Autora: AnnaThrzCullen
Gênero: Romance, drama
Classificação: +16 anos
Categoria: Beward
Avisos: Adaptação, Linguagem Imprópria, Nudez e Sexo
A Fera Vermelha
Capítulo VII
― Chega!
Isabella tentou não se encolher. O urro de Edward podia tê-la ensurdecido. Esperava recuperar a audição plena para ouvir o que o marido teria para lhe dizer quando ficassem sozinhos.
— Algum problema, marido?
— Já disse que o nome é Edward!
— Sim, Edward. Eu... — Ela se calou ao ser repentinamente arrancada da cadeira por mãos fortes.
— Se disser "como preferir" mais uma vez, juro que vou estrangular você! Venha comigo.
— Já acabou de comer?
— Sim, acabei! — ele berrou, arrastando-a para a escada.
No quarto, ele a sentou sobre a cama com violência contida, voltou para fechar a porta e respirou fundo, tentando se controlar. Não era fácil.
— Isabella...
— Sim, meu marido?
— Sou um hóspede nesta casa? É isso?
— É claro que não. Você é meu marido, e eu sou sua esposa obediente.
— Muito obediente. E fria. É assim que pretende punir-me?
— Puni-lo?
— Sei que não a protegi como era meu dever...
— É verdade. — Ela ficou em pé para encará-lo. — E também me insultou. Comparou-me àquela meretriz! — Sabia que a raiva de Edward perdia força, mas não tinha importância, porque agora ela estava furiosa pelos dois. — Cheguei casta ao nosso leito conjugal, mas você preferiu acreditar que eu tinha a índole de uma prostituta. Durante todo o tempo comportou-se como um abutre ao lado de um cadáver, esperando paciente que eu agisse como a bela e elegante Tanya.
— E por que não? Os homens a seguem e devoram com os olhos. Não hesitam em assediá-la com elogios e palavras de amor.
— É verdade, e você me deixou à mercê daqueles palhaços lascivos da corte!
— Você não parecia muito ansiosa por minha companhia.
— Tem certeza de que estava prestando atenção, marido?
— Edward! — ele gritou. — Pare com essa idiotice de me chamar de milorde, marido ou meu senhor!
— Como quiser — ela provocou.
— Muito bem — ele respondeu em voz baixa, respirando com grande dificuldade. — Pensei em todas as acusações que me fez. Sei que tive terríveis e amargas experiências com belas damas de fino trato, mulheres que dizem palavras doces e oferecem seus corpos com liberdade, mas resguardam o coração e se entregam a muitos homens ao mesmo tempo, enganando-os com suas mentiras. Por isso fiquei horrorizado quando fui informado de que seria seu marido. Previ um futuro de amargura, anos que viveria tropeçando em belos cortesãos buscando sua cama... nossa cama! Previ o riso, o escárnio, a humilhação... Naquela noite no jardim, eu me vi encurralado entre o passado e o presente. O choque foi mais forte que tudo, porque havia acabado de descobrir que estava livre de Tanya. Você me havia dado a liberdade. E então eu a vi deitada no chão...
Ele parou e fechou os olhos por um momento.
— Agora sei que só estive ali por um momento, não por horas seguidas, até minha mente recuperar a clareza. Compreendi que o que eu tinha visto não estava realmente ali, mas era tarde demais. Você já se havia defendido e libertado. Nunca senti vergonha maior. Por que saiu com ele do salão da corte?
— Ainda está procurando por um pecado que nunca existiu? Saí com aquele patife miserável porque não estava raciocinando. Ele tirou proveito de um momento de confusão.
— O patife miserável está morto.
A notícia a deixou chocada e paralisada por um momento. Porém, logo retomou o assunto que era discutido ali.
— Havia visto meu marido deixar o salão de braços dados com outra mulher.
Sem pressa, ela começou a se preparar para deitar. Edward já havia dito quase tudo que ela desejava ouvir. Agora era hora de promover a reconciliação. Porém, ainda havia alguns detalhes que gostaria de entender, e provocá-lo sensualmente seria uma maneira certa de soltar sua língua.
— A megera disse que precisava de ar, porque se sentia a beira de um desmaio!
— Um truque mais velho que o mundo. — Isabella riu com amargura.
— Sim, eu sei, mas precisava testar minha recente descoberta.
— Podia ter escolhido uma ocasião mais oportuna para realizar esse teste. — Ela começou a soltar os cabelos. — Teria frustrado o jogo mesquinho de Tanya. Ela sabia que, se me visse nos braços de outro homem, você condenaria primeiro para raciocinar depois.
— Quer dizer... que foi tudo um plano? Tem certeza?
— Thomas me contou. Ele ouviu a mãe conversando com aquele homem antes de se aproximar de você.
— Mas por quê? Tanya quer um marido, e eu já sou casado.
— Um amante rico e generoso a teria tirado da miséria enquanto ela não encontra um marido. E também teria preenchido o espaço vazio em sua cama. Na verdade, ela foi muito precisa quanto a sua capacidade nesse aspecto. E ela estava certa de que o teria de volta, caso eu saísse do caminho.
— E mesmo assim, conhecendo os planos de Tanya, você me deixou.
— Não estava preocupada com Tanya e sua cama. Naquele momento eu era só um animal ferido. Busquei minha toca para lamber as feridas.
— Não me deitei com ela, por mais que Tanya tenha me tentado.
— Não duvido disso.
— Não me deitei com nenhuma mulher. Passei minhas noites encharcado de vinho e numa cama vazia, tentando sufocar o medo de que essa fosse uma condição definitiva. — Ele se aproximou e tocou os cabelos de Isabella. — Não houve outra. Nem mesmo quando eu retornava da batalha com o sangue ainda fervendo. Foi numa dessas situações que Tanya mais me tentou, mas minha rejeição foi direta, rude.
Isabella o encarou com um novo brilho no olhar.
— Deve estar faminto, então — ela sussurrou sedutora.
— Oh, Isabella... — Edward a apertou entre os braços, aliviado ao não encontrar nela nenhuma relutância. — Minha doce Isabella... — Ele a beijou com paixão.
Edward a levou nos seus braços até a cama e a despiu bem lentamente, desfrutando de seus lábios doces e macios, enquanto isso agradecia silenciosamente que sua esposa não tivesse o mando embora.
Deslizou uma de suas mãos suavemente pelo pescoço de sua amada, descendo por seus seios, até chegar sua entrada encharcada, mas Edward queria estar dentro dela, passou muito tempo longe do corpo de sua amada, e não queria mais perder tempo.
Com um velocidade impressionante se despiu e logo já estava com seu membro imponente, e sem esperar deslizou pela entrada de Isabella bem devagar. Sem conseguir segurar gemeu por Isabella.
E Isabella estava em um outro plano, não conseguia raciocinar, apenas sentia as mãos de Edward em todo seu corpo. Sua boa beijando cada cantinho, como se precisasse memorizar cada parte do corpo dela.
O ato foi feito sem pressa, foi feito preguiçosamente, Edward remetia em Isabella, num vai e vem que a deixava sem ar, apenas escutavam seus gemidos e um clamando pelo outro.
E assim foi os dois se amando noite a dentro, sem se importarem com nada e com ninguém, só existia apenas os dois.
***
Mais tarde, Isabella se virou nos braços do marido para fitá-lo na escuridão do quarto.
— Onde foi ferido? — ela perguntou preocupada, lembrando como o havia tocado durante o ato de amor.
— Não fui.
— Não foi? Então...?
— Queria provocar alguma reação, superar aquela muralha de frieza.
— Edward! — Ela riu. Ele estreitou o abraço, deixando as mãos deslizarem por sua cintura.
— Estou enganado, ou você engordou um pouco desde que nos separamos?
— Ganhei peso, sim.
— Falta de atividade física, imagino. Especialmente...
— Não, meu caro marido. Creio que a razão para esses quilos a mais é justamente o oposto do que diz. Excesso de atividade física. Especialmente à noite.
— O que quer dizer? — Ele apertou-a na cintura.
— Cuidado. Pode perturbar o bebê.
— O...? — Edward se sentou na cama. — Está esperando um bebê?
— Foi o que acabei de dizer.
— E eu sou o pai?
— Edward! É claro que sim!
— Eu não estava presente quando Thomas nasceu. — Ele pulou da cama.
— Aonde vai?
— Preciso contar a alguém! — Edward gritou eufórico enquanto vestia o robe, já a caminho da porta. — Por Deus! Espero que Emmett esteja acordado!
Edward invadiu os aposentos do amigo sem sequer bater na porta. Descontrolado, ele segurou-o pelos ombros e o sacudiu.
— Acorde! Isso não é hora de dormir!
Emmett sentiu-se assustado.
— Fomos atacados? Inimigos?
— Não! Eu vou ser pai!
— Você já é pai.
— De novo. E a mãe agora é Isabella. Ela está esperando um filho meu.
— Ah... parabéns. — Emmett riu, compreendendo o estranho comportamento do amigo. — Quando?
— Quando?
— Sim, quando. A criança vai nascer quando?
— Ah... Não sei. Esqueci de perguntar. — Ele saiu correndo sem se importar com as gargalhadas de Emmett.
Isabella, que aproveitara o momento de privacidade para se lavar e atender ao chamado da natureza, estava servindo vinho em uma caneca quando quase derrubou o líquido por causa do estrondo da porta. Era Edward que retornava ainda mais agitado que antes.
— Quando?
— Quando o quê? — ela devolveu confusa.
— Quando o bebê vai nascer?
— Ah... em cinco meses, mais ou menos.
Ele saiu correndo novamente.
Depois de invadir o quarto de Emmett pela segunda vez, anunciou:
— Dentro de cinco meses! Cinco meses! Vou envelhecer enquanto espero!
— Muitos homens esperam nove meses.
— Quer dizer que ela está errada? Não são cinco meses?
— Não, Edward. Quero dizer que ela está grávida há quatro meses. Quase a metade da gestação já passou. Devia estar grato por isso.
— Sim, é claro. Mas ela devia estar descansando.
— As mulheres são mais fortes do que parecem, meu amigo. Especialmente quando esperam um bebê.
— Talvez, mas vou me dedicar mais à minha esposa, agora que teremos um filho.
— Resolveram tudo, então?
— Sim, os problemas foram solucionados. — Edward já se encaminhava para a porta. — Tenha uma boa noite, Emmett. Nomes — ele resmungou. — Preciso pensar em alguns nomes.
Mais uma vez, Isabella foi surpreendida pela entrada repentina do marido. Como se não bastasse, ele a pegou nos braços e a levou do toucador, onde ela escovava os cabelos, para a cama.
— Precisa descansar.
— Edward, sou uma mulher forte e saudável. Quase nem tive enjoos, e os poucos que tive já desapareceram.
— Enjoo? — Ele a encarou horrorizado. — Esteve enjoada?
— No começo da gravidez, todas as mulheres têm náuseas. Depois passa. A minha foi tão leve que quase nem a percebi.
— Ah, sim... É claro. Não estou raciocinando com clareza. Mas agora você está bem?
— Muito bem. Não precisa se preocupar.
— É difícil... Já pode sentir o bebê? — ele perguntou, tocando seu ventre com reverência.
— Sim, às vezes. Duvido que você já possa sentir os movimentos. E só uma agitação rápida... — Ela começou a se levantar.
— Aonde vai?
— Levar a caneca vazia. Terminei de beber o vinho.
— Eu cuido disso. Deite-se e descanse.
Isabella mal teve tempo de se acomodar sob as cobertas antes de o marido voltar. Ele a cobriu e se deitou a seu lado, tomando-a nos braços com uma delicadeza comovente, como se tocasse um cristal muito fino. Ela começou a ter um incômodo pressentimento sobre os próximos cinco meses. A sensação ganhou força nos momentos seguintes, alimentada pela imobilidade dele. Precisava encontrar um meio de livrá-lo dessa noção absurda.
Edward olhou para ela e perguntou:
— Como se sente com relação a essa criança?
— Encantada. E ainda é pouco. Só hoje tive certeza. Edna confirmou minha suspeita.
— Pai! Por Deus, é difícil acreditar! Que maravilha!
— Você já é pai, Edward.
— Se pensa que vou dar as costas para ele, não se preocupe. Thomas é meu filho, e isso é um elo que jamais esquecerei. A mãe de Thomas só me causou sofrimento e humilhação. Tentou arrancá-lo do corpo e tentou matá-lo logo depois do nascimento. Eu nem soube da gravidez. Dessa vez vou participar de tudo desde o início. Eu amo Thomas. Ele sabe disso. Farei tudo que puder para dar a ele um futuro e alguma fortuna, e o reconheço como meu filho diante de todos e em todas as circunstâncias. A única amargura que ele pode sentir é contra a mãe, e acho que esse sentimento já existe. Você o conforta com seu carinho.
— Gosto de pensar que existe afeto entre nós.
— É possível notar esse sentimento. Thomas é um menino muito carinhoso. Ele nunca saiu de perto de mim. Desde que o recebi da mãe, nunca o abandonei e nem ele quis ir embora.
— Edward, ele partiu comigo — Isabella sussurrou, compreendendo repentinamente o que isso significava.
— É verdade. E nem me consultou antes de partir. Isso é bom.
— Bom?
— Sempre fiz questão de mostrar a ele quem é Tanya. Não queria que ele alimentasse esperanças vãs. Agora sei que meu esforço rendeu frutos. Se ele se agarrou em você tão rapidamente, é porque não tem nenhum vínculo com a mãe.
— Ele ouviu coisas que foram ditas sobre ela. E vai ouvir ainda mais. É inevitável. Mas, como é um menino justo, aproveitou a breve estadia na corte para ver por si mesmo quem é Tanya.
— Ele falou com a mãe?
— Não, mas a observou. E a seguiu. Foi assim que ele descobriu tudo sobre o plano que ela tramou contra mim. Contra nós.
Edward suspirou, cheio de pesar pelo filho.
— É uma lição muito dura para um menino ainda tão jovem. Entendo que os meninos não mantêm uma ligação muito forte com suas mães, mas ninguém gosta de descobrir coisas negativas sobre elas.
— Não sei se ele se incomodou muito com tudo isso. Não notei amargura ou revolta, e Thomas não voltou a tocar no assunto desde que me contou sobre o que ouvira na corte.
— Talvez eu deva falar com ele.
— Pode ser bom.
Isabella o beijou no pescoço.
Edward sabia o que ela pretendia, mas tratou de ignorar o convite nada sutil.
— Vamos escolher nomes para meninos e meninas.
Sorrindo ao detectar a rouquidão na voz dele, Isabella mudou de posição e beijou o canto da boca do marido.
Ele a segurou pelos cabelos, tentando contê-la. O truque foi ineficiente.
— Isabella, você está grávida...
— Eu sei. Não foi exatamente isso que acabei de lhe contar? — Ela continuou descrevendo uma trilha de fogo com os beijos que ia depositando em seu rosto, entre o queixo e a orelha.
— Mas... Você é tão pequena! E eu sou muito grande...
— Hum... Enorme!
— Posso ferir o bebê.
— Ainda tenho muito para aprender sobre gravidez e parto, mas há uma coisa que já sei: os primeiros três meses são os mais perigosos, porque é nesse período em que existe maior possibilidade de perder a criança. E eu já estou grávida há quatro meses.
— Quatro meses...
— Exatamente. E o que fizemos há um mês, Edward?
— Há um mês? — Era difícil pensar. A febre que ardia em seu corpo afetava o raciocínio e prejudicava a memória. — Acho que... fizemos amor. E eu podia ter machucado...
— Mas não machucou. Sendo assim, que conclusões podemos tirar disso, meu grande e obtuso marido?
— Que fazer amor não vai prejudicar o bebê?
— Exatamente!
— Então...?
— Edward, chega! Pare de fazer tantas perguntas e venha dar prazer à sua mulher! Até uma esposa obediente como eu pode perder a paciência em certas circunstâncias.
Rindo, ele a tomou nos braços e beijou com ardor, entregando-se às delícias que só podia viver com sua doce Isabella.
Isabella estava feliz. Muito feliz. Resolvera todos os problemas com o marido, tinha certeza de que Tanya não ameaçava sua felicidade, e ainda teria um filho do homem que amava. Dormir nos braços dele era tudo que podia querer depois do prazer intenso que acabara de experimentar.
Mas ainda havia uma nuvem no horizonte. Uma última dúvida a sanar.
— Edward?
— Já devia estar dormindo, Isabella — ele respondeu sonolento. — O bebê...
— E só uma pergunta. A última.
— O que é?
— Disse que Dennis está morto?
— Sim. O patife voltou à corte pouco antes de eu partir. Como não tentei encontrá-lo imediatamente depois da ofensa, ele julgou estar seguro. Eu o desafiei. Foi uma luta justa da qual ele saiu derrotado. Mesmo que tardiamente, vinguei o insulto contra sua honra. Isso a incomoda?
— O que me incomoda é saber que a honra maculada só pode ser lavada com sangue. Mas, se é assim... — Era terrível pensar que Tanya, a grande e verdadeira culpada de tudo, saíra ilesa da situação.
— Agora durma, Isabella. Você precisa descansar. Estava mesmo muito cansada.
— Eu vou dormir. Mas não quero que se preocupe comigo.
— Não estou preocupado — ele mentiu, incapaz de ignorar os temores que já superavam a alegria causada pela notícia da gravidez.
Isabella adormeceu em seus braços. Havia muitas noites não a tinha a seu lado, e passara muitos dias se perguntando se algum dia voltaria a tê-la. Por um tempo, ele manteve a mente livre de todos os pensamentos, concentrando-se apenas na felicidade de poder senti-la novamente.
Porém, por maior que fosse a felicidade, era impossível seguir ignorando todos os pensamentos a respeito do que poderia acontecer. A preocupação exigia ser reconhecida.
Emoções confusas o invadiam, todas relacionadas à criança que nasceria em breve. Eram contraditórias, algumas mais intensas que outras. Sentia euforia, felicidade e terror. Agradecia a Deus por esse presente, mas também lamentava que a união houvesse frutificado. Mal podia esperar para ter nos braços o filho de Isabella, mas também desejava que ela nunca houvesse concebido.
A morte pairava sobre o leito do parto. Era impossível não pensar nisso. As palavras "morta no parto" estavam gravadas em muitas lápides. Muitas mulheres tinham a vida interrompida nesse momento que devia ser de alegria e beleza. Mulheres pobres e ricas, amadas ou não, belas ou feias. Até as fortes e saudáveis podiam cair vítimas de um parto complicado. Até Isabella...
Ele se recusou a seguir essa linha de pensamento.
Apertou-a contra o corpo, sorrindo ao ouvi-la murmurar seu nome. Queria protegê-la da ameaça que nenhuma espada podia deter. Se a vontade de um homem tinha algum peso no jogo da vida e da morte, nada poderia arrancá-la de seus braços.
Mas Edward sabia que nada era mais forte que a vontade de Deus. Tudo que podia fazer era esperar para ver o que aconteceria. Porém, pensar no faturo sem Isabella o impediu de dormir naquela noite. E sabia que a noite de insônia era só a primeira de muitas que ainda viriam.
— Tenho a sensação de liderar uma procissão — Isabella comentou enquanto olhava para trás, observando os quatro homens armados que a seguiam.
Margaret riu e piscou para Thomas, que se divertia com a situação.
— Edward diz que você deve ser protegida.
— E estou mais do que protegida. O único lugar em que consigo estar sozinha é no banheiro, e não me surpreenderia encontrar um guarda parado na porta ao sair. — Olhando em volta pelo vilarejo por onde caminhavam, ela suspirou. — Acho que as pessoas se assustam com essa demonstração de força.
— Não. O povo fica atento, é verdade, mas não assustado.
— Eles se mantêm bem afastados de nós.
— Bem, eles percebem que você está protegida e deduzem que há algum motivo para isso. Não querem fazer nenhum movimento que os homens possam considerar perigoso. Por isso ficam distantes, quietos.
— Eu sei. Só me queixo porque estou cansada de toda essa história. Não fomos mais ameaçados por Pickney.
— Acha que ele desistiu dos planos?
— Quem sabe?
— Até alguém ter certeza do fim do perigo, você vai continuar protegida. — Margaret segurou o braço da prima. — Duvido que seu marido permita que saia por aí sem escolta, mesmo que Pickney não represente mais uma ameaça.
— E — Thomas acrescentou, balançando a mão que segurava a de Isabella —, papai diz que agora tem de proteger vocês dois.
— Minha barriga ainda nem aparece. — Ela riu.
— Acha que terei um irmão?
— Tenho me sentido um pouco irritada e mal-humorada desde o início da gestação. Dizem que esse tipo de alteração acontece quando o bebê é menino. Você quer um irmão?
— Sim, mas papai diz que devo rezar pedindo apenas para o bebê ser saudável, então... — Ele franziu a testa ao ver uma mulher baixa e roliça acenando para eles na frente da hospedaria. — Quem é aquela?
— Não sei — Isabella respondeu, olhando para Merlion com ar espantado ao vê-lo se colocar diante dela. — Conhece essa mulher, sir Merlion? Ela pode estar acenando para um de vocês.
— Não, nenhum dos homens a conhece. Vou verificar o que ela deseja.
Ao ver Merlion caminhando em sua direção, a mulher recuou um passo.
Isabella notou que a expressão de Merlion ia se tornando mais sombria na medida em que ele falava com a desconhecida. Havia nela algo de familiar. Por um momento, Isabella pensou tê-la visto na corte, mas não podia ter certeza. Vira tantos rostos, todos tão parecidos... Era impossível afirmar.
Quando Merlion retornou, ela sentia uma mistura de curiosidade e desconforto.
— O que ela quer?
— A mulher é criada pessoal de lady Tanya — respondeu Merlion com tom contrariado.
— Lady Tanya? O que essa mulher faz aqui?
— Parece que ela veio procurá-la, milady. Pretendia cavalgar até Riverfall amanhã cedo, mas quando a viu aqui, ela decidiu providenciar um encontro imediatamente. E ela também quer falar com Thomas.
— Ela disse por quê?
— Para se redimir.
Havia uma evidente incredulidade na voz de Merlion, e Isabella compartilhava do sentimento. Tanya não era o tipo de mulher que pedia desculpas. Por outro lado, ela podia estar preocupada com a própria segurança. Devia saber que Edward já havia tomado conhecimento de sua participação no episódio no jardim do rei. Dennis fora morto por isso. Tanya devia estar esperando algum tipo de retaliação.
Por um momento, Isabella pensou em se negar a falar com ela. Seria um merecido castigo deixá-la consumida pelo medo e pela apreensão. Mas tinha de pensar em Thomas. Tanya era a mãe dele. Mesmo que o pedido de desculpas não fosse sincero, mas uma simples maneira de escapar das conseqüências de seus atos maldosos, seria bom para o menino ouvir a mãe manifestar arrependimento.
— Ela está na hospedaria?
— Sim. A criada disse que a levará até sua senhora. Não gosto disso, milady.
— Bem, sir Merlion, também não desejo rever essa mulher, mas... — Ela inclinou a cabeça na direção de Thomas. — O encontro pode beneficiar algumas pessoas. E não imagino que tipo de problema pode advir de uma breve conversa com lady Tanya.
— Ela só receberá milady e o menino. Mais ninguém.
— Não me surpreende. Se quisesse pedir desculpas por alguma coisa, também não ia querer uma platéia tão numerosa e bem armada. Além do mais, não caberíamos todos em um quarto da hospedaria.
— Seria preferível que ela fosse pedir desculpas em Riverfall.
— Na verdade, prefiro resolver isso hoje mesmo, o quanto antes. E também prefiro que ela não se aproxime de Riverfall. — Ela olhou para o menino. — Lamento, Thomas, mas é o que sinto.
— Eu entendo. Ela foi cruel com você. — Thomas olhou para Merlion. — Eu estarei com Isabella, senhor, caso haja algum problema.
Merlion sorriu.
— É verdade. Bem, vá então, milady. Estarei aqui com os homens esperando por seu retorno. Não podemos nos demorar.
— Não vamos demorar. Leve os homens para beber uma cerveja na hospedaria, sir Merlion. Depois de toda essa caminhada, eles merecem um pouco de conforto.
Isabella se afastou do grupo e caminhou na direção da criada. Podia ouvir os homens um passo atrás dela. Eles não a seguiriam ao quarto, mas estariam dentro da hospedaria, o que já seria um conforto. Não acreditava que Tanya seria estúpida a ponto de tentar atingi-la novamente, mas também não confiava na mulher. Segurando a mão de Thomas, ela esperou que o menino não tivesse de ver novamente o lado diabólico da mãe.
Atrás da criada, Isabella entrou na hospedaria. Quando parou para esperar a criada abrir a porta do quarto de Tanya, ela sentiu Thomas apertar sua mão e compartilhou do nervosismo do menino.
Respirando fundo para se acalmar, ela entrou no aposento. Tanya se mantinha tão bela quanto na corte. E também exibia a mesma atitude altiva e arrogante, in-congruente com alguém que pretende se desculpar.
— Ora, ora... — Tanya disse olhando para o ventre de Isabella. — Vejo que o homem ainda é fértil.
Certa de que pedir desculpas não era a intenção da detestável dama, Isabella perguntou:
— O que deseja, Tanya?
— Ah... bem, não desejo nada...
Alarmada pelo sorriso vitorioso nos lábios da mulher, Isabella se virou para sair e foi detida por um baque. De repente Thomas se tornou um peso morto pendurado em sua mão.. O menino caiu com um lado do rosto ensangüentado. A mão inerte escorregou de seus dedos. Ela abriu a boca para gritar, mas foi silenciada por uma enorme e imunda mão. Isabella se debateu, tentando lutar, mas uma forte dor em sua cabeça a deixou sem forças. A gargalhada de Tanya foi o último som que ela registrou antes de perder os sentidos.
— Depressa, tire-a daqui — ela ordenou enquanto pegava o manto, chamando a criada para ajudá-la a cobrir-se.
— Deixe o menino. Os homens que a escoltam logo estarão aqui em cima. É melhor sairmos rápido. — Empurrando a aturdida criada, Tanya saltou sobre o filho desfalecido e foi abrir a porta.
Merlion decidiu que era hora de pôr fim ao encontro entre Tanya e Isabella. Não devia ter permitido que sua senhora se dirigisse ao quarto sozinha. Deixara a hospedaria para ir urinar do lado de fora, e ao retornar ele encontrou Edward e Emmett na porta, o que o fez sentir-se ainda mais tolo.
— Onde está Isabella? — Edward perguntou.
— Lá em cima. Em um dos quartos.
— Ela não se sente bem?
— Não há nada de errado com ela. Milady foi ao encontro de lady Tanya.
A expressão de Edward sugeria que Merlion estava encrencado.
— Você a deixou ir sozinha ao encontro daquela víbora?
— A criada afirmou que sua senhora só queria se desculpar.
— Tanya? Pedindo desculpas?
— É possível. Ela pode temer alguma retaliação, agora que Dennis está morto...
— Sim, é possível, mas deixar Isabella ir encontrar aquela megera sozinha...
— Thomas está com ela. O menino... Oh, meu bom Jesus!
Virando-se para descobrir o que fizera Merlion ficar repentinamente tão pálido, Edward praguejou. Com o rosto desprovido de cor e sujo de sangue, Thomas descia cambaleante a escada da hospedaria. Edward correu a ampará-lo. Sentado em um dos bancos do salão, ele acomodou o filho a seu lado, mantendo um braço em torno de seus ombros. Alguém pôs em sua mão uma toalha umedecida. Ele percebeu que tremia quando começou a limpar o rosto do menino. O estado de Thomas só podia ter um significado: alguém havia levado Isabella.
Ajoelhando-se, Emmett ajudou o garoto, ainda atordoado, beber um pouco de caldo.
— Já examinei a cabeça dele, Edward. Encontrei um galo enorme e um corte superficial, mais nada. Thomas, acha que consegue nos dizer o que aconteceu?
— Não tenho certeza — sussurrou o menino, incapaz de conter as lágrimas de dor e medo.
— Você foi encontrar sua mãe — Edward lembrou, tentando conter a aflição e o pânico.
— Sim, ela... disse que queria pedir desculpas a Isabella. Mas ela mentiu. Isabella desapareceu.
Edward fechou os olhos e respirou fundo. Ceder ao desespero não o ajudaria a resgatar a esposa.
— Viu quem a levou? — perguntou.
— Não. Minha mãe disse que não queria nada. Isabella parecia preocupada e... E alguém bateu na minha cabeça. Quando acordei, não havia mais ninguém no quarto. Não fui capaz de protegê-la.
— Filho, você foi atacado pelas costas. Podia ter acontecido comigo ou com Emmett... Com qualquer um.
Margaret se aproximou de Edward.
— Deixe-me levar o menino, milorde. Ele precisa de um curativo nesse corte.
— Obrigado, Margaret.
Assim que ela se retirou com Thomas, Merlion falou:
— Os homens já saíram em busca de alguém ou alguma coisa. Acha que lady Tanya se aliou a Pickney?
— O que mais pode ser? — Edward disparou furioso. — Pickney é o único que está atrás de Isabella.
Merlion passou a mão na cabeça.
— Eu não queria permitir o encontro, Edward, mas nunca imaginei que isso pudesse acontecer.
— E por que deveria imaginar? Até onde sei, Pickney e Tanya nunca se encontraram. Nunca disse a ninguém que Tanya merecia cuidados especiais. Quando saí da corte, eu já sabia que havia contraído uma inimiga perigosa. De alguma forma, ela descobriu o que Pickney pretende e viu nele uma chance de vingar-se da humilhação que pensa ter sofrido com minha recusa. Por que Isabella foi encontrar essa mulher?
— Acho que ela foi pelo menino. Duvido que tenha esperado um pedido sincero de desculpas, mas ela queria que o menino o escutasse.
— Sim, eu entendo. — Edward levantou-se de um salto. Preciso ir procurar por Isabella.
Com a ajuda de Merlion, Emmett conteve Edward já a caminho da porta.
— Espere os homens voltarem com notícias. Não é bom sair por aí às cegas. Pickney a quer casada com Alec. Não é a vida dela que corre perigo.
— Não? Ela carrega meu herdeiro, Emmett. Se a criança nascer e viver, Alec não poderá mais herdar Cullen Manor. E é isso que Pickney quer.
— Acho que é hora de mandar avisar a família dela — Emmett opinou.
— Sim, assim que soubermos um pouco mais. Os homens já estão retornando.
Com grande esforço Edward conseguiu ficar onde estava, Porém, ao ver quem os homens arrastavam para dentro da hospedaria, ele nem tentou se conter. Emmett e Merlion precisaram de muita força para conter o avanço mortal contra Tanya. Ao vê-lo contido e mais calmo, o terror da mulher deu lugar à velha arrogância.
— O que descobriram? — Edward perguntou aos homens. Torr, o líder do grupo, respondeu:
— Pouco, exceto por essas duas. — Ele apontou para Tanya e sua criada. A mulher tremia e choramingava apavorada.
— Exijo ser libertada imediatamente — Tanya declarou com altivez, tentando ajeitar as roupas descompostas.
— Não está em posição de exigir nada — Edward respondeu furioso. — O que faz em minhas terras?
— Viajava para ir visitar minha família.
— Sozinha? Você já mentiu melhor. Onde está Isabella?
— Sua esposa? E sou eu quem deve saber do paradeiro da mulher que mora com você?
— Tanya, escute, não estou com disposição para aturar seus jogos. Responda! Onde está Isabella?
— Não sei. Fomos atacadas no quarto enquanto conversávamos. E fomos roubadas. Minha criada e eu conseguimos fugir. É evidente que os bandidos levaram sua esposa. Logo pedirão um resgate, imagino.
Tanya deixou escapar um grito de pânico quando Edward a segurou pelos ombros e a empurrou contra a parede, mantendo-a imobilizada com uma das mãos em seu pescoço.
— Quero a verdade! — ele trovejou.
— Edward, como pode me tratar assim? Sou a mãe de seu filho!
— Mãe? Você nunca foi mãe para Thomas. Uma mãe de verdade não permitiria que outra pessoa criasse seu filho. Nem o deixaria ser atacado e depois fugiria, deixando-o desacordado e sozinho, com um sangramento na cabeça! Quem levou Isabella?
— Pickney. Charles Pickney e seu primo Alec. Dois homens de Pickney fugiram com ela.
— Para onde?
— Cullen Manor.
Edward soltou-a. Tanya caiu no chão ofegante. A pobre criada apavorada correu em seu socorro, mas ela se levantou sozinha e a afastou com um gesto irritado. A velocidade com que recuperava a arrogância era espantosa. E também era admirável sua total ausência de noção de perigo.
— Como ele pode buscar refúgio em Cullen Manor? Eu sou o dono do lugar!
— Não será mais. Pickney pretende usar sua esposa para abrir os portões e desarmar a guarda.
— Como se envolveu com esse homem?
— Eu o conheci quando deixava a corte a caminho de casa. Ele me contou seus planos, e vi nele uma chance de vingar-me e ainda ganhar um bom dinheiro. Charles prometeu me dar uma parte do que tirar de você.
— Então, acha que tudo isso é só um jogo para obter lucro? Vejo que Charles mente muito melhor do que você. Ele a envolveu em uma trama de assassinato, mulher! O resgate que pretende pedir é minha vida!
— Bem, todos iremos ao encontro do Criador em algum momento.
Ela parecia calma, mas Edward reconheceu mais uma de suas mentiras. A verdade estava refletida em seus olhos, no medo que havia neles. Tanya percebia que a situação em que se envolvera era muito mais grave do que havia pensado em princípio, e nem mesmo sua elevada condição de nascença ou o nome obtido pelo casamento, poderiam livrá-la da punição, caso alguém morresse em conseqüência de seus planos.
— Você pode fazer essa viagem bem antes do que pretende — ele disparou ameaçador.
— O que quer dizer? — Tanya olhou em volta, estudando com certa aflição os homens armados.
— Leve lady Tanya para Riverfall, Torr, e mantenha a prisioneira bem vigiada.
Lutando inutilmente contra as mãos que a agarravam pelos braços, Tanya olhou para Edward.
— Não pode fazer isso comigo. Não pode me prender como se eu fosse uma... uma qualquer! Esquece quem sou?
— Nunca, milady. Ficará em Riverfall até tudo isso estar resolvido. Se eu retornar com minha esposa, nós a devolveremos a sua família em segurança. Se Isabella morrer, você será enforcada. — Ele sorriu com frieza ao vê-la empalidecer. — Se eu não sobreviver para pôr pessoalmente a corda em seu pescoço, muitos outros se apresentarão com alegria para essa missão.
— Não pode... Sou a mãe de seu filho!
— Isso não vai salvar sua vida se Isabella morrer. E se ela viver e sua família for chamada para vir buscá-la, aproveitaremos a ocasião para informá-los sobre Thomas.
— Informá-los...? Você prometeu! Ninguém jamais saberia! Não! — Tanya gritou ao vê-lo fazer um sinal ordenando que Torr a levasse. — Precisa me ouvir!
— Devo voltar para cá, milorde? — Torr indagou.
— Não. Espere por mim em Riverfall.
Edward deu as costas para Tanya, ignorando seus protestos. Olhando em volta, encontrou o olhar do filho. Um olhar sincero e penetrante que o fez reconhecer que não seria tão fácil obter punição para Tanya. Decidiu considerar o problema mais tarde. Agora, a única coisa que importava era encontrar Isabella e levá-la de volta à segurança de Riverfall.
— Então... vai fazer o que Pickney espera, indo atrás de Isabella ou vai sentar e esperar que ele venha procurá-lo? — Emmett perguntou, aproximando-se de Edward.
— Eu vou atrás dele. Armado e pronto para a batalha, embora ele não esteja interessado em um confronto justo.
— Acha que é uma decisão sensata?
— Que alternativa eu tenho? Pickney mantém minha esposa refém!
— Ele quer casá-la com Alec. Isso significa que não vai fazer mal a ela. Não enquanto não se beneficiar com esse casamento.
— Acha que podemos ter certeza disso, Emmett? Isabella está grávida. Meu herdeiro cresce em seu ventre, e isso pode ameaçar os planos de Pickney. A existência de outro herdeiro porá a perder tudo que ele quer conquistar.
Edward tremia de raiva e medo. Pickney tinha nas mãos tudo que era mais precioso para ele.
Não conseguia pensar em nenhum plano de imediato, mas não se surpreendia com isso. No estado em que se encontrava, não tinha mesmo condições de tratar uma estratégia de ação.
— Vamos voltar a Riverfall. Agiremos como se nossa intenção fosse promover o confronto e a batalha — Edward anunciou, já a caminho da porta da hospedaria. Seu povo o seguia. — É isso que aquele miserável espera. Então, fingiremos agir de acordo com suas expectativas. Seguiremos para Cullen Manor e nos reuniremos diante das muralhas. Exibiremos toda a nossa força e fúria, como se quiséssemos fazer desabar a fortaleza sobre a cabeça do infeliz.
— E qual será nosso plano real? — quis saber Emmett.
— Nosso plano real? — Edward deixou escapar uma gargalhada amarga. — Ainda não existe. Espero poder pensar em alguma coisa até acamparmos diante dos portões de Cullen Manor.
No momento em que Edward entrou em Riverfall, ele soube que Torr havia prevenido os homens. Sem rodeios, ele deu as ordens que todos em seu exército esperavam e seguiu para os próprios aposentos, preparando-se para partir.
Nem mesmo na privacidade do quarto, ele encontrava paz para raciocinar claramente. O espírito de Isabella estava em todas as partes. Seu cheiro pairava no ar, e ele se apressou para poder escapar logo do quarto e das lembranças nele contidas. As recordações alimentavam o medo que precisava controlar.
Foi para o quarto de Margaret e não se surpreendeu ao encontrar Emmett lá. Os dois já eram considerados um par em Riverfall, e todos esperavam pelo anúncio do casamento. Porém, seu interesse não era participar do momento de despedida dos amantes, mas encontrar Thomas, que Margaret acomodara em seus aposentos. O menino dormia na cama da prima de Isabella.
— Como ele está? — perguntou num sussurro preocupado.
— Melhor, milorde — Margaret respondeu ao lado de Emmett. — Dei a ele uma poção para aliviar a dor na cabeça. Porém, nada poderá diminuir a dor que o pobrezinho carrega na alma.
— Eu sei. Em vez de ver alguma bondade na mãe, mesmo falsa, como se podia esperar, ele só viu maldade ainda maior do que já conhecia. E perdeu Isabella, que já era muito importante para ele.
— Sim, minha prima tem um jeito todo especial com crianças. Isabella parece compreender como os pequenos enxergam o mundo.
— Notei como ele conversa livremente com ela.
— Vai trazê-la de volta sã e salva, milorde. Tenho certeza disso.
Edward sabia que Margaret não acreditava nas próprias palavras. Não o suficiente para banir do rosto todos os sinais de preocupação. Mas ela queria acreditar.
— Espero que esteja certa. Pode se incumbir de mandar notícias para a família de Isabella? Eles precisam ser informados sobre todo esse problema.
— Sim, milorde. E tentarei informá-los com toda a... gentileza.
— Faça isso. Serei eternamente grato. Emmett, é melhor irmos de uma vez. — Ele sorriu com frieza. — Não podemos fazer Charles Pickney esperar...
— Não. É claro que não. — Emmett tomou a mão de Margaret e levou-a aos lábios para um beijo. — Eu volto assim que puder, meu coração.
Os dois homens já se retiravam. Já do lado de fora do quarto, Edward murmurou para Emmett:
— Vamos precisar muito da ajuda divina.
Os homens esperavam no salão, já armados e prontos para a jornada.
— Ainda não tem um plano?
— Não. Nada. Não consigo pensar. Toda a minha atenção está em Isabella e no mal que ela pode sofrer.
Emmett abriu as pesadas portas para o grande salão.
— Ninguém vai se surpreender com isso — disse. Edward dirigiu-se à mesa e esperou que seus homens o seguissem.
— Eu sou o líder — ele murmurou para o amigo em voz baixa. — Um homem com o raciocínio prejudicado não pode liderar um exército.
— Pensaremos em alguma coisa enquanto nos dirigimos a Cullen Manor, velho amigo. Já fizemos isso antes.
Edward sentou-se. Os criados serviam uma refeição simples, mas muito nutritiva. Comeriam enquanto conferenciavam e se preparavam para enfrentar os perigos que os aguardavam lá fora. Edward comia sem sentir o sabor dos alimentos. Estava devastado. Um plano apressado e sem nenhum cuidado não parecia ser o suficiente. Não quando havia tanto em jogo.
— Talvez tenhamos de segui-los — ele sugeriu, desistindo de comer.
— Em que direção? — Emmett perguntou. — A trilha não é certa ou clara. Eles podem ter seguido em dez direções diferentes. Seria perda de tempo e desgaste desnecessário de homens e cavalos. Melhor se preparar e seguir diretamente para Cullen Manor. Você sabe disso.
— Sim, eu sei, mas queria minha decisão confirmada. O temor pela segurança de Isabella abala minha confiança. Duvido de minhas atitudes e estou sempre hesitando, sem saber se já cometi algum erro ou se deveria ter agido diferente em algum momento.
— É um homem de batalha. Siga seus instintos. Ouça o coração que lhe rendeu o apelido de Fera Vermelho. É isso que nos mantém vivos. E vai garantir a sobrevivência de Isabella também. Acredite nisso, Edward.
— Se eu puder encontrar esse instinto... — Edward murmurou desanimado. O homem que havia liderado e sobrevivido a tantas batalhas parecia não existir mais dentro dele, sufocado pela preocupação e pelo medo. O amor podia despertar a covardia em um homem.
Ele olhou para os bravos combatentes reunidos à sua volta enquanto era devorado por essa última idéia. Por mais que houvesse tentado ignorar o sentimento, sabia que amava Isabella. Era essa emoção que despertava tanto medo, agora que ela estava em perigo. Por isso ele se sentia inundado pela desesperada necessidade de trazê-la de volta à segurança, por isso via o fracasso como a própria morte, embora não tivesse de ser assim. O amor que sentia por ela explicava muitas coisas, como atitudes que tomara, palavras que dissera ou coisas que sentira. Havia descoberto o que um homem precisa ter para se sentir completamente vivo. Não era de estranhar que não conseguisse nem mesmo raciocinar diante da possibilidade de perder tudo isso.
Ter alguma explicação o ajudava a recuperar parte da compostura, mesmo que fosse fria e forçada. Ele se concentrou em ouvir os planos que eram sugeridos por seus homens. Nenhum deles era perfeito. A idéia de Torr era a que despertava mais esperança. Já havia pensado nela e a descartado em um dos poucos momentos de sanidade desde o rapto de Isabella. Infelizmente, Torr não sabia como solucionar o ponto mais fraco do plano. Como chegariam a Cullen Manor sem serem vistos? Nenhum deles conseguia lembrar uma entrada que pudesse usar para ganhar acesso ao interior da fortaleza. Se o castelo possuía uma área desprotegida e oculta, só a família tinha conhecimento dela, e James levara o segredo para o túmulo.
Aceitando com pesar a necessidade de traçarem um plano durante a jornada, já a caminho do campo de batalha, Edward decretou que era hora de partirem. Ele parou por um momento quando, entre Merlion e Emmett, se preparou para montar. Seu orgulho odiava revelar uma fraqueza, mas sabia que tinha esse dever moral com os dois amigos.
— Emmett, observe-me com atenção — ele disse.
— Não é o que sempre faço? Proteger sua retaguarda?
— Não me refiro a minha retaguarda, mas a mim. Fique de olho em mim. E você também, Merlion.
Emmett franziu a testa.
— Não sei se entendi.
— No estado em que me encontro, posso cometer algum tipo de sandice. Uma loucura.
— Você parece bem calmo — Merlion opinou depois de montar. — E tem razões de sobra para estar alterado.
— Com ou sem razão, cuidem de mim. O que ferve em minha alma é justamente o que pode causar a morte de um homem. A calma que aparento é tênue. Essa é uma situação em que não podemos nos guiar pela emoção, mas ela é tão forte em mim que pode facilmente assumir o comando. Vocês têm minha permissão para arrancar-me da liderança, caso eu comece a agir de maneira estranha ou de forma a pôr em risco as vidas que levo para o campo de batalha. Jurem que não me seguirão cegamente, porque só Deus sabe aonde posso levá-los dessa vez. Para ser um bom líder na luta, um homem precisa ter sangue-frio e cabeça no lugar. Não disponho de nenhuma dessas coisas no momento. Agora jurem — ele exigiu enquanto montava.
— Eu juro — Emmett respondeu sem hesitar.
Merlion também fez seu juramento.
— Mas rezo para que não cheguemos a esse ponto.
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