Autora: AnnaThrzCullen
Gênero: Romance, drama
Classificação: +16 anos
Categoria: Beward
Avisos: Adaptação, Linguagem Imprópria, Nudez e Sexo
A Fera Vermelha
Capítulo VI
Na véspera de seu quadragésimo primeiro dia na corte, Edward disse ao rei que partiria para Royal Deeside na manhã seguinte. O rei permitiu relutante, e só depois de ser lembrado que a dívida do súdito leal já havia sido paga. Ele também ouviu Edward falar sobre os problemas que teria de resolver em casa, questões cuja solução adiava havia um bom tempo. Como a repentina partida de Isabella fora motivo de comentários na corte, o rei Edward não o pressionou. Edward partiu antes que o soberano pudesse reconsiderar sua decisão. Quando se deitou para a última noite na corte, ele agradeceu a Deus por isso. As noites que passava sozinho na cama que antes dividira com Isabella eram as mais difíceis de enfrentar. Para conciliar o sono, acabava bebendo demais. Foram várias as noites em que Emmett tivera de despi-lo e colocá-lo na cama.
Tanya ainda o assediava, tentando reacender a paixão ou reviver o feitiço que lançara sobre ele no passado. Estava ansioso para livrar-se dela. Ela era tediosa em alguns momentos, mas era sempre tentadora. Viril, solitário como estava, sentia o corpo clamar por uma mulher que se pusera longe de seu alcance. Mas quando se viu bem perto de Tanya, que oferecia seus favores abertamente e com liberdade ultrajante, ele recuou sem se preocupar com a cortesia e as boas maneiras. Não importava que agora, depois de anos, pudesse finalmente devolver a humilhação sofrida por suas mãos. O que importava era que, rejeitando Tanya, havia contraído uma inimizade perigosa e de grande peso.
Enquanto esperava pelo amanhecer, ele tentou fortalecer sua coragem. Não era muito habilidoso com as palavras ou com as mulheres. Esperando por ele em Royal Deeside, estava uma mulher que ele havia magoado profundamente. Reparar essa situação exigia as palavras corretas, a abordagem, perfeita e oportuna. E não sabia ao certo se seria capaz.
Os gritos de boas-vindas ecoavam por Royal Deeside. Houve uma repentina e frenética explosão de atividade. Isabella deduziu que Edward tinha voltado. Diante da janela da torre na qual tantas horas passara em vão, ela o viu chegar. Devagar, desceu ao salão para ir recebê-lo. A cada passo ela lutava contra o impulso de recepcioná-lo com uma atitude fria e digna.
Sentira falta dele. Mais do que gostaria de admitir. Cada noite havia parecido interminável. Preenchia os dias com trabalho para que não se arrastassem. E não queria que Edward soubesse disso. Ainda não. O conhecimento daria a ele uma vantagem que, sabia, o bravo cavaleiro reconheceria e utilizaria.
Ele a magoara. Pretendia fazê-lo reparar esse erro. Não o deixaria pensar que poderia tratá-la assim, depois agir como se nada houvesse mudado. Caso contrário, teria um futuro de dor e sofrimento, de ofensas seguidas por impunidade. E Edward não ia querer a seu lado uma esposa tão fraca, tão desprovida de orgulho.
Na verdade, o tempo havia reduzido à profundidade da dor. Obtivera até certa compreensão. Tanya o tinha marcado profundamente, e outras mulheres haviam colaborado para aprofundar essa cicatriz ao longo dos anos. Estava muito ofendida por ele, mas dispunha-se a entender. Porém, mesmo que o perdoasse por isso, tinha de encontrar um meio de modificar seu pensamento.
Depois de rever o incidente muitas vezes, agora podia enxergar tudo com mais clareza. Podia imaginar a cena vista do ângulo de Edward. Ela deitada no chão, sob o corpo de um homem jovem e belo. O marido ficara chocado. Certamente confundira passado e presente, Tanya e humilhação, Isabella e estupro. Porém, aquele não havia sido o melhor momento para se deixar dominar pela confusão.
E também precisava considerar o tempo que passaram distantes. Como ele ocupara esse tempo? Teria sucumbido mais uma vez a Tanya? Ao partir, teria jogado o marido nas garras daquela víbora? Queria acreditar que ele era astuto o bastante para não se deixar vitimar mais uma vez, mas não conseguia esquecer que ele nunca havia declarado não mais amar Tanya.
— Edward está de volta, Isabella.
Sorrindo para Rosalie e Edna, que a esperavam apreensivas ao pé da escada, ela respondeu com cinismo:
— Eu já desconfiava de alguma coisa nesse sentido.
— O que pretende fazer?
— Vou receber meu marido como é dever de uma boa esposa.
— Isabella...
— Rosalie, se vai pregar a sabedoria do perdão, como tem feito todos os dias, quero que saiba que estou disposta a perdoar. Porém, não me colocarei submissa aos pés dele. Não estamos aqui tratando de uma questão simples, de uma mera discussão. Ele ficou parado enquanto eu quase fui estuprada. Entendo todos os motivos que meu marido teve para agir dessa maneira, mas isso só serve para amenizar um pouco o sentimento de traição e a amargura do insulto. Pense bem. Se agir como se nada tivesse acontecido, tornarei seu crime menor do que realmente foi. E também, se ele não fizer nenhuma tentativa para reparar o erro, isso vai me devorar por dentro. Não, Rosalie. Espero que Edward peça desculpas, no mínimo, ou nossa união estará condenada. — Ela terminou de descer a escada. — Também espero ouvir uma explicação, embora me disponha a compreender se ele não me der nenhuma. Talvez nem ele mesmo entenda o que fez.
Isabella parou antes de alcançar a porta e respirou fundo.
— Não deixarei de cumprir meus deveres de esposa. Jamais causaria essa vergonha a minha família e a mim mesma. Mas se Edward espera mais que dever desse casamento, vai ter de reparar as consequências daquele horrível incidente. E eu estava pensando...
— Em quê? — Rosalie indagou preocupada.
— Bem, talvez a melhor cura para essa ferida do meu casamento seja uma boa sangria.
— Como assim?
Não havia mais tempo para responder, pois Edward e Emmett já abriam a porta. Isabella sentiu o coração saltar dentro do peito, mas, contida, adiantou-se para cumprimentar o marido. A situação era mais difícil do que havia antecipado. Já sentia o sangue ferver nas veias, e ele ainda nem a tocara. Se continuasse assim, não poderia agir conforme tinha planejado. Teria de controlar o desejo por Edward, ou ele o sentiria, como sempre, e usaria essa poderosa vantagem.
Aproximando-se, ela ofereceu o rosto para um beijo formal.
— Saudações, marido. Saudações, sir Emmett. Sua chegada é uma surpresa para nós, mas estou certa de que logo tudo estará a contento em seus aposentos. Assim que se refrescarem e mudarem de roupa, haverá uma refeição quente à mesa.
— Obrigado, milady — Emmett respondeu enquanto Edward continuou parado e sem ação.
— Ah, Thomas — ela chamou ao ver o garoto entrar no salão —, pode ter a gentileza de ajudar seu pai e sir Emmett? Os criados já prepararam os banhos para eles. Vou ver como está o preparo da refeição. — Ela se retirou, antes de ceder à tentação e se atirar nos braços do marido.
— Olá, Thomas — Edward finalmente falou, já seguindo o filho escada acima.
— Olá, papai. Está zangado por eu ter partido?
— Não. Há sempre muitos pajens no entourage real. Usei alguns deles.
— É bom saber disso, porque ela precisava de mim.
Edward não sabia o que dizer. Por isso não disse nada.
Depois de se ver livre da armadura, dispensou as criadas e o filho e se aproximou de uma das banheiras fumegantes preparadas nos aposentos de Emmett.
— Há uma intensa frieza no ar — ele resmungou enquanto entrava na banheira.
— Sim, eu senti — Emmett respondeu enquanto se acomodava na água quente.
— E eu fiquei lá parado como um idiota. Não fui capaz de pronunciar uma única palavra.
— Ela ainda está aqui, Edward. Poderia ter ido para a casa da família.
— Sim, eu sei, mas é difícil saber o que isso significa. Tão rígida tão polida... Ela nunca foi assim.
— Pelo menos ainda cuida de sua casa.
— E isso significa alguma coisa?
Emmett deu de ombros.
— Muitas esposas expressam a insatisfação com banhos frios e refeições sofríveis.
— Ainda não comemos — Edward disse, brincando.
— Não, mas não a considero capaz de usar esse tipo de truque. Francamente, meu amigo, creio que seus problemas o esperam no quarto. Mais precisamente, no leito nupcial.
— Era o que eu temia. Ela foi cordata e polida quando nos recebeu, está cumprindo os deveres de esposa com perfeição, ao menos no salão, mas duvido que tenha a intenção de continuar cumprindo esses deveres no quarto. E isso é algo que não vou suportar.
— Então fale com ela, homem! Seja sincero!
— Mesmo correndo o risco de me expor ao ridículo?
— Mesmo assim. Não vejo outra saída.
— Nem eu.
Edward ainda se agarrava à esperança de encontrar outra solução. Sabia que magoara Isabella, mas ainda esperava que ela houvesse refletido, compreendido sua reação e encerrado o assunto. Sabia que teria de fazer algum tipo de reparo, pedir desculpas, talvez, mas preferia não ter de rever todo o vergonhoso evento.
Pensar que Isabella seria apenas obediente no leito nupcial era a mais terrível agonia. Não queria acreditar que podia ter matado sua paixão com aquele horrível insulto.
Precisava dela. A energia da esposa era tão vital quanto o ar que respirava.
— Vamos, meu amigo, saia logo desse banho e enfrente seu destino — Emmett incentivou-o.
— Sinto-me como se estivesse a um passo do abismo —Edward confessou enquanto se enxugava.
— Entendo.
— Há muitas possibilidades de erro.
— É verdade. — Vestido, Emmett dirigiu-se à porta do quarto. — Estarei ao seu lado quando a refeição for servida, mas agora quero desfrutar de um momento de privacidade com Rosalie.
— Não se atreva a brincar com essa mulher, Emmett.
— Não estou brincando.
— Nesse caso... desejo-lhe boa sorte.
Edward suspirou ao ver o amigo sair. Estava feliz por Emmett, esperançoso de que ele encontrasse as recompensas que seu coração merecia. Porém, parecia injusto que o destino colocasse no caminho do amigo, um amor que desabrochava, enquanto seu casamento desmoronava. Podia ver o fracasso pairando no horizonte. Era um castigo que não poderia suportar. Não se sentia forte o bastante para isso. Mas, mesmo deprimido como estava, tinha de enfrentar Isabella.
Pronta para a refeição da noite, Isabella sentou-se para que Edna pudesse arranjar seu cabelo.
— Viu Rosalie? — Estranhando a demora da resposta, ela pressionou: — Edna? Sabe onde está Rosalie?
— Ela está com sir Emmett, milady.
— Ah... e temia falar por causa dos meus problemas?
— Senhora, eu...
— Não tema, Edna. Estou feliz por minha prima. Diga-me, acha que as intenções de sir Emmett são sérias?
— Sim, eu acho. Está nos olhos dele, milady.
— Que bom. Ele é um bom homem. Nossa Rosalie merece o melhor. Suponho que ela nada tenha dito por considerar minhas dificuldades. Deve ter tido receio de ser indelicada. Confesso que sinto certa inveja, mas preciso dizer a ela que não tem de se esconder, Rosalie é como uma irmã para mim. Compartilho de sua felicidade.
— E ela de seu sofrimento, milady. Essa sua situação...
— Sim, Edna?
— Receio parecer impertinente, senhora.
— Como se pudesse ser alguma outra coisa.
— Sim, sei que sou muito impertinente. — Ela sorriu. — E quero falar sobre minha senhora e seu marido.
— Fale, então. Não sou tola a ponto de pensar que sei mais do que você. Em uma questão grave como essa que agora vivo, só uma idiota poderia ignorar qualquer conselho.
— Os homens são criaturas estranhas.
— Não está fazendo nenhuma grande revelação, Edna.
— E ainda não acabei. Eles sabem que erraram, mas não conseguem se desculpar. Quanto mais orgulhoso é o homem, maior a chance de sufocar com as palavras. Ele sabe o que deve dizer, mas não consegue falar.
— Preciso de um pedido de desculpas, Edna.
— Entendo. Sim, milady, e concordo. A razão para essa sua necessidade é mais do que correta. Se deixar um homem pensar que pode maltratá-la impunemente, nunca mais verá o fim de seu sofrimento. Porém, esse pedido de desculpas pode não ser direto, claro ou romântico como gostaria que fosse. Alguns homens sabem escolher palavras belas. Outros não. Se não as ouvir com grande atenção, talvez nem as perceba. E quanto a uma explicação sobre por que fizeram o que fizeram... Bem, isso é ainda mais difícil. E comum que nem eles mesmos entendam.
— Já me perguntei exatamente isso, Edna. Se Edward tem alguma compreensão sobre o que fez comigo.
— Os homens não costumam analisar o motivo de suas ações. Especialmente se uma ação o faz parecer idiota. E isso torna o pedido de desculpas ainda mais difícil. Um homem prefere banir da mente e da memória esse tipo de coisa. Se pedem desculpas, é sempre de forma rápida e superficial. Nenhum homem gosta de implorar e pôr em risco seu orgulho.
— E Edward é um homem orgulhoso.
— Sim, milady. Muito orgulhoso. E não é muito bom com as palavras.
— Tem razão.
— Mas o coração dele é verdadeiro. Ele sabe que errou. Tenho certeza de que vai tentar compensar esse erro, milady. E a senhora vai precisar estar atenta para perceber essa compensação, para ouvir esse pedido velado de desculpas.
— Atenta... Sim, a menos que meu marido seja incentivado a adotar uma certa eloquência.
— Como assim?
— Há uma coisa que aprendi sobre os homens, Edna. Alguns precisam do calor da ira para libertar a palavra. O que não podem dizer em um momento de calma e quietude, pode ser anunciado aos berros num acesso de raiva. É preciso apenas acender o pavio.
— Tenha cuidado, milady. Não vai querer provocar um incêndio...
— Edward jamais me faria mal. Ele conhece bem a própria força. Pode quebrar tudo que houver à nossa volta, mas jamais me atacaria. Sendo assim, se ouvir algum estrondo por aqui, não se assuste. É tudo planejado. Ouvirei as palavras que necessito ouvir, nem que elas me ensurdeçam.
Isabella desejava sentir-se tão confiante quanto soava. Acreditava honestamente que promover a ira de Edward era a melhor maneira de fazê-lo falar, e não tinha dúvidas sobre o que afirmara a respeito da própria segurança. Edward jamais a atacaria. O que a preocupava era o que ele poderia dizer. Afinal, seu marido estivera à mercê de Tanya por quase um mês.
— Milady? — Edna chamou intrigada quando viu sua senhora dirigir-se à porta do quarto.
— Sim? Mais algum conselho? .
— Não permita que ele a sacuda ou empurre nesse acesso de raiva. Em seu estado, não seria conveniente.
— Meu estado?
— O bebê que carrega no ventre. Certamente já sabe...
— Suspeito. Como pode ter tanta certeza? — ela sussurrou.
— Suas regras falharam nos últimos três períodos. Agora são quase quatro. Tem estado enjoada, mesmo que só ocasionalmente, sempre no início da manhã. E sua silhueta começa a mudar. Não tenho dúvidas de que esteja esperando o herdeiro de meu senhor.
— Sabe muito sobre esse assunto?
— Bem... um pouco.
— Há alguma coisa que eu não deva fazer? — Foi impossível impedir o rubor que tingiu seu rosto. Ambas sabiam muito bem a que "coisas" ela se referia.
Edna respondeu sem rodeios:
— Não. Apenas não se deixe agredir. E cuide para não cair nem se machucar. Milady acredita que esse não é um bom momento para ter um filho?
— Não é o melhor, Edna. — Isabella suspirou e se dirigiu ao salão.
Saber que esperava um filho de Edward provocava emoções confusas. Amava-o, e esse amor era tão forte que às vezes a amedrontava, e era esse sentimento que causava alegria por saber que estava grávida. Porém, ainda precisava esconder a emoção. Antes de revelar o que sentia, teria de esclarecer tudo que havia entre eles. Temia as consequências de um fracasso nessa missão de esclarecimento. A dor se cristalizaria. A frieza que agora fingia passaria a ser verdadeira, não mais um produto do orgulho ou uma ferramenta de proteção. E isso seria terrível para a criança.
— Isabella?
Bruscamente interrompida em sua sombria reflexão, ela se assustou com a voz de Rosalie.
—Oh, você me assustou. O que faz aí? — Estranhou ver a prima sair do nicho sob a escada.
—Queria falar com você antes de ir se juntar aos homens.
— É espantoso como os problemas conjugais soltam a língua de todas as pessoas.
Rosalie ignorou o sarcasmo da prima.
— Sei o que planeja fazer. Precisa mesmo enfurecê-lo?
— Sim, preciso.
— Isabella, não estou gostando disso.
— A raiva o fará falar. Isso é tudo muito importante.
— Tem certeza de que deseja ouvir tudo que ele tem para dizer?
— Não, mas ouvirei mesmo assim. Sei o que a preocupa, e confesso que partilho de sua apreensão. Deixei meu marido sozinho na corte, ao alcance de uma víbora que não esconde o desejo por ele. É bem possível que Edward tenha caído novamente sob o encanto da megera. E acho que serei capaz de perdoar esse deslize.
— Tem certeza?
— Sim. Quando o deixei lá eu já sabia o que poderia acontecer.
— Então, por que o deixou?
— Acha mesmo que poderíamos ter resolvido nossas diferenças na corte? No meio de toda aquela gente fofoqueira, maldosa e traiçoeira?
— Não. É claro que não.
— Além do mais, a magia ainda era muito recente. Eu precisava de tempo para recuperar-me. Sofrendo como estava, certamente o teria afastado de mim, e isso o teria empurrado para outros braços sem nenhuma dúvida. Nossos problemas só cresceriam e ganhariam complexidade.
— Não creio que ele tenha quebrado os votos. Edward é um homem honrado.
— Muito honrado. Certa vez ele me disse que nunca tomaria amante, desde que eu não recebesse nenhum outro homem em minha cama. É claro que ele pode ter interpretado minha partida como um anúncio de separação, como uma declaração da minha intenção de me deitar com outro homem, mas...
— Isso não quer dizer que ele fez alguma coisa.
— Não. Mas Edward é um homem de grande... apetite — ela declarou, sorrindo, divertindo-se com o rubor de Rosalie. ― Depois de uma batalha ele é sempre muito ardente, e duvido que o rei o tenha deixado descansar da espada. Edward teve muitas noites de solidão depois de dias de luta sangrenta.
— Você também esteve sozinha — Rosalie lembrou.
— Sim, e quero acreditar que ele não se envolverá com outras mulheres cada vez que estivermos longe um do outro. A única coisa pela qual oro é que não tenha se deitado com Tanya.
— Ainda pensa no que ocorreu entre eles?
— Penso no que ainda pode existir entre eles. Edward nunca disse que deixou de amar aquela mulher. Disse apenas que a evita.
— Não. Ele não poderia amar uma mulher como ela. Não quando tem você.
— Rosalie, agora sabe que o coração não pode ser comandado. Ele vai aonde deseja ir.
— Então seu marido é um tolo.
— Talvez. De qualquer maneira, eu gostaria muito de saber se ele ainda a ama, mesmo que a descoberta possa me fazer sofrer.
— Entendo. Assim saberia em que terreno está pisando, que batalhas terá de lutar.
— Exatamente. Ainda não sei se ela está realmente entre nós, ou se apenas me deixo envolver por receios sem fundamento.
— Bem, ainda não tenho certeza de que concordo com seus métodos, mas compreendo que deva fazer alguma coisa. O casamento é um laço que não pode ser quebrado, e o seu é muito promissor. Vale a pena lutar por algo tão bonito.
— É isso. E há outra razão para eu querer superar todo esse problema o quanto antes. Eu... estou esperando um filho.
Rosalie arregalou os olhos e abriu a boca.
— Tem certeza? — ela murmurou.
— Eu já suspeitava, e Edna acaba de confirmar minhas suspeitas.
Rosalie abraçou a prima. Quando recuou, a alegria havia dado lugar à apreensão em seu rosto.
— Oh, Isabella, agora acho que deve abandonar essa ideia de despertar a ira de seu marido.
— Não se preocupe. Os gritos serão ensurdecedores e a cena será assustadora, mas ele não vai me ferir. Diferente da maioria dos homens, Edward tem consciência da própria força, por isso controla seu uso.
— Não sei onde encontra tanta coragem — Rosalie suspirou enquanto se dirigiam ao salão. — Já pensou que ele pode estar arrependido a ponto de se sentir deprimido? Isso impediria o ataque de fúria que deseja provocar.
— Bobagem! — Isabella riu. — Culpado, arrependido, deprimido... Nenhum estado emocional pode impedir a fúria de meu marido, desde que ela seja adequadamente provocada.
Ao ver a esposa entrar no salão com Rosalie, Edward preparou-se para o que poderia ser uma experiência bastante desafiadora para sua paciência. Havia prometido a si mesmo que controlaria o próprio temperamento. Porém, quando ela o cumprimentou com a mesma polidez que dirigia a Emmett na mesa de refeições, compreendeu que manter a calma seria quase impossível.
De repente percebia que ela o tratava como havia tratado os cortesãos afetados, com indiferença fria e boas maneiras. Isso o irritava. Não havia no comportamento de Isabella nenhuma indicação de intimidade conjugal. Não notara antes, mas agora que esse elo se rompera, sentia falta dele. E havia pouca esperança de recuperá-lo.
Após alguns momentos de silêncio pesado, ele decidiu se arriscar.
— Vejo que realizou muitos progressos por aqui.
— Sim, mas ainda há muito a ser feito — ela respondeu sem encará-lo.
— Já cumpri meus quarenta dias de serviço. Agora posso ficar aqui e ajudar a cuidar da propriedade.
— Como preferir.
Edward respirou fundo, tentando sufocar os primeiros sinais de uma explosão temperamental.
— É bom saber que se recuperou de sua enfermidade, Rosalie. — E gostaria de entender por que ela parecia tão nervosa.
— Muito obrigada, milorde. Janet foi uma enfermeira de grande valor.
Edward não sabia quem era Janet, e aproveitando essa ignorância ele conseguiu manter Rosalie falando por alguns minutos. Estava um pouco mais calmo, embora ainda se mantivesse atento a cada reação da esposa. Era hora de tentar falar novamente com Isabella.
— Não teve nenhuma dificuldade? — ele perguntou, lamentando não conseguir pensar em nada mais profundo para dizer.
— Nada. Quer mais vinho, senhor meu marido?
Ele assentiu e a viu chamar um pajem para servi-lo. Sabia que Isabella estava agindo assim de propósito. O silêncio, a frieza... Tudo era estudado, e irritante.
Isabella observava o marido. Sabia que a raiva crescia a cada minuto, e logo ele perderia o controle. Mas havia outras emoções desfilando por seu rosto, e eram essas que realmente interessavam. Podia ver o medo em seus olhos. Seria esse um sinal de que Edward também temia um afastamento definitivo? Havia culpa, também. Esperava que fosse apenas pela cena no jardim real, não por coisas que ele fizera depois de sua partida.
Um olhar rápido foi suficiente para ela deduzir que Emmett adivinhava seu plano. O sorriso divertido não a deteve. Pelo contrário, sentia que ele poderia ajudá-la. Edward odiaria ver um de seus homens aliando-se a ela, e isso o enfureceria ainda mais.
Era hora de dar o próximo passo. Queria resolver de uma vez por todas os problemas que a afligiam e mantinham separada do marido, porque seu corpo clamava pelo dele.
Fingindo um desinteresse que estava longe de sentir, Edward comentou:
— Fomos mandados em buscas consecutivas. O rei queria encontrar e subjugar rebeldes e ladrões.
— Há muitos por aí. — Ela preferiu não pensar no perigo que o marido havia enfrentado.
Rangendo os dentes, Edward prosseguiu:
— Fui ferido em um desses confrontos.
Seu coração parecia querer saltar do peito, mas ela o conteve com grande esforço. Não era fácil continuar falando com aquele tom frio e distante, mas precisava se empenhar. Era sua única chance de salvar o casamento e reacender a esperança de uma vida feliz ao lado do homem amado.
— Parece ter se recuperado bem.
Lembrando como ela reagira na última vez em que ele sofrerá um ferimento, Edward se sentiu desapontado com a resposta indiferente.
— Sim.
— Quer que Janet examine o ferimento? Ela é muito habilidosa para cuidar de enfermidades de maneira geral.
— Não.
— Como preferir, meu marido.
— O nome é Edward — ele disparou, bebendo alguns goles na esperança de recuperar a compostura.
— Sim, eu sei.
— Então, por que não o utiliza?
— Como preferir, Edward. Quer frutas? — Ela apontou para um prato delas.
Ele pegou uma maçã com um movimento furioso, e Isabella conteve o riso.
Era um jogo delicado, um confronto de forças. Ela se empenhava para levá-lo ao descontrole, e ele se esforçava para não perder a calma. Quem seria o vencedor?
Cada palavra polida de Isabella alimentava a ira que crescia no peito de Edward. Lembrava como tudo havia sido entre eles antes da lamentável e odiosa cena no jardim real, e a dor da perda se juntava à revolta. Sabia que teria problemas digestivos mais tarde.
Enquanto terminava de comer a maçã, ele observava sério a conversa entre Isabella, Emmett e Rosalie. Era como esfregar sal sobre uma ferida aberta. Sentia-se um hóspede em sua própria casa, e um hóspede não muito bem-vindo.
Determinado a fazer um último esforço, ele perguntou:
— Que outros planos fez para Royal Deeside?
— Prefiro viver um dia de cada vez.
— De fato? E o que planeja para amanhã, então?
— Vou cuidar das ervas.
— Que ervas?
— As de sempre.
— É claro. Quer ter um jardim como o de seu pai?
— Se quiser um jardim como o dele, milorde...
— Pensei que você queria um jardim assim.
— Seria ótimo.
— Então, plante-o.
— Como quiser, meu marido. Deseja mais vinho?
— Está tentando me embriagar?
— Se quiser, milorde...
Isabella pensou que Edward não devia ranger os dentes daquela maneira. Podia ser perigoso. Ela sorriu para Rosalie, que estava pálida de medo, e para Emmett, que mal podia conter o riso. E desviou o olhar quando o patife piscou para ela, assinalando sua cumplicidade. A fúria que crescia no peito de Edward era quase tangível. Isabella tentava não sorrir satisfeita com a vitória iminente. Precisava manter as respostas breves e polidas, embora Edward formulasse perguntas cada vez mais elaboradas, tentando obter explicações mais longas e complexas. E cada resposta breve era mais um sopro nas brasas que logo se transformariam em incêndio. O jogo prosseguia. Na medida em que outros iam percebendo sua atenção, o salão ia ficando mais e mais silencioso. Todos olhavam para ela, confirmando sua impressão anterior.
Ninguém teria coragem para provocar a Fera Vermelha como ela fazia.
— Thomas a ajudou enquanto eu estive fora? — Edward perguntou ofegante, tal a ira que tentava sufocar.
— Sim. Quer mais maçã?
— Não.
— Como quiser, meu marido.
Nesse momento ela viu a luz nos olhos de Edward e soube que finalmente alcançara seu objetivo. A tempestade se abateria sobre Royal Deeside.
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