eles se merecem!
— Oh, não, milady — Edna protestou. — Não pode estar falando sério! Lorde Edward jamais se envolveria com aquela mulher.
— Não mesmo — confirmou Thomas.
— O problema não é lady Tanya — Isabella argumentou. — É ele. Edward ficou ali parado sem fazer nada. Nunca confiou em mim. Esperava que eu agisse como a meretriz que acredita que seja.
— Não! — Thomas e Edna gritaram ao mesmo tempo.
— Sim. Quero ir para casa. Desejo voltar a Royal Deeside.
— Papai logo estará aqui, eu sei! E ele vai poder deixar a corte em breve.
— Quero ir para casa agora, Thomas. Edna, comece a arrumar minhas coisas.
— Vou avisar meu pai — Thomas decidiu.
— Não é necessário. Deixarei uma mensagem para ele. Quer ir comigo, Thomas?
— Sim, mas meu pai...
— Seu pai não vai ficar zangado com você. Edna, ainda não começou a arrumar as coisas?
Edna e Thomas tentaram dissuadi-la da ideia de partir, mas Isabella estava irredutível. Sabia que ambos esperavam que Edward aparecesse e pusesse um fim à discórdia, mas ele não apareceu, para seu alívio. Rumores davam conta de que ele se encontrava nos aposentos de Emmett, bebendo muito e sentindo pena de si mesmo. Esperava que ele continuasse bêbado até poder chegar em Royal Deeside, onde estaria fora de seu alcance.
Isabella estava cansada. Dentro dela havia uma dor tão grande que nenhum remédio era capaz de amenizá-la. Amava Edward, mas preferia não amá-lo. Havia sido justamente esse amor que a deixara inteiramente devastada por sua desconfiança, destruída pela descoberta de sua verdadeira opinião. O que antes parecia belo e promissor, e agora era a maior das maldições.
O céu começava a clarear quando ela finalmente chegou em Royal Deeside. Quatro homens de seu pai a acompanhavam, garantindo sua segurança. Thomas e Edna dividiam a Carruagem com ela. Talvez estivesse seguindo a trilha da covardia, mas não tinha importância. Precisava dessa retirada estratégica para garantir sua sanidade mental. Necessitava de um refúgio onde pudesse lamber suas feridas com alguma privacidade. Tinha de pensar em que atitude tomar com relação ao casamento, se é que ainda havia um casamento com que se preocupar.
O novo dia encontrou Edward em péssimas condições. Sua cabeça doía, a boca estava seca e amarga, e saber que cometera um erro para o qual poderia não haver perdão o atormentava. Para aumentar sua infelicidade, tinha de responder a um chamado urgente do rei. Ele atendeu à convocação com grande relutância, esperando que o homem fosse breve. Precisava ver Isabella. Para aumentar sua frustração, o rei o manteve cativo por horas.
— Viu Isabella? — ele perguntou a Emmett no final da tarde, quando voltou aos aposentos do amigo.
— Não. E também não vejo Thomas desde ontem à noite.
— Ele deve estar com Isabella — Edward resmungou enquanto se lavava. Batidas na porta o irritaram ainda mais. — Quem pode ser?
Emmett foi atender ao chamado e, ao reconhecer a mulher parada no corredor, não escondeu a indignação.
— O que quer aqui?
Tanya entrou, mesmo sem ser convidada, e caminhou para Edward.
— Você parece estar muito bem — ela disse.
— Em que posso ajudá-la? — ele disparou com frieza, tratando de se vestir rapidamente.
— Bem, já que sua esposa partiu, achei que gostaria de me acompanhar às festividades desta noite.
— Isabella partiu?
— Sim. Soube que ela deixou a corte antes do nascer do dia e... Aonde vai? — ela perguntou assustada.
Edward não se deu ao trabalho de responder, porque já corria para fora do quarto seguido de perto por Emmett.
Um momento mais tarde, os dois homens entravam nos aposentos que Edward havia dividido com Isabella. Ali estavam todas as provas necessárias, todos os sinais que confirmavam a partida repentina.
— Espere até amanhã, você disse! Deixe-a superar a ira!
— Jamais pensei que ela seria capaz de deixá-lo — Emmett se defendeu.
— Bem, é claro que ela partiu. O que é isto? — Ele se sentou sobre a cama para ler o bilhete que encontrara sobre ela.
Edward,
Retornei a Royal Deeside. Thomas está comigo. Fiz-me acompanhar por alguns homens de meu pai. Não precisa se apressar para vir me encontrar. Isabella
Ele entregou a breve mensagem a Emmett, que fechou os olhos por um instante depois de ler as palavras secas. Havia uma frieza evidente no bilhete. Edward sabia que Isabella tinha consciência da intenção de Tanya; afinal, a mulher não era sutil. Mesmo assim, ela o deixara à mercê dos planos e ardis da megera. A atitude era mais eloqüente que todas as palavras. Ela o abandonava. Era isso.
— Preciso ir atrás dela.
— Não pode partir, Edward. Não sem a permissão do rei.
— Mas isso pode atrasar a viagem em semanas!
— Isabella sabe que você não pode simplesmente abandonar a corte. Se essa sua tarefa se arrastar por muito tempo, converse com Edward. Explique a ele que tem assuntos pessoais para resolver. Pelo menos ela foi para Royal Deeside, não para a casa do pai.
— Sim, mas a mensagem deixa claro que minha presença em Royal Deeside não é bem-vinda.
— Ela ainda estava magoada quando escreveu o bilhete, Edward. Talvez seja melhor assim. O tempo vai amenizar a dor.
Ele não sabia se concordava com isso, mas Emmett estava certo em dizer que nada poderia fazer, pelo menos naquele momento.
— Sim... vou aproveitar esse tempo para encontrar o patife que causou toda essa horrível confusão.
— Ele já deve estar a caminho de Londres.
— Nesse caso, só está adiando o amargo fim da própria vida.
Edward tinha tempo. Muito tempo. O rei o enviava com alguns de seus homens em ataques contra pequenos covis de rebeldes e ladrões, bandidos que eram como praga naquela região. Ele jurou cumprir seus quarenta dias do serviço, mas não iria uma hora, além disso.
Rosalie recebeu Isabella em Royal Deeside sem esconder a surpresa. Isabella contou à prima tudo que havia acontecido e, para sua irritação, teve de enfrentar a resposta compreensiva e racional de Rosalie. Logo ficou claro que ela esperava convencê-la de seu ponto de vista antes da volta do senhor do lugar.
Apesar do esforço persistente de Rosalie, dias se passaram antes de Isabella começar a pensar realmente no que precisava fazer com relação ao casamento. Estava encurralada e, relutante, reconhecia que não queria mudar aquela situação. Não queria desistir de Edward. Na verdade, já esperava ansiosa pela volta ou por alguma notícia do marido. Por mais profunda que fosse a mágoa, ainda pertencia a ele de corpo e alma. Seria necessário um bom tempo até que voltasse a amá-lo abertamente, com a liberdade de antes. Ele a ensinara a ser cautelosa, a desconfiar.
***
Quem acha que Edward vacilou levanta a mão???
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