Autora: AnnaThrzCullen
Gênero: Romance, drama
Classificação: +16 anos
Categoria: Beward
Avisos: Adaptação, Linguagem Imprópria, Nudez e Sexo
A Fera Vermelha
***
Capítulo IV
― Ah, vejo que ainda está forte e saudável, Janet — Isabella provocou ao cumprimentar a mulher ao lado do galpão da lavanderia.
— É cedo, milady. Ainda posso pegar uma friagem.
Isabella revirou os olhos num gesto de exasperação, mas também riu. Royal Deeside havia sido uma agradável surpresa. Era preciso pouco trabalho para tornar o lugar habitável, embora tudo ali fosse simples. A simplicidade não a incomodava. Seria agradável dar os próprios toques à casa.
Porém, os trabalhadores e o povo que vivia em torno de Royal Deeside precisava de boas noções de higiene pessoal. Ela ignorara os uivos, pusera de lado os temores de contrair uma friagem fatal por causa de um banho, e insistira para que todos seguissem as mesmas regras de higiene que ela adotava. Muitas das queixas e das apreensões haviam desaparecido com o passar do tempo, e ninguém morrera por ter perdido a grossa camada de sujeira sobre a pele. Alguns, como Janet, se sentiam à vontade para brincar e fazer piadas. Isabella esperava não encontrar grande resistência quando, dentro de alguns dias, anunciasse a regra do banho diário e da limpeza completa da casa uma vez por semana.
— Bem, em dois dias tentaremos novamente — ela provocou Janet enquanto inspecionava o resultado da limpeza. — Vejo que o jovem Thomas tem pulado na cama com os pés sujos de barro. Os lençóis revelam as travessuras.
Rindo enquanto esfregava o lençol imundo, Janet concordou:
— Sim, ele é um garoto cheio de vida e energia.
— Falarei com ele pessoalmente sobre os lençóis. Thomas precisa aprender a poupar o trabalho alheio sempre que for possível. Se a conversa for insuficiente, farei com que ele lave os próprios lençóis. Garanto que essa será uma lição inesquecível. — Isabella sorriu ao ouvir a gargalhada rouca de Janet, depois seguiu em sua ronda.
No pouco tempo que estava em Royal Deeside, encontrara poucas coisas que precisavam ser corrigidas. As pessoas eram negligentes com a higiene pessoal, mas não havia mais faltas que pudesse criticar. Todos trabalhavam com empenho e competência. Talvez isso contribuísse para o profundo sentimento de adequação que experimentava naquela terra. Se pudesse escolher sua residência, certamente optaria por Royal Deeside, mas não sabia se isso seria conveniente a Edward. Afinal, Masen Cullen era a propriedade da família dele.
Percebendo a presença de Thomas, ela se encaminhou para onde estava o menino. Parado ao lado do pai, ele assistia ao treino dos homens com suas espadas. A presença de Edward ao lado do menino a fez hesitar. Thomas era filho dele... não dela. Balançando a cabeça, ela seguiu em frente. Formavam uma família. Para que tudo desse certo precisava tratar Thomas como trataria os próprios filhos. Só esperava que o marido compreendesse e concordasse, porque, caso contrário, a situação poderia se tornar dolorosamente complicada.
Edward sorriu ao vê-la se aproximar.
— Encontramos lutadores habilidosos aqui. Seu pai administrou bem a propriedade.
— Ele mandou para cá os homens que pareciam mais... bem, entediados com a relativa paz de onde morávamos.
— E fez uma boa escolha. Aqui eles têm com que se ocupar, mas não tanto quanto faziam imaginar os rumores que ouvimos.
— Esse é um grande consolo — ela respondeu sorrindo para o marido.
— Precisa de alguma coisa? — Edward perguntou ao notar sua expressão séria.
— Na verdade, vim falar com Thomas. — Ela olhou para o menino, que sorriu intrigado.
— Quer minha ajuda para alguma coisa? — ele perguntou.
— De certa forma, sim. Notei que se esquece de limpar os pés antes de subir na sua cama. Francamente, seus lençóis dão a impressão de que você pulou na cama com os pés sujos de barro.
Thomas franziu a testa e encolheu os ombros.
— O lençol é lavado. As mulheres cuidam disso.
— Sim, aí está o problema. Você os deixa tão sujos, que as mulheres levam muito mais tempo lavando seus lençóis do que cuidando do restante da roupa.
— O trabalho delas é esse. Limpar as coisas que sujamos.
— Eu sei, mas isso não quer dizer que devemos ser relaxados para tornar o trabalho mais difícil. Quero que limpe os pés antes de ir para a cama, e quero também que pense um pouco mais nas pessoas, que têm que limpar o que você suja. — Ela notou o silêncio prolongado do menino. — Estamos entendidos, Thomas?
— Sim. — Ele se afastou. Isabella olhou para Edward.
— Não queria que ele se zangasse.
Rindo, Edward passou um braço sobre seus ombros e beijou-lhe a testa.
— Receio que ele tenha o temperamento do pai. Como é ainda muito jovem, não aprendeu a dominá-lo.
Isabella sorriu, depois o observou por um momento enquanto pensava.
— Entende que tive de censurá-lo?
— Sim. Ele precisa aprender a pensar, nos outros. E mesmo que não concordasse com você, jamais diria tal coisa na frente do menino. Falaremos sobre isso mais tarde, está bem? O que penso é que Thomas deve aprender a respeitá-la como me respeita.
Isabella o abraçou com força.
— Obrigada, Edward.
— Por nada, embora eu nem saiba o que fiz.
Ainda rindo, ela voltou para o interior do castelo. Edward aceitava sua autoridade sobre o filho. Duvidava de que ele pudesse entender o que isso realmente significava para ela. Agora, só precisava pensar em como faria Thomas aceitar essa mesma autoridade.
Com o passar do dia e a continuidade da expressão carrancuda no rosto do garoto, ela deduziu que teria de enfrentar uma batalha. Essa suspeita se confirmou na manhã seguinte, para sua enorme decepção. Ao deixar o salão onde tomara o desjejum, ela viu Janet descendo a escada carregando vários lençóis. Mesmo enrolados como estavam, era possível ver marcas escuras neles.
— Thomas voltou a pisar nos lençóis com os pés sujos?
— Sim, milady.
— Por Deus — Isabella gemeu depois de examiná-los. — Não vai lavar esses lençóis, Janet. Prepare a tina, mas espere por mim no galpão. Vou buscar Thomas. Como soube que teriam de ser lavados novamente?
— O menino me chamou e ordenou a troca e a lavagem dos lençóis de sua cama.
— Que arrogância!
Isabella dispensou a criada e suspirou. Pelo menos o menino a enfrentava abertamente, em vez de tramar por suas costas. Quando se virou para ir procurar o garoto, ela se viu frente a frente com Edward. Ele a observava na porta do salão.
— Problemas? — perguntou.
— Um pouco. Sabe onde está Thomas?
Levando a mão às costas, Edward puxou o filho para frente.
— Ele estava escondido no corredor. Agora entendo por que se esforçava tanto para não ser visto.
Com as mãos na cintura, ela olhou para o garoto com o ar mais severo que conseguiu compor.
— O que você fez? Pisou no maior lamaçal que encontrou e depois foi sapatear em cima da sua cama? Não me surpreenderia descobrir que levou o barro em baldes para sujar os pés inúmeras vezes entre uma dança e outra. Não sei como conseguiu dormir naquela imundície.
O olhar culpado indicou que ele não havia dormido na cama. Ela quase riu. Esse seria um erro grave, sabia, por isso tratou de conter o riso e manter a expressão severa.
— Como se não bastasse, ordenou que a pobre Janet fosse remover os lençóis para lavá-los.
— Esse é o trabalho dela — Thomas disparou.
— Sim, mas não porque um menino decidiu se comportar mal. Acho que você precisa ter noção de quanto é penoso esse trabalho que impõe a outros com tanta tranquilidade.
— O quê? — Thomas gritou quando ela o segurou pela orelha.
— Vai lavar o lençol que sujou mocinho.
— Não! Esse trabalho é das mulheres! É obrigação de Janet, não minha. E dever dela. Papai!
— Acho que a solução é justa — Edward respondeu calmo.
— Justa? Serei um cavaleiro, um guerreiro.
— Sim, um cavaleiro — Isabella confirmou. — E os cavaleiros seguem regras. Eles têm consideração por aqueles que garantem seu conforto, pelos que contam com sua proteção. E agora você vai aprender o que é consideração.
Isabella segurava a orelha de Thomas, obrigando-o a marchar para o galpão da lavanderia. No início, Janet e as outras mulheres hesitaram. Afinal, o menino era filho do senhor da propriedade. Mas logo elas acataram a determinação da senhora. Thomas era teimoso.
Quase uma hora mais tarde, Isabella sentiu que podia finalmente deixá-lo entregue as cuidados das outras mulheres. Mesmo carrancudo como estava, ele parecia resignado com o próprio destino. Ela terminou de supervisionar todas as tarefas domésticas, depois foi para a cama. Deitada de costas, fechou os olhos e sentiu uma forte compaixão pelos pais. Disciplinar uma criança teimosa não era fácil. Uma mulher adulta encontrava dificuldades para impor sua vontade a um menino! Pensativa, sentiu que não estava mais sozinha. Quando abriu os olhos, viu Edward se sentando na cama a seu lado.
— Ele é teimoso... — murmurou o pai constrangido.
— Sim.
— E temperamental.
— Oh, sim, certamente.
Edward riu do tom enfático da resposta.
— Thomas criou dificuldades?
— Algumas, mas se dedicou a cumprir a tarefa. Espero que ele compreenda que o trabalho é difícil e sinta um pouco de piedade por aquelas criadas que se responsabilizam pela lavagem das roupas.
— Sim. Essa é uma lição que ele precisa aprender. Ele não teve quem o ensinasse. Não com a vida que levou até agora.
— Eu sei. Por isso me limitei a censurá-lo de maneira tão branda na primeira vez. Mas ele precisa aprender. E tem de aprender do início.
— Sim, e você precisa de um tempo longe de tudo isso. — Ele se levantou e a puxou pela mão, indicando que devia acompanhá-lo.
— Eu preciso, não é?
— Sim, precisa. Tem trabalhado duro desde que chegamos aqui. Primeiro cuidou de mim até a ferida fechar, depois se dedicou à supervisão das tarefas domésticas. E agora ainda tem de medir forças com um menino teimoso. Sim, precisa se afastar por um tempo. — Ele a levou para fora do quarto.
— E para onde fugirei?
— Para um recanto muito sossegado que encontrei cavalgando pela propriedade.
Ela não fez mais perguntas, porque já se aproximavam do estábulo. Edward havia mandado selar apenas um cavalo. Eles a acomodou na frente do corpo e juntos deixaram a área protegida da propriedade. Edward recusou a oferta de escolta. Isabella mantinha os olhos voltados para a terra diante dela. Cansada da jornada, ela pouco notou quando chegaram, e ainda não havia tido oportunidade para explorar a área além das muralhas.
O local onde pararam a deixou momentaneamente sem fala pela beleza. Irrigado pelo mesmo riacho que cortava Royal Deeside, a área era verde e exuberante. Havia flores em abundância. A água corria pelo leito rochoso entoando uma canção envolvente. Isabella se aproximou do riacho e molhou os dedos na água fresca.
— É tão gelada quanto parece — ela murmurou, secando a mão na saia.
Sentado com as costas apoiadas contra um tronco de árvore, Edward assentiu:
— Ela recebe pouca luz do sol.
— Uma pena. Parece convidativa. — Ela foi se sentar ao lado do marido e riu quando ele a tomou nos braços. — E tão tranquilo aqui... Quando encontrou esse paraíso?
— Quando percorria as fronteiras da propriedade.
— A terra é boa?
— Parte dela, sim. Não vai nos fazer ricos a ponto de nunca termos de contar nossas moedas, mas também não vai nos empobrecer.
— É boa o bastante, então.
— Sim. — Edward a beijou demoradamente. Quando encerrou o beijo, ele disse: — Posso falar com Thomas, se quiser.
— Não. Acho que será melhor se eu cuidar disso sozinha.
— Sim, eu também penso assim, mas quis fazer a oferta. Creio que as coisas mudaram depressa demais para o menino. Ele perde o controle sobre seu temperamento com mais frequência que antes.
Isabella segurou as mãos dele.
— Ele vai se aquietar. Deve estar com medo de você deixá-lo de lado. Logo perceberá que seu lugar está assegurado. Suspeito de que ele também não esteja habituado a cumprir ordens de uma mulher.
— É verdade. Ele tem vivido em um mundo de homens... — Edward franziu a testa ao perceber que o cavalo se agitava repentinamente.
Sentindo a súbita tensão no marido, Isabella perguntou:
— Algum problema?
— Não sei. — Colocando-a no chão a seu lado, ele tocou a espada. — Alguma coisa perturbou o cavalo.
Isabella começava a se levantar cautelosa quando uma flecha cortou o ar. Ela gritou aterrorizada ao ver que a ponta afiada encontrava o tronco da árvore e prendia o braço de seu marido. Quando fez menção de ajudá-lo, Edward usou a mão livre para fazê-la parar. Praguejando vigorosamente, ele usou a adaga para cortar o tecido da manga da casaca e libertar-se. A flecha não causara nenhum ferimento. Mas era um alvo perigosamente fácil.
Ele ainda terminava de se libertar, quando outra flecha zuniu no ar e se cravou no tronco da árvore, agitando seus cabelos.
Livre, Edward segurou a mão de Isabella e correu para a montaria. Ele parou furioso ao ver que o animal era atingido por uma flecha. Virando-se rapidamente, correu para o bosque, buscando a proteção das árvores e da penumbra.
Identificando um bom esconderijo, fez Isabella se abaixar e se ajoelhou ao lado dela. O inimigo teria de caçá-lo, expondo-se nessa busca. Essa era uma pequena vantagem da qual pretendia tirar grande proveito. Certificando-se de que Isabella estava bem e controlada, embora um pouco ofegante, ele estudou a área que os cercava.
Isabella tentava se manter quieta enquanto respirava profundamente, buscando recuperar um mínimo de tranquilidade. Edward não estava ferido. Seu marido era um homem de muita sorte. Mais do que qualquer outro que já havia conhecido. Esperava que essa tendência se mantivesse. Sabia que precisariam de uma carroça transbordando sorte para poderem escapar ilesos.
Ela ouviu alguém se aproximar e sentiu que Edward ficou tenso, os olhos buscando a origem do som. O breve toque do dedo indicador em seus lábios nem era necessário, porque sabia que devia ficar quieta. Conhecia o valor do silêncio em situações como essa. Movendo-se o mínimo necessário, olhou na mesma direção em que Edward olhava e viu três homens caminhando cautelosos na direção em que eles estavam. Sabia que haviam sido enviados por Alec para matar Edward.
— Acho que isso não é muito inteligente — resmungou um deles. — Ele pode estar escondido em uma infinidade de buracos no meio de tantas árvores.
— Quieto! Cachorro covarde. Ele é só um homem, e ainda tem de proteger a mulher. Vamos nos separar aqui — decidiu o mais alto dos três. Ele olhou para o mais hesitante. — Você vai em frente. Eu vou pela direita. Vamos pegar esse pássaro.
— Eu acho...
— Nada. Você não é pago para pensar. Encontre-o e ache também aquela maldita mulher. — O líder seguiu pela direita.
Um sorriso frio surgiu no rosto de Edward, e Isabella estremeceu ao vê-lo. Ali estava o homem que conquistara o apelido de Fera Vermelho. Cercada por proteção e segurança nos outros confrontos, nunca o vira realmente nessas circunstâncias. Sabia que logo veria a morte, e precisava endurecer o coração. Esses homens planejavam matar Edward. Misericórdia seria um erro fatal.
Mesmo reconhecendo que aquela era uma atitude necessária, Isabella ficou chocada com o que viu. Ele era veloz e ágil. Considerando seu tamanho, o movimento foi ainda mais surpreendente. Edward esperou até que o homem estivesse diante deles. Então atacou. Com um salto impressionante, cobriu a boca do atacante com uma das mãos e puxou-o para trás. O desconhecido ainda levantava os braços para tentar se safar quando teve o coração perfurado pela lâmina da adaga. Isabella ecoou o espasmo sufocado que brotou do corpo que caía.
Edward não esperou que ela reagisse realmente ao que acabara de ver. Ele soltou o corpo e a amparou com um braço. Tentando respirar com alguma normalidade enquanto a levava para outro esconderijo, ele a impedia de protestar ou fazer perguntas. Isabella sufocava o grito de terror, lembrando-se de que lutavam pela sobrevivência.
Edward a jogou entre arbustos altos e abaixou-se a seu lado. Alguém se aproximava. Ele se levantou de um salto para interceptar outro atacante.
Isabella desviou os olhos. Preferia não ver quando o marido pusesse fim a mais essa ameaça. Resignada e entorpecida, ela se sentiu arrastar novamente, como se fosse uma bagagem qualquer, até ser depositada em um novo esconderijo. Para seu desespero, o último inimigo não morreu tão rapidamente nem tão silenciosamente. Edward precisava de respostas, por isso o enfrentou com a espada preparada e apontada para seu peito. Ele obteve todas as informações de que precisava antes de pôr fim à vida do homem.
O homem revelou que eram apenas três atacantes, por isso sabiam que agora estavam seguros. Portanto, foi sem nenhuma surpresa que ela se sentiu arrastada pela mão, dessa vez para fora do bosque. Edward depositou-a sobre a relva macia cercada por arbustos que proporcionavam proteção e alguma sombra. Isabella o viu usar a barra da túnica para limpar a espada e depois cortá-la, jogando-a para o lado.
Recuperada de tudo que acabara de ver e sentir, ela se preparava para fazer algumas reclamações, quando o marido a encarou. As palavras morreram em sua garganta ao ver a expressão dele. O desejo escurecia seus olhos e endurecia seus traços. Ela sentiu uma resposta imediata. Decidindo deixar as queixas para mais tarde, abriu os braços e riu ao vê-lo praticamente mergulhar neles.
O ato sexual foi selvagem, atribulado. Edward a beijou com ferocidade quase não a deixando respirar, desceu a parte de cima do vestido e sugou um dos seus seios, enquanto apertava outro mamilo. Edward desceu a mão desocupada e subiu a barra do vestido e chegou à intimidade de Isabella, e quase gozou por senti-la tão molhada, mas se conteve.
Como estava com o sangue quente ainda pela pequena batalha não pensou muito em ser gentil simplesmente posicionou seu membro na entrada de Isabella e deslizou. E começou um vai vem intenso, com estocadas curtas e vagarosas, enquanto falava bem baixinho no ouvido de Isabella.
Isabella se sentia em outro mundo, ouvia a voz do marido em seu ouvido, mas estava perdida nas sensações, sendo tomada sem nenhum cuidado, apenas o desejo voraz que sentia. Não havia pudores para aquele momento, somente a necessidade que sentia de ser preenchida por seu marido. Só quando já estavam saciados nos braços um do outro, ela percebeu que se deixara possuir deitada na relva como uma camponesa qualquer. Nem haviam se despido. Tinha as saias erguidas até a cintura, e Edward ainda estava com a calça presa aos tornozelos. Quando o marido revelou o próprio constrangimento levantando-se para erguer a calça, ela riu. Aliviado, ele a viu se arrumar sem pressa.
— Machuquei você?
— Não, embora deva encontrar alguns hematomas em pontos estratégicos.
Ele a abraçou e beijou.
— Tê-la por perto quando ainda tinha o sangue quente da batalha foi uma tentação irresistível.
Lembrando o que havia aquecido seu sangue, ela ficou repentinamente séria.
— Acha que pecamos por nos termos entregado à paixão depois de... depois de tudo?
— Não. Eles queriam nos matar, Isabella.
— Eu sei. Sei que tinha de agir como agiu. Ser misericordioso teria sido seu fim. Mesmo assim, sentir esse desejo tão intenso quando há três homens mortos... Não sinto que tenha feito algo de errado, mas parece tão insensível!
Aliviado por ela não estar arrependida e por ter sentido prazer em sua companhia, Edward tentou explicar sentimentos que eram muito familiares para ele.
— Talvez. Sempre pensei algo muito parecido. A luxúria não me domina no meio da batalha. Não sou tão cruel a ponto de me inflamar por derramar o sangue de um homem.
— Enquanto se vê cercado pela morte e por mortos, ainda vive.
— Sim. — Ele a olhou demonstrando apreciação por sua percepção. — É nesse momento que surge a necessidade. Olho em volta, e sei que sobrevivi para ver outro dia... — Ele encolheu os ombros, incapaz de descrever claramente o que sentia.
— Então, procura provas mais concretas de seu bem-estar — ela deduziu. — É uma celebração?
— Talvez. Você não lutou essa batalha, mas se viu envolvida nela. Talvez tenha acontecido a mesma coisa com você.
— Pode ser. Acho que tudo isso teve muito a ver com como você me segurou.
— É mesmo? — Não devia deixar a admissão de Isabella subir-lhe à cabeça.
— Sim. Realmente. Todo aquele ardor... Senti como se o fogo brotasse de seu corpo e queimasse o meu.
— Vou tentar me lembrar disso.
— Oh, então devo ser mais cuidadosa?
— Não, para poder descobrir exatamente o que a inflamou tanto, depois praticar bastante.
— Pode ser difícil... — ela murmurou, sorrindo. Edward riu, mas interrompeu a gargalhada de repente e olhou em volta, ouvindo com atenção.
— Cavaleiros.
— Deus não permita! Mais assassinos contratados? — Ela se encolheu entre os arbustos.
Recolhendo rapidamente a túnica e a espada, Edward se abaixou na frente dela, olhando na direção de onde viera o som.
— Se Alec tivesse mais homens por aqui, eles já teriam atacado. A chance de me matar seria muito maior. De qualquer maneira, é melhor agirmos com cuidado. Há outros com quem devemos nos preocupar.
Isabella teve a impressão de que horas se passaram até os cavaleiros surgirem. Ela quase desfaleceu de alívio ao reconhecer Emmett na frente do pequeno grupo. O medo que havia sentido era tão intenso, que demorou um pouco para levantar-se e cumprimentar os homens, como Edward fazia.
— Não disse que desejava ficar sozinho? — ele disparou, embora sorrisse.
— Sim, eu me lembro de alguma coisa nesse sentido — Emmett respondeu. — Porém, algo chamou minha atenção e nos fez pensar que poderia apreciar alguma companhia, afinal.
— O que foi isso? — Edward perguntou passando um braço em torno da esposa.
— Merlion retornou da cidade contando uma história interessante. Estranhos foram vistos por lá nos últimos dias.
— Quantos?
— Seis, de acordo com o que nos contaram.
— Bem, agora são três, então.
Emmett o encarou com os olhos cheios de curiosidade.
— Está dizendo que não temos mais de nos preocupar com os outros três?
— Se não quer deixá-los entregues à natureza, os corpos estão no bosque — disse Edward.
— Isso pouco me incomoda. Onde está seu cavalo?
— Morto. Precisamos de uma montaria. Você nos salvou de uma longa caminhada.
Logo Isabella e o marido paravam diante do castelo em Royal Deeside, onde um mensageiro do rei esperava por eles.
Isabella estava curiosa quanto à mensagem, mas temia que fosse uma simples convocação.
Como cabia ao seu papel de esposa, ela se retirou e deixou Edward lidar com o homem em total privacidade. Era claro que esse era um assunto de homens. Contendo o ímpeto de voltar ao salão e exigir informações que, em última análise, diziam respeito a sua vida, ela subiu a escada para ir se lavar e se recompor no quarto. Mais tarde acabaria sabendo de tudo, não tinha dúvidas disso.
Depois do banho, usando um vestido limpo e exibindo os cabelos brilhantes e ainda úmidos, Isabella estranhou as batidas na porta de seus aposentos. Esperava não ter de resolver dificuldades domésticas agora, porque precisava de paz e sossego para refletir sobre os eventos daquela tarde. Foi com grande surpresa que viu Thomas abrir a porta ao receber autorização para entrar.
— Terminei de lavar os lençóis — ele disse.
— Trabalho duro, não? — Isabella perguntou enquanto escovava os cabelos. Quando chegasse à idade adulta, Thomas partiria muitos corações com aqueles olhos verdes e profundos.
— Muito.
Ela deixou a escova sobre o toucador e encarou o menino.
— E mesmo assim, fez Janet repeti-lo por dois dias consecutivos.
— Sim. — Ele baixou os olhos. — Isso não foi correto.
— Perceber seu erro é o primeiro passo para tornar-se o melhor cavaleiro da Inglaterra. — Ela sorriu para o menino, depois ficou séria novamente. — As coisas não são mais como antes, nos tempos de meu pai. Naquela época era apropriado tratar bem os servos e o povo de modo geral, mas agora, depois da peste, esse cuidado tornou-se ainda mais importante. Temos sorte por contarmos com os braços necessários aqui em Royal Deeside para realizar todo o trabalho — ela comentou séria. — Está entendendo o que digo? Não quero que pense que deve demonstrar consideração só para manter os servos trabalhando.
— Eu sei. Devo agir assim porque essa é a atitude correta. Fui cruel com Janet, e crueldade é sempre condenável. Mas eu estava zangado.
— Eu percebi. Todos nós ficamos zangados de vez em quando, Thomas. Já viu seu pai ficar furioso.
— Mas ele nunca comete uma crueldade.
— Não que eu tenha visto, e isso é algo que conferiu a ele muito respeito. E você, Thomas, acaba de me mostrar que tem a mesma qualidade. — Ela conteve o sorriso ao ver que o menino inchava o peito com orgulho.
— Serei um cavaleiro tão valoroso quanto meu pai.
— Não tenho dúvidas disso. E provavelmente será tão grande quanto ele. — Podia antever também esse detalhe, porque Thomas já era alto demais para a idade.
— Acha mesmo?
— Bem, vai ser mais alto do que eu, é certo.
***
Edward bebeu mais um gole de cerveja, olhando para o mensageiro do rei com evidente contrariedade. O rei estava no Oeste se preparando para enfrentar rebeldes e ladrões. E requisitava sua presença na corte. Ainda devia ao rei quarenta dias de serviço. Era claro que a dívida era cobrada.
— Vamos, não precisa ficar tão taciturno — Emmett manifestou-se.
— Tenho meus problemas para resolver. Esse é um péssimo momento para ser chamado a solucionar dificuldades de nosso soberano.
— Talvez não.
— Em que está pensando?
— Bem, duvido que Alec e o tio se atrevam a atacar enquanto você estiver na corte.
— Mas ele pode aproveitar minha ausência para atacar Isabella.
Emmett franziu a testa.
— Não pretende levá-la? Não seria mais seguro mantê-la ao seu lado?
— Você acha que seria? Sabe como é a corte...
— Sim... E Tanya vai estar lá.
— Tenho de pensar nisso, embora não me referisse a ela. Estava pensando em todos aqueles homens bem-vestidos pulando de cama em cama como pavões exibicionistas.
Emmett balançou a cabeça.
— E é claro que eles vão se exibir na sua cama. E Isabella vai permitir. Sendo você como é, porque seria diferente?
— Emmett — Edward tentou silenciá-lo, irritado com o tom sarcástico.
— Continua denegrindo o nome dela sem causa. Pois marque minhas palavras, meu amigo. Isabella não é tola. Logo ela vai deduzir seus pensamentos, se é que já não o fez. Quando perceber o quanto você pensa mal dela, como desconfia de sua conduta, talvez faça exatamente aquilo que você teme e espera. Já que a condena sem causa, ela pode lhe dar esse motivo.
— Ah, entendo. A culpa será minha? Eu mesmo porei os chifres em minha testa?
— Sim, Edward, se continuar esperando por eles, eles virão. — Emmett bebeu o que restava de sua cerveja e se levantou da mesa no salão.
Edward também esvaziou sua caneca. O que mais o aborrecia era poder detectar a verdade nas palavras de Emmett. Quando se esperava pelo pior, o pior acontecia. Sabia disso. Infelizmente, também sabia que muitas mulheres como Isabella acabavam fazendo exatamente o que se esperava delas. Vira acontecer. Estava condenado. Cortejava o desastre, fosse por antecipar continuamente uma vergonhosa traição, fosse por ter uma esposa bela e atraente como Isabella.
Desanimado, ele se recolheu aos seus aposentos. Podia levar a esposa à corte como ele. Talvez estivesse abrindo espaço para mais problemas, mas precisava pensar na segurança dela.
Quando entrou no quarto, ele encontrou Isabella e Thomas rindo. Vendo a esposa feliz, formando um elo com seu filho, podia quase acreditar que o idílio dos últimos meses poderia perdurar. Queria acreditar nisso, mas parte dele se agarrava ao medo da traição, do deboche e da humilhação que havia conhecido no passado.
— O mensageiro trouxe más notícias?
— Inconvenientes, mas não exatamente ruins — ele respondeu. — Fomos chamados à corte.
— Nós fomos? Você e eu?
— Sim, você e eu. Partiremos em três dias.
— Rosalie, como foi capaz de fazer isso comigo?
Sofrendo os efeitos de um ataque de espirros, Rosalie se sentou na cama e viu Isabella andando pelo aposento.
— Acha que sofro assim por opção? — Ela pegou a caneca de caldo sobre a mesa de cabeceira e bebeu um gole para amenizar a dor na garganta.
Isabella suspirou e foi se sentar na beirada da cama da prima. A pobre Rosalie parecia estar muito mal, especialmente por causa do nariz vermelho e dos olhos inchados e lacrimejantes. As três mulheres que dividiam o quarto com ela haviam fugido, temerosas de contrair a enfermidade. Era egoísmo sentir-se contrariada porque a prima não poderia acompanhá-la à corte.
— Estou me comportando como uma tola insensível.
— Não, Isabella, eu entendo. E gostaria muito de ir, embora não entenda sua aflição com a viagem.
— Aquela mulher vai estar lá!
— Lady Tanya? A mãe de Thomas?
— Sim, ela.
— Tem certeza?
— Pelo pouco que Edward me contou sobre ela... sim. O fato de lady Tanya frequentar a corte foi a única razão pela qual ele me contou o pouco que revelou sobre ela.
— Mas Edward também disse que não tem nada a ver com essa mulher agora.
— Sim, mas não disse que deixou de amá-la. Ele a evita, e essa é a resposta para sua questão. Para mim, isso indica que a tal mulher ainda pode ter poder sobre meu marido, ou ele não sentiria necessidade de se manter longe dela.
— Bem... se ele ainda se interessa pela megera, merece ser deixado nas garras do sofrimento. Mas espero que seus temores sejam infundados.
— Eu também. — Isabella se levantou e se surpreendeu ao encontrar Emmett na porta do quarto. — Sabe onde está meu marido?
— Com o responsável pelas armaduras. Por isso vim visitar Rosalie antes de ir falar com ele sobre o que Merlion e eu descobrimos. Ela está melhor?
— Está péssima, mas vai sobreviver. — Balançando a cabeça, ela saiu e deixou Emmett na companhia da pobre Rosalie. Precisava encontrar o marido.
Ele saía do galpão das armaduras e sorriu satisfeito ao vê-la. Porém, mesmo diante do sorriso radiante, Isabella ainda sentia medo. A visita à corte deveria ser motivo de excitação e alegria, mas temia que ela custasse sua felicidade e seu casamento.
Talvez devesse confessar o amor que sentia por Edward. Assim, ele teria mais um motivo para continuar evitando lady Tanya e permanecer a seu lado. Porém, se ele não correspondesse ao sentimento, à relação seria composta apenas de culpa e obrigação, e isso era algo que não desejava. Era uma mulher orgulhosa. Se ele não soubesse o quanto era importante em sua vida, também não poderia saber como a magoaria se a deixasse para seguir Tanya.
— Está tudo pronto para a viagem — ele anunciou, passando um braço sobre seus ombros. — Partiremos amanhã com a luz do dia.
Caminharam juntos de volta ao castelo fortificado.
— Quanto tempo de viagem até a corte do rei?
— Alguns poucos dias. Não mais do que isso. Não será uma viagem tão árdua quanto às outras que fizemos.
— Quanto tempo passaremos lá?
Isabella parou no hall para instruir uma criada. Queriam vinho, pão e queijo no salão.
— Receio que tenhamos pelo menos quarenta dias de obrigações - Edward revelou enquanto se sentava à mesa.
— Tanto assim? Estamos em guerra, então!
— Bem, não houve uma declaração oficial. Na verdade, o rei busca rebeldes e ladrões, pois está farto dos constantes ataques e das ameaças veladas. Para caçar esses bandidos é preciso ter tempo e inteligência, porque eles vivem escondidos em seus covis sombrios.
Ela assentiu, depois se virou para servir o vinho trazido pela criada. Já se preparava para retomar a conversa sobre a corte, quando Emmett e Merlion entraram no salão. Ela os serviu e esperou impaciente pelo relato sobre a busca pelos mercenários de Alec.
— Encontramos os outros três — Emmett anunciou.
— E? — Edward incentivou-o.
— Eles nos enfrentaram, mas conseguimos obter mais informações sobre os planos de Aro antes de mandarmos os miseráveis para o inferno.
— Ele o quer morto — Merlion revelou sem rodeios.
— Eu já imaginava — Edward respondeu.
— Acreditamos que Aro está envolvido na morte de James. E, pelo que ouvimos dos mercenários, ele planeja sua morte há mais tempo do que podíamos imaginar.
— Também já havia considerado essa possibilidade. Lembro-me agora de alguns incidentes que tinham a marca de um atentado. Não foram simples acidentes ou consequências de uma luta justa.
— Sim, também me lembro de alguns — Emmett concordou.
— Então... — Isabella mal conseguia falar. — Charles Aro planeja que Alec seja o senhor de Masen Cullen?
Ele certamente planejou essa ação desesperada, depois de Alec ter estado tão próximo de obter a herança e perdê-la.
— Não podemos ter certeza — respondeu Edward. — E nem tem importância, mas agora sabemos que ele planeja me matar. Ponderar sobre crimes do passado é perda de tempo.
— Suponho que sim. No entanto, se ele matou James...
— Pagará por isso — Edward anunciou com firmeza. — Descobriram alguma coisa sobre as intenções que esse miserável tem com Isabella? — Havia pensado em tirá-la do salão, mas decidira que seria melhor ela ter conhecimento do que a esperava, por pior que fosse a ameaça.
— Oh, sim, isso ficou muito claro — Emmett respondeu. — Aro quer que Isabella se case com Alec, aquele idiota fraco e dominado. Assim, ele asseguraria o poder sobre Masen Cullen e ainda teria também a propriedade onde agora estamos.
— E ele espera que a família de Isabella aceite tudo sem se manifestar, sem reagir?
— Aro terá Isabella como refém. Ela será sua proteção.
— Sim, seria. Os Swan se sentiriam de mãos atadas, pois temeriam prejudicá-la com uma ação precipitada. Estou certo? — Ele olhou para a esposa.
— Inteiramente — ela confirmou. — Levaria algum tempo até que o desespero os impelisse a agir.
— Exatamente. Chegaria um momento em que eles pensariam não ter nada a perder. — Edward balançou a cabeça. — Não sei como esse sujeito espera escapar com vida. No início, quando agia de forma sutil, talvez... Mas agora ele me ataca abertamente. E teria de levar Isabella pela força bruta. Haveria um alerta.
— Creio que ele se tornou refém dos próprios planos — opinou Emmett. — Agora vai ter de ir até o fim, porque não há mais como parar. Aro já se revelou como seu inimigo. E você vai estar sempre alerta, vigilante.
— Sim, eu sei, mas... Tem certeza de que ele não pretende matar Isabella também?
— Pelo menos, não por ora, mas isso não significa que ela não sofrerá prejuízo. Aro precisa dela viva no início, mas não vai se importar se tiver de matá-la.
— Sim, entendo. Bem... preciso servir ao rei agora. Você tem razão, Emmett, ao sugerir que Aro vai recuar enquanto estivermos na corte. Usaremos esse tempo para surpreendê-lo com algum plano.
— Como? — Isabella quis saber.
— Ainda não sei, mas vou pensar em alguma coisa. Estaremos seguros na corte, minha querida, e isso é o que importa.
Isabella deixou os homens e se retirou do salão, pensando nas palavras do marido. Não conseguia pensar na corte como um paraíso de segurança. Era verdade que nunca havia estado lá, mas ouvira rumores e conversas em quantidade suficiente para suspeitar de que a corte poderia oferecer muitos perigos. Intriga e traição eram comuns nos corredores do palácio. E certamente, esse seria o lugar perfeito para Aro pôr em prática seus planos e esquemas.
Edward sabia muito mais que ela sobre o mundo de maneira geral. Se acreditar que Aro os deixaria em paz enquanto estivessem na corte, teria de confiar em seu julgamento.
Rosalie também confiava em Edward e em seus comandados, a julgar por sua reação depois de ouvir o relato da prima.
— Aro sofre da doença da ganância. Não é uma enfermidade rara, pelo que ouço dizer. Porém, é difícil compreender como o homem espera realizar todos esses males e escapar ileso. Ele deve ser um pouco desequilibrado, também — Rosalie concluiu tossindo.
— Eu ficaria muito mais tranquila se ele estivesse morto... Que Deus me perdoe por isso.
— Ele a perdoará. O homem quer matar seu marido e quer atentar também contra sua vida. E um alívio saber que Edward é um lutador habilidoso.
— Sim, ele é muito forte, corajoso e capaz, mas se o inimigo continuar atacando em grande número acabará por superá-lo. Temo pela vida de Edward.
— Você o ama.
— Sim. Amo muito.
— Então, acabou a confusão. E acho até que sei quando ela acabou. Quando seu marido foi ferido.
— Sim, foi quando percebi. Agi como se ele houvesse perdido uma perna. — Ela riu. — Bem, pelo menos não desmaiei quando cuidava do ferimento, nem afoguei meu marido em lágrimas.
— E o que ele disse quando confessou seus sentimentos?
— Eu não contei.
— Não? Por quê?
— Preferi manter segredo por um tempo. Sei que ele não corresponde ao sentimento, e sei também que essa falta de retribuição vai me ferir profundamente. Prefiro evitar esse sofrimento. E você não pode me criticar por isso.
— Não, mas acho que deve tomar cuidado. Não deixe esse medo criar raízes profundas, ou vai acabar guardando silêncio quando chegar a hora de falar.
— Eu sei. Além do mais, tenho de considerar Tanya.
— O que lady Tanya tem a ver com sua decisão de revelar seus sentimentos a Edward?
— Muito. Pensei em falar com ele antes de irmos para a corte, antes de ele reencontrar essa mulher.
— Seria uma boa decisão. Daria a ele força, caso seja necessária, para evitar essa mulher.
— Sim, isso o faria ficar do meu lado, mesmo que ela tente atraí-lo. Mas será que ele também sente o mesmo por mim, ou algo parecido, pelo menos? E se, mesmo sabendo de meus sentimentos, ele for atrás dela? E se revelar meu amor a ela? Eu não suportaria essa humilhação.
— Ah, orgulho.
— Sim, orgulho. Não é a mais nobre das emoções, mas todos nós a temos em alguma medida. O meu diz que devo esperar. Falar com Edward não me trará nada de positivo. Não falar me poupará da dor. A dor de saber o quanto ele poderá me magoar se decidir voltar para seu antigo amor. Não revelar o que sinto me permitirá ao menos preservar um mínimo de dignidade diante da derrota. Posso fingir que não me importo, e ele jamais saberá da minha agonia.
— Isabella não acredita que Edward voltará para lady Tanya, uma mulher que o tratou tão mal. Não quando tem você. Ele não é idiota.
— Os homens sempre podem ser tolos quando se relacionam com uma mulher, e nós duas sabemos disso. Ela não é só um antigo amor, mas mãe do filho dele, também. Esse é um elo inegável e forte. Sei que deseja aplacar meus medos, mas considero sensato me apegar a alguns deles. Assim estarei alerta para problemas que poderão surgir.
— Sim, talvez você esteja certa. Thomas falou alguma coisa sobre a mãe? Ele deve saber que lady Tanya estará na corte.
— Oh, ele sabe, mas fala pouco sobre o assunto, e eu não quero pressioná-lo. Thomas não parece estar incomodado com isso. E ele também não parece estar feliz, agitado ou ansioso. Talvez tenha aprendido a esconder as emoções. Se lady Tanya o importunar ou magoar de alguma forma, eu terei de interferir. Se não, prefiro ficar fora disso.
— Sensata, como sempre — Rosalie aprovou.
***
— Mais seis homens mortos. — Alec olhou com evidente nervosismo para o tio que, carrancudo, dividia a mesa com ele. — Essa sua campanha está nos custando caro demais.
— Ninguém pediu sua opinião — Aro respondeu, olhando em volta pelo chalé que usavam como esconderijo. — Quer passar o resto da vida assim?
— Podemos consertar as coisas com meu primo. Então, retornaríamos a Masen Cullen.
— Você não raciocina? Há meses tentamos matar o homem! Acha mesmo que ele vai simplesmente esquecer tudo isso e nos receber como parentes e amigos? Ele vai nos arrancar a cabeça do pescoço, isso sim.
— Bem, não podemos alcançá-lo na corte, e agora se tornou difícil encontrar mais homens para a missão. Temos cada vez mais mortos e menos dinheiro. Não devíamos ter começado com isso. Não devíamos... — Alec se calou ao ser atingido por uma bofetada do tio.
— Pare de choramingar! Ainda não perdemos.
Alec abriu a boca para argumentar, mas desistiu. A cada fracasso, o tio tornava-se mais violento, e era aterrorizante pensar que havia atado seu destino ao de um louco. Amaldiçoava a fraqueza que o mantinha ligado ao irmão da mãe, obrigando-o a participar de planos que não aprovava. Sempre havia sentido ciúme de James e Edward, mas nunca desejara nenhum mal a eles. Também não queria o mal de Isabella, mas começava a desconfiar de que o tio tinha planos nefastos também para ela. Odiava pensar que nem essa certeza dava a ele a força necessária para combatê-lo.
— Edward e sua meretriz... — Aro dizia.
— Isabella não é uma meretriz.
O protesto rendeu a ele outra bofetada, mas Alec manteve a declaração.
— Eles estarão ocupados na corte. Isso pode nos beneficiar. Teremos tempo para tomar Masen Cullen.
— E como manteremos a propriedade? Precisamos de mais homens do que temos agora.
— Teremos mais homens e teremos Isabella. Ela será nosso escudo em caso de ataque.
— Se pudermos capturá-la. Ela é mantida em total segurança.
— Já pus esse plano em ação. Não será fácil, mas, se recuarmos um pouco, talvez relaxem a guarda. Temos tempo. Se tomarmos Masen Cullen, podemos até evitar que a Fera Vermelha saiba da perda por algum tempo. Podemos usar a mulher dele para tomar o lugar.
— Ele virá atrás dela.
— É claro que sim. E eu o quero também. Vamos atraí-lo usando a mulher como isca e depois o mataremos.
— E eu me casarei com Isabella? — Alec observava atento as reações do tio.
— O quê? Ah, sim, é claro. O casamento é necessário para assegurar o domínio sobre as terras. Terá sua bela esposa.
Por um tempo, Alec ouviu as palavras que não foram ditas. Não conseguia entender o que o tio lucraria com a morte de Isabella, mas sentia que era essa sua intenção.
O plano de Aro era como uma rede cheia de furos. Aro realmente pensava que os homens de Edward se retirariam quando ele fosse morto? Acreditava que a família de Isabella não reagiria? Estariam cercados de inimigos poderosos! E seu tio não parecia pensar nisso.
Alec encheu o copo de vinho e bebeu com desespero. Embriagar-se não resolveria seus problemas, mas libertaria a mente das dúvidas, dos medos e da confusão. Por algum tempo, encontraria paz e não teria de admitir que era um fraco.
***
Sentada na cama, Isabella abraçou os joelhos e ficou observando Edward se preparar para dormir. Na manhã seguinte partiriam para a corte. Ela tentava se convencer de que a jornada não representaria o fim de seu casamento, mas o medo persistia. Tentando deixar os temores de lado, concentrou os pensamentos nos problemas que Alec e o tio representavam.
— Fez algum plano com relação a Alec e Aro? — perguntou.
— Nada concreto. Conversamos muito, mas as possibilidades são inúmeras. Temos de escolher com cuidado.
— Entendo. Vai falar com o rei sobre esse assunto?
— Também discutimos essa possibilidade, mas não decidimos nada.
— Por que não revelaria esse problema ao rei? Aro é um criminoso. O rei não tem o direito de saber? Ao menos terá a sanção real para qualquer atitude que se veja obrigado a tomar.
— Sim, isso me pouparia de ter de dar explicações posteriores. Mas estamos tratando de uma questão familiar, uma batalha entre parentes. Reluto em revelar toda essa situação. Creio que seria melhor se pudesse manter essas dificuldades no âmbito privado, familiar. Entende o que digo?
— Oh, sim. Mas os parentes não são meus, por isso posso ver benefícios e dificuldades que você não enxerga.
— O mesmo ocorre com Emmett e Merlion — ele respondeu, apagando todas as velas, exceto a que estava ao lado da cama. — Eles acham que devo contar tudo ao rei. — Edward se deitou e tomou-a nos braços.
— Não pode estar preocupado com o que vai acontecer com Aro. É em Alec que está pensando?
— Sim. Custo a crer que ele esteja por trás disso tudo. Alec é fraco, fácil de dominar, mas nunca foi cruel. Ele não é um assassino. Nunca teve estômago para lutar.
— Mas ele e Aro podem mandar que outros matem por eles.
— É verdade. Posso estar confundindo a criança que ele foi com o homem que se tornou. Um homem moldado e comandado por Charles Aro.
— Pobre Alec.
— Pobre Alec? — Ele riu. — Eu sou o alvo da espada!
— Eu sei, mas não consigo deixar de sentir pena dele. Não o conheci realmente, mas tenho a sensação de que ele é refém de algo que não quer ou não pode parar. É errado, eu sei, mas nunca senti nenhuma maldade nele. Por mais que me esforce, não consigo imaginá-lo por trás disso.
— É o que sinto. Mas parte de mim insiste em dizer que sou apenas um fraco, um tolo emotivo que fica cego para a razão. O resultado é a dúvida, e esse não é um sentimento favorável para um homem que se vê na iminência de uma batalha.
— Em resumo, não quer ter nas mãos o sangue de Alec.
— Não.
— E não existe um meio de evitar isso? Não pode derrotar Aro e poupar Alec?
— Talvez. Não sei. E se ainda assim eu estiver deixando uma faca apontada para as minhas costas? Sei que Alec nunca me enfrentaria frente a frente, mas não posso ter certeza de que ele não se tornou capaz de me atacar pelas costas. Essa é uma dúvida com a qual não poderei conviver. — E não revelaria que a espada poderia estar apontada para ela também.
— Não seria maravilhoso se Alec tivesse forças para se libertar do tio, se passasse para o seu lado?
— Sim, seria esplêndido. Nesse caso eu poderia confiar nele.
Ainda podia lembrar o primo na infância, o rosto pálido e amedrontado. Apesar de todo o esforço empregado com esse propósito, ele e James nunca conseguiram remover o medo dos olhos de Alec. Agora percebia que Charles Aro já começara a dominá-lo. Poucas correntes eram tão fortes quanto aquelas forjadas pelo medo. Edward duvidava de que Alec houvesse conhecido outro sentimento.
Ainda sentia pena daquela criança, mas tinha de endurecer e resistir ao apelo das lembranças. A piedade poderia enfraquecê-lo em um momento de grande perigo. Seria justo. Não negaria ao primo nenhuma chance de reparar seus erros. O que não podia era permitir que a emoção interferisse no que tinha de ser feito.
Isabella se moveu, interrompendo seus pensamentos.
— Acabei de pensar que... Não contei nada disso a sua família — ele disse.
— E acha que é necessário? — Isabella indagou.
— No momento não preciso da força extra que eles podem representar.
— Nesse caso, é melhor não dizer nada. Só causaria apreensão. Vamos guardar segredo por mais um tempo. Enquanto for possível. E tente tirar da cabeça todas essas preocupações, ao menos por algumas horas.
— Seria ótimo não pensar em problemas por algum tempo. — Ele sorriu, abraçando-a com mais força.
— Como sua esposa, é meu dever assegurar que você esteja sempre satisfeito. — Isabella o beijou no pescoço e sorriu sedutora.
—Tem razão, essa é sua obrigação — Edward concordou antes de beijá-la.
— Farei você esquecer Alec.
— Que Alec? — ele murmurou rindo.
***
Alec olhou para o tio e caiu na cama rústica. Bebera cerveja até não poder mais, mas não conseguiu encontrar a paz que tanto queria ter. Imagens e pensamentos ainda o atormentavam, e giravam em sua mente num carrossel embriagado, confuso. Sentia-se tonto, enjoado. Deitado de costas e mantendo os olhos fechados, esperou que o tio e seus homens logo subissem ao forro do castelo, pois assim ficaria sozinho e em silêncio.
— Por que mantém por perto o idiota bêbado?
— Porque, Thomas, ele é o legítimo herdeiro de tudo que quero — Aro respondeu. — Essa sempre foi sua única utilidade para mim. Acha que eu arrastaria esse peso morto se tivesse escolha?
— Não pode conseguir o que quer sem ele? — Bertrand indagou cocando a barriga.
— Não. Se existe um meio, ainda não o encontrei. Depois que os pais dele morreram, obtive acesso aos bens por intermédio de meu sobrinho. Quando ele se casar com a bela Isabella e tiver um herdeiro, continuarei controlando tudo por meio dessa criança. Então ele não terá mais nenhuma serventia.
Thomas balançou a cabeça.
— E difícil acreditar que esse sujeito fraco tem seu sangue.
— Minha irmã era fraca. Só tive de cuidar para que o menino nunca desenvolvesse o espírito para me desafiar. É preciso começar quando eles ainda são jovens, submetê-los a sua vontade desde que ainda são bebês. Por isso ele ainda se curva ao meu comando quando, na verdade, ele tem direito a tudo que eu domino. Criarei o herdeiro dele da mesma forma.
— E terá o controle sobre tudo enquanto estiver vivo.
— Exatamente. Bem, agora devemos descansar. Amanhã teremos muitas decisões a tomar.
Quando todos os sons cessaram, Alec abriu os olhos e ficou fitando a escuridão, ouvindo o eco de tudo que acabara de escutar. Por um momento, ele experimentou uma força inesperada e envolvente, um sentimento que resultava da fúria. Desejava matar Aro. Era uma pena estar embriagado demais para pôr em prática essa vontade e seguir o impulso.
Com o retorno da fraqueza veio também a dúvida. Estava bêbado. Talvez houvesse escutado mal. De repente ele pensou no rosto doce de Isabella. A bela e adorável Isabella. Ela era a única coisa que já havia desejado realmente. Por ela seguira os planos do tio. Mesmo errados e até criminosos, eles o levariam até Isabella. E ela o tornaria imune aos pesadelos. Daria a ele força, faria dele um homem. Só quando a tivesse a seu lado, ele pensaria novamente nas palavras que havia pouco escutara da boca de seu tio. Sim. Isabella o ajudaria a se libertar de Aro.
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